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Análise Descritiva das Práticas Relativas aos Métodos Ágeis

4.1 Análise Descritiva dos Dados da Pesquisa

4.1.3 Análise Descritiva das Práticas Relativas aos Métodos Ágeis

As questões Q13 a Q34 do instrumento de pesquisa (ver Anexo A) se referem às principais práticas e características relativas aos Métodos Ágeis de Desenvolvimento de Software. Nesta seção da pesquisa, para cada uma das assertivas propostas, o respondente foi convidado a escolher entre as respostas “Discordo Totalmente”, “Discordo Parcialmente”, “Neutro”, “Concordo Parcialmente” e “Concordo Totalmente”, que na codificação de dados correspondem aos escores 1, 2, 3, 4 e 5, respectivamente. A análise exposta a seguir leva em consideração o cálculo do escore médio de resposta e a distribuição de freqüências das respostas de cada uma destas questões, conforme mostra a Tabela 38 (ver Anexo B).

À exceção da Q21, que menciona que “a equipe de desenvolvimento recebeu treinamento formal no enfoque ágil”, todas as demais questões tiveram um escore médio de resposta superior a 3 e algumas vezes superior a 4 (ver Tabela 38 do Anexo B). Isto significa que, de forma geral, a maioria dos respondentes concordou parcial ou totalmente que as técnicas e características dos Métodos Ágeis apresentadas estavam presentes em seus projetos de desenvolvimento de software.

Cohen et al (2003) mencionam que os Métodos Ágeis requerem menos treinamento formal que os métodos clássicos de desenvolvimento de software. Isto porque algumas técnicas específicas da abordagem ágil como, por exemplo, a programação em pares, minimizam a necessidade de treinamento, uma vez que as pessoas aprendem uma com as outras. Analisando as respostas da Q21 e da Q22 percebe-se que apenas 26% dos respondentes afirmaram ter havido um treinamento formal no Método Ágil durante o desenvolvimento do software; por outro lado, 70% dos respondentes mencionaram ter recebido algum tipo de treinamento informal. Apesar de autores como Bohem (2002), Cohn e Ford (2003), Fowler (2003) e Nerur et al (2005) ressaltarem a importância de a equipe de desenvolvimento do projeto estar familiarizada com os Métodos Ágeis, percebe-se que o processo de treinamento ou capacitação nas práticas dos Métodos Ágeis pode ser feito informalmente, conforme proposto por Cohen et al (2003). Esta abordagem está refletida no contexto dos projetos analisados nesta pesquisa, sendo constatada uma pequena incidência de capacitação formal da equipe de desenvolvimento nos Métodos Ágeis e uma parcela significativa de treinamento informal, provavelmente realizado através de práticas vivenciadas no dia-a-dia do projeto, como a propriedade coletiva do código. Mesmo assim, 68,9% dos projetos foram considerados bem-sucedidos pelos respondentes (ver Tabela 32 do Anexo B), sugerindo que a ausência de treinamento formal não comprometeu os resultados dos projetos.

Outras questões também chamam a atenção nesta primeira análise, pelas altas médias alcançadas por suas respostas (acima de 4) e por seus resultados se mostrarem bastante aderentes à teoria apresentada no Capítulo 2.

Cerca de 80% dos respondentes afirmaram que houve boa coordenação e colaboração entre os diferentes grupos envolvidos nos projetos analisados (ver Q13 e Q15 – Tabela 38 do Anexo B). O espírito de colaboração e a coordenação eficaz entre as várias equipes participantes do

projeto são considerados extremamente críticos para o sucesso de projetos de desenvolvimento de software realizados com o uso de Métodos Ágeis por vários autores, como por exemplo, Ambler (2002), Cohen et al (2003), Cohn e Ford (2003), Nerur et al (2005) e Turk et al (2005). Vale lembrar também que um dos valores-chave do Métodos Ágeis é enunciado como a priorização da colaboração sobre a negociação de contratos (BECK et al, 2001).

Ao se avaliar a capacidade e habilidade dos integrantes da equipe de desenvolvimento, verifica-se que 86% dos respondentes afirmaram que a equipe de desenvolvimento foi composta por profissionais bem qualificados tecnicamente (ver Q20 – Tabela 38 do Anexo B). Bohem (2002) enfatiza a importância de se ter uma equipe bem treinada e constituída por especialistas, uma vez que os Métodos Ágeis depositam elevado grau de confiança no conhecimento tácito e na capacidade de tomada de decisões de cada indivíduo. Novamente, o resultado encontrado valida outro valor-chave dos Métodos Ágeis, proposto por Beck et al (2001), referente à valorização das pessoas.

Ainda com relação à equipe de desenvolvimento, 90% dos respondentes concordaram parcial ou integralmente que os programadores e analistas estavam bastante motivados com o projeto; 84% afirmaram ter havido um clima de descontração e alegria entre a equipe durante o desenvolvimento (ver Q25 e Q32 – Tabela 38 do Anexo B). A valorização do indivíduo, a equipe composta por especialistas, o espírito de colaboração e o próprio fato de se trabalhar com algo relativamente novo podem explicar esta motivação e o clima de alegria predominante nos projetos analisados. Este resultado está alinhado à colocação de Juric (2002) que menciona que os Métodos Ágeis são uma forma divertida de se desenvolver software.

A necessidade de mudanças nos requisitos do software também se mostrou presente nos projetos analisados, sendo esta uma das características marcantes dos projetos inseridos em ambientes de negócio dinâmicos. Ao todo, 90% dos respondentes mencionaram a ocorrência de mudanças (adaptações) ao longo do projeto e 86% deles concordaram que as solicitações de mudanças foram incorporadas sem problemas ao longo das várias versões do software (ver Q23 e Q24 – Tabela 38 do Anexo B). Mais uma vez, os resultados se mostraram aderentes à teoria, haja vista que os Métodos Ágeis surgiram como uma resposta às necessidades de constantes mudanças nos requisitos do software para atender os clientes ou o negócio,

incentivando as adaptações e tendo como outro valor-chave a priorização das respostas às mudanças sobre o seguimento de um plano (BECK et al, 2001).

Considerando a questão relativa ao apoio da alta administração ao projeto de desenvolvimento de software, tem-se que 70% dos respondentes indicaram que houve tal apoio no decorrer do projeto (ver Q14 – Tabela 38 do Anexo B). De forma geral, este é um dos pontos citados como um dos fatores críticos de sucesso dos projetos de tecnologia de informação (Jiang et al, 1996; STANDISH GROUP INTERNATIONAL, 1999; 2001). Ambler (2002), Cohn e Ford (2003) e Nerur et al (2005) compartilham a visão de que é imprescindível o envolvimento e o apoio da alta administração nos projetos de desenvolvimento de software, em especial quando do uso de Métodos Ágeis, uma vez que a adoção destes métodos pressupõe mudanças de âmbito técnico, gerencial e cultural.

Caso seja de interesse do leitor, as respostas às demais questões relativas às técnicas e características dos Métodos Ágeis podem ser visualizadas na Tabela 38 (ver Anexo B). Vale ressaltar que as colocações até aqui apresentadas (tópicos 4.1.1 a 4.1.3) correspondem a uma análise descritiva preliminar, que por si só não forneceu os subsídios necessários para responder a pergunta-problema desta pesquisa, garantiu o melhor entendimento dos dados e do contexto da pesquisa.