• Nenhum resultado encontrado

Os projetos de desenvolvimento de software são normalmente caracterizados por um elevado grau de incertezas iniciais e, conseqüentemente, por uma grande dificuldade de detalhamento

do escopo e de elaboração de um planejamento completo. Novos processos de negócio, linguagens de programação, ferramentas, arquiteturas e aplicações inovadoras são constantemente introduzidos. Muitos autores afirmam que neste cenário, ciclos rápidos de especificação, teste, validação e implantação podem produzir resultados mais vantajosos que o desenho e o planejamento integral de todo o projeto (AUER; MILLER, 2002; BECK, 2000; BECK; FOWLER, 2001; JEFFRIES et al, 2001; CHIN, 2004; COCKBURN, 2001; SCHAWABER, 2002; SCHWABER; BEEDLE 2001; HIGHSMITH, 2002; 2004; POPPENDIECK; POPPENDIECK, 2003; AMBLER, 2002a; COHEN et al, 2003; FOWLER, 2003; UDO; KOPPENSTEINER, 2003). Várias iterações em curtos períodos de tempo tendem a maximizar o aprendizado da organização e a potencializar o desenvolvimento da equipe de projeto.

Cohen et al (2003, p. 46-47) escreve que “[...] indubitavelmente os Métodos Ágeis vieram para ficar”. Entretanto, estes autores, assim como outros (PAULK, 2001; GLASS, 2001; THOMSETT, 2002; UDO; KOPPENSTEINER, 2003; HIGHSMITH, 2004) acreditam que este novo enfoque não ocupará totalmente o espaço dos modelos clássicos de desenvolvimento de software, mas sim que as duas abordagens deverão trabalhar em sintonia (simbiose) no futuro. Embora alguns praticantes enxerguem uma grande distância entre os métodos ágeis e os clássicos, outros acreditam que se pode construir uma ponte entre eles, possibilitando a troca constante de informações e experiências e, conseqüentemente, um aprimoramento do processo de desenvolvimento de software.

Glass (op. cit.) destaca que os defensores dos métodos clássicos têm muito a aprender com os adeptos dos métodos ágeis, argumentando que o processo clássico de desenvolvimento pode ser enriquecido com a utilização de algumas das práticas propostas pelos Métodos Ágeis. Em contrapartida, uma das razões para que os Métodos Ágeis não se sobreponham totalmente ao desenvolvimento clássico de software é que alguns processos “antigos” ainda se fazem necessários. Lindvall e Russ (2000) ilustram esta diferença ao mencionar que “ [...] desenvolver um software para controlar um ônibus espacial não é o mesmo que desenvolver um software para um torradeira”. Cohen et al (2003, p. 45) complementam que aplicações que possam vir a colocar em risco a vida humana devem passar por um rígido controle de qualidade, sendo o enfoque clássico preferido para seu desenvolvimento.

Com relação ao gerenciamento de projetos, as ponderações seguem a mesma linha. O fato dos Métodos Ágeis de Desenvolvimento de Software e do Gerenciamento Ágil de Projetos terem a mesma origem e serem construídos sobre os mesmos valores e princípios pode sugerir que, possivelmente, o Gerenciamento Ágil de Projetos seja mais indicado para o gerenciamento de software realizado com o uso de Métodos Ágeis. Contudo, cabe salientar que não foram encontradas evidências durante a revisão bibliográfica que comprovassem (ou negassem) tal afirmação.

Thomsett (2002), Highsmith (2004) e Chin (2004) indicam a utilização do Gerenciamento Ágil de Projetos em projetos que requerem inovação e criatividade ou que estejam sujeitos a alterações constantes dos requisitos do negócio, como por exemplo, os projetos de desenvolvimento de novos produtos (o desenvolvimento de software se enquadra nesta categoria). Mas apesar de mencionarem que o Gerenciamento Clássico de Projetos traz uma rigidez indesejada a projetos desta natureza, estes autores reconhecem a importância do arcabouço de conhecimentos aportado por este enfoque de gerenciamento de projetos, chegando a afirmar que, em determinadas situações, uma combinação do enfoque clássico com as novas práticas propostas pelo Gerenciamento Ágil de Projetos é mais apropriada para que se alcance resultados cada vez efetivos.

Expandindo esta visão, Thomsett (op. cit.) chega a mencionar que as práticas do Gerenciamento Ágil de Projetos podem ser utilizadas até mesmo no desenvolvimento de software conduzido segundo um método clássico. Num contraponto, Paulk (2001) cita que os Métodos Ágeis e o SW-CMM (que tem por base o Gerenciamento Clássico de Projetos) não são incompatíveis, sugerindo que o Gerenciamento Clássico de Projetos pode ser aplicado no desenvolvimento de software realizado com o uso de Métodos Ágeis. Enfim, não há uma opinião única sobre o assunto.

Todavia, é consenso entre os autores pesquisados que se deve fazer uma análise do ambiente interno (aspectos organizacionais e culturais) e do contexto externo no qual o projeto está inserido, para que se selecione o modelo de gerenciamento de projetos (clássico ou ágil) e se defina o método de desenvolvimento (clássico ou ágil) e o respectivo conjunto de processos, técnicas, ferramentas ou práticas a serem seguidos (AMBLER, 2002c; THOMSETT, 2002; COHEN et al, 2003; COHN; FORD, 2003; FOWLER, 2003; UDO; KOPPENSTEINER, 2003; HIGHSMITH 2004; CHIN, 2005; NERUR et al, 2005).

Por serem assuntos relativamente novos (os primeiros Métodos Ágeis, ainda incipientes, surgiram no final dos anos 90 e o embrião do Gerenciamento Ágil de Projetos surgiu em 2001), pouquíssimas são as pesquisas empíricas que versam sobre os benefícios de sua utilização, não sendo encontrado nenhum estudo, até o momento de encerramento deste trabalho, que investigasse diretamente a questão relativa ao enfoque de gerenciamento de projetos mais apropriado para o desenvolvimento de software com o uso de Métodos Ágeis, o que aumenta a motivação para o desenvolvimento deste estudo.

Finalmente, espera-se que a presente pesquisa traga um valor ao meio acadêmico, ao reunir uma parcela significativa do conhecimento sobre o tema e ao fornecer algumas evidências empíricas da realidade brasileira. Espera-se também que tenha sido traçada a base teórica para a resposta da pergunta-problema desta pesquisa: Qual o enfoque de gerenciamento de

projetos mais apropriado para o desenvolvimento de software conduzido com o uso de um Método Ágil?

3 METODOLOGIA DE PESQUISA

Este capítulo tem por objetivo apresentar a metodologia de pesquisa utilizada neste estudo. Tendo por base a pergunta-problema da pesquisa, foram avaliadas diferentes estratégias, até se chegar à escolha da mais adequada para este trabalho.

A seguir, será feita a apresentação da tipologia do estudo e das técnicas utilizadas para a coleta e análise de dados. Vale lembrar que o modelo conceitual a ser utilizado nesta investigação foi apresentado no tópico 1.5 – Modelo Conceitual – na introdução deste trabalho.