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4.2 A Iniciativa Privada e o Consumo Sustentável

4.2.2 Análise do Discurso da Iniciativa Privada

O primeiro aspecto a se ressaltar nos discursos das empresas analisadas é o fato de que embora todas façam referência a termos como “desenvolvimento sustent|vel” e “sustentabilidade”, o tipo de consumo que contribui para o desenvolvimento sustent|vel ou para a sustentabilidade é, invariavelmente, denominado de “consciente”. Quando se observa o que estas empresas estão a chamar de consumo consciente, nota-se que apenas a Walmart apresenta uma definição formal, qual seja: um processo de aquisição no qual o consumidor escolhe “os produtos e os serviços tendo em mente, por exemplo, os recursos naturais empregados em sua produção, e opta por empresas responsáveis, que contribuam para construir uma sociedade mais sustent|vel e justa” (WALMART, 2008, p.48). Já a Itautec e o Pão de Açúcar não definem o que efetivamente vem a ser um consumo consciente.

Não obstante seja o único que apresente uma definição formal do que vem a ser consumo consciente, chama a atenção, no discurso do Walmart, a ênfase dada à sacola retornável. Ainda que a definição do Walmart se aproxime bastante do conceito de consumo sustentável apresentado no Simpósio de Oslo, seu discurso limita-se a sugerir a substituição da sacola plástica pela retornável. Há, portanto, um direcionamento do discurso que vincula consumo consciente à aquisição de sacolas retornáveis.

Diferentemente do Walmart, o discurso do Pão de Açúcar é mais abrangente, abarcando questões como água, alimentos, energia e resíduos sólidos. A proposta do Pão de Açúcar é a de oferecer informações que levem a uma mudança de atitude nestes quesitos. Embora

apresente um escopo mais amplo que o do Walmart, o discurso do Pão de Açúcar não deixa de ser superficial. Tal superficialidade manifesta-se na não associação entre a realização da ação e o benefício por ela gerado. O discurso menciona, por exemplo, a necessidade de se economizar energia, mas não explica a razão disto.Assim, embora mais abrangente que o discurso do Walmart (de vez que vai além da questão das sacolas retornáveis), o discurso do Pão de Açúcar sobre o consumo sustentável não adentra no âmago da questão do consumo.

Já no discurso da Itautec a situação é diferente. Neste, é possível verificar que a relação entre o consumo consciente dos bens de consumo e manutenção da qualidade ambiental é abordada quando, por exemplo, menciona que:

No Brasil, cerca de 60% do lixo inclui algum tipo de resíduo eletrônico. Boa parte deste material acaba nos lixões, sem nenhum tipo de tratamento adequado. Pela ação da chuva, os componentes tóxicos que fazem parte dos produtos eletrônicos acabam chegando ao lençol freático e, a partir dele, a cerca de 20 milhões de domicílios brasileiros que não contam com sistema de água tratada. A água contaminada por essas substâncias pode causar várias doenças, que poderiam ser evitadas caso os produtos eletrônicos fossem reciclados (ITAUTEC, 2011, p.08).

Embora os três discursos divirjam em certos aspectos, há outros em que os mesmos convergem. Por exemplo, nenhum dos discursos emprega o termo “consumismo” para fazer menção ao excesso de consumo. O consumo perdulário é tratado sempre como “consumo”. Outro ponto convergente é quanto ao emprego de adjetivos. “Simples” e “f|cil” são qualidades que, nos discursos analisados, sempre vêm associadas ao consumo consciente. Evidencia-se, pois, um esforço no discurso empresarial no sentido de vincular a prática do consumo consciente à realização de ações simples.

H| ainda que se chamar a atenç~o para o significado que o termo “consumo consciente” assume nos três discursos. No discurso do Walmart, o consumo consciente é tratado como sinônimo de uma compra consciente, ou seja, um processo de aquisição de mercadoria no qual o consumidor leva em conta os critérios ambientais de produção do bem e opta por aquele que tenha agredido menos o meio ambiente. Já no discurso da Itautec e do Pão de Açúcar o consumo consciente é entendido como mais que simplesmente o processo de aquisição de mercadorias, de vez que inclui os hábitos cotidianos de uso das mesmas e questões relativas a seu descarte.

Convém notar também a tendência do discurso do Walmart para a responsabilização do consumidor. Quando recomenda que o consumidor deve sempre levar consigo uma sacola retornável e deixa-la em um ponto onde não a possa esquecer; que deve atentar

para o fato da mesma ser de material resistente e que seja usada em toda sua capacidade; que deve exigir dos estabelecimentos que se comprometam com a sustentabilidade ou que deve reutilizar os sacos plásticos, é possível perceber na fala do agente discursivo uma inclinação não só para se isentar da responsabilidade, como de transferi-la para o consumidor.

Ainda é possível identificar que algumas das recomendações presentes nos discursos das empresas simplesmente extrapolam as possibilidades de atuação do consumidor. Sugestões como a de verificar a possibilidade de estender a vida útil do equipamento atual, por exemplo, esbarram em questões como a obsolescência programada (que retira do consumidor qualquer possibilidade de escolha que não seja a compra de uma nova mercadoria) e a obsolescência percebida (que, sistemática e sub-repticiamente, incita o consumidor a trocar o “velho” pelo “novo”). Neste sentido, entende-se que a ocorrência de uma contradição, uma vez que a recomendação de extensão da vida útil do produto é minada pela própria lógica de funcionamento do agente discurso haja vista que ele próprio, constantemente inviabiliza a possibilidade de prolongamento da vida útil do aparelho e, ao mesmo tempo, estimula o consumidor a trocar o equipamento antigo pelo modelo mais recente.

Por fim, convém chamar a atenção para os elementos visuais utilizados nos discursos: invariavelmente h| a presença de imagens que remetem ao “verde”, { reciclagem e { natureza.