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ANÁLISE DO TERMO FEMINICÍDIO NO JORNAL FOLHA DE S PAULO (2017)

Ocorrência das Síndromes

ANÁLISE DO TERMO FEMINICÍDIO NO JORNAL FOLHA DE S PAULO (2017)

Cleide das Graças Veloso dos Santos38 Universidade Federal do Tocantins

Cynthia Mara Miranda39 Universidade Federal do Tocantins

Eixo Temático de submissão: Estudos em mídia, Ética e Gênero

O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES).

Resumo

Este resumo expandido trata da análise do uso do termo feminicídio nas publicações que se referiram ao assassinato de mulheres, na versão on-line do jornal Folha de S. Paulo em 2017. No período analisado, a Lei nº 13.104/2015, que prevê os agravantes desse crime praticado por um companheiro ou ex-companheiro contra a mulher, no Brasil e que o tornou esse crime hediondo, completava dois anos de vigência. Sob o método da Análise de Conteúdo e Análise de Conteúdo Digital, a pesquisa investigou a amostra do veículo, com o objetivo de promover uma reflexão sobre a pauta feminicídio e o papel social do jornalismo, como ferramenta de acesso à informação e sensibilização social, para combate desse crime. Nos recortes amostrais analisados evidenciou-se a carência do uso do termo feminicídio em pautas sensibilizadora sobre as implicações desse tipo de violência contra a mulher, das penalidades previstas em lei e dos desfechos legitimados pela justiça. No período analisado, apesar do veículo ter adotado o termo na maioria dos recortes amostrais, a maioria destas publicações não possuía uma mensagem sensibilizadora para contribuir com o combate do feminicídio.

Palavras-chave: Análise de Conteúdo. Feminicídio. Folha de S. Paulo. Jornalismo On-line. 1. Introdução

A emergência de políticas públicas e alternativas para combate do feminicídio, no Brasil, se evidencia nos frequentes assassinatos de mulheres, como registrado no Atlas da Violência (2019)40, que aponta o país entre os mais violentos para mulheres. A sensibilização

38 Cleide das Graças Veloso dos Santos. Mestra em Comunicação e Sociedade (UFT), Especialista em Ensino de Comunicação e Jornalismo (Opaje/UFT), MBA - Jornalismo Empresarial e Assessoria de Imprensa (Unesa/RJ), Bacharel em Comunicação Social/Jornalismo (UFT), jornalista(GOV-TO). E-mail: cleide.veloso13@gmail.com. 39 Doutora e mestre em Ciências Sociais (UnB), graduada em Comunicação/Jornalismo (UFT), professora do curso de Jornalismo e da Pós-Graduação em Comunicação e Sociedade (UFT). E-mail: cynthiamara@uft.edu.br. 40 Atlas da Violência (2019) produzido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), traz dados de 2017 e de anos anteriores, publicado em 5 de jun 2019.

social é considerada ferramenta essencial para o combate do feminicídio. Mas, a mensagem midiática pode contribuir ou não, com a desconstrução do vocabulário da violência.

Em 2017, a Lei nº 13.104/201541, tipificadora do feminicídio praticado pelo atual ou ex- companheiro da vítima e que tornou esse crime hediondo42; completava dois anos de vigência. Sob o método da Análise de Conteúdo e da Análise de Conteúdo Digital; a pesquisa da cobertura jornalística, que se refere ao assassinato de mulheres, na versão on-line do jornal Folha de S. Paulo, de 01/01 a 31/12/2017, avalia o uso do termo feminicídio, na amostra. O veículo se elegeu por ter circulação nacional, ser propagador de ideias, formador de opinião e se destacar entre os mais acessados na pesquisa Análise de Mídia (ANDI, 2014)43.

Esse estudo busca contribuir com as reflexões já iniciadas sobre a pauta feminicídio e o papel social do jornalismo; com amparos conceituais sobre a violência contra a mulher, o feminicídio e a desigualdade de gênero, como segue no próximo título.

2. Fundamentação Teórica

Diariamente, o ciclo da violência contra a mulher se encerra com o feminicídio, alguns casos são repercutidos na imprensa. A Organização Mundial da Saúde (2002) define a violência como uso intencional da força ou poder. Para Segato (2003) é preciso compreender a lógica dos agentes irracionais, pois a sociedade se referencia nas ideias compartilhadas.

Pateman (1988 apud SELFA, SPINELLI, 2017)44 consideram o contrato social e sexual,

formas de estabelecer relações sob subordinação. Para Bourdieu (2003) a violência simbólica são imposições de domínio que determina posições sociais. Na mídia, essa violência se reproduz em mensagens que perpetuam a subordinação da mulher (MIRANDA, 2017). Segundo Gomes (2018), esse discurso chega a responsabilizar a vítima pela agressão.

Para Lommi (2013), o objetivo do agressor é impor seu domínio sobre a mulher, ao esgotar os recursos que evita a separação, ele parte para agressão; e as frases e jargões reforçam

41 Lei nº 13.104/2015 que tipifica o feminicídio praticado pelo atual ou ex-companheiros, por menosprezo ou discriminação à condição de mulher, no Brasil, publicação disponível no site do Palácio do Planalto.

42 Na Lei 8.930/1994, altera a Lei 8.072/1990 são crimes tipificados no Decreto-Lei 2.848/1940-Código Penal. 43 Análise de Mídia (2014) da ANDI - Comunicação e Direito, disponível no site <httpp://www.andi.org.br/>. 44 Publicação sob o título As críticas de Carole Pateman e Susan Okin à dicotomia Público/Privado na Revista Sociais & Humanas (UFMS), em 2018.

a violência e ações dos agressores. Segato (2016) alerta que atos violentos tomados como mensagem influenciam a linguagem, que deve ser desinstalada do vocabulário social.

Segundo Cerqueira (2008, p. 161-162), o "discurso jornalístico reproduz atitudes e ideologias que legitimam a dominação". Christofoletti (2008) recomenda o desprendimento de valores e opiniões pessoais. Steiner (2017) conta que sob resistência masculina, as mulheres entraram nas redações e se tornaram maioria, mas os cargos de direção permanecem no domínio dos homens. Em 2018, o Clarin de Buenos Aires45 destacou o curso da subeditora do El Tiempo da Colombia, Jineth Bedoya, que relata sua experiência, como vítima da violência e desigualdade de gênero no jornalismo. O relatório da Fenaj (2018)46 aponta 227 vítimas, com 23,08% de mulheres, em 2017. Então, Segato (2018)47 considera a reflexão, uma ferramenta essencial para a percepção social. O próximo título traz a metodologia adotada.

3. Metodologia do estudo

A pesquisa se concentrou na análise qualitativa da cobertura jornalística, que se refere ao assassinato de mulheres, na versão on-line do jornal Folha de S. Paulo (2017), para avaliar o uso do termo feminicídio, sob o método da Análise de Conteúdo de Bardin (2011) e da Análise de Conteúdo Digital de Jorge (2015). Para tanto, utilizou-se a pesquisa documental na coleta dos dados e a pesquisa bibliográfica na compreensão das especificidades da análise em comunicação e jornalismo, violência contra a mulher, feminicídio e desigualdade de gênero.

A escolha do jornal considerou o perfil da mídia integrante do Grupo Folha, com circulação diária, abrangência nacional e leitores de várias faixas etárias, em ambos os sexos (FOLHA, 2018). Na busca do site foram usadas Unidades de Registro (UR's), como "Feminicídio" (Tipificador); e "Outros Termos" (Não-Tipificador), entre esses, homicídio, crime passional, assassinato de mulher; bem como, baleada, estrangulada e queimada.

Após o tratamento dos dados verificou-se no Folha de S. Paulo: 1) a quantidade de publicação com o termo feminicídio e outros termos; e 2) a frequência do termo feminicídio e

45Por Mariana Iglesias, sob o título Los medios de comunicación tienen una deuda histórica con las mujeres”, no jornal Clarin de Buenos Aires, em 2018, disponível na mídia on-line do veículo.

46 Relatório da Violência contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa no Brasil (2018) da Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), publicado no site da instituição em 18 de janeiro de 2019.

47Palestra El periodismo y el espejo de la reina mala, Rita Segato, no XII Encuentro Nacional de la Red PAR, 18

outros termos no conteúdo. A amostra foi categorizada, como: tipificador (termo feminicídio) e não-tipificador (outros termos); factual (relato da ocorrência) e não-factual (abordagem do assunto); sensibilizador (com contextualização) e não-sensibilizador (sem contextualização).

Para Gagniere e Lauri (2013), a falta do termo feminicídio favorece amenizadores, impede a tipificação, o contexto e o combate ao crime. O Dossiê Feminicídio (2016)48 destaca

entre outros, “ataque de ciúme” e “perdeu a cabeça”. Dessa forma, emerge-se o problema da pesquisa sobre o uso do termo feminicídio. O título a seguir traz os resultados e discussões.

4. Resultados e discussões

No Folha de S. Paulo (2017) foram localizados 78 publicações, sendo 75 textos com uso do termo "feminicídio" ou 96,15% da amostra; e 03 com uso de "outros termos" ou 3,85% dos recortes. Foram identificados 14 textos ou 17,94% como tipificador factual, com 6,41% sensibilizador e 11,53% não-sensibilizador. Outros 61 textos ou 78,20% como tipificador não- factual, com 17,94% sensibilizador e 60,25% não-sensibilizador. E ainda, 01 texto ou 1,28% como não-tipificador factual; e 02 textos ou 2,56% como não-tipificador não-factual, ambos não-sensibilizadores. O Gráfico 1 ilustra a amostra e as categorizações, a seguir.

Gráfico 1 Amostra dos textos tipificador e não-tipificador no jornal Folha de S. Paulo (2017)

Fonte: Santos(2019).

O Gráfico 2 ilustra a frequência dos termos na amostra, conforme apresentado a seguir. Gráfico 2 Ocorrência dos termos na amostra do jornal Folha de S. Paulo (2017)

Fonte: Santos(2019).

Não foi encontrado texto não-tipificador e sensibilizador. Apesar de a maioria citar o termo feminicídio, mais de 71% era não-sensibilizador. Foram identificadas 167 ocorrências do termo feminicídio e 379 de outros termos; logo, para cada termo tipificador foram identificadas 2,26 vezes mais, os termos não-tipificadores, nessa amostra.

5. Considerações finais

A pesquisa alcançou os objetivos específicos propostos e promoveu uma reflexão sobre a importância do uso do termo feminicídio na cobertura jornalística para o combate desse crime. Na análise evidenciou-se que, apesar da adoção do termo tipificador, a maioria dos textos da amostra ainda carecia de contextualização sobre as implicações permeadas na prática do feminicídio. O estudo não encerra questões, mas deixa uma contribuição para continuidade das reflexões sobre a pauta feminicídio e o papel social do jornalismo.

Referências

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AS NOVAS COMPETÊNCIAS DO JORNALISMO E O EMPREENDEDORISMO

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