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COMUNICAÇÃO GOVERNAMENTAL E CAPACIDADES ESTATAIS NA GESTÃO

Ocorrência das Síndromes

COMUNICAÇÃO GOVERNAMENTAL E CAPACIDADES ESTATAIS NA GESTÃO

DE RESÍDUOS SÓLIDOS BRASILEIRA57

57 O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES) – Código 001

Lucas Braga da Silva58 Universidade Federal do Tocantins

Verônica Dantas Meneses59 Universidade Federal do Tocantins

Eixo Temático de submissão: Comunicação nas organizações Resumo

Este trabalho discute a comunicação governamental como um instrumento para o desenvolvimento das capacidades político-relacionais na gestão de resíduos sólidos brasileira. A partir da pesquisa bibliográfica, foram explorados conceitos e processos que permitem inferir que a comunicação governamental possibilita a interação e a participação de atores sociais distintos na elaboração, implementação e até mesmo avaliação de políticas públicas e tornar transparentes tais processos.

Palavras-chave: Resíduos Sólidos. Capacidades estatais. Capacidades político-relacionais.

Introdução

A comunicação governamental instituída entre as agências estatais e entre estas e a sociedade pode ser vista como um instrumento para o desenvolvimento de capacidades estatais e assim fortalecer a legitimidade na elaboração e implementação de políticas públicas (RAMESH et al., 2016). Para Souza (2016, p. 13) “as capacidades estatais são condições para formular, decidir e executar políticas públicas, elementos que levam o Estado a determinado desempenho, mas não de maneira independente à sociedade”.

Este estudo adota as intersecções entre os campos de estudos da comunicação governamental e das capacidades político-relacionais. Para Cezar (2018) a comunicação governamental possibilita a interação e a participação de atores sociais distintos na elaboração, implementação e até mesmo avaliação de políticas públicas, bem como divulgar e informar a respeito das decisões e outros acontecimentos relevantes apontados neste contexto. Já a capacidade político-relacional busca estabelecer ligações e associações entre o Estado e a sociedade civil, e também entre as instituições deste, bem como a mobilização social, política e a participação de atores distintos nas discussões relacionadas a elaboração e implementação de políticas públicas. Para alcançar a legitimidade da política pública é necessário um processo

58 Tecnólogo em Logística, Administrador, Mestrando em Comunicação e Sociedade. E-mail: lucaslogistica19@gmail.com

comunicativo, interativo e dialógico adequado nas relações e articulações estabelecidas entre os mais variados atores sociais (GOMIDE; PEREIRA, 2018).

Entendemos a comunicação governamental de forma intermediada pelas tecnologias de informação, tendo em vista que ela possibilita informações a respeito dos processos de políticas públicas e outros para a sociedade, e favorece um ambiente interativo e mais próximo das instituições estatais e dos cidadãos (CARNIELLO; SANTOS; OLIVEIRA, 2011). Além de “desempenho, eficiência, eficácia, transparência, mecanismos de controle, qualidade do gasto público e prestação de contas” (DINIZ et al., 2009, p. 25). Ainda possibilita “a comunicação com os diversos segmentos sociais interessados em conhecer os resultados das ações efetivadas em decorrência da ação” da administração pública e viabiliza “a gestão participativa” (CARNIELLO; SANTOS; OLIVEIRA, 2011, p. 10).

Este estudo é uma das discussões apresentadas em uma pesquisa maior, que objetiva apresentar a comunicação governamental como um instrumento para o desenvolvimento de capacidades estatais na gestão de resíduos sólidos brasileira, especificamente as capacidades político-relacionais instituídas pela comunicação estabelecida pelos sítios eletrônicos das secretarias de meio ambiente das unidades federativas brasileiras. Tal pesquisa é de natureza qualitativa, exploratória e adota a análise do conteúdo (a partir de critérios definidos) disponibilizado pelas páginas eletrônicas citadas anteriormente.

Capacidades estatais e comunicação governamental

Alguns autores consideram as capacidades estatais como um conjunto de habilidades, competências e recursos necessários para a elaboração e implementação de políticas públicas. Dispostos em três níveis: individual (refere-se ao conhecimento técnico dos gestores e analistas de políticas públicas), organizacional (disponibilidade de recursos humanos, financeiros e tecnológicos) e sistêmico (diz respeito ao apoio dos atores políticos e da sociedade civil) e três dimensões: analítica (garante estrutura consistente na elaboração e implementação de políticas públicas), operacional (busca alinhar os recursos disponíveis com os objetivos propostos) e política (apoio dos representantes do executivo e legislativo estadual e municipal) (XUN; RAMESH; HOWLETT, 2015; RAMESH et al., 2016; RAMESH; HOWLETT; SAGUIN, 2016).

Outros que as capacidades estatais diz respeito aos recursos institucionais e financeiros que os atores políticos, burocráticos e as instituições de apoio conseguem mobilizar para elaborar e implementar políticas públicas, especificamente para grupos sociais de um determinado setor da sociedade (GRIZA et al., 2017). De modo geral, conforme cita Gomide; Pereira e Machado (2017, p. 7), as capacidades estatais dizem “respeito ao poder de produção de políticas públicas pelas burocracias do Estado”.

Já Pires e Gomide (2016) consideram que as capacidades estatais se subdividem em dois grupos: técnico-administrativas e político-relacionais. No caso destas primeiras, envolveria gestores especializados para atuar em cargo público, disponibilidade de recursos financeiros, pessoal e de sistemas de informação, além de técnicas de monitoramento das políticas públicas. As capacidades político-relacionais referem-se às interações entre as empresas e o poder público, e entre este último e a própria sociedade, bem como a participação social nos processos decisórios e as interações entre as instituições estatais.

A comunicação entre as estruturas organizacionais do aparelho do estado e entre estas e a própria sociedade pode ser visto como um ponto crítico para as capacidades estatais, tendo em vista que trata-se de um mecanismo que afeta positivamente ou negativamente a compreensão e o apoio a gestão de políticas públicas. “Sem estruturas e processos de comunicação que possibilitem a troca de informações de duas vias entre o Estado e os cidadãos, é difícil para os estados responderem às necessidades e expectativas do público” (RAMESH et al., 2016, p. 13, tradução nossa). Portanto, para que o Estado adquira legitimidade de suas atividades é necessário uma boa comunicação entre a sua estrutura organizacional e a coletividade. Para isso acontecer um dos requisitos refere-se à interação dos gestores com os objetivos, planos e procedimentos organizacionais para a execução da política (RAMESH et al., 2016).

Para Cezar (2018), os processos comunicacionais governamentais tem se mostrado cada vez mais eficientes no sentido de divulgar e informar o cidadão a respeito da elaboração, implementação e avaliação de políticas públicas. Além de buscar a mobilização da sociedade para participar dos debates nas arenas públicas e a interação neste contexto. Através da comunicação é possível a construção e a manutenção de políticas públicas mais transparentes e com a participação de atores estatais e não estatais.

Destaca-se, portanto, que o avanço das tecnologias de informação e comunicação trouxeram um novo conceito para a administração pública denominado de governo eletrônico. É uma plataforma eletrônica disponibilizada pelos governos tendo em vista democratizar o acesso à informação, o debate e participação da coletividade nos processos de elaboração e implementação de políticas públicas, bem como aprimorar a qualidade dos serviços prestados e informações de interesse público (CARNIELLO, 2015).

Diante dos avanços tecnológicos e da necessidade de modernizar os procedimentos organizacionais da administração pública, outros temas também passaram a integrar o governo eletrônico, tais como “desempenho, eficiência, eficácia, transparência, mecanismos de controle, qualidade do gasto público e prestação de contas” (DINIZ et al., 2009, p. 25).

Ainda possibilita “a comunicação com os diversos segmentos sociais interessados em conhecer os resultados das ações efetivadas em decorrência da ação” da administração pública e viabiliza “a gestão participativa”. Através da comunicação governamental instituída pelas mídias digitais é possível a sociedade se informar a respeito de assuntos de ordem e pública e ainda favorece um espaço interativo e mais próximo entre governo e cidadãos (CARNIELLO; SANTOS; OLIVEIRA, 2011, p. 10).

Neste caminho, adota-se as abordagens das capacidades político-relacionais defendidas por Pires e Gomide (2016, p. 127), segundo os quais elas estão “associadas às habilidades e procedimentos de inclusão dos múltiplos atores (sociais, econômicos e políticos) de forma articulada nos processos de políticas públicas”. Busca-se com isso “à construção de consensos mínimos e coalizões de suporte aos planos, programas e projetos governamentais”. Trata-se de habilidades e competências para articular processos participativos e interativos entre os atores estatais e não estatais.

Desta maneira, a capacidade político-relacional busca estabelecer ligações e associações entre o Estado e a sociedade civil, e também entre as instituições deste, bem como a mobilização social, política e a participação de atores distintos nas discussões relacionadas a elaboração e implementação de políticas públicas. Para alcançar a legitimidade da política pública é necessário um processo comunicativo, interativo e dialógico adequado nas relações e articulações estabelecidas entre os mais variados atores sociais (GOMIDE; PEREIRA, 2018).

Pudemos observar que as “capacidades político-relacionais, envolvendo interações com agentes políticos e canais para a participação da sociedade civil, tendem a ampliar, relativamente, o potencial de revisão, aprendizado e inovação nas políticas públicas” (PIRES; GOMIDE, 2016, p. 121). Nesse sentido, os gestores devem buscar métodos de se relacionarem “com distintos sistemas institucionais, com seus atores e interesses: burocracias de diferentes poderes e níveis de governo, parlamentares de diversos partidos, empresas privadas e organizações da sociedade civil” (GOMIDE; SÁ e SILVA; PIRES, 2014, p. 237).

Portanto, as abordagens teóricas dos campos de estudo da comunicação governamental e das capacidades político-relacionais se inter-relacionam em alguns aspectos, tais como a promoção de uma gestão de políticas públicas interativa e participativa a fim de incluir atores sociais distintos nas arenas de debates públicos, dar visibilidade aos processos, permitir acesso à informação, controle público e transparência das atividades desenvolvidas pela administração pública a toda à sociedade.

Referências

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Capacity as Organizational and Systemic Resources. Lee Kuan Yew School of Public Policy

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COMUNICAÇÃO NA PERSPECTIVA DE GÊNERO: MOVIMENTO #METOO NO

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