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DIFICULDADES, SOFRIMENTO E PRAZER NA VIDA ACADÊMICA: UM ESTUDO COM ESTUDANTES DE ADMINISTRAÇÃO E JORNALISMO

Ocorrência das Síndromes

DIFICULDADES, SOFRIMENTO E PRAZER NA VIDA ACADÊMICA: UM ESTUDO COM ESTUDANTES DE ADMINISTRAÇÃO E JORNALISMO

Janaína Vilares da Silva77 Universidade Federal do Tocantins

Liliam Deisy Ghizoni78 Universidade Federal do Tocantins

Eixo Temático de submissão: Saúde Mental na Universidade Resumo

Objetiva-se discutir as principais dificuldades enfrentadas pelos estudantes da graduação na atualidade, bem como as fontes de prazer e sofrimento por serem universitários. Trata-se de um recorte de pesquisa, com abordagem qualitativa, tendo como suporte teórico a Psicodinâmica do Trabalho. Com relação aos resultados, a maior dificuldade apontada foi a questão financeira; já a falta de tempo foi a maior fonte de sofrimento; com relação ao prazer destaca-se as amizades. Conclui-se que não há apenas sofrimentos na universidade, havendo fontes de prazer para que ocorra a mobilização do sujeito em prol da saúde mental.

Palavras-chave: Saúde Mental. Prazer-sofrimento. Universitários.

1. Introdução

Na atualidade o adoecimento psíquico, bem como os sintomas psicossomáticos, a ideação suicida e a concretude do suicídio, vêm crescendo com uma velocidade assustadora, tornando-se cada vez mais recorrente na sociedade moderna. Dutra (2012) relata que há um crescimento de notícias, como redes sociais, blogs, instagram, facebook, dentre outros, a respeito do sofrimento mental a até mesmo o próprio suicídio.

Nas universidades o número de notícias de sofrimento psíquico e até mesmo de suicídios tem aumentado. De acordo com Santos et. al. (2017), o suicídio tornou-se a segunda maior

77Mestranda do programa de pós-graduação em Comunicação e Sociedade - PPGCom/UFT. Psicóloga da Universidade Federal do Tocantins. Membro do grupo de pesquisa no CNPQ “Trabalho e Emancipação: Coletivo de Pesquisa e Extensão”. E-mail: vilaresjana@gmail.com.

78Doutora em Psicologia Social do Trabalho e das Organizações na UnB com Estágio Sanduíche na Université Catholique de Louvain la Neuve - Bélgica. Mestre em Educação (área de Educação e Trabalho) pela Universidade Federal de Santa Catarina. Especialista em Saúde Mental pela FIOCRUZ. Psicóloga pela Universidade do Vale do Itajaí, graduação em Estudos Sociais pela Universidade do Vale do Itajaí. Professora adjunta da UFT, no curso de administração e no PPGCom. Líder do grupo de pesquisa no CNPQ “Trabalho e Emancipação: Coletivo de Pesquisa e Extensão”. E-mail: ldghizoni@gmail.com.

causa de óbito entre os estudantes universitários, o que é bastante preocupante, devido a toda potencialidade destes jovens e da perspectiva de anos a serem vividos.

Existe um senso comum de que a maioria dos casos de suicídio ocorre porque o sujeito encontra-se com depressão, todavia o suicídio é um evento multifatorial ou multidimensional, e até mesmo existencial79, pois há inúmeros fatores na vida de um sujeito que podem levar ao

adoecimento e ao suicídio.

Diante deste contexto, as universidades vêm pensando intervenções em saúde mental para a sua população, seja para os jovens universitários ou para os servidores. A Universidade Federal do Tocantins criou o Programa Mais Vida por meio da Portaria nº 559, de 11 de abril de 2018, e deste então vem articulando ações no âmbito da pesquisa, do ensino e da extensão. Destarte a Universidade Federal do Tocantins (UFT), criou a disciplina “Prazer e Sofrimento na Universidade”, ofertada em 2019/1 para as graduações de administração e jornalismo do Campus de Palmas-TO. Esta experiência piloto foi ministrada pela professora doutora Liliam Deisy Ghizoni, juntamente com suas orientandas de mestrado Janaína Vilares da Silva e Jordanna de Sousa Parreira, que fizeram seus estágios de docência.

Assim, o presente estudo é um recorte do instrumento utilizado na disciplina para mapear o perfil dos estudantes que participaram da experiência. Deste modo, o objetivo é discutir as principais dificuldades enfrentadas pelos estudantes na atualidade, bem como as fontes de prazer e sofrimento por serem estudantes universitários.

2. Fundamentação Teórica

Os termos prazer-sofrimento vêm da abordagem teórica “Psicodinâmico do Trabalho” criada na França do século 20, por Cristophe Dejours. A partir da disciplina “Psicopatologia do Trabalho” que focava a questão do sofrimento e das patologias associadas à organização do trabalho, Dejours percebeu que a saúde e o trabalho como fonte de prazer eram negligenciados (DEJOURS, 2017a; FERREIRA, 2013b; SALGADO et. al., 2018).

Desta forma, a partir dos anos 1970, Dejours inicia seus estudos voltados ao viés da relação entre a saúde mental e o trabalho, embora até os anos de 1993 ainda use a denominação “Psicopatologia do Trabalho”, rompendo com esta com a publicação do Addendum do livro a

79 Conceito apresentado pela professor Leny Carrasco, do Instituto Federal do Tocantins (IFTO), ministrado na palestra “Suicídio: Palestra de sensibilização e técnicas de manejo sobre suicídio e automutilação para técnicos e docentes”, ministrada em 11.06.2019, na Universidade Federal do Tocantins (UFT).

Loucura do Trabalho, no qual Dejours busca esclarecer que os trabalhadores agem a partir de estratégias defensivas individuais e coletivas, com a finalidade de enfrentar e se proteger dos efeitos nocivos ao sofrimento no trabalho e em busca de sua saúde mental (DEJOURS, 2011; VASCONCELOS, 2015; FERREIRA, 2013b; MENDES; ARAÚJO, 2012; LANCMAN; SZNELWAR, 2011).

Com essa mudança, os trabalhadores saem do modelo passivo, antes visto pelos estudiosos na área, e passam a ser considerados sujeitos que possuem a capacidade de enfrentamento com relação a organização do trabalho, e este torna-se um mediador à saúde e a emancipação do trabalhador quando ganha sentido (VASCONCELOS, 2015; MENDES; ARAÚJO, 2013; DEJOURS, 1999; 2017a; 2017c; 2011; MORAES, 2015).

Desta forma, Dejours trabalha com o constructo único e indissociável “Prazer- Sofrimento”, no qual o trabalho é tanto fonte de prazer, quanto de sofrimento, podendo este ocorrer de três formas distintas: criativo, ético e patogênico.

O prazer surge dos contextos de trabalho e é um princípio mobilizador, que leva o sujeito a ação, em busca da realização, gratificação e reconhecimento, promovendo uma ressignificação do sofrimento (MENDES; MULLER, 2013).

O sofrimento criativo é aquele que possibilita ao sujeito transformar os sofrimentos patológico ou ético em algo benéfico para o sujeito, subvertendo-o em prazer. Ocorre através da negociação entre as imposições organizacionais e os conteúdos subjetivos do trabalhador, para tanto é necessário uma flexibilidade entre as partes (MORAES, 2013b).

O sofrimento se torna patogênico quando o trabalhador não consegue encontrar meios de negociar com a organização de trabalho, impossibilitando o exercício de sua capacidade criadora, através de vivencias fixas e rígidas. Esse tipo de sofrimento leva a frustração, alienação, sentimento de fracasso e impotência que, quando persistente, pode levar ao adoecimento físico e mental do trabalhador (MORAES, 2013b; MONTEIRO et al., 2015).

O sofrimento ético se diferencia dos outros, pois se trata de um conflito moral do sujeito consigo mesmo. Ocorre quando este se depara com situações no ambiente de trabalho que vão de encontro com seus princípios éticos e morais, levando-o a agir contra seus desejos e valores. Este sofrimento pode ser enfrentado, através da mobilização do sujeito, ou negado, podendo até chegar a se tornar patológico (MENDES; ARAÚJO, 2013).

Trata-se de uma pesquisa de abordagem qualitativa e natureza descritiva. Aplicou-se um instrumento cujo objetivo foi o levantamento do perfil dos alunos da disciplina “Prazer sofrimento na universidade”, turma 2019/1. Este foi dividido em quatro partes: dados pessoais; dados profissionais; sobre o seu estado de saúde e informações gerais.

Ao todo, foram realizadas 39 perguntas, todavia para este recorte serão analisadas, além da parte sociodemográfica, as três últimas perguntas abertas do questionário: 1. Está passando por alguma outra dificuldade específica? (financeira, familiar, conjugal, de saúde...); 2. Na UFT, enquanto estudante de Graduação, qual o seu principal sofrimento?; 3. Na UFT, enquanto estudante de Graduação, qual a sua principal fonte de prazer?

Fez-se uso do formulário eletrônico Google forms, disponibilizado no google sala de aula, deste modo, todos os alunos matriculados tiveram acesso para responder ou não.

Com relação aos cuidados éticos, tomou-se o cuidado para manter o sigilo de resposta, sendo que o participante poderia desistir da pesquisa em qualquer momento, sem sofrer qualquer penalidade. Os eventuais riscos decorrentes de participação na pesquisa poderiam estar relacionados ao desconforto emocional, intimidação, angústia, insatisfação, irritação e algum mal-estar frente aos questionamentos. Os benefícios aos participantes ocorrerão através do levantamento dos sofrimentos éticos, patológicos e criativos, bem como do prazer advindo do trabalhar do estudante universitário, possibilitando se pensar em saúde mental e prevenção do adoecimento físico e psicológico na universidade. As respostas serão analisadas a luz da teoria da “Psicodinâmica do Trabalho”, criada por Cristophe Dejours.

4. Resultados e Discussões

Ao todo a pesquisa teve a participação de 25 alunos de 27 matriculados, nascidos entre 1974 e 1999, tendo o aluno mais velho 45 anos e o mais novo 20 anos. Destes 60% são do sexo feminino e 40% do sexo masculino. Ao todo, 80% são solteiros e não possuem filhos e 20% são casados ou em união estável e possuem filhos. Para 88% esta é a primeira graduação, os restantes já possuem formação em publicidade e propaganda, análise de sistemas e direito.

Atualmente, 92% dos acadêmicos trabalham juntamente ao estudo, nos seguintes ramos: atividades administrativas; informação e comunicação; educação; administração pública, defesa e seguridade social; atividades profissionais, científicas e técnicas; agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura; indústrias extrativas; atividades autônomas, aeronáutica; eventos; igreja e vendas e telefonia. Destes, 45,8% trabalham pela CLT

(Consolidação das Leis do Trabalho), 29% realizam estágio, 12,5% são servidores públicos, 12,5% autônomos, 4,2% contrato temporário e 4,2% possuem cargo comissionado.

Devido ao fato de as perguntas serem abertas, as respostas foram agregadas em categorias de acordo com a similaridade e repetição das respostas, conforme tabela abaixo: Tabela 1. Resultados da pesquisa

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