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CAPÍTULO II – COMPONENTES DA PESQUISA

2.1 A PESQUISA

2.3.3 Análise dos dados

Os dados gerados pela aplicação dos questionários foram analisados de acordo com a técnica de “Análise Fenomenológica” desenvolvido por Edmund Husserl (1859 – 1938). Este método parte da perspectiva de cada participante, das suas estruturas subjetivas de significados, das suas intenções, porque os fenômenos nas ciências humanas sempre são objetos intencionais como explica Moreira (2002). A “Análise Fenomenológica” é muito abrangente e de difícil limitação. De acordo com Grauman e Métraux (1977) uma pesquisa que utiliza a “Análise fenomenológica” possui três funções:

 uma função crítica, na medida em que as abordagens predominantes são questionadas nas várias áreas de conteúdo e conceitos metodológicos básicos;

 uma função heurística, na medida em que propõe novas perspectivas, aspectos e alternativas e os transforma em prática de pesquisa;

 uma função descritiva, na medida que é desenvolvida uma compreensão mais ampla de áreas de conteúdo a partir da perspectiva do sujeito.

A “Análise Fenomenológica” é oriunda da hermenêutica que surgiu na Grécia antiga como a arte de interpretar os textos bíblicos, a retórica estudava as expressões mais adequadas para deixar o discurso persuasivo e a lógica determina as regras formais do raciocínio. Mas, foi a partir dos trabalhos de Friedrich Schleiermacher (1768 – 1834) no início do século XIX, que a hermenêutica passa a ser vista como uma nova metodologia de pesquisa nas ciências sociais e humanas. Nesse novo enfoque a hermenêutica não inclui a interpretação apenas de textos teológicos, mas de todas as expressões humanas. Scheleiermarcher propõe uma hermenêutica geral centrada na linguagem, cujo grande desafio é conhecer o ser humano, compreendendo o seu discurso.

Aprimorando a teoria de Schleiermacher, Dilthey (1833 – 1911) expande a hermenêutica a todas as demais áreas do conhecimento e diferencia a compreensão do mundo a partir da humanidade e a explicação da realidade a partir do mundo. Dilthey em sua obra “Introdução às Ciências Humanas” (1883) considerou que só por meio do desenvolvimento de uma metodologia própria poderiam os estudos nas ciências humanas e sociais atingir a sua independência. De acordo com Dilthey, a interpretação de um texto exige uma apropriação da realidade e do desenvolvimento histórico da humanidade.

Tomando como base as teorias elaboradas por Schleiermacher e Dilthey, Martin Heidegger (1889 – 1976), estabelece uma nova definição de hermenêutica, a qual ele denomina de hermenêutica existencial. Segundo Heidegger, a hermenêutica não pode ser convencionada como um método do conhecimento científico, mas um modo de estar. A compreensão sai do campo da convivência e passa a estar situada no “mundo do eu”. Ainda de acordo com Heidegger, o acesso à realidade é mediado pela linguagem.

Apoiado nas teorias de Scheleiermacher, Dilthey e Heidegger, Gadamer (1900 – 2002), lança sua obra “Verdade e Método” (1960), cuja essência é

estabelecer a hermenêutica como um método de construção de conhecimento nas ciências humanas e sociais. Gadamer questiona a ideia de Dilthey, de acordo com a qual a experiência da verdade nas ciências humanas depende do método. O projeto de Gadamer eleva o status das ciências humanas para além da objetividade das ciências naturais, considerando que não é a metodologia a dimensão mais importante, mas a relevância do ideal humanista.

A compreensão na perspectiva da hermenêutica gadameriana também está além da proposta por Heidegger e Dilthey. Em Gadamer ela assume um sentido ontológico, ou seja, ela é constitutiva do ser humano em si. De uma forma mais radical, compreender é uma condição necessária para a existência do ser humano. Esse talvez seja o ponto mais importante da teoria de Gadamer, porque justifica o uso da hermenêutica como método de investigação nas ciências humanas, tendo em vista que o objetivo dessas ciências não é explicar o comportamento humano, mas compreendê-lo. A compreensão é a base das ciências humanas e o fundamento principal da filosofia Gadameriana.

De acordo com Dartigues (1992), o termo fenomenologia foi empregado pela primeira vez, na obra, Novo órganon (1764), de Johann Heinrich Lambert (1728- 1777), com o sentido de teoria da ilusão sob suas diferentes formas. A fenomenologia como método de investigação compreende o estudo ou ciência do fenômeno, sendo que por fenômeno, em seu sentido mais geral, entende-se tudo o que se manifesta ou se revela por si mesmo.

O método fenomenológico, segundo Martins (1992), busca compreender as percepções dos sujeitos e, sobretudo, ressaltam o significado que os fenômenos têm para as pessoas. Martins (1992), ainda esclarece que o pesquisador tem como ponto de partida na investigação a experiência dos sujeitos que vivenciam o fenômeno em análise.

A fenomenologia tem como objetivo precípuo a investigação direta e a descrição de fenômenos que são experienciados conscientemente, sem teorias para sua explicação causal, e tão livre quanto possível de pressupostos e de preconceitos. (MARTINS, 1992, p. 50)

A fenomenologia é vista não somente como um método, mas como um arcabouço filosófico, fundamentado nas teorias dos filósofos existencialistas, Heidegger, Schutz, Sartre, Merleau-Ponty, Ricoueur, dentre outros.

Martins (1992) explica que o método fenomenológico é realizado em três momentos: a descrição, a redução e a compreensão. A descrição compõe-se de três elementos: a percepção, a consciência que se dirige para a experiência e o sujeito que se vê capaz de experimentar o corpo-vivido através da consciência. Ainda de acordo com o autor, a redução fenomenológica é o momento em que são selecionadas, por intermédio da variação imaginativa, as partes essenciais da descrição do sujeito pesquisado. Essa etapa tem como objetivo determinar, selecionar as partes da descrição que são consideradas essenciais e aquelas que não o são.

A compreensão fenomenológica, de acordo com Martins (1992), ocorre paralelamente à interpretação. É o momento em que se busca obter o significado essencial na descrição e na redução. O pesquisador assume o resultado da redução como um conjunto de asserções ou unidades de significado, que se mostram significativas para ele, apontando também para a experiência do sujeito, para a consciência que o sujeito tem do fenômeno.

Após a obtenção das descrições dos participantes da investigação, o pesquisador deve proceder à análise das mesmas. Não há, portanto, um procedimento padrão a ser seguido pelo pesquisador. Na análise fenomenológica existem diversas maneiras que podem indicar caminhos adequados na busca da compreensão do fenômeno. Trata-se de um processo de investigação gradativo, relacionado ao próprio desenvolvimento da fenomenologia, enquanto alternativa metodológica de pesquisa nas ciências humanas e sociais.

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