• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO I – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

1.2 POLITICAS PÚBLICAS EDUCACIONAIS

A educação é um bem público e como assegura Dewey (1974) é fundamental para a construção de uma sociedade democrática. Ao longo dos dois últimos séculos, a educação vem se estabelecendo como um direito de todos os cidadãos e como um dever do Estado a sua promoção, com qualidade, e para todos. A educação contribui para a ascensão social, melhoria em outras áreas como saúde, segurança, ciência, tecnologia etc. e para o desenvolvimento do país de uma forma geral. Nessa perspectiva, a educação tem uma função social que interessa ao cidadão, à família, aos grupos sociais organizados, aos meios de comunicação, à sociedade e ao Estado.

De acordo com Benítez (2006), essa pluralidade de atores e interesses, faz da Educação um assunto muito complexo, público e privado, uma vez que delimitar não é fácil. Essa complexidade pode se acentuar considerando outros fatores como a cultura e as transformações ocorridas no mundo, após a segunda guerra mundial. Esse evento despertou uma nova consciência sobre educação e fomentou transformações em sistemas de educação de várias nações.

Luzuriaga (1983), em seu livro História da educação pública, distingue quatro períodos no desenvolvimento da educação ocidental: a educação pública religiosa entre os séculos XVI e XVII, influenciada pela Reforma Protestante, a educação pública estatal, século XVIII, caracterizada como pública, universal, gratuita, obrigatória e leiga, cujo auge ocorre em 1789, com a Revolução Francesa, a educação pública nacional, no século XIX, que priorizava a estruturação dos

sistemas nacionais de educação e a educação pública e democrática, no século XX, que tem como metas a universalização da educação em termos quantitativos e com padrão de qualidade com relação ao pedagógico. Esses períodos são definidos em virtude do contexto histórico, social e cultural da Europa.

Sob o domínio das ideias iluministas, o século XVIII foi caracterizado na Europa como século da Educação, cujo principal objetivo era expandir a educação a todos os níveis, buscando chegar a um mundo mais sábio e justo. O Iluminismo foi um grande movimento ideológico e cultural, que entre seus participantes pode-se destacar Jean-Jacques Rousseau e Immanuel Kant.

Enquanto a Europa rompia com antigos paradigmas e promovia grandes transformações no seu sistema educacional o Brasil ainda se encontrava no período colonial e sua educação situada ao que corresponderia ao primeiro período proposto por Luzuriaga (1983).

As mudanças bruscas na educação ou rupturas no sistema educativo são chamadas pelo Estado de reformas e sempre têm o intuito de adequar o sistema a nova ordem mundial, ou atender interesses da sociedade política (órgãos do Estado) ou da sociedade civil.

As reformas incluem um conjunto de ações governamentais visando atender as demandas desse setor, que podem ocorrer em nível municipal, estadual ou federal, representando o que se denomina políticas públicas educacionais. No contexto atual, tais políticas visam principalmente oportunizar uma educação de qualidade e para todos.

Na América Latina as reformas educacionais são mais recentes e têm como desafio reduzir as desigualdades no sistema educacional. No entanto, as causas são complexas. Um dos erros cometidos pelo Estado, como sugere Gajardo e Puryear (2003) é a centralização do sistema, que restringe a autonomia dos atores participantes do processo e a transparência dos resultados. Esses autores também citam a falta de qualificação docente e o desprestígio da carreira como fatores preponderantes para a falta de qualidade na educação.

Gajardo e Puryear (2003) consideram ainda que as políticas públicas educacionais devem ter as seguintes iniciativas:

1. educação como prioridade política;

2. recursos públicos aplicados prioritariamente na educação básica; 3. fortalecimento da profissão docente;

4. qualificação dos professores;

5. descentralização dos sistemas educacionais ampliando a participação dos pais, professores e outros grupos sociais nas decisões políticas.

O processo educacional deve ser priorizado em sua totalidade e não somente na ampliação ao acesso. É fundamental que se garanta a permanência do aluno durante toda a educação básica, corrigindo as falhas do sistema que levam a repetência e consequentemente a evasão escolar.

A educação é dever do Estado, mas responsabilidade de todos, como salienta a Lei de Diretrizes e Bases – LDB (1986). Construir uma nação democrática é oferecer oportunidades iguais de acesso ao conhecimento formal, a todos os cidadãos, dando-lhes as mesmas chances de participação social, política e econômica. Ney (2008), afirma que, no Estado liberal, a educação é vista como uma necessidade imprescindível do trabalho e deve ser estruturada em função dele.

Contudo, o dilema central da política educacional, como salienta Ben-Peretz, (2009) é garantir que todos os alunos tenham acesso às mesmas oportunidades de aprendizagem, que historicamente vêm sendo reservadas às classes com maior poder aquisitivo. A forma como isso será realizado é uma indagação feita não só nos países com grande diversidade da população estudantil e disparidades de oportunidades e resultados, mas também em países em que esses problemas haviam sido superados, mas ressurgira devido ao fenômeno da globalização e a pós-modernidade.

A ideia de um mundo sem fronteiras promovido pela globalização permitiu uma maior mobilidade da população mundial. Muitas pessoas buscam oportunidades de formação e capacitação em países considerados desenvolvidos, gerando um novo contexto com maior diversidade cultural, linguística, socioeconômica e étnica

na população estudantil. Em resposta a essas mudanças globais, as políticas públicas de educação devem sofrer adequações para atenderem a essa nova realidade, praticamente todos os países estão experimentando essa transição e reorientando suas políticas educacionais numa visão mais neoliberal em virtude das transformações ocorridas nas últimas duas décadas. No Brasil devido as suas dimensões territoriais e consequentemente cultural e social, esses problemas se tornam ainda maiores.

Nessa nova perspectiva as políticas educativas vêm sendo produzidas por organismos e instituições internacionais por meio de assessorias e consultorias e amparadas por instituições econômicas que promovem ajuda financeira a projetos que têm como objetivo a ampliação do acesso e a melhoria da qualidade da educação. Como salientam Burbules e Torres (2000), a globalização representa o surgimento de organizações supranacionais cujas decisões determinam e restringem as opções políticas de qualquer Estado-nação.

Rodríguez (2008) aponta uma tendência de internacionalização das políticas públicas educacionais, tendo em vista a forma como as estruturas organizacionais, critérios decisórios, currículos formativos e atitudes gerenciais vêm sendo copiadas de um país para outro. Essa convergência em âmbito internacional das políticas públicas educacionais, começa a se materializar por meio da implementação das avaliações internacionais que de certa maneira, obriga os países participantes desse programa a adequarem seus currículos ao currículo utilizado pelo organismo responsável pela avaliação.

Nessa nova perspectiva as políticas públicas educacionais devem ser formuladas para além das fronteiras do país, alinhadas às diretrizes dos organismos supranacionais responsáveis por pensarem a educação em nível internacional.

Para Rosekrans (2006), o êxito para implementação de políticas públicas educacionais está na colaboração entre os diversos segmentos interessados, seja em nível local, nacional ou internacional. Como afirma o autor:

Os desafios enfrentados pelos sistemas de ensino atualmente requerem novos conhecimentos sobre as prioridades políticas e intervenções eficazes para fazer as alterações desejadas. O grau com que esse conhecimento pode ser criado e compartilhado

coletivamente pode fazer a diferença na forma como esse conhecimento se traduz em novas práticas educativas. (ROSEKRANS 2006, p. 13).

No entanto, ações coletivas ainda não são uma constante em Educação. Cada gestor promove suas ações sem refletir sobre o todo, pensando apenas em sua realidade.

Ben-Peretz (2009) explica que alguns princípios são cruciais na formulação das políticas públicas educacionais que atendam o novo contexto mundial e entre os quais, podemos destacar:

1. Uma abordagem ecológica para a educação: nesse sentido a educação é vista como um sistema, uma rede de interação entre os diversos fatores que constituem o contexto em que a educação ocorre.

2. A participação de representantes dos diferentes segmentos que constituem o setor educacional, na discussão dos temas centrais mais relevantes para o planejamento educacional, englobando todos os atores do sistema educacional, os modos necessários de deliberação, e a necessidade de coordenação em vários níveis.

Isso implica dizer que as políticas educacionais para o século XXI, devem ser formuladas vislumbrando um mundo mais integrado pela facilidade de comunicação e de deslocamento. Os problemas não são mais locais ou nacionais, são demandas globais. Decisões devem ser tomadas, pensando na influência da parte no todo e vice-versa.

As mudanças que ocorreram nos sistemas educacionais na América Latina a partir da década de 1990 foram fortemente influenciadas por organismos internacionais multilaterais, tais como o Banco Mundial e o Banco Interamericano de Desenvolvimento, que investem em educação em diversos países. Os investimentos, no entanto, vêm acompanhados de uma série de recomendações que alinham as políticas educativas desses países com os eixos norteadores propostos por esses organismos, como salienta Kruppa (2000). Esses eixos norteadores são: a privatização, a descentralização e assistencialismo através de ações emergenciais. Esses eixos são a base das políticas neoliberais.

Documentos relacionados