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CAPÍTULO I – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

1.5 POLÍTICAS PÚBLICAS DO LIVRO DIDÁTICO NA AMÉRICA DO SUL

A busca pela qualidade na educação não é uma preocupação apenas do Brasil, mas do mundo. Cada país dentro de suas capacidades tenta elevar a qualidade dessa área que é vital para o desenvolvimento de outros setores como ciência e tecnologia que implicam diretamente o crescimento do país.

Assim como no Brasil, a maioria dos países implantam políticas públicas e programas que visam amenizar os problemas na educação. No Brasil o acesso à informação e a disseminação do conhecimento é visto como um fator relevante para atingir um melhor nível de educação, o que exige políticas públicas específicas.

O monitoramento do nível da educação no mundo é feito pelos organismos internacionais (FMI. Banco Mundial, OCDE etc) por meio da UNESCO, que, periodicamente, publica relatórios da situação atual dos diversos países e as metas a serem atingidas num prazo estipulado. Será apresentado a seguir um breve panorama sobre as políticas públicas e/ou programas de produção, aquisição e distribuição de livros didáticos dos países da América do Sul.

O investimento em livros didáticos nos países da América do Sul é realizado com recursos do próprio país e/ou com financiamento de organismos internacionais como o Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID e do Banco Mundial. Segundo Velez et al. (1993), em pesquisa realizada em 1993, em que uma das conclusões atesta que a qualidade do ensino pode ser melhorada por meio de investimentos nos fatores variáveis (como programas de distribuição de livros didáticos), independente do contexto socioeconômico do estudante.

O Governo argentino por meio da Dirección Nacional de Políticas Socioeducativas – DNPS, implementa políticas públicas de distribuição de livros didáticos como estabelece o artigo 80 da Lei da Educação Nacional (26 206). Segundo este dispositivo o Ministério de Educação, de acordo com o Conselho Federal de Educação, vai oferecer livros escolares, entre outros recursos, a alunos e escolas socioeconomicamente desfavorecidos. Esta provisão inclui livros didáticos para alunos e obras literárias, de referência e consulta para as bibliotecas escolares de todos os níveis educacionais.

Segundo o Ministério de Educação10 daquele país, os processos de seleção e

compra de livros é realizado em conformidade com os procedimentos acordados entre o Ministério, a Fundación Poder Ciudadano e os editores, para assegurar o pleno respeito dos princípios de justiça, equidade, transparência e competitividade.

De acordo ainda com esse órgão governamental, os livros didáticos são selecionados em dois níveis (nacional e provincial), por meio da criação de comitês de assessoramento composto por especialistas das diferentes áreas ou temas de cada um dos ciclos e níveis. Tanto a Comisión Asesora Nacional – CAN e as Comisiones Asesoras Provinciales – CAP, são compostas por especialistas e professores da educação básica, indicados pela autoridade máxima de educação em cada jurisdição.

O processo é iniciado através de uma resolução ministerial que aprova a base para a seleção. Este inclui medidas administrativas e os prazos, critérios de seleção e as diretrizes operacionais da Comisión Asesora Nacional (CAN), as Comisiones Asesoras Provinciales (CAP) e as funções de seus respectivos membros.

Para a seleção dos livros são levados em conta três critérios, sendo dois de responsabilidade do CAN e o terceiro do CAP11:

 Adequação à legislação Federal (Conteúdos Básicos Comuns e Núcleos de Aprendizagem Prioritária (NAP);

 Qualidade da abordagem pedagógica, que deve ser adequada à idade dos alunos-alvo e incluir procedimentos de tratamento adequado em cada área do conhecimento, qualidade e quantidade de atividades, e o conteúdo atualizado da disciplina em questão;

 Adequação com as diretrizes da política provincial de educação para o ciclo ou nível.

A distribuição dos livros didáticos fica a cargo das empresas de publicação. Os livros são entregues para as escolas, que têm a responsabilidade de distribuir aos alunos, quer seja por empréstimo quer seja por propriedade.

10 http://portal.educacion.gov.ar/ 11

Os alunos do 1°, 2° e 3° ano da escola primária recebem um livro com as quatro áreas do currículo básico e aos alunos de 4°, 5° e 6° ano são emprestados, por um ano, um livro para cada área do currículo básico. Já os alunos da escola secundária recebem por empréstimo livros didáticos de diferentes disciplinas.

Ainda de acordo com dados do Ministério de Educação Argentino, durante o mês de março de 2010, foram enviados livros para crianças do 1°, 4° 5° e 6° ano da escola primária. Para os estudantes do primeiro ano foram enviados um total de 640.837 livros, enquanto que para os do 2° ao 6° anos houve uma substituição de 463.450 livros dos 2.335.000 exemplares distribuídos em 2009. Para os alunos do 7° ano e para o ciclo básico da educação secundária foram entregues cerca de 1.992.778 livros didáticos dos diversos componentes curriculares.

Na Bolívia, de acordo com Uribe (2006), a produção e a distribuição dos livros didáticos se definem segundo critérios pedagógicos do planejamento curricular, de responsabilidade da Dirección de Desarrollo Curricular Del Ministerio de Educación, também encarregada da coordenação técnica e pedagógica dos processos de produção e distribuição dos livros escolares. O setor privado é responsável pela impressão.

Além dos livros didáticos (módulos de aprendizagem), são distribuídos também materiais: de apoio para o professor, material pedagógico e desportivo.

O programa de produção e distribuição de livros didáticos bolivianos é financiado com recursos próprios e do Banco Interamericano de Desenvolvimento.

No Chile, de acordo com “Política de Texto Escolares”12 do Ministério de Educação, o Estado é responsável pela distribuição gratuita de livros didáticos para áreas prioritárias do currículo, a todos os estudantes e professores dos estabelecimentos educacionais, municipais e subvencionados do país.

Os processos de aquisição, avaliação, aceitação, qualificação e acompanhamento da utilização do livro didático são realizados, anualmente, em um

curso de ação continuada pela “Textos Escolares” secção da “Unidad de Currículum y Evaluación” do Ministério de Educação.

Os livros são adquiridos da iniciativa privada após as seguintes avaliações:  Avaliação do design gráfico: essa avaliação verifica sinalização, layout,

tipografia, imagens, a qualidade expressiva e a qualidade gráfica da cartilha educativa para os professores;

 Avaliação hipertextual: são analisados a coerência entre a proposta didática do livro e o nível do estudante, a qualidade pedagógica dos recursos digitais que o livro oferece e também a qualidade dos recursos quanto a seus padrões gráficos e de funcionalidade;

 Avaliação dos erros ortográficos e tipográficos: consiste em quantificar os erros ortográficos e tipográficos, as inconsistências e os erros nos índices de correspondência entre os diferentes produtos;

 Avaliação em sala de aula: visa analisar o uso do livro no contexto escolar, buscando o projeto mais adequado para estudantes e professores do país. O processo de aceitação tem como objetivo identificar os estabelecimentos de ensino que desejam e se comprometem a receber, distribuir e utilizar os livros didáticos escolhidos no processo de ensino e aprendizagem. Esse processo é feito no segundo semestre de cada ano pelos diretores das instituições de ensino, por meio do sítio www.textosescolares.cl. Após a finalização do processo, o formulário que expressa o compromisso do estabelecimento de ensino fica disponível para consulta dos pais e responsáveis dos educandos na internet.

Ressalta-se que a qualificação ou escolha dos livros didáticos é feita pelos professores, que indicam duas alternativas de livros, previamente selecionados pelas comissões de avaliação, e que melhor se adaptem às suas práticas de ensino, à realidade de seus alunos e do projeto educativo da sua escola.

O Ministério da Educação chileno, visando obter informações específicas sobre o uso dos livros didáticos, mantém, desde 2002, uma linha de pesquisa chamada Textos Escolares, que estuda a opinião de professores sobre a adequação do material didático e o contexto escolar. As informações obtidas têm sido

fundamentais no desenvolvimento da base técnica para a aquisição dos livros didáticos. O Ministério também criou um espaço contínuo de reflexão sobre o livro didático denominado “Seminário Internacional sobre Textos Escolares” - SITE que envolve a participação de profissionais de educação e pesquisadores nacionais e internacionais.

A Colômbia ainda não conta com políticas públicas voltadas para aquisição e distribuição de livros didáticos para todos os estudantes. No entanto, para auxiliar os pais e responsáveis dos alunos a adquirirem livros didáticos que atendam às necessidades de cada aluno, inclusive no que diz respeito ao preço, o Ministério de Educação colombiano criou um portal na internet com um Catálogo de Livros de Textos Escolares. O objetivo é proporcionar à comunidade escolar informações que permitam uma melhor seleção dos livros didáticos.

O Catálogo hospedado em www.textosescolares.gov.co, é um guia que apoia a seleção de livros didáticos, já que permite comparar o conteúdo, as características físicas, os resumos e os preços de cada um dos títulos que ali se encontram.

Esse projeto teve um investimento de 800 milhões de pesos e contou com apoio da Organização dos Estados Ibero-americanos para Educação, a Ciência e a Cultura – OEI. A divulgação é feita por uma unidade móvel que visita as instituições educativas das diversas cidades do país. Atualmente, o Catálogo13 possui mais de

1500 títulos, que foram selecionados segundo os critérios:  Conteúdos e conceitos claros, atualizados e organizados;

 Conteúdo do livro relacionado com a realidade dos estudantes e com os conhecimentos prévios em outras áreas;

 Encadernação resistente, com uma impressão de capa e das páginas internas nítidas e legíveis.

Outro projeto do Governo Colombiano que busca excelência em educação vem sendo implementado como o projeto de uso de meios e novas tecnologias da

informação e comunicação que vem provendo os estabelecimentos de ensino com novas tecnologias, televisão, bibliotecas e livros.

No Equador, o Plano Decenal 2006-201514 do Governo Equatoriano prevê a

distribuição de livros didáticos gratuito do primeiro ao décimo ano da educação geral básica. A produção e distribuição de livros didáticos se concretizam mediante convênios, cabendo ao Ministério arcar com 80% do custo do programa e os restantes 20% são custeados pelos governos secionais, criando-se um compromisso pela educação por parte destas entidades e o Ministério.

No ano letivo 2007 – 2008 foram entregues, no Equador, 8.326.476 exemplares de livros didáticos a 2.348.427 estudantes como parte da política de universalização da educação geral básica do país. Para o Programa de Alfabetização de Adultos distribuíram-se 2.003.547 livros a 611.702 estudantes. O Ministério de Educação se apoia no Programa de Alimentación Escolar – PAE, para a distribuição dos livros didáticos às escolas. A entrega aos alunos é de responsabilidade dos respectivos diretores. Em 2010, mais de 1.366.731 livros didáticos foram distribuídos a estudantes do primeiro ao décimo ano da educação básica.

Desde 2006 o processo de seleção dos livros didáticos no Equador ocorre por meio das “Vitrinas Pedagógicas”, espaço que reúne professores e especialistas para escolherem os livros didáticos que serão utilizados.

No Paraguai, é a Dirección General de Desarrollo Educativo de acordo com Uribe (2006), o órgão do Ministério de Educação que gerencia e coordena o planejamento, preparação, regulação e avaliação de materiais didáticos utilizados em instituições educacionais do governo e do setor privado. Foram executados, entre 1994 e 2000 dois programas de melhoramento da qualidade da educação paraguaia. O primeiro, voltado para a educação pré-escolar e primária e o segundo, para a educação secundária, ambos em parceria com o BID. Uma das metas desses programas era a provisão de textos escolares, materiais educativos e de apoio curricular.

O Governo Paraguaio elaborou recentemente um plano estratégico de reforma educativa denominado “Paraguay 2020”, que busca melhorar a qualidade da educação do País. Buscando cumprir as metas estabelecidas nesse plano, o MEC, no ano de 2010 destinou US$ 3,4 milhões para a impressão de 620.000 livros didáticos distribuídos a alunos do primeiro ao quarto ano da educação básica e 240.000 a programas de estudos para docentes deste ciclo.

No Peru, o Ministério de Educação, há mais de uma década, desenvolve uma política de distribuição gratuita de livros didáticos para a educação inicial, a primária e a secundária. O Governo peruano busca cumprir o estabelecido no art. 68, inciso c, da Lei Geral de Educação em que se expressa como uma função da instituição educativa: “Diversificar e complementar o currículo básico, realizar ações tutoriais e selecionar os livros didáticos e materiais educativos”.

Os recursos investidos na aquisição dos livros são provenientes do Tesouro Público, em programas apoiados pelo Banco Mundial e o Banco Interamericano de Desenvolvimento. Cabe à Dirección General de Educación Básica Regular propor políticas de textos e materiais didáticos compatíveis com as necessidades de cada nível. Cabe ainda a esse órgão regular a concepção, produção, distribuição e utilização de materiais educativos.

Dados do Ministério de Educação peruano informam que nos anos de 2007 e 2008, foram investidos U$ 62,4 milhões e U$ 65,8 milhões, respectivamente, na compra de textos escolares. É responsabilidade do Ministério garantir o acesso ao livro didático, bem como a compra e distribuição dos mesmos, além de promover a melhoria na qualidade desses manuais escolares.

Os recursos para os projetos de investimento, inovação e desenvolvimento da educação peruana são oriundos do Fundo de Desenvolvimento Nacional de Educação do Peru – FONDEP15. De acordo com os requisitos estabelecidos em lei,

o FONDEP pode realizar a assistência aos projetos por meio de doações ou subvenções.

No Uruguai, o organismo estatal responsável pelo planejamento, gestão e

administração do sistema educativo público, nos níveis de educação inicial, primária, média, técnica e formação docente é a Administración Nacional de Educación Pública – ANEP16. Ficam a cargo desse órgão a aquisição e a distribuição dos livros didáticos. Em dezembro de 2001 firmou-se um convênio entre o Governo Uruguaio e o BID para execução do Programa de Modernización de la Educación Media y Formación Docente – MEMFOD. Com término previsto para 2006, o programa foi prorrogado até 2010. Uma das metas do MEMFORD foi a aquisição de materiais educativos de apoio ao trabalho dos docentes e alunos do Ciclo Básico (manuais, guias curriculares, fichas de aprendizagem, livros e outros, além da dotação das bibliotecas escolares com livros, revistas, materiais didáticos, audiovisual e de informática.

Segundo dados do Governo Uruguaio, no quinquênio 2005 – 2009 (CODICEN – 2010), foram implementadas políticas públicas de edição, seleção, compra e distribuição de livros didáticos para todos os alunos dos centros educativos do Ciclo Básico e Educação Média.

O “Segundo proyecto de mejora de la calidad de la educación básica” desenvolvido entre 1998 e 2004, com financiamento do Banco Mundial, apresentou como resultados o aumento do acesso e melhoria na qualidade da educação pré- escolar e básica desse país.

Atualmente, está em andamento o “Tercer proyecto de mejora de la calidad de la educación básica”, iniciado em 2002 e término previsto para 2012, com um aporte financeiro na ordem de US$ 56 milhões com o objetivo a universalizar a educação primária no Paraguai.

Na Venezuela as políticas públicas de produção e distribuição de livros didáticos iniciaram-se em 1966, mas entre 1969 e 1974 a ideia foi descartada. Nesse período, o governo venezuelano decretou que o livro didático era um artigo de primeira necessidade, motivo pelo qual o seu preço foi congelado, segundo Ramírez (2007). O governo seguinte retoma a produção estatal do livro didático e a

16 http://www.anep.edu.uy/

distribuição às instituições de ensino público, mas essa produção foi decrescendo ano a ano e, atualmente, o Estado não produz mais livros didáticos.

Ainda de acordo com Ramírez (2007), o interesse inicial do Estado em produzir e distribuir gratuitamente os livros didáticos tornou-se objeto de regulamentos comerciais com claro objetivo populista e, finalmente, mais recentemente, a um produto sujeito a livre oferta e demanda, sem a supervisão de ensino e nem regulamentação mercantil pelas autoridades de educação. Não há na Venezuela um programa estatal de aquisição e distribuição de livros didáticos. Eles são adquiridos diretamente da iniciativa privada.

O projeto principal do governo venezuelano são as Escolas Bolivarianas – EB, que foram implantadas em 1999 e tem como objetivo principal reduzir o analfabetismo no país. Para esse projeto cabe, entre outras coisas, ao MPPE dotar as escolas com recursos mínimos como biblioteca escolar, instrumentos musicais, sala de informática e laboratórios didáticos.

Para garantir a permanência dos alunos na escola, concomitantemente foi implementado o projeto de alimentação escolar, que se destina a levar aos alunos uma alimentação de acordo com os padrões culturais e disponibilidade de insumos da região. O programa também oferece assistência médica e odontológica preventiva e prevenção do HIV, gravidez na adolescência, entre outros.

Alguns países ainda sofrem a influência do país colonizador e não possuem políticas públicas bem definidas, como é o caso do Suriname, Guiana, Guiana Francesa e Ilhas Malvinas.

Entre as políticas do livro didático adotadas nos países da América do Sul, merece destaque a do Brasil pela aquisição e distribuição e a do Chile pela participação dos docentes na seleção dos livros e no monitoramento e avaliação constante da política pelos órgãos competentes.

A dificuldade de acesso à literatura da área e informações oficiais mais precisas, não permite uma análise mais profunda das políticas do livro didático em cada país da América do Sul, as informações obtidas em sua maioria são de órgãos oficiais. Dada à importância desse recurso e sua relevância no processo de ensino e

aprendizagem, avaliar e monitorar essas políticas constantemente, com o intuito de aperfeiçoá-las, deve ser uma preocupação de todos os segmentos da sociedade e dos órgãos competentes responsáveis por essas políticas.

Vários são os aspectos a serem explorados com relação às políticas públicas do livro didático na América do Sul, considerando sua abrangência e a quantidade de recursos investidos, a diversidade de atores envolvidos no processo e os interesses em jogo, bem como as implicações dessas políticas em todo o sistema educacional.

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