• Nenhum resultado encontrado

3. METODOLOGIA DA PESQUISA

3.4. MODELO DE ANÁLISE DE DADOS

3.4.3. Análise dos dados

Para buscar o equilíbrio entre a subjetividade do pesquisador e a objetividade necessária para a realização de estudos científicos, optou-se pelo uso de dois métodos para a realização da análise dos dados coletados: a análise de conteúdo (BARDIN, 2002) e a análise do discurso (LEFEVRE; LEFEVRE, 2003, 2005, 2006).

A análise de conteúdo foi utilizada para analisar os documentos (corpus de arquivo) coletados: regimentos, orçamentos, pautas, atas e relatórios. Neste caso, a análise está fundamentada na objetividade e neutralidade, afastando dos procedimentos analíticos as marcas da subjetividade do pesquisador.

Já a análise do discurso foi utilizada para analisar os sentidos do discurso dos sujeitos contidos nas entrevistas (corpus experimental ou empírico) com conselheiros, gestores e membros dos comitês temáticos. Aqui, a linguagem não se dissocia da interação social que incorpora a percepção subjetiva do pesquisador quando este procede à articulação entre linguagem e realidade social.

Apesar das diferenças epistemológicas, buscou-se utilizar esses dois métodos em seus aspectos complementares com o objetivo de triangular os dados coletados nessa pesquisa. A análise de conteúdo foi utilizada para captar a realidade subjacente à linguagem textual das fontes documentais e a análise do discurso para captar os sentidos dessa realidade produzidos

pela memória coletiva constituída socialmente pelos sujeitos entrevistados (GONDIM; FISCHER, 2009; ROCHA; DEUSDARÁ, 2005).

3.4.3.1. Análise de conteúdo

A análise de conteúdo realizada nesta pesquisa foi temático-categorial, que se baseia na decodificação de um texto em diversos elementos, os quais são classificados e formam categorias empíricas (BARDIN, 2002).

Para realizar essa análise foram adotados os seguintes procedimentos:

a) pré-análise – nesta etapa foram desenvolvidas as operações preparatórias para a análise propriamente dita: escolha do corpus de análise (documentos) e leitura flutuante para detectar os principais temas ou assuntos presentes nos textos;

b) exploração e codificação do material – nesta etapa os dados brutos contidos no texto foram desmembrados em unidades de contexto - UC e de registro - UR, as quais permitem uma descrição exata das características pertinentes ao conteúdo expresso nos documentos textuais;

c) tratamento dos dados – nesta etapa buscou-se colocar em evidência as informações fornecidas pela análise categorial do texto com o agrupamento dos temas em categorias empíricas, segundo critérios apropriados, e da enumeração pelas regras de presença (ou ausência), freqüência e valores;

d) apresentação e discussão dos resultados – nesta etapa foram apresentados os dados em forma de descrições cursivas, gráficos e tabelas que fundamentam a interpretação final do conteúdo por meio de inferências que advêm da comparação entre as categorias gerais, estabelecidas a priori com base no referencial teórico, e as categorias empíricas definidas a posteriori pela análise do conteúdo.

Foram escolhidos como corpus para análise de conteúdoa as 26 atas das reuniões do CDR de Itajaí ocorridas no período de 2008 a 2010.

As unidades de registro correspondem a segmentos ou recortes do texto que são utilizados na análise. Essas unidades podem ser definidas por uma palavra, uma frase, um parágrafo do texto. Também podem se configurar em assertivas completas do objeto em estudo (BARDIN, 2002).

As unidades de contexto correspondem a unidades de compreensão das unidades de registro. Essas unidades são segmentos do texto que possibilitam compreender a significação das unidades de registro atribuindo-lhes um contexto. Trata-se de uma unidade maior que a

unidade de registro em que palavras transformam-se em frases e parágrafos em temas ou assuntos (BARDIN, 2002).

As categorias empíricas correspondem a classes que reúnem um conjunto de elementos sob um título. Essas categorias organizam as mensagens dentro de uma nova sistematização que retenha elementos para análise do fenômeno estudado.

Os critérios utilizados nessa pesquisa para a formulação das categorias empíricas foram: homogeneidade (junção de elementos semelhantes), exaustividade (esgotamento da totalidade do texto), exclusividade (classificação de um elemento em apenas uma categoria), objetividade (codificadores diferentes devem chegar a resultados iguais), pertinência (adequação ao objeto de estudo) (BARBIN, 2002).

Após elencar as categorias empíricas foi realizada a análise categorial que envolve a classificação e quantificação dos elementos de significação constitutivos da mensagem, segundo levantamento da frequência de presença ou ausência no texto. Por meio da análise categorial foi possível realizar inferências de conhecimentos acerca das dimensões, subdimensões e indicadores do modelo de análise.

3.4.3.2. Análise do discurso do sujeito coletivo

A análise do discurso trabalha com os significados que se pode apreender das perspectivas expressas por uma complexa teia de representações sociais que compõe o discurso dos sujeitos (CHIZZOTTI, 2006; ROESCH, 2009).

É uma proposta de análise qualitativa dos dados de natureza verbal, obtidos por meio de entrevistas orais ou fontes documentais que contenham formas de expressão como poesias, cartazes, reportagens e artigos de jornal e revistas, cartas que retratem a ação do sujeito social em suas práticas cotidianas.

As figuras metodológicas presentes nos discursos são (LEFEVRE; LEFEVRE, 2003, 2005):

a) expressões-chave (ECH) – correspondem a segmentos dos discursos que revelam a essência do depoimento do sujeito e corporificam as idéias centrais que devem ser destacadas pelo pesquisador;

b) discurso do sujeito coletivo (DSC) – é um discurso-síntese redigido na primeira pessoa do singular, a partir de trechos de discursos individuais composto pelas expressões-chave e que tem a mesma idéia central ou ancoragem;

c) ideias centrais (IC) – é um nome ou expressão lingüística que descreve de maneira sintética e objetiva o sentido de cada um dos discursos analisados e de cada conjunto homogêneo de expressões-chave;

d) ancoragem (AC) – é uma manifestação linguística explícita que revela uma dada teoria, ideologia ou crença que alicerça as concepções do autor do discurso e que, muitas vezes, inconscientemente, estão subjacentes às práticas cotidianas e como afirmação genérica é utilizada para categorizar determinada situação.

Como técnica de análise de dados com vistas à obtenção de um pensamento coletivo, o DSC fornece como resultado uma matriz discursiva que sugere um sujeito coletivo que, enquanto pessoa coletiva, esteja, ao mesmo tempo, falando como se fosse um indivíduo, ou seja, um sujeito de discurso “natural”, mas comunicando uma representação com conteúdo ampliado (LEFEVRE; LEFEVRE, 2006).

O objetivo dessa análise é encontrar a fala social a partir do discurso proferido pelo chamado sujeito coletivo. Na análise realizada nessa pesquisa, são identificados três sujeitos coletivos representados pelos seguintes grupos: conselheiros, gestores e membros dos comitês temáticos.

A análise do discurso do sujeito coletivo realizada nessa pesquisa percorreu a seguinte trajetória: inicialmente foi realizada a transcrição das entrevistas com conselheiros, gestores e membros dos comitês temáticos; depois foi feita uma leitura inicial dos conteúdos das entrevistas; logo após, realizou-se uma segunda leitura para localizar, extrair e agrupar trechos dos depoimentos que correspondiam às ECH e IC; por fim, elaborado o DSC e realizada a ancoragem.

Na construção do discurso coletivo, foram levados em consideração os seguintes princípios (LEFEVRE; LEFEVRE, 2003, 2005):

a) coerência – agregação de pedaços isolados de depoimentos para formar um todo discursivo coerente, no qual cada parte se reconheça enquanto constituinte do todo, e vice-versa;

b) posicionamento próprio – cada discurso deve expressar um posicionamento próprio, distinto, original, específico de um determinado grupos social acerca do tema ou objeto que está sendo pesquisado;

c) distinção entre os discursos coletivos – quando uma resposta apresenta mais de um discurso coletivo, estes podem ser distinguidos por critérios de antagonismo ou de complementariedade;

d) criação de uma “artificialidade natural” – o discurso coletivo deve parecer o discurso de uma só pessoa (o sujeito coletivo), ou seja, as particularidades dos pedaços selecionados de um relato devem ser “limpas” e realizado o encadeamento narrativo dos discursos individuais de forma que apresentem uma estrutura seqüencial clara e coerente.

É importante considerar que a interpretação dos dados coletados ocorreu por um processo de co-produção dos sentidos, ou seja, os sentidos produzidos na análise dos dados sofreram certa influência do lugar ocupado pelo pesquisador e sua postura de interlocutor na situação de pesquisa (ROCHA; DEUSDARÁ, 2005).

Os resultados de pesquisa foram apresentados para cada uma das dimensões, subdimensões e indicadores do modelo de análise.

O discurso do sujeito coletivo foi construído a partir das expressões-chave destacadas das entrevistas realizadas com os sujeitos da pesquisa. Não foi utilizada a linguagem literal dos entrevistados. O discurso foi elaborado em linguagem impessoal para facilitar o encadeamento de ideias. A partir dos DSC´s elaborados foram apresentadas tabelas com a síntese das IC´s para cada um dos indicadores de análise.

Com essa forma de apresentação dos dados buscou-se evidenciar todas as etapas de construção do DSC relacionado com o controle social exercido pelo CDR Itajaí a partir das percepções dos conselheiros, membros dos comitês temáticos do CDR de Itajaí e dos gestores da SDR de Itajaí.

3.4.3.3. Validação dos resultados

A validação dos resultados da pesquisa será realizada de acordo com os métodos utilizados: análise do conteúdo e análise do discurso.

A validação do conteúdo analisado foi realizada nessa pesquisa levando-se em consideração dois tipos de validade: interna e externa. A validade interna foi verificada pela aderência dos resultados aos objetivos definidos ou às abordagens testadas pela pesquisa. A validade externa foi verificada pela possibilidade de generalização dos resultados da investigação.

A validação do discurso coletivo foi efetuada nessa pesquisa pelos comentários interpretativos de acadêmicos de elevado reconhecimento na comunidade científica sobre o pensamento descrito, com base no referencial teórico adotado na pesquisa.

3.4.3.4. Limitações da pesquisa

Apesar das importantes contribuições teóricas e práticas da pesquisa, a aplicação de um estudo de caso único pode ser considerada uma limitação a ser superada em pesquisas futuras. O trabalho baseou-se no estudo do caso do CDR vinculado a SDR de Itajaí, que possui uma configuração particular em termos de conselheiros e gestores públicos locais.

Outra limitação importante diz respeito aos modelos teórico-lógico e de análise apresentados e utilizados nesta pesquisa. Embora as dimensões, subdimensões e indicadores de análise sejam flexíveis, elas emergiram da revisão de literatura e na realidade da situação concreta relacionada à questão de pesquisa. Esses modelos permitem redefinições e reinterpretações de acordo com o contexto e o objeto empírico analisados.

A última limitação se refere ao contexto sócio-econômico e histórico-cultural em que foi realizada a pesquisa. O CDR de Itajaí compreende uma região com especificidades únicas em termos do perfil dos conselheiros representantes do poder público municipal e da sociedade civil organizada.