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4.1 A análise dos textos escritos

4.1.1 Análise dos erros

Apesar de saber que alguns tipos de erro não impedem a comunicação e de estar ciente da existência de outras variedades lingüísticas que não só a variedade padrão, para fins de análise e classificação dos erros, utilizei, como paradigma, a variedade padrão do inglês, por ser a principal variedade lingüística encontrada nos livros didáticos e por ser a variedade a que, mais freqüentemente, os alunos estão expostos em sala de aula.39 Usei, também, termos da gramática tradicional, tais como artigos, preposições etc., por serem os termos encontrados na literatura referente à análise de erros, bem como por serem termos usualmente encontrados nos livros didáticos.

Um primeiro passo foi contar os erros existentes nas duas versões dos textos dos participantes. A fim de se obter uma maior confiabilidade na contagem dos erros, solicitei a uma amiga professora de inglês, falante nativa dessa língua, que fizesse uma avaliação dos 68 textos (primeira e segunda versões) para verificar os erros existentes neles, marcando-os para que eu pudesse comparar com a marcação que havia sido feita por mim. Ao comparar as marcações e efetuar a verificação da quantidade de erros, observei que eu havia detectado 1.260 erros e a avaliadora (inter-rater), 1.279. Houve uma coincidência em 1.255 erros e pude, então, constatar que tanto eu quanto ela não havíamos percebido alguns erros. Segundo Griffin (1982, p. 297), nós, professores, “trazemos diferentes experiências e expectativas para o texto e, dessa forma, encontramos significados diferentes nele”, corrigindo-os de forma diferente. Desse modo, fizemos uma nova correção e, desta vez, encontrei 1.276 erros, e a avaliadora, 1.293, dando um percentual de concordância de 98,6%. A falta de concordância em 100% deu-se em virtude de, por exemplo, a avaliadora ter considerado erro o emprego pelos alunos, ao terminar suas cartas informais, de palavras como kisses, lots of kisses etc., e eu não ter considerado erro o uso de tais palavras, já que os alunos estavam escrevendo uma carta informal para pessoas que lhes eram íntimas. Para

39. Apenas na primeira atividade – a escrita de uma carta informal – não considerei errônea a utilização de certas expressões coloquiais.

mim, a utilização de tais palavras em suas cartas reflete, apenas, o modo carinhoso como terminamos nossas cartas em português, ou seja, uma característica de nossa cultura.

Com base no modelo de verificação de erros utilizado por Dellagnelo (1997), ou seja, erros existentes, erros corrigidos, erros não corrigidos e erros criados, fiz uma comparação das duas versões dos textos para verificar a solução ou não dos erros. Comecei, então, a cotejar as duas versões, folheando-as, e percebi que ficava muito difícil observar as mudanças nos textos. Por isso, decidi digitar as primeiras versões dos 34 textos e “copiá-las e colá-las” em um novo documento do computador. Posteriormente, fui lendo a segunda versão de cada texto, observando as modificações e digitando-as em negrito para facilitar a sua visualização. Dessa forma, ficou extremamente fácil observar e contar os erros corrigidos, os não corrigidos e os criados na segunda versão dos textos.

Como me interessava o processo de correção e não apenas o produto, efetuei uma nova análise desses erros existentes na segunda versão dos textos, apoiando-me nas transcrições das interações realizadas pelos alunos durante o processo de correção, para verificar se os erros foram corrigidos pelos autores dos textos (autocorreção) ou pelas sugestões que receberam do colega e, eventualmente, da professora. Observei, também, quem foi o responsável pela criação dos novos erros na segunda versão dos textos: o próprio autor do texto ou o colega leitor. Por meio dos textos escritos e da transcrição das interações, pude observar que o aluno leitor, às vezes, dava sugestões ao autor do texto, que ora eram incorporadas ao texto, ora não. Desse modo, fiz uma nova análise para verificar quantas sugestões foram acatadas ou não, e se o autor do texto estava correto ou não ao refutá-las, pois observei que, algumas vezes, o colega leitor dava sugestões que levariam ao acerto e essas sugestões eram recusadas, e, outras vezes, elas eram recusadas porque o autor do texto tinha certeza de que o modo como escreveu estava correto. Observei, também, se as sugestões acatadas puderam corrigir o erro ou não, ou se criaram um novo erro. Como se percebe, o fato de eu ter a transcrição das interações possibilitou análises que não teriam sido possíveis se eu tivesse me restringido apenas aos textos escritos.

Tendo identificado e contado os erros, um outro passo foi classificá-los. Apesar de vários autores terem apresentado taxonomias para os tipos de erro (Richards, 1974; Dulay, Burt e Krashen, 1982; Kroll, 1990; Dellagnelo, 1997, entre outros), o que se percebe é que essas taxonomias não englobam todos os tipos de erro que possam existir, pois os erros são

imprevisíveis. Dessa forma, adaptei a taxonomia utilizada por Dellagnelo (1997), fazendo uma categorização que levasse em conta tanto os erros no nível da palavra (taxonomia lingüística) quantos os relativos à estrutura dos textos (taxonomia de estratégias de superfície). Dellagnelo, ao analisar os erros existentes em textos escritos por alunos de Letras em uma universidade, utilizou-se de uma categorização previamente elaborada que constava de 45 itens. Pude constatar que muitos itens não foram contemplados em sua análise e, na conclusão de seu estudo, a autora sugere a inclusão de três itens em sua categorização, pois percebeu a ocorrência de tipos de erro que não tinham sido nela incluídos (cf. Dellagnelo, 1997, p. 99). Dessa forma, a categorização por mim utilizada para classificar os erros, ao invés de ter sido previamente elaborada, surgiu por meio de uma análise recursiva dos textos, ou seja, os erros eram lidos várias vezes de modo a encontrar semelhanças entre eles que possibilitassem enquadrá-los em uma categorização. Apresento, a seguir, a categorização que foi, então, utilizada neste estudo para classificar os erros. Os exemplos utilizados para ilustrar a categorização foram retirados dos textos dos participantes. Com exceção dos erros referentes à omissão de palavras, que serão evidenciados pelo símbolo ∅, os demais erros que estão sendo focalizados encontram-se em itálico:

1) Adjetivo possessivo: o adjetivo possessivo usado não concorda em gênero e/ou número com a palavra a que se refere.

Exemplo:

Julia Roberts lives with his boyfriend...

2) Artigo: os artigos indefinidos (a/an) são permutados, ou há a permuta entre o artigo definido (the) e os indefinidos.

Exemplos:

...and a appropriate place for Rex.

He was born in Ituiutaba, Minas Gerais, but he spent his childhood on the farm near to this city. 3) Caso genitivo: o caso genitivo é usado desnecessariamente ou de forma inadequada. Exemplos:

... it also had Dutch’s influences on its culture and history.

4) Preposição: a escolha e o uso de uma preposição são feitos de forma não apropriada. Exemplo:

He thinks they don’t worry with their future life...

5) Pronome: a escolha e o uso de um pronome são feitos de forma inadequada. Exemplo:

I come from Goiânia, a small city that the people are so friendly.

6) Concordância verbal: a concordância entre o sujeito e o verbo é feita de forma não apropriada.

Exemplo:

The film start with Izabel in her flat.

7) Forma verbal: a junção de dois verbos é utilizada de forma inadequada, ou o infinitivo é usado no lugar do gerúndio e vice-versa.

Exemplos:

We start studying at 7:00 until 12:00.

My colleague Ana Cecília insists to live next to UCLA... ... she starts to tell her kids for seeing the good side of Isabel...

8) Tempo verbal: a escolha e a utilização de um tempo verbal são feitas de forma inadequada.

Exemplo:

When she was 16 years old, she moved to Brasília, there she had been worked with her brother for two years.

9) Escolha de vocabulário: a escolha e o uso de um verbo, advérbio, substantivo ou adjetivo são feitos inadequadamente.

Exemplo:

In 1968, he got married and had three children: two brothers and one daughter.

10) Letra maiúscula: uma palavra que, em língua inglesa, deveria ser escrita com letra maiúscula é escrita com letra minúscula.

Exemplo:

11) Ortografia: uma palavra é grafada de modo impróprio. Exemplo:

... we imediately went to see our furnished apartment.

12) Singular X plural: um substantivo que deveria ser pluralizado não o é, e vice-versa. Exemplos:

In Uruaçu, he had many business ...

... and there I’ll eat a huge pack of pop corns.

13) Conexão de idéias: a escolha e o uso de conectivos que ligam as sentenças são feitos de forma não apropriada.

Exemplo:

After they moved to, John and his brothers began studying in a public school. By the time they were living in a small house in downtown.

14) Estrutura inadequada: as palavras são agrupadas e organizadas numa sentença de um modo que não corresponde à estrutura da língua inglesa, o que pode ocasionar uma incompreensão da mensagem.

Exemplos:

In 1971, it appears the first symptoms of cancer ...

The stepmother isn’t a portrait of a wife of two’s father in a second marriage living conflict with mother and children, but a pattern of how to promote a stage in a process in ascending to a modern family.

15) Informação incorreta: uma informação que não corresponde à verdade dos fatos é utilizada.

Exemplo:

Juca Pedro de Paula was born just before the end of nineteen century, in 1999.

16) Acréscimo de palavra: uma ou mais palavras, tais como preposição, artigos, conectivos etc., são adicionadas desnecessariamente à sentença.

Exemplo:

... but it is close to at University.

17) Omissão de palavra: uma ou mais palavras necessárias à sentença, tais como preposição, artigos, conectivos etc., são omitidas.

Exemplo:

I was enchanted with ∅ city.40

18) Pontuação: os sinais de pontuação, tais como vírgulas e ponto final, são empregados de forma inadequada.

Exemplo:

Her childhood was not a common one, because her mother died when she was 10 years old, because of that she had to take care of all her seven brothers and sisters.

Nos casos em que um mesmo erro pudesse ser classificado em mais de uma categorização, optei pela categorização que retratasse um maior impedimento para a compreensão da mensagem. Por exemplo, na sentença “*The last one stay on the top of Serra Nevada, where we can see whole city”, na qual Paloma está falando de um lugar turístico situado no alto de uma serra, a palavra stay foi enquadrada na categorização de escolha de vocabulário e não na de concordância verbal.

Após ter classificado os erros, um outro passo foi realizar uma contagem para verificar a freqüência de resolução de cada tipo deles, ou seja, verifiquei que tipos de erro eram mais detectados e menos detectados pelos participantes.

4.1.2 Análise das modificações e revisões efetuadas na segunda versão dos textos