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3.2 O contexto da pesquisa

3.2.3 Os participantes

A seguir, apresento informações a respeito dos alunos que participaram deste estudo, bem como da professora da turma.

3.2.3.1 Os alunos

De uma sala de dezoito alunos, dez participaram desta pesquisa, o que equivale a 55,5% da turma. Desses dez alunos, sete foram meus alunos no início do curso. Para facilitar a gravação em áudio, a turma foi dividida em dois grupos: participantes e não- participantes. A fim de evitar que a presença de um pesquisador alterasse o comportamento dos sujeitos observados (Seliger e Shohamy, 1989) e para poder verificar se os alunos realizariam a correção sozinhos ou solicitariam a ajuda da professora, os dez alunos participantes permaneceram com a professora em sala de aula durante as atividades de correção com os pares. Os demais alunos permaneceram comigo em outra sala realizando também a atividade de correção, pois a professora solicitou que todos os alunos passassem pelo processo, haja vista ser uma atividade de sala de aula. A diferença entre os participantes e os não-participantes é que os primeiros foram entrevistados sobre as atividades. Como eu não estava junto com os participantes durante o processo de correção, recorri à ajuda de um funcionário da Faculdade de Letras para que gravasse em vídeo as atividades. Isso resolveu, em parte, o meu impedimento de observar diretamente os fatos ocorridos na sala de aula. Durante as entrevistas, os alunos também relataram o modo como realizaram as atividades. Segundo Allwright e Bailey (1991, p. 4), “uma alternativa óbvia à observação direta é simplesmente perguntar, dar às pessoas uma oportunidade de relatar por elas mesmas o que aconteceu a elas e o que elas pensam sobre isso”. Seguindo a orientação de alguns estudiosos (Erickson, 1986; Bogdan e Biklen, 1998), a identificação dos participantes foi preservada por meio de pseudônimos. Os próprios alunos escolheram os seus pseudônimos e com quem gostariam de trabalhar durante a pesquisa, ou seja, eles próprios escolheram os seus pares. Os pares, dessa forma, foram assim definidos: Cristiano e Márcio; Paloma e Pollyana; Ângela e Bethânia; Antônia e Hugo; Eduarda e Paula. Vejamos algumas informações obtidas sobre os alunos participantes da pesquisa, por meio do questionário inicial e da entrevista inicial.34

Cristiano

Cristiano tem 24 anos e é professor de português. Inicialmente, cursava Farmácia e transferiu-se para o curso de Letras por causa de sua paixão pela leitura. No início, fazia o

curso por puro diletantismo, mas, durante o estágio supervisionado de português, percebeu que era agradável compartilhar o seu conhecimento com os outros e resolveu ser professor. Ele prefere escrever em inglês, pois, escrever naquela língua é, para ele, uma mistura de desafio e prazer. Seu desejo é tornar-se um grande escritor de ficção. Dessa forma, cobra demais de si sobre a sua produção escrita, visando sempre à perfeição, o que lhe causa um certo bloqueio no momento de escrever. Considera a correção importante, porém um tanto subjetiva.

Márcio

Márcio tem 23 anos e é professor de inglês em um curso livre de línguas. Estudou inglês por seis anos e meio em um curso particular de línguas. Ingressou no curso de Letras para ser professor de inglês. Ele gosta de escrever tanto em português quanto em inglês. Acha a correção imprescindível porque considera que, por meio dela, também se aprende. Porém, considera ineficiente a correção que recebe dos professores, na medida em que, geralmente, não há um diálogo entre o professor e o aluno sobre os textos.

Paloma

Paloma tem 28 anos e é estudante. Morou em Londres durante seis meses para estudar inglês. Ingressou no curso de Letras por não ter passado no vestibular para o curso de Direito. Posteriormente, começou a gostar do curso e pretende ser professora de inglês. Ela não gosta de escrever em português e, segundo ela, está esforçando-se para melhorar a sua escrita em inglês. Acha a correção importante, se o aluno for atrás de respostas para os seus erros. Ela já havia participado de atividades de correção com os pares em sala de aula. Conforme relatou nas entrevistas, ela tem o hábito de revisar os seus textos incessantemente, mas, geralmente, não os reescreve.

Pollyana

Pollyana tem 30 anos e é professora de português. Ingressou no curso de Letras por causa do português. Sua opção por inglês ocorreu devido às boas notas que obtinha nas escolas de ensino fundamental e médio. Considera o seu desempenho em português excelente, mas se sente insegura em relação à língua inglesa por causa das baixas notas que obteve no início do curso de Letras e de certos tipos de correção que recebeu durante o

curso, o que lhe causou um certo bloqueio tanto na produção oral quanto na escrita. Dessa forma, prefere trabalhar com os colegas ou com o monitor.35

Ângela

Ângela tem 33 anos e é professora de língua inglesa em escola pública. Ingressou no curso de Letras por causa de sua paixão pela língua inglesa e para poder ter algum tempo com os seus filhos, já que o curso não é ministrado em período integral. Ela diz ter pouco tempo para se dedicar ao curso por causa dos afazeres domésticos. Na adolescência, com o intuito de melhorar a sua escrita, adquiriu um diário. O diário foi lido por seus familiares, o que lhe causou alguns problemas. Devido a esse fato, ela não gosta mais de escrever sobre si mesma. Para ela, escrever em inglês é uma atividade difícil, pois considera o seu vocabulário limitado. Ela se julga uma pessoa fechada e não gosta muito de se abrir com os outros.

Bethânia

Bethânia tem 24 anos e dá aulas particulares de inglês para poder aprender mais. Ingressou no curso de Letras por causa da língua inglesa e por influência de uma cunhada que fazia o curso. Não se considera uma aluna muito dedicada. Prefere escrever em inglês, porém nunca revisa os seus textos. Ela sempre espera que um colega ou o professor corrija os seus textos para, então, poder reescrevê-los. Acha a correção algo importante, mas já se sentiu muito agredida por correções de colegas e de professores. Considera o erro algo ruim, pois, segundo ela, retrata uma deficiência.

Antônia

Antônia tem 36 anos e não tem profissão definida. Às vezes, ajuda um tio em um bar ou ajuda a organizar festas de crianças. Estudou inglês por sete anos em cursos livres de línguas. Resolveu fazer o curso de Letras por causa da língua inglesa. Ela não gosta de escrever nem em inglês nem em português, e isso se deve ao fato, segundo ela, de ter tido

35. O monitor é um aluno que presta um exame de seleção e auxilia os professores no sentido de tirar dúvidas e orientar a realização de tarefas de outros alunos.

seu diário lido por uma irmã curiosa. Isso fez que ela se retraísse e não gostasse mais de expressar suas idéias por meio da escrita. Ela também já participou de atividades de correção com os pares em sala de aula.

Hugo

Hugo tem 24 anos e é professor de português. Seu ingresso no curso de Letras deve- se ao fato de gostar muito de literatura e de inglês. Segundo ele, nunca teve condições financeiras de estudar inglês em cursos particulares, o que o motivou a fazer esse curso na universidade. Ele prefere escrever em português, porque se sente inseguro para escrever em inglês. Para ele, a correção tem um caráter de exclusão, pois as pessoas associam a competência lingüística à competência intelectual. Ele costuma revisar os seus textos, mas tem dificuldade para encontrar os seus erros. Segundo ele, o escritor não é o seu melhor leitor. Ele não tem muita paciência para reescrever os seus textos.

Eduarda

Eduarda tem 21 anos e é professora de português. Entrou no curso de Letras por causa da literatura e, posteriormente, interessou-se pela lingüística. Gosta de escrever tanto em inglês como em português. Ela considera a correção importante, pois é uma maneira de aprender e de corrigir os problemas que possa ter em relação à língua. Devido a certos tipos de correção que recebeu, ficou com receio de falar e de escrever em inglês, pois, segundo ela, o erro era mais importante do que o que os alunos acertavam.

Paula

Paula tem 37 anos e é professora de inglês em uma escola pública e em uma escola particular. Ingressou no curso de Letras por causa do inglês, pois deseja tornar-se uma boa professora, mas teve de deixar o inglês um pouco de lado em razão do excesso de leituras das disciplinas Português e Literaturas. Ela gosta de escrever tanto em inglês quanto em português, mas acha mais fácil em português, pois, em inglês, sente-se, às vezes, cansada por ter de procurar as palavras certas para exprimir suas idéias. Acha a correção importante, pois, ao identificar e compreender os erros, ela pode melhorar. Ela considera a correção dos professores ineficiente, pois não explicam para ela o que está errado. Ela revisa os seus textos e reescreve-os para aprender mais.

3.2.3.2 A professora

A professora, que doravante será chamada Nina, leciona língua inglesa na UFG desde 1991. Ela é Doutora em Lingüística Aplicada e mostrou-se extremamente receptiva e colaboradora durante a realização desta pesquisa. Sua área de interesse é a interação em sala de aula o que, indubitavelmente, contribuiu para a realização das atividades de correção com os pares.

Na seção seguinte, apresento como foi realizada a coleta dos dados.