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4. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS QUANTITATIVOS

4.2 Análises antecedentes à aplicação da técnica de Modelagem de Equações Estruturais

4.3.4 Análise dos resultados obtidos com a aplicação da técnica em questão

Propôs-se a análise da relação entre a variável dependente vantagens competitivas, e as variáveis independentes, recursos e competências, para buscar explicações de como as vantagens competitivas das IEBTs são formadas. O entendimento dessa relação é relevante para a formulação das estratégias gerenciais dessas organizações. Por meio dos dados coletados no survey e de sua subsequente análise, utilizando a técnica de Modelagem de Equações Estruturais no SmartPLS, a relevância dos recursos e das competências para a formação dessas vantagens foi estimada.

Os gestores das IEBTs foram convidados a avaliar a relevância dos recursos físicos e financeiros, intelectuais, organizacionais e relacionais acessados para o desenvolvimento de suas atividades. Como pode ser observado na subseção 4.3.3, no conjunto, os dados empíricos não apoiam a hipótese de que os recursos exercem uma influência significativa na constituição de vantagens competitivas. Esse resultado foi bastante surpreendente e alguns pontos puderam ser levantados como questões a serem trabalhadas por futuras pesquisas. Destacam-se os seguintes:

a) Os recursos controlados pelas IEBTs participantes nesta pesquisa, no conjunto, embora sejam valiosos, não possuem outros atributos que os diferenciam e, por essa razão, eles contribuem apenas para a permanência da paridade competitiva dessas incubadoras e não para a constituição de vantagens competitivas. Nesse sentido, as IEBTs brasileiras que integraram a amostra, salvo exceções, ainda estariam desenvolvendo apenas estratégias de sobrevivência, não de expansão.

b) Os recursos podem não ser significativos para a formação das vantagens competitivas dessas incubadoras pelo fato de que não basta controlar os recursos em si, é preciso saber combiná-los e explorá-los de forma competitiva. Saber utilizar os recursos nas incubadoras, às vezes, envolve o ambiente externo. Se, por exemplo, o corpo diretivo da instituição mantenedora, particularmente quando é uma universidade, não vincula academicamente a incubadora em sua estrutura organizacional, essa não consegue alcançar a condição de um programa de base tecnológica.

Quando as incubadoras não são verdadeiramente vinculadas às suas instituições mantenedoras como programas que organizam produtivamente o conhecimento científico e tecnológico, e não são reconhecidas como tal, elas podem possuir recursos financeiros suficientes e capital intelectual da mais alta competência que, ainda assim, não conseguirão atrair e desenvolver projetos e empresas de alto valor agregado. O corpo diretivo das instituições mantenedoras necessita ser capaz de estabelecer parâmetros que garantam a base tecnológica dessas empresas. É oportuno considerar que os parâmetros que contribuem para o desenvolvimento da base tecnológica são, muitas vezes, difíceis de serem padronizados porque eles dependem da posição de conhecimento, que é intangível. Em síntese, não basta controlar os recursos em si, é preciso saber combiná-los e explorá-los de forma competitiva e saber utilizar os recursos envolve, muitas vezes, o ambiente externo das incubadoras (instituições mantenedoras e outros atores).

c) A organização produtiva do conhecimento científico e tecnológico também não é uma tarefa fácil devido às questões advindas das relações contratuais. Algumas incubadoras

até conseguem ter acesso aos recursos necessários, contudo, em algumas circunstâncias, eles não determinam a formação das vantagens competitivas por falta de habilidade nas transações estabelecidas em sua exploração. Não basta que as incubadoras estabeleçam contratos com os parceiros, é necessário trabalhar continuamente a relação com esses parceiros para fazê-los cumprir os contratos formalizados. Essa habilidade vai além do controle dos recursos, envolve definitivamente a habilidade das incubadoras de se relacionarem com os parceiros. Isso evidencia o quanto a habilidade de relacionamento é importante, no que tange ao fortalecimento das transações formais e informais, evidenciando mais um aspecto intangível do processo de inovação. Assim, não basta controlar os recursos; para o alcance de vantagens competitivas é necessário fazer cumprir os contratos formais e informais, o que passa pela habilidade relacional.

d) As empresas competem em um ambiente em que elas têm que gerar recursos para a sua sobrevivência. As incubadoras, em certa medida, têm os seus recursos supridos pelas suas instituições mantendedoras. Infere-se, portanto, no presente estudo, que os recursos não tenham aparecido como significativos porque eles são disponibilizados pelas instituições mantenedoras. O fato de eles serem disponibilizados faz com que eles não sejam percebidos pelos gestores como condicionantes fundamentais da constituição de vantagens competitivas.

e) Adicionalmente, os recursos controlados pelas incubadoras não podem ser estáticos. Eles necessitam assumir uma natureza evolucionária em relação às mudanças ambientais, possibilitando a identificação de processos internos específicos que são críticos para a evolução das incubadoras, na condição de organizadoras produtivas dos conhecimentos científicos e tecnológicos. Por exemplo, os recursos financeiros auferidos por meio de editais de órgãos de fomento costumam ser estáticos em termos de sua natureza e quantidade, impossibilitando que eles sejam adaptados às demandas que o ambiente apresenta às incubadoras.

f) Infere-se, por fim, que o simples controle de recursos valiosos pode não ser suficiente na formação das vantagens competitivas porque o caminho percorrido pelas incubadoras e a posição em que elas se encontram em comparação com as demais incubadoras interferem na sua capacidade de criação de estratégias superiores. Conclui-se, portanto, que o que contribui para a criação de estratégias superiores para a constituição de vantagens competitivas não é, necessariamente, a qualidade dos recursos, mas sim o caminho percorrido pelas incubadoras e o seu posicionamento em relação às demais.

Embora os recursos trabalhados não tenham se mostrado significativos para a formação das vantagens competitivas das incubadoras, de modo algum eles podem ser

desconsiderados. Avaliando os pesos dos indicadores do construto recursos – -0,273; -0,422; 0,831; e 0,291 – relativos aos recursos físicos e financeiros, intelectuais, organizacionais e relacionais, respectivamente, esses valores indicam que os recursos organizacionais são os que apresentam maior contribuição para a formação deste construto. Eles sinalizam que os gestores das IEBTs não devem ignorar, principalmente: a elaboração de um planejamento estratégico para a incubadora, mesmo que no curto e no médio prazo; o desenho de processos administrativos bem estruturados, dando atenção às metodologias desenvolvidas especificamente para as incubadoras (Centro de Referência para Apoio a Novos Empreendimentos – CERNE, por exemplo); o desenvolvimento de recursos intangíveis, tais como, a imagem e a reputação da incubadora; o desenvolvimento de uma cultura que estimule o espírito e a postura empreendedora dos colaboradores da incubadora e da instituição mantenedora; e a ampliação da inserção dessas instituições nos ambientes acadêmico e empresarial.

É oportuno lembrar que, em consonância com Teece e Pisano (1994), Cool, Costa e Dierickx (2002), Winter (2003) e Clarysse et al. (2004), incluem-se no conjunto de recursos organizacionais recursos com características de serem únicos e inegociáveis no mercado (reputação da organização, padrões de interação e de práticas de aprendizagem, decisões administrativas, rotinas de alto desempenho e processos gerenciais e organizacionais, entre outros). Tais atributos combinados com outros que favorecem a competição por recursos e por projetos de alto valor agregado podem contribuir de maneira relevante para a formação das vantagens competitivas das incubadoras.

Dos recursos físicos e financeiros, com base em Clarysse et al. (2004), já se esperava menor influência, embora neles estejam inclusos os recursos financeiros, cujo acesso pode apresentar maior relação com a constituição de vantagens pelas IEBTs. Em termos dos recursos intelectuais, que representam as fontes técnicas e gerenciais das incubadoras, a baixa influência pode ser explicada pelo fato de eles serem ainda recursos de acesso limitado para as incubadoras brasileiras, particularmente para aquelas que não possuem sustentabilidade financeira. Essas incubadoras não funcionam como um negócio com fins lucrativos e dependem, particularmente, de órgãos de fomento e de suas instituições mantenedoras para terem acesso a esses recursos. É uma questão preocupante, pois, de acordo com Penrose (1959), Wernerfelt (1984), Hall (1992) e Collis (1994), os recursos intangíveis, particularmente aqueles que se relacionam com o acúmulo de conhecimentos, mais que os tangíveis são os que podem gerar vantagens competitivas.

Em termos dos recursos relacionais, esperava-se uma influência muito mais significativa na formação das vantagens competitivas das IEBTs participantes, pela própria natureza dessas incubadoras de serem organizações interdependentes, particularmente para garantir o acesso a recursos e competências não desenvolvidos internamente. Por essa razão, é necessário verificar se a influência não tão significativa se explica porque esses recursos já estão plenamente desenvolvidos e, por isso, não representam um diferencial ou se realmente eles não influenciam significativamente porque ainda não estão desenvolvidos. Autores como Clarysse et al. (2004) e Schmidt e Balestrin (2015) destacam que o sucesso das incubadoras parece ser dependente das redes colaborativas e cooperativas.

Pode-se concluir que, para a amostra trabalhada, os recursos organizacionais revelam uma influência mais significativa nos resultados já alcançados por essas incubadoras em termos das empresas que elas já colocaram no mercado, das tecnologias transferidas para empresas já estabelecidas, do número de registro de pedidos de patentes viabilizados por elas e do interesse despertado nos potenciais candidatos às vagas de incubação.

A ausência de uma relação de significância entre os construtos recursos e vantagens competitivas sugeriu a necessidade de identificar, de forma mais aprofundada, as características desses recursos, de verificar os mais validados pelo mercado e de indicar caminhos aos gestores de como desenvolvê-los. De acordo com o campo teórico da RBV, é possível desenvolver vantagens competitivas mediante o emprego de recursos estratégicos, particularmente dos intangíveis. Por essa razão, na segunda fase desta pesquisa, foi solicitado que os participantes avaliassem separadamente cada tipo de recurso e apontassem quais deles seriam mais relevantes para o funcionamento efetivo de suas incubadoras.

Uma avaliação mais cuidadosa, particularmente para a heterogeneidade dos recursos, forneceu subsídios mais precisos para explicar por que as incubadoras brasileiras participantes diferem tanto em relação ao desempenho. Foi possível verificar que essas incubadoras partiram de pontos muito diferentes em termos de lugar e tempo, não tiveram acesso às mesmas oportunidades e os recursos não estiveram (e não estão) igualmente disponíveis para todas elas, já que elas estão inseridas em ambientes competitivos com munificência diferenciada.

Os gestores das IEBTs foram convidados, ainda, a avaliar as competências organizacionais apreendidas das dimensões aprendizagem organizacional, estratégia, processos, relacionamentos e organização inovadora (Tidd, Bessant e Pavitt, 2008), para tentar compreender quão bem elas estão desenvolvidas para sustentar as capacidades dinâmicas das incubadoras, responsáveis, em parte, pelas vantagens competitivas criadas. No

conjunto, os dados empíricos apoiam a afirmação de que as competências exercem uma influência significativa na constituição dessas vantagens. Com cargas de 0,901, 0,922, 0,929, 0,878 e 0,893, respectivamente às dimensões apresentadas, esses valores indicam que os gestores de IEBTs não devem ignorar o desenvolvimento dessas competências, mas sim aperfeiçoá-las continuamente.

Os gestores avaliaram como pontos mais positivos de suas incubadoras as competências organizacionais em termos de desenho e gerenciamento de processos, seguida das competências em organizar e estrategizar um conjunto de ações para o curto e o médio prazos e das competências em desenvolver, permanentemente, processos de aprendizagem. Por conseguinte, avaliaram como pontos positivos as competências de suas incubadoras em desenvolver um contexto organizacional inovador e, na última posição, as competências em estabelecer relacionamentos intraorganizacionais e interorganizacionais. Infere-se, pelos valores encontrados, que as competências organizacionais influenciam muito significativamente os resultados alcançados pelas incubadoras. A aplicação do modelo de Tidd, Bessant e Pavitt (subseção 4.4) detalha um pouco mais cada indicador do construto competências, enriquecendo esta análise quantitativa.

A análise dos dados coletados evidencia que, embora os recursos tenham apresentado contribuições para as IEBTs desenvolverem seus objetivos, a utilização dos recursos da forma como eles se apresentam não tende a afetar significativamente a ampliação dos resultados dessas organizações. Talvez eles estejam contribuindo apenas para a paridade competitiva (ou sobrevivência) das incubadoras, ao contrário do que acontece com as competências organizacionais. Isso é confirmado pelo menor efeito do construto recursos na ligação (0,266) e pela não confirmação da hipótese relacionada a ela, em comparação ao maior efeito do construto competências (0,426). Como resultado, os gestores das IEBTs precisam se preocupar com o contínuo desenvolvimento das competências identificadas e com a identificação de possíveis fontes de aperfeiçoamento dos recursos, ou mesmo com o desenvolvimento de recursos mais adequados para incubadoras.

Adicionalmente, a análise do modelo interno indica que os recursos e as competências, em conjunto, só podem explicar 29,7% da variância das vantagens competitivas das IEBTs. É uma descoberta importante porque sugere que há outros fatores dentro dos construtos estudados, ou mesmo outros construtos que podem estar influenciando essa formação. Essa se tornou a motivação complementar para a busca de um aprofundamento dessa avaliação, por meio da abordagem qualitativa, apresentada no capítulo 5.