• Nenhum resultado encontrado

Análise dos resultados revelados pelas crianças na notação de

4 ANÁLISE DE RESULTADOS

4.4 Análise dos resultados revelados pelas crianças na notação de

A tabela 12, a seguir, nos mostra o desempenho das crianças na notação de doze consoantes iniciais das palavras selecionadas para os ditados um, dois e três desta pesquisa. As crianças notaram quatro palavras com cada consoante, diante das vogais /ɛ/, /e/, /ɔ/ e /o/ e para cada uma delas, notada, corretamente, atribuímos um ponto. Conforme acertos os resultados variaram de quatro a zero, para cada consoante, por criança. O número máximo possível para cada subgrupo (silábicos e alfabéticos) era, portanto de 40.

Tabela 12 – Resultados revelados pelas crianças na notação de 12 consoantes nas sílabas iniciais de palavras. Nº NE P B T D F V S Z M N L R 1 1 0 1 1 0 0 2 0 1 0 0 0 1 2 1 0 2 1 0 0 2 0 1 0 0 0 1 3 1 1 2 0 2 0 1 0 3 0 1 0 0 4 1 1 3 1 3 2 3 0 1 0 0 0 2 5 1 2 0 0 2 0 0 0 0 0 0 0 0 6 1 1 1 2 1 0 1 0 1 1 0 0 0 7 1 1 1 1 2 1 1 0 1 0 0 1 0 8 1 1 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 9 1 1 1 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 10 1 0 4 4 2 0 2 0 3 4 1 0 3 ST 1 08 15 11 12 03 13 0 11 5 2 1 7 11 2 4 4 4 4 4 4 3 4 4 2 4 3 12 2 4 4 4 4 4 4 1 4 4 3 4 4 13 2 4 4 4 4 4 0 2 4 4 4 4 4 14 2 2 3 2 3 3 3 1 2 4 1 3 3 15 2 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 16 2 4 4 4 4 4 4 3 4 2 4 4 4 17 2 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 18 2 4 3 4 4 4 4 4 3 4 4 3 4 19 2 4 3 4 0 4 4 1 3 4 4 4 4 20 2 4 4 4 4 2 3 3 2 3 4 4 4 ST 2 38 37 38 35 37 34 26 34 37 34 38 38 Total 46 52 49 47 40 46 26 45 42 36 39 45

*NE - Nível de Escrita 1- Silábicos 2- Alfabéticos **ST- Subtotal

Para compreendermos melhor os índices de acertos apresentados pelas crianças, e estabelecermos possíveis relações com as características articulatórias e

fonológicas das consoantes, achamos pertinente fazer uma breve retomada sobre a classificação das letras a serem analisadas.

As consoantes, segundo linguistas, são fonemas imperfeitos, produzidos com obstáculos à passagem da corrente expiratória. Já as vogais são produzidas livremente, ou seja, a articulação das consoantes não se faz, como a das vogais, com a passagem livre do ar através das cavidades supralaríngeas. Câmara Jr. define consoante como:

Tipo de fonema em que a corrente de ar, emitida para a sua produção teve que forçar passagem na boca, onde determinado movimento articulatório lhe criou um embaraço (CÂMARA JR., Dicionário de Filologia, p. 89).

Dessa forma, com base em suas características articulatórias, as consoantes foram classificadas, pelos linguistas, em diversas categorias, podendo ser: surdas ou sonoras; orais ou nasais; oclusivas, fricativas, laterais, vibrantes, mas são melhor descritas a partir da especificação de seus pontos e modos de articulação.

Conforme critérios de classificação as doze consoantes selecionadas para nosso ditado são, quanto ao modo e ponto de articulação:

- quatro oclusivas orais, delas duas bilabiais “P” surda e “B” sonora e duas linguodentais “T” surda e “D” sonora;

- seis construtivas orais, delas quatro fricativas, duas labiodentais “F” surda e “V” sonora e duas alveolares “S” surda e “Z” sonora; uma lateral, sonora, alveolar “L” e outra vibrante, sonora, uvular “R”; e por fim,

- duas consoantes nasais sonoras sendo uma bilabial “M” e a outra alveolar “N”, como podemos observar resumidamente, no quadro das consoantes a seguir.

Tabela 13 – Quadro das Consoantes.

Fonte: <http://portugues.uol.com.br/gramatica/classificacao-das-vogais-consoantes.html>.

Voltando aos nossos resultados, os números da tabela nos revelam uma diferença significativa da notação das consoantes entre o subgrupo de crianças silábicas e alfabéticas. Isto aparece na Tabela 14 abaixo:

Tabela 14 – Resultados parciais e totais revelados pelas crianças na notação de 12 consoantes nas sílabas iniciais de palavras.

Nº NE P B T D F V S Z M N L R

ST 1 08 15 11 12 03 13 0 11 5 2 1 7

ST 2 38 37 38 35 37 34 26 34 37 34 38 38 Total 46 52 49 47 40 46 26 45 42 36 39 45

*NE - Nível de Escrita **ST- Subtotal 1- Silábicos 2- Alfabéticos

· Análise dos alunos silábicos

Inicialmente, poderíamos inferir que esses dados refletem o pouco conhecimento das crianças silábicas em relação às consoantes, apresentado nos resultados das tarefas com as letras, mas sabemos que pode haver outras implicações como as características fonológicas ou articulatórias das letras, ou seja, de sua estrutura, que possam contribuir para a dificuldade da compreensão e notação das mesmas.

Em análises anteriores, vimos que as vogais costumam ser mais facilmente notadas pelas crianças silábicas, sobretudo as orais com timbre aberto, por terem, em seu nome, a representação do fonema, mas não podemos falar o mesmo das consoantes. O que parece acontecer é que, além de apresentarem mais grafemas que as cinco vogais ensinadas no ambiente alfabetizador, assim como as vogais, as consoantes podem assumir mais de um fonema, dependendo da vogal que compõe a sílaba, ou de sua posição em relação à palavra, bem como se distinguem quanto ao seu ponto e modo de articulação, gerando dificuldades entre algumas crianças de diferenciarem sons surdos (quando as pregas vocais permanecem abertas sem vibração) dos sonoros (quando, juntamente com sua articulação, ocorrem vibrações das pregas vocais), como destacado por Scliar-Cabral:

“o reconhecimento das consoantes está na dependência de seu contexto vocálico imediato, e o que ocorre são movimentos simultâneos de mais de um articulador, na produção dos gestos fonoarticulatórios” (SCLIAR- CABRAL, 2003a:53, Apud SOARES, 2016, p. 194).

Assim sendo, podemos ter, por exemplo, a consoante “C” nas palavras CASA e CEBOLA os fonemas /k/ e /s/, gerando uma mudança não só referente ao aspecto fonêmico da consoante, mas aos diferentes gestos articulatórios para sua produção, de um fonema surdo e outro sonoro, o que certamente pode gerar dificuldades no início do processo de apropriação do sistema alfabético. A seguir, analisaremos o que os resultados dos ditados realizados com as crianças nos revelaram em relação à notação das consoantes.

No subgrupo dos silábicos verificamos que as letras que apresentaram os menores índices de acertos foram as relativas aos fonemas /s/, /l/, /n/, /f/, /m/, /r/ e já chamamos a atenção para o que elas têm em comum, o seu nome representado por VCV (vogal/consoante/vogal).

Entre os silábicos não houve nenhum emprego da consoante “S”. Tivemos na palavra SOLA 30% das notações, da sílaba inicial, com letras não convencionais (IO, RF e EO), onde parece ocorrer a percepção, mesmo que fora da ordem da vogal da sílaba inicial /ɔ/. Naquela palavra, 60% das crianças notaram as vogais convencionais (OA) e uma notação COA, onde a criança substituiu a letra “S” por “C” em todas as suas notações para palavras iniciadas com /s/ (para SOPA – COA, SERRA – CA e SELO – CO), tendência de algumas crianças de trocarem os grafemas, como veremos adiante em outras circunstâncias.

Como observado no exemplo citado há pouco, na palavra SOPA só tivemos um registro da sílaba inicial com consoante (COA), correspondendo a 10% e 90% vocálico (sendo 70% com vogais convencionais OA e 20% não convencionais, EA e AI).

Na palavra SELO, 80% das notações da primeira sílaba foram feitas por consoantes não convencionais, porém 60% delas foneticamente pertinentes (40% CO, 20% CU), quando, mais uma vez, se observou a substituição do “S” pelo “C” e 20% sem correspondência sonora KO (fazendo a troca do “S” por “K”, a qual é comumente trocada por “C” e não pela letra notada “K” que costuma ser confundida com “C” e OP (onde possivelmente ocorreu a notação do “P” em substituição da vogal fechada /e/, o que nos leva a crer que as crianças silábicas parecem se influenciar mais pelo que o nome da letra possa representar diante da palavra a ser notada do que por seus fonemas isolados), e duas notações vocálicas IA e OE (notação de uma criança que trocava a ordem das sílabas ao escrever).

Com relação à troca de “S” por “C”, poderíamos dizer que, por começarem, a saber, que algumas letras podem assumir diferentes fonemas, as crianças fazem, em algumas situações, uso de letras equivocadas. Como observado por Soares (2016, p. 92), em relação à letra “C”: “Sabemos que muitas crianças conhecem os dois valores fônicos possíveis da letra C, sem ainda conhecer contextos onde esta letra equivale a K e os contextos onde equivale a S”.

Assim como ocorrem dúvidas em relação à letra “C”, podemos dizer que acontecem com as demais letras, que, diante de determinadas notações, assumem diferentes fonemas. Ainda, segundo Soares,

De modo geral, porém, as crianças raramente incorrem em erros ortográficos na escrita de palavras em que as representações fonema- grafema são biunívocas, casos em que a escrita se apoia quase apenas na rota fonológica; são essas relações regulares que elas, sobretudo representam na escrita inventada, errando, porém, ao considerar regulares relações que são, sim, regulares, mas em dependência do contexto. As

relações regulares contextuais são regulares porque, embora um mesmo

fonema possa ser representado por mais de um grafema, cada representação é previsível, determinada pelo contexto, e por isso regular contextual (SOARES, 2016, p. 299).

No caso da letra “S”, da palavra ditada SELO, além de assumir uma das possibilidades de fonema para seu grafema, ainda era confundida pelas crianças, na circunstância da vogal fechada /e/, com a letra “C”, por aparecer em contexto que se encaixava no fonema semelhante ao nome da letra [cê], da sílaba inicial.

Em SERRA registramos apenas 20% de notação com consoante, CA (provável troca influenciada pelo nome da letra /cê/) e LA (troca observada em seção anterior da vogal aberta /ɛ/ pela consoante com nome em VCV /ele/). As demais notações, representando 80% dos registros foram vocálicas (50% EA, 10% EU, 10% OE e 10% EL). Podemos dizer, em relação ao fato observado, que, por se tratar de um subgrupo de silábicos, notar as sílabas das palavras com vogais, é uma característica comum e observada por estudiosos, com frequência, sendo, portanto, mais fácil de serem percebidas pelas crianças do que as consoantes. Tais notações demonstraram a dificuldade das crianças silábicas em perceberem o fonema isolado “S” diante das diferentes vogais, empregando letras que se aproximassem mais dos fonemas vocálicos do que dos consonantais.

Podemos considerar, no caso dos silábicos, que a ausência total da letra “S”, na notação das palavras ditadas, provavelmente esteja relacionada a duas evidências: o uso das vogais para notar as sílabas e da troca de “S” por “C”, por terem fonemas parecidos, sobretudo diante da vogal “E”, vogal onde tal evidência foi mais observada.

Dando continuidade aos demais erros cometidos pelas crianças nas letras com menor ocorrência de notações, observamos na consoante “L”, um único registro da letra convencional na palavra LETRA, com LA, correspondendo a 10% das crianças, 30% dos registros foram feitos com consoantes não convencionais, mas que representam fonemas fechados (PA, BA e TA), configurando, a nosso ver, a representação do fonema fechado da vogal tônica da sílaba inicial /e/ com tais consoantes e 60% das notações com as vogais convencionais EA.

Em LOJA tivemos 100% das notações vocálicas, convencionais OA. Em LOBO, onde a vogal inicial é fechada, já tivemos diferentes notações para uma mesma palavra (30% OU, 20% EI, além de EY, OAI, BA, PO e OO), o que configura não só a dificuldade de notar a correspondência sonora da vogal fechada, mas de identificar a consoante inicial.

Em LEQUE observamos apenas uma notação da sílaba inicial com consoante não convencional SI. Chamamos a atenção para tal notação, pois parece configurar a notação da consoante [esse] para a vogal /ɛ/, representando, possivelmente, notação silábica baseada em vogal, em substituição ao “L”, assim como o “I” para /ki/. As demais notações variaram (50% EI, 20% EQ, além de EV e AEQ).

Na letra “N” registramos apenas duas notações convencionais da consoante inicial, em todo o subgrupo dos silábicos, as duas antes da vogal aberta /ɛ/ para NEVE (NI e NR) e uma consoante não convencional RA, sugerindo a notação vocálica aberta /ɛ/ realizada com [erre]. As demais notações foram feitas com vogais (50% EI, 20% EA).

Para NEGRO, observamos três notações consonantais, não convencionais (DO, DU, TO), com base no nome das consoantes notadas. Ousamos dizer, mais uma vez que se deve ter se tratado da tentativa de fazer a notação da sílaba inicial com base na vogal fechada /e/ e não uma simples troca da consoante inicial “N”, tendo em vista que tais opções, se encaixam mais no contexto sonoro vocálico da sílaba, do que do fonema consonantal.

Na palavra NOVO não registramos nenhuma notação da sílaba inicial com consoante (tivemos 30% OO, 40% OU, além de UV, OK, EAI), sugerindo que as notações priorizaram o fonema vocálico. Em NOVE não foi diferente, (60% OI, além de OY, OF, OE e AO), onde podemos entender na consoante “F” a possibilidade de notação do “V”.

Na letra “F” observamos, na palavra FOCA, 20% de notação com a consoante convencional (FK), outra não convencional (TA), 20% com vogais convencionais (OA), 40% OK e 10% OT. Para FERA, apenas uma notação da sílaba inicial com consoante (FA) e 90% vocálica (70% EA), além de EAK) e ER).

Em FOGO tivemos variadas notações, o que nos leva a crer que as crianças viam a consoante “F” com vogal fechada /o/, sob diferentes pontos de vista. Curiosamente, tivemos 50% das notações terminadas em /a/ (50% vocálica 30% OA, 10% HA e 10% VA). Em FEIJÃO observamos, mais uma vez a troca entre as fricativas “F” e “V” em 50% das notações (20% VO, 10% VA, 10% VAU e 10% VL), seguidas das notações LO, TO e BO, sendo as duas últimas, notadas com consoantes que sugerem substituição do nome das letras “T” e “B” pelo fonema vocálico fechado /e/ e, por fim, duas notações vocálicas (IO e EU).

No emprego da consoante nasal “M” verificamos em METRO apenas uma notação da sílaba inicial com a consoante convencional (MO) e outra não convencional (RE) e 80% de notações vocálicas (30% EO, 40% EU e 10% AO). Para MESA observamos 40% de notação com consoantes (MA, TA, VA, PO), onde percebemos o uso de apenas uma consoante com valor sonoro convencional e

outras três que pareciam representar a notação da vogal inicial fechada /e/ com as letras “T”, “V” e “P”. Em seguida, predominaram as notações vocálicas (OO, AA, UA, UO, OU e EA) o que revela certa divergência no modo de pensar das crianças, em relação à notação de palavras que apresentam sílabas iniciais com consoantes diante de vogais fechadas e abertas.

Em MOLA destacamos apenas uma notação com a consoante convencional MOA, outra em RA e 80% de notações vocálicas (40% OA, 20% AO, notação das sílabas fora de ordem, OU e EA). Na palavra MOÇA observamos 30% das notações da sílaba inicial com consoante, respectivamente (MO, MN, RA) e 70% vocálicas (40% OA, uma invertida AO,UA e OC).

Na letra “R” não observamos nenhuma notação da consoante na sílaba inicial da palavra RODO. Todas foram vocálicas (30% OU, 30% AO, além de OO, OA, UO, AVO). Em ROSA apenas uma notação inicial com a consoante (RO) e 90% vocálica (50% OA, 20% OU, além de OO e OZ). Para REDE verificamos 30% das notações com a consoante convencional “R” (RI, REI e uma invertida ER) e uma não convencional TI, possivelmente tentando notar o /e/ e 60% vocálicas (20% EI, além de IE, EE, UI e AE). Para RETA 30% de notações convencionais para a sílaba inicial (20% RA e 10% RE) e uma não convencional NA, seguida de 60% de notações vocálicas (40% EA, além de AA e EI). As diferentes notações indicam a dificuldade das crianças de perceberem os fonemas, não só da consoante inicial, mas também os vocálicos, sobretudo com timbre fechado.

As letras mais usadas pelas crianças silábicas nos ditados foram “B”, “D”, “V”, “T”, “Z” e “P”, respectivamente. Podemos relacionar tais notações com os resultados obtidos nas atividades com as letras, onde pelo menos 50% das crianças obtiveram êxito nas mesmas letras notadas. Segundo Treiman (1995, p. 110), “... o aprendizado das correspondências letra-som nos dá um exemplo de como as crianças usam seu conhecimento dos nomes das letras para conectar a escrita e a fala.” Dessa forma podemos inferir que o fato de a criança conhecer as letras, poderá ajudá-la a identificá-las na palavra, sobretudo em se tratando da sílaba inicial, onde pode ser percebida com maior facilidade.

Entre as características dos nomes das letras, talvez a que mais fortemente determine seu efeito sobre a aprendizagem da língua seja a posição do fonema no nome da letra: o efeito pode ser significativo quando o fonema que a letra representa aparece no início de seu nome, como nome da letra P, pê, que representa o fonema /p/ (SOARES, 2016, p. 218-219).

Treiman, R., Trincoff, R. & Richmond-Welty, D. (1996) mostraram, em estudos, que a probabilidade de as crianças americanas em idade pré-escolar identificarem a primeira consoante de uma palavra é maior para palavras em que o nome da consoante pode ser escutado no início da forma oral da palavra (Ex.: beach ‘praia’, em que o nome da letra “B” em inglês, /bi/, aparece no início da palavra) do que para palavras em que o nome da consoante não é audível (Ex.: bone ‘osso’).

É provável que as crianças falantes do português também utilizem o seu conhecimento do nome das letras em suas tentativas de conectar a escrita à fala.

Outro aspecto, que devemos salientar, pode estar relacionado às características dos nomes das letras, em que está presente o fonema que representam que, segundo Soares, 2016, pode auxiliar a criança, nesta fase de escrita a identificar a relação letra-fonema na palavra:

Grande parte dos nomes das letras no alfabeto português são icônicos (ou

acrofônicos, como preferem alguns): os nomes trazem em si o fonema que

a letra representa, ora no início, ora no meio do nome da letra. A influência do nome das letras se revela particularmente na escrita inventada, (...). Os nomes de seis consoantes são uma sílaba CV que começa com o fonema que a letra representa:

Fonte: SOARES (2016, p. 220).

Certamente, algumas das crianças silábicas de nossa pesquisa devem ter percebido, durante a pronúncia das palavras, as consoantes mais evidentes do que as vogais que habitualmente costumam notar para representar as sílabas das palavras. A seguir, observaremos suas notações, com as consoantes em ordem decrescente de acertos, e erros mais comuns ao subgrupo.

Na letra “B” não observamos muitas trocas da consoante inicial por outras, mas, no geral, obsevamos as notações das sílabas com as vogais, ora convencionais, ora não convencionais. Para BELA tivemos 40% das notações com

consoante na sílaba inicial, sendo 30% convencional (BE, BN, BA) e 10% não convencional (TA) onde verificamos a troca da oclusiva sonora /B/ pela oclusiva surda “T” e 40% com vogais convencionais (EA) e (YO). Em BECO 70% dos registros começaram com consoante convencional (50% BO, BE e BU) e uma notação não convencional, onde ocorreu à troca da oclusiva sonora, bilabial “B” pela oclusiva sonora linguodental “D” (DE), ambas semelhantes quanto a suas características articulatórias, variando apenas quanto ao ponto de articulação, seguida de duas vocálicas (EO, IR) da mesma sílaba inicial. Para BOTE, só 20% das notações iniciais foram com consoante convencional (BO) e 80% vocálicas (50% OI, 20% OE e 10% ON). Em BOLO só 20% foram notadas BO e 80% vocálicas (40% OU, 20% AO, além de OQ, OI).

Na letra “D”, para DEDO ocorreu 60% de uso da consoante convencional (30% DO, 20% DU e DN) e 20% com a troca da oclusiva sonora “D” para a surda “P” (PO), seguidas das trocas para “T” (TO) e “B” (BIO). Em DEGRAU houve 20% de uso da consoante convencional (DE, DH) e 30% não convencional (NRA, BA, PEU), onde percebemos a consoante nasal “N”, na provável substituição da vogal /ɛ/, o que já passa a ser questionável nos casos do “B” e “P”, que têm características articulatórias próximas à “D”. E as demais notações, somando 50%, foram vocálicas (20 % EO, além de EKO, EA, AO).

Para as palavras notadas com “O” verificamos em DOCE uma única notação com consoante convencional DE e uma não convencional BS, com diferença articulatória das consoantes, apenas quanto ao ponto de articulação “D” linguodental e “B” bilabial; as demais notações da sílaba inicial (80%) foram vocálicas (30% OI, além de IE, OR, AV, EC, UI). Em DORA tivemos 30% de notações com consoante convencional (DOA, DNT e DE) e 20% não convencional (PA e TA) e 50% vocálicas (40% OA e UA).

Para palavras com “V” observamos em VEIA 80% de notação da consoante inicial convencional (VA), uma não convencional, mas com substituição por letra com fonema fechado “P” (PAI) e uma vocálica IA. Em VELA tivemos 40% de notação com consoante convencional com escrita em VA e 60% vocálica (EA). Para VÔLEI observamos apenas uma única notação com consoante inicial convencional (VL) e 90% vocálica (30% OI, 20% OE, 20% OA, além de EU, UR), onde verificamos diferentes notações para a mesma palavra. Na palavra VOTO não tivemos nenhuma

notação com a consoante inicial “V”, mas com outra não convencional, com fonema fechado em seu nome “T” (TO) e demais notações, somando 90% vocálicas (30% OO, 30% OU, OH, OE, IU).

Nas palavras com “T” observamos em TELA apenas uma notação inicial convencional (TE) e as demais, pareciam representar a substituição do fonema vocálico /ɛ/, com as consoantes [esse] e [erre] (SE, ROA) e 70% de notações vocálicas (60% EA e IE). Para TELHA, onde temos na sílaba inicial o nome da consoante “T”, houve uma notação expressiva de 70% de consoantes convencionais (TA), seguidas das não convencionais e uma vocálica (PE, KQ e ORB). Para TOCA apenas duas consoantes na sílaba inicial (TOH e DI) onde na última ocorre a troca das oclusivas surda “T” pela sonora “D” e 90% de notações vocálicas (40% OK, 20% OA, além de IO, AC). E, por fim, na palavra TORRE, houve 40% de notações consonantais, sendo 20% com “T” (TI e TOI), 20% com “D” (DE, DI), como visto na palavra anterior, e demais notações, somando 60%, foram vocálicas (20% OI, além de OER, OR, EU, AL).

Na letra “Z” observamos maior ocorrência da consoante na palavra onde a sílaba inicial corresponde ao nome da letra. Para ZERO tivemos só uma notação consonantal ZU e 90% vocálicas (20% EO, 20% OO, além de OU, OI, EU, OL, AO), onde é evidente a variedade de registros, configurando diferentes pontos de vistas das crianças sobre os fonemas da palavra. O contrário foi observado em ZEBRA, onde 70% das notações foram feitas com a consoante inicial convencional (ZA) e 20% não convencionais (VA, nome da letra com fonema fechado) e KAA, além de uma notação vocálica IA. Para ZOCA vimos só 20% de uso da consonante convencional (ZO) e 80% vocálicas (50% OK e 30% OA). E, na última palavra da sequência, ZORRO, encontramos apenas uma notação convencional ZO e outra não convencional (RQ) e as demais, totalizando 80%, foram vocálicas (OV, OO, OU, UO, OE, EU, OAI, OCA), onde se evidencia mais uma vez diferentes notações para a mesma palavra, configurando os diferentes níveis de compreensão das crianças para a mesma palavra.

Em síntese, considerando as crianças silábicas...

Assim sendo, podemos inferir que, embora não haja notação de consoantes tão expressivas entre os silábicos, quanto no subgrupo dos alfabéticos, os resultados revelam que as crianças silábicas começam a arriscar suas notações

consonantais, sobretudo pelas letras que, devido ao seu nome coincidir com uma sílaba, facilitam a identificação de seus fonemas nas palavras pronunciadas ou ditadas, sobretudo quando os fonemas estão na sílaba inicial da palavra.