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Nesta seção esclareceremos os percursos metodológicos que adotamos

durante nossos estudos, com intuito de atendermos os objetivos da pesquisa. Inicialmente justificaremos o público pesquisado, bem como as escolas selecionadas. Em seguida, abordaremos os instrumentos de coleta.

Assim sendo, com intuito de encontrarmos respostas para nossas indagações adotamos três grandes etapas de atividades a serem descritas: 1) ditado de palavras para detectar o nível de hipótese de escrita das crianças; 2) tarefas de conhecimento das letras; 3) ditados de palavras com diferentes consoantes e vogais do português.

3.1 Sobre os dados pesquisados

Inicialmente, a fim de ajustarmos nosso teste (Ditado de palavras com diferentes consoantes e vogais do português) e verificar sua eficácia, aplicamos o ditado com uma mostra de crianças do Grupo 4, depois do Grupo 5 e em seguida, do 1º Ano, da rede municipal de ensino de Recife, para mapearmos onde estaria, de fato, o público que pudesse nos oferecer as informações necessárias para nossa pesquisa. Observamos, dentre outras coisas, que as crianças dos Grupos 4 e 5, pouco diferiam em seus níveis de escrita, situando-se, predominantemente, entre os níveis pré-silábicos e silábicos quantitativos. Detectamos algumas crianças com a escrita ainda não convencional ou icônica, fazendo rabiscos e desenhos e, boa parte delas, não conhecia o nome das letras, o que foi verificado quando pedíamos para que as crianças lessem o que escreveram no final do registro de cada ditado aplicado, ou na identificação das letras de seu próprio nome.

A partir das observações, optamos pelo grupo do 1º ano, pois, nesse, encontramos os diferentes níveis de escrita, sobretudo silábicos qualitativos e alfabéticos, sendo possível obter maior contribuição para nossa investigação, observando o uso das vogais e consoantes e de que forma as crianças estariam se apropriando da escrita alfabética convencional. Nesse grupo de crianças, tivemos uma quantidade, pouco expressiva, de alunos silábico-alfabéticos, não sendo possível compor uma mostra significativa desse grupo, incluindo-as dessa forma, entre os alfabéticos, para análise de dados.

Participaram como sujeitos da pesquisa as crianças regularmente matriculadas nas cinco turmas, do primeiro ano das escolas 1, 2 e 3 do turno da tarde, cujas professoras concordaram em ceder seus alunos. No final da realização das três etapas da pesquisa, já mencionadas, selecionamos 20 crianças. O grupo final foi composto por sorteio, apenas por crianças que cumpriram todas as etapas da pesquisa, para não comprometer os resultados da análise. As crianças foram divididas em dois grupos, conforme resultado do instrumento de pesquisa, realizado na etapa 1, de acordo com seu nível de escrita, segundo Ferreiro e Teberosky (1979), dez silábica-qualitavas e dez alfabéticas. Para a análise de condutas da escrita e leitura, adicionamos mais dez crianças, também por sorteio, sendo cinco crianças silábicas qualitativas e cinco alfabéticas, que tivessem realizado todas as etapas da pesquisa. Nossa intenção foi ampliar, o máximo possível, a variedade de condutas apresentadas pelas crianças durante as atividades, a fim de enriquecermos nossas discussões sobre o assunto. Tais crianças não foram incorporadas no grupo inicial, das 20 crianças, devido ao recorte necessário para controle do tempo de conclusão da pesquisa.

Quanto às escolas selecionadas, optamos pela coleta em três escolas públicas, de fácil acesso, que pudessem viabilizar nosso trabalho sem impor obstáculos, tendo em vista que as etapas das atividades eram longas e envolviam retirar as crianças de sala, em momento de aula, durante alguns dias, para realizá- las. As turmas escolhidas para nossa pesquisa foram as do turno da tarde, nas três escolas.

Iniciamos nossa pesquisa definitiva, entre os alunos, no segundo semestre de 2015 e, observando os resultados revelados pelas crianças, verificamos que tínhamos um quantitativo muito maior de crianças correspondendo ao nível alfabético de escrita do que silábico. Ademais, dentre os silábicos, observamos que nem todos tinham concluído as etapas da pesquisa. Para não termos que recorrer ao Grupo 5 (turma de crianças de cinco anos da Educação Infantil), saindo do perfil traçado para nosso público alvo e tendo em vista o final do semestre, optamos por dar continuidade ao nosso trabalho, no primeiro semestre de 2016, nas turmas do 1º ano, a fim de termos o quantitativo de crianças silábicas necessário, assim como alfabéticas, para compor as mostras de dados, além de termos um quantitativo de crianças extra, prevendo possíveis necessidades de substituição de dados

coletados. Diante da necessidade de termos mais dados de alunos, aproveitamos a oportunidade de complementarmos nossa pesquisa, em uma escola municipal de Belo Horizonte, por razão de mudança de Estado da pesquisadora, enriquecendo ainda mais nossos resultados. Antecipamos que não registramos nenhum efeito evidente das diferenças dialetais decorrentes do espaço geográfico (Recife, Belo Horizonte) nas condutas das crianças, ao ler e escrever as palavras que ditamos para elas.

3.1.1 As escolas

Nossa pesquisa foi realizada em duas escolas da Secretaria de Educação Municipal da cidade do Recife e uma da Secretaria de Educação Municipal de Belo Horizonte.

A escola 1 estava situada na RPA43 no bairro de Cordeiro. Atualmente, atende crianças da própria comunidade, entre 4 e 12 anos, nas turmas do Grupo 4 (Educação Infantil) ao 5º ano Ensino Fundamental I, adolescentes e adultos, nas turmas de Educação de Jovens e Adultos (EJA), todas as turmas funcionando em meio período. O espaço físico é dividido em 13 salas, sendo 1 biblioteca, 1 sala de coordenação, 1 sala de professores, 1 sala para atendimento educacional especializado (AEE), 1 sala para o laboratório de informática, 1 sala para a direção e as demais salas de aula. Possui também 1 secretaria, 1 refeitório, 1 cozinha, e uma área ao ar livre que é disponibilizada para uso dos alunos no horário do recreio.

Atualmente, a escola funciona em três turnos e atende cerca de 580 alunos, distribuídos entre 2 turmas da Educação Infantil, 5 do Ensino Fundamental e 2 turmas de Educação de Jovens e Adultos, que funciona no turno da noite. Quanto aos funcionários de secretaria, há 2 no turno da manhã, 2 no turno da tarde e 1 à noite. Já em se tratando de estagiário de informática, a escola dispõe de 1 em cada turno.

A escola 2 está situada na RPA5, no bairro da Mangueira e atende a comunidade carente na qual está inserida, alunos entre 4 e 10 anos de idade (nos turnos da manhã e tarde), nas turmas do Grupo 4 (Educação Infantil) ao 3º ano Ensino Fundamental I e jovens e adultos que são atendidos nas turmas de

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Educação de Jovens e Adultos (no turno da noite). Quanto à estrutura física possui 10 salas, sendo 2 da Educação Infantil (Grupo 4 e 5), 2 salas do 1º ano, 2 salas do 2º ano, 2 do 3º ano, 1 sala para atendimento educacional especializado, 1 sala para biblioteca e outra para o laboratório de informática.

Dispõe, ainda, de sala de professores, uma secretaria, diretoria, área de recreação (descoberta), cozinha, área coberta para o lanche e apresentações das crianças em dias festivos, 2 banheiros para alunos e 2 para funcionários, 1 depósito para material didático e de limpeza e uma sala, onde funciona as aulas de artes.

A escola 3 está situada no bairro Letícia, na região de Venda Nova, Belo Horizonte/MG. Atualmente, atende crianças da própria comunidade e adjacência, entre 5 e 12 anos nas turmas do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental I, atendendo alunos portadores de necessidades especiais na Educação Integrada, todas as turmas funcionando em meio período. O espaço físico é dividido em 23 salas de aulas, 1 biblioteca, 1 sala de coordenação, 1 sala de professores, 1 sala para o laboratório de informática, 1 sala para a direção, quadra de esportes coberta, parque infantil, banheiro adequado à alunos com deficiência ou mobilidade reduzida, dependências e vias adequadas a alunos com deficiência ou mobilidade reduzida. Possui também 1 secretaria, 1 refeitório, 1 cozinha, e uma área ao ar livre que é disponibilizada para uso dos alunos no horário do recreio.

3.1.2 Participantes da pesquisa

Como mencionado anteriormente, tomamos como sujeitos de nossa pesquisa alunos do 1º ano do Ensino Fundamental, de redes municipais de ensino. A idade das crianças pesquisadas do 1º ano variou entre cinco anos e dez meses e sete anos e dois meses. Todas as trinta crianças selecionados para comporem a análise de nossa pesquisa frequentaram a Educação Infantil, antes de ingressar no 1º ano, sendo que cinco delas, que compuseram a mostra dos silábicos, frequentaram a Educação Infantil, por menos de seis meses, por serem matriculados no segundo semestre do ano letivo, avançando em seguida para o 1º ano do Ensino Fundamental.

As crianças pertenciam à classe média baixa ou classe baixa, vivendo em contextos desfavorecidos. A maioria das famílias possui renda oriunda de empregos informais como vendedores ambulantes, diarista, pedreiro, encanador, empregada

doméstica, manicure, zelador, marceneiro, entre outros, ou contam com programas de bolsas oferecidas pelo governo. O nível de escolaridade dos pais, em sua maioria, varia de analfabeto a ensino médio, alguns deles são alunos de EJA e estudam à noite, na mesma escola que seus filhos.

3.1.3 Tarefas aplicadas com às crianças

Como mencionado, adotamos em nosso estudo três diferentes instrumentos de pesquisa correspondentes a três grandes etapas: 1) ditado de palavras para detectar o nível de hipótese de escrita das crianças; 2) tarefas de conhecimento das letras; 3) ditados de palavras com diferentes consoantes e vogais do português, descritas nas subseções a seguir.

3.1.3.1 Ditado para detectar o nível de hipótese de escrita das crianças

A atividade “ditado para detectar o nível de hipótese de escrita das crianças” foi definida como etapa 1 de nosso instrumento de pesquisa. Tal etapa teve como objetivo identificarmos, com base nos estudos realizados por Ferreiro e Teberosky

(1985) sobre a psicogênese da escrita, em que fase da escrita as crianças, predominantemente, se encontravam.

Para detectarmos como as crianças estavam concebendo tal conhecimento e em que fase da escrita se encontravam, solicitamos que elas escrevessem uma lista de palavras, para as quais havia uma figura correspondente e lessem ao concluir a atividade, verificando como as crianças fariam a leitura de suas notações. Segundo FERREIRO (1990) as crianças apresentam produções escritas com evoluções previsíveis, categorizadas por ela em quatro hipóteses ou níveis de escrita.

O instrumento utilizado com as crianças foi elaborado pelo CEEL da UFPE (Centro de Estudos de Educação e Linguagem), para uso em seus cursos de formação continuada para professores de séries iniciais e adaptado para nossa pesquisa, pois sentimos a necessidade de retirar o cabeçalho para que as crianças não se apoiassem nas letras escritas no mesmo. O instrumento, inspirado em Ferreiro e Teberosky (1985), era constituído de oito gravuras relativas a palavras com quantidades de sílabas diferentes (2 monossílabas, 2 dissílabas, 2 trissílabas e

2 polissílabas), tal como proposto por Ferreiro e Teberosky (1985). A atividade aplicada encontra-se no apêndice A.

A atividade foi realizada individualmente. Cada criança teve à disposição apenas a folha de papel ofício A4 do ditado, lápis e borracha. Foi informado que escrevessem da forma como sabiam. Embora a folha disponibilizada apresentasse figuras relacionadas às palavras, as mesmas foram ditadas, uma por uma, e, ao concluir a escrita das oito palavras, solicitávamos que as crianças realizassem a leitura de cada uma delas. Foi nesse momento que verificamos quem tentou ler o que escreveu, fazendo ajustes à escrita, quando necessário, ou simplesmente se apoiou na leitura da imagem apresentada no papel, sem se referir ao que tinha escrito. Durante a atividade, fizemos o registro escrito em um diário de bordo dos fenômenos observados e gravamos, em vídeo, todas as etapas.

3.1.3.2 Tarefas de conhecimento das letras

As tarefas de conhecimento das letras foram identificadas como etapa 2 de nosssa pesquisa. Nosso objetivo foi investigar quantas letras as crianças conheciam, ou seja, identificavam, nomeavam e produziam, para estabelecer relações com a compreensão da escrita alfabética e desempenho das produções, a serem observadas na etapa 3 de nossa pesquisa. Para tanto, lançamos mão do material utilizado em estudo de Leite e Morais (2011) que fez uso das seguintes atividades: Identificação de letras; Nomeação de letras e Produção de letras.