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Análise dos Resultados revelados pelas crianças sobre a notação das vogais

4 ANÁLISE DE RESULTADOS

4.2 Análise dos Resultados revelados pelas crianças sobre a notação das vogais

Nesta seção, temos por objetivo verificar a presença de vogais abertas e fechadas na produção escrita das crianças silábicas e alfabéticas. Queremos observar se há variações quanto ao uso das mesmas diante das diferentes consoantes. Para tanto, dividimos cada conjunto de palavras dos três ditados, 1, 2 e 3, de acordo com o timbre vocálico aberto (/ɛ/, /ɔ/) ou fechado (/e/, /o/), ficando dessa forma, doze palavras em cada bloco.

Consideramos cada vogal analisada como fonema ou segmento sonoro e essas foram representadas pelos símbolos padronizados do Alfabeto Fonético Internacional (AFI). Teremos em cada bloco de palavras, um total de 20 crianças X 12 palavras. Lembrando que esse total foi composto por um subgrupo de dez crianças silábicas e outro com dez alfabéticas.

Para verificar o emprego das vogais pelas crianças, apresentamos, a seguir, na tabela 6, as médias percentuais de acertos nas notações das vogais abertas e das vogais fechadas nas sílabas iniciais de palavras.

Tabela 6 - Médias percentuais de acertos das crianças nas notações das vogais abertas /ɛ/, /ɔ/ e das

vogais fechadas /e/, /o/ nas sílabas iniciais de palavras.

Vogais abertas Vogais fechadas

/ɛ/ /ɔ/ /e/ /o/ Total

Alunos silábicos 8,3 69,2% 10,7 89,2% 2,5 20,8% 8,7 72,5% 30,2 62,9% Alunos alfabéticos 11,1 (92,5%) 11,7 (97,5%) 6,2 (51,7%) 10,6 (88,3%) 39,5 82,3% Total de acertos por timbre vocálico 19,4 80,83% 22,4 93,33% 8,7 36,25% 19,2 80%

Os dados da tabela nos permitem concluir a princípio, que para todos os quatro fonemas vocálicos as crianças de nível alfabético se saíram melhor, e que nos casos do /ɛ/ e do /e/ as diferenças se revelaram muito grandes.

O maior índice de acertos nos dois subgrupos, tanto entre as vogais abertas quanto das fechadas, relacionou-se à vogal /ɔ/. Comparando, ainda, o índice de acertos entre os fonemas com timbre aberto e o fechado, verificamos que os melhores resultados referem-se aos fonemas abertos, nos dois pares de vogais analisadas. Provavelmente por coincidir com o nome da letra. Segundo Soares,

Tendo aprendido que as vogais são cinco, e conhecendo-as apenas em sua forma oral, as crianças pouco erram na grafia das vogais orais, porque devem identificar o nome da letra com o fonema oral que ela representa (SOARES, 2016, p. 223).

Podemos inferir que a criança nota com maior frequência as vogais orais abertas nas palavras, possivelmente, pela influência dos nomes das mesmas, se referirem aos fonemas das vogais orais abertas ensinadas no ambiente alfabetizador. Sendo talvez essa a razão de crianças na fase silábica privilegiarem a vogal para representar a sílaba, provavelmente pela facilidade de sua identificação na fala. Como atesta Murray (1998: 462, apud SOARES, 2016) “... identidade e identificação derivam da palavra latina idem, que significa ‘o mesmo’; identificar um fonema é percebê-lo como o mesmo gesto vocal que se repete em diferentes palavras”.

Refletindo sobre os resultados da tabela onde o emprego da vogal “o” foi maior que o emprego da vogal “e”, destacamos resultados de pesquisa realizada por Moresco (2008), onde analisou a produção de crianças em fase de aquisição/aprendizagem da escrita. Tais resultados revelaram que a maior quantidade de acertos na grafia das vogais átonas “e” e “o”, no final das palavras incidia mais sobre a grafia da vogal “o”, tanto na 1ª quanto na 2ª série. A autora interpretou que tal ocorrência seria fruto da influência da diferença relativa ao estatuto morfológico das vogais ou em função do tipo de relação existente entre a fonologia/morfologia das vogais e sua ortografia. Moresco (2008) traz para seu discurso Harris (1991:29), que considera “a letra /o/ como marcador de palavra portador de informação morfológica, enquanto a letra /e/ como elemento preenchedor, que quando não vier lexicalmente determinado, possui apenas a função de contribuir para boa formação da sílaba”. Podemos deduzir, nesse caso, que notar a vogal aberta /ɔ/ seja mais fácil que a /ɛ/, sobretudo por aparecer com maior frequência na escrita, relacionada à sua função morfológica (marcador de gênero masculino), sendo assim mais evidente para as crianças.

Para compreendermos melhor os resultados apresentados pelas crianças, analisaremos, nas tabelas seguintes, o desempenho e médias percentuais em cada tarefa. Faremos tanto análises quantitativas como observações de tipo qualitativo sobre os resultados obtidos.

Tabela 7 - Médias percentuais globais de crianças que empregaram a vogal aberta /ɛ/ na primeira

sílaba das palavras ditadas.

É É É É É É É É É É É É É

PELE DEGRAU TELA BELA FERA VELA SERRA ZERO METRO NEVE LEQUE RETA TOTAL

SILÁBICOS 8 7 7 6 9 5 8 3 8 7 9 6 83 69,16% ALFABÉTICOS 1O 8 9 10 9 9 8 10 10 9 10 9 111 92,5% TOTAL 18 15 16 16 18 14 16 13 18 16 19 15 194 80,83%

N máximo = 10 para cada subgrupo de crianças (silábicos e alfabéticos)

Quanto ao emprego da vogal aberta /ɛ/, a tabela 7 nos permite interpretar que, apesar de as vogais abertas serem mais frequentemente notadas pelos alunos silábicos, em nenhuma das palavras dessa sequência observamos 100% de acerto. Embora não tenhamos totalidade de notação de vogal nas palavras, não podemos subestimar que a média de acertos foi de 69,16%, de modo que mais de 2/3 das crianças conseguiram empregar, convencionalmente, a vogal aberta na sílaba inicial da palavra.

As palavras com maior índice de acerto foram, respectivamente, FERA, LEQUE, PELE, SERRA, METRO, DEGRAU, TELA e NEVE, onde verificamos a notação da sílaba inicial, predominantemente, com uma única letra que representa o fonema /ɛ/. Poderíamos associar tal resultado ao fato do fonema da vogal oral /ɛ/, ser mais perceptível na pronúncia da sílaba inicial da palavra, para os silábicos, do que o fonema das consoantes “F”, “L”, “P”, “S”, “M”, “D”, “T” e “N”, “induzindo” a criança a notar a vogal, núcleo da sílaba, certamente por apresentar um fonema mais evidente. Foram observados resultados semelhantes com a letra “R”, onde registramos para RETA as notações vocálicas em “EA” e consonantais em (RA, NA). Poderíamos dizer também que o percentual de notação das vogais pode ter ocorrido em função da pouca familiaridade das crianças em relação às consoantes, identificando com mais facilidade o fonema vocálico.

Em contrapartida, analisando os erros das crianças, nas palavras destacadas, observamos uma curiosidade, em suas notações. Na palavra LEQUE a notação de uma criança foi SI, substituindo a sílaba inicial por “S” [esse], o que nos leva a pensar na possibilidade de substituição do fonema /ɛ/, talvez percebido pela criança, por uma letra com um nome que se aproxime da mesma [esse]. Em SERRA, a criança notou LA, com a sílaba inicial, representada por “L” [ele], em DEGRAU, observamos BA, a troca entre as oclusivas sonoras “D” por “B” e NRA, substituição da sílaba inicial por “N”, consoante nasal, sonora [ene]. Na palavra TELA foram notadas ROA e SL, ambas iniciadas por consoantes com nomes representadas em VCV [erre] e [esse]. Por último a palavra NEVE com notação NR e RA, na primeira situação, observamos a notação da consoante convencional seguida da consoante “R”, que não representaria a sílaba final, o que nos leva a crer que foi notada, mais por influência do primeiro fonema da sílaba inicial, do que a final e o segundo caso, a notação da sílaba inicial em “R”, configurando mais uma vez a notação da consoante que tem em seu nome VCV. Isso nos leva a especular que as crianças poderiam ter feito uso de consoantes que apresentam algo em comum, seu nome composto por vogal/consoante/vogal, se assemelhando à pronúncia aberta do /ɛ/. Assim, como observado por Ferreiro (1986, p. 47) “as vogais são mais bem utilizadas que as consoantes, mas não se exclui a possibilidade de encontrarmos escritas silábicas baseadas em consoantes”, não impedindo a notação de sílabas representadas por consoantes entre as crianças silábicas. Provavelmente, nossos dados sugerem que a intenção das crianças não tenha sido notar a consoante convencional da sílaba inicial, mas usar o nome das consoantes notadas, em substituição ao fonema vocálico convencional da mesma sílaba.

Podemos dizer, a partir dos resultados, que, embora o subgrupo de silábicos tenha apresentado um bom índice de notação da vogal aberta /ɛ/, não devemos desconsiderar as observações feitas em relação aos erros, onde as crianças pareciam estar se influenciando pelo nome da consoante e não propriamente por seus fonemas que seriam representados na posição medial da sílaba (ele - ene - erre e esse), em substituição da vogal aberta /ɛ/, que aparece ao pronunciarmos o nome de cada uma das consoantes por elas notadas.

Os menores percentuais de acerto foram observados nas palavras VELA (notadas em VA) sendo a sílaba inicial, notada pela consoante, convencional,

fricativa “V” e ZERO (ZU, OO, OI, OU, AO, OL) “Z”, notada com a fricativa “Z” e a vogal “O” aparecendo em substituição à /ɛ/. Em análises posteriores veremos também que alguns estudos apontaram o uso de consoantes fricativas com mais frequência, mostrando que “crianças acham mais fácil tornar-se ciente de vogais do que consoantes e identificar consoantes fricativas que as oclusivas.” conforme Liberman et. al, 1974 (apud MARTINS; SILVA, 2009, p. 225.) Tal tendência pode ter sido o caso das crianças que notaram suas sílabas com as fricativas destacadas.

Quanto ao grupo de crianças alfabéticas, que alcançaram a média global de 92,5% de acerto, registramos que em cinco, das dez palavras obtiveram 100% de acerto e que os menores índices foram nas palavras DEGRAU e SERRA, com 80% de acertos, onde notaram para a primeira DGANH e TALHA, configurando o uso da consoante equivalente a sílaba /de/ e o uso da consoante oclusiva linguodental “T”, que é nesse nível de escrita confundida por algumas crianças, com a consoante oclusiva linguodental “D”. Para SERRA notaram VRA e CARRA, na primeira escrita temos o caso da notação da consoante sem a vogal, evidenciando a fase de transição de algumas crianças silábico-alfabéticas para alfabéticas, ao notarem suas sílabas sem a vogal e, na segunda notação, certamente, a criança tenha sido influenciada pelo nome da letra “C”, que carrega em seu nome o som do /e/ em /cê/, levando-a a não registrar a vogal “E”, mas a “A”, presente na sílaba final. No geral podemos dizer que o baixo percentual de erros não indicou grandes dificuldades no subgrupo.

A seguir, veremos, na tabela 8, como foram os desempenhos das crianças em relação à notação da vogal fechada /e/.

Tabela 8 - Médias percentuais globais de crianças que empregaram a vogal fechada /e/ na primeira sílaba das palavras ditadas.

Ê Ê Ê Ê Ê Ê Ê Ê Ê Ê Ê Ê Ê

BECO PERA DEDO TELHA VEIA FEIJÃO ZEBRA SELO NEGRO MESA LETRA REDE TOTAL

SILÁBICOS 3 0 0 1 0 1 0 1 5 1 6 7 25 20,83% ALFABÉTICOS 2 3 3 5 4 6 3 3 7 9 8 9 62 51,16% TOTAL 5 3 3 6 4 7 3 4 12 10 14 16 87 36,25%

N máximo = 10 para cada subgrupo de crianças (silábicos e alfabéticos)

A tabela 8 nos aponta dados relevantes sobre o emprego da vogal “E”, onde os índices globais foram os menores, dos dois subgrupos.

A presença da letra “E” entre os silábicos ocorreu, em sua maioria, nas palavras NEGRO, REDE e LETRA, onde provavelmente o fonema da vogal ficou mais evidente, para as crianças do que a consoante, da sílaba. Vale salientar que observamos, nas palavras onde não foram notadas a vogal “E”, a substituição dessa por uma consoante, que a princípio, poderíamos dizer apenas, ‘não convencional’, mas observamos que todas tiveram algo em comum, o nome da letra representado por uma sílaba fechada, /dê/, /tê/, /pê/ e /bê/ todas lembrando o fonema fechado da vogal /e/, como podemos ver a seguir: para NEGRO - DU, TO; para REDE – TI; para LETRA – PA, BA, TA. Provavelmente, as crianças nesse nível de escrita, não tenham compreendido que uma letra possa representar mais de um fonema, no caso (/ɛ/ e /e/) tentando possibilidades ou alternativas que possam se aproximar ao máximo possível do fonema percebido.

No entanto, verificamos ausência total da vogal, em pelo menos, quatro palavras (DEDO, PERA, VEIA e ZEBRA) e apenas uma notação, em outras quatro (TELHA, FEIJÃO, MESA e SELO) sendo a última, correspondendo ao fonema inicial /s/, representada na primeira sílaba da palavra ditada pelo som /cê/, sendo substituída pelas crianças pela letra “C”, que já possui em seu nome o fonema da vogal /e/, não sendo por isso notada. Nesse nível de escrita as crianças ainda não dominam os contextos onde essa letra possa ser notada por “S”, por isso sendo mais facilmente confundida. Na palavra DEDO, todas as sílabas iniciais foram notadas com consoante, sendo 50% delas convencionais (notadas em D O ou D U) e observamos trocas da consoante “D” por “B”, “P” e “T”, (BO, PO e TO), como é comum ser observado no início do aprendizado da escrita.

Na palavra PERA não foi diferente; verificamos as notações com a consoante convencional em 60% das crianças (PA) e não convencionais (DR, TA) que continham o fonema /e/ em seus nomes. Em seguida, tivemos a palavra VEIA, que apresentou notação da sílaba inicial em 80% dos casos com a consoante convencional “V”, com notação VA, um caso de troca do “V” pelo “P” (PAI) e uma notação vocálica IA. Em ZEBRA observamos que 90% das crianças notaram a sílaba inicial apenas com consoante (70% notaram ZA e 20% com consoantes não convencionais, respectivamente VA e KAA). Para TELHA, 70% das crianças notaram TA e observamos outros três casos ORB, KQ e PE. Conforme observado por Soares:

Conhecendo o nome dessas letras (B, D, P, T, V, Z) crianças, quando atingem o período de fonetização da escrita, costumam considerá-las como equivalentes a sílabas quando à consoante se segue a vogal E, como nos seguintes exemplos de escritas inventadas de crianças: BCO por beco, CABLO por cabelo, PTCA por peteca, VNENO por veneno (SOARES, 2016, p. 220).

Dessa forma, inferimos que as crianças silábicas supõem que a letra, graças ao seu nome equivaler a uma sílaba oral, dispensaria com isso a necessidade de adicionar a vogal “E”, necessária à composição da sílaba convencional, da palavra.

Na palavra FEIJÃO observamos a representação das sílabas com as vogais (IO, EU) e os demais registros com representação da sílaba inicial com notação de consoantes não convencionais como “V”, “T” e “B” em lugar de “F” ou até mesmo do “E”. Tais notações só reforçam a possibilidade de supormos que as crianças buscaram estratégias de representarem o fonema /e/ com letras “que se aproximem” daquele fonema.

Em MESA observamos a sílaba inicial notada pelas consoantes “P” (OP, para uma criança que invertia a ordem das letras), “V” (VA) e “T” (TA), repetindo-se o observado nos demais casos, nos quais verificamos a tendência de substituir a vogal fechada /e/ por uma consoante que tem em seu nome CV, configurando fonema fechado, semelhante à vogal.

Assim sendo, os resultados nos mostram que em quase 66% das palavras não houve o emprego da vogal, revelando-nos que para as crianças silábicas é mais “difícil” notar a vogal fechada do que aberta. Em estudos realizados por Soares (2016), tal evidência não foi observada em relação à escrita:

É na leitura, como dito no tópico anterior, que os grafemas vocálicos orais E e O podem levar a criança a erros de reconhecimento de palavras, quando deve decidir entre pronúncia /e/ ou /ɛ/, /o/ ou /ɔ/, em sílaba tônica de palavras paroxítonas; na escrita, essa dificuldade não se coloca, já que a grafia é sempre a mesma (exceto em casos em que regras de acentuação devem ser aplicadas) (SOARES, 2016, p. 306).

Não foi exatamente o que nossos resultados revelaram, principalmente, entre as crianças silábicas em que a notação das vogais fechadas, foi muito mais difícil do que as abertas.

Estudos realizados por Martins e Silva (2009) para verificar se havia o uso equivalente das letras convencionais, para representar as consoantes seguidas das vogais abertas e fechadas, revelam que crianças portuguesas, obtiveram melhores resultados fazendo uso das vogais abertas do que as fechadas. No caso do português, além da maior sonoridade das vogais abertas, a pronúncia coincide com os nomes das letras que representam as vogais. Dessa forma, podemos concluir que produzir vogais fechadas, seja mais difícil, não só pela natureza de seu fonema, mas pela combinação da mesma com consoantes que possam sugerir a sua inclusão no seu próprio nome.

No subgrupo dos alfabéticos, os índices mais altos foram registrados nas palavras MESA, configurando apenas um erro (NSA), REDE (RIDI) e LETRA (LTA e CA), coincidindo com as duas palavras mais notadas entre os silábicos, onde observamos notação silábica sem o emprego da vogal da sílaba inicial. Verificamos os menores índices de acerto nas palavras BECO, PERA, DEDO, ZEBRA e SELO, algumas delas também identificadas entre as menos pontuadas do subgrupo dos silábicos. O erro mais comum observado nessas palavras foi a notação da consoante equivalendo a sílaba como revelam as seguintes notações: BCO, BCU, BQO, BQU (para BECO), PRA, BRA, PHAL (para PERA ) e DO, DU, PITO, DIDO, DDO (para DEDO ). Certamente, pelos mesmos motivos destacados no subgrupo dos silábicos, aqueles alunos já com hipótese alfabética preferiram notar a consoante equivalendo à sílaba inicial da palavra. Mas, devemos levar em conta que os resultados entre as crianças alfabéticas já começam a revelar que, à medida que vão evoluindo em seus níveis de escrita, elas tendem a identificar e segmentar as sílabas, notando, além das consoantes, as vogais que fazem parte do núcleo da sílaba, mesmo quando essas apresentam timbre fechado.

Os resultados da tabela 8 nos mostram que, nos dois subgrupos, os erros ocorreram, em sua maioria, por influência das consoantes que trazem em seu nome o fonema equivalendo à sílaba inicial, da palavra ditada, sendo notadas com as letras “B”, “D”, “P”, “T”, “V”, “Z” e “C”, este último em substituição do “S”, sem a notação da vogal “E”.

A seguir, observaremos as médias percentuais das crianças em relação à vogal aberta /ɔ/.

Tabela 9 - Médias percentuais globais de crianças que empregaram a vogal aberta /ɔ/ na primeira

sílaba das palavras ditadas.

Ó Ó Ó Ó Ó Ó Ó Ó Ó Ó Ó Ó Ó

TOCA BOTE POTE DORA SOLA ZOCA FOCA VOTO LOJA ROSA MOLA NOVE TOTAL SILÁBICOS 8 10 10 5 9 10 7 10 10 10 8 10 107 89,16 ALFABÉTICOS 10 9 10 9 10 10 10 10 9 10 10 10 117 97,5% TOTAL 18 19 20 14 19 20 17 20 19 20 18 20 224 93,33%

N máximo = 10 para cada subgrupo de crianças (silábicos e alfabéticos)

A tabela 9 revela a maior média percentual de emprego de vogais apresentadas entre os quatro blocos de palavras analisadas /ɛ/, /ɔ/, /e/, /o/, nos dois subgrupos.

Entre os silábicos verificamos que, das doze palavras ditadas, sete delas apresentaram em 100% das crianças a notação da vogal /ɔ/. Alves Martins e Silva (2001, 2009) defendem que quando as crianças sabem os nomes das letras, elas podem achar mais fácil detectá-los na pronúncia deste tipo de palavra, que por sua vez, facilita o entendimento do som-notação, função que as letras deveriam cumprir, fielmente segundo o princípio alfabético. Martins (2013) destaca que, no caso do português, o efeito é mais acentuado para as vogais do que para as consoantes – o oposto para o caso em inglês. Nesse caso, a provável familiaridade com os fonemas da sílaba inicial, tenha mobilizado a notação convencional da vogal /ɔ/. Contrariamente, o índice de acerto mais baixo foi registrado na palavra DORA, onde 50% das crianças marcaram a sílaba inicial com a consoante, convencional e não convencional, talvez por percebê-la mais evidente que a vogal, como podemos observar em seus registros (PA, DE, TA, DNT).

O subgrupo dos alfabéticos revelou ótimo desempenho em suas notações. Da sequência de palavras, nove apresentaram índice máximo de acerto e as demais 90%, garantindo um percentual global de 97,5%, o que nos leva a concluir que empregar a vogal /ɔ/ nessa sequência de palavras não pareceu uma tarefa difícil para as crianças, reinterando estudos mencionados anteriormente.

Quanto ao emprego da vogal fechada /o/, a tabela 10 nos revela que em nenhuma das palavras da sequência, obtivemos 100% de acerto, entre as crianças silábicas, se contrapondo à tabela 9, onde registramos seus melhores desempenhos.

Tabela 10 - Médias percentuais globais de crianças que empregaram a vogal fechada /o/ na primeira sílaba das palavras ditadas.

Ô Ô Ô Ô Ô Ô Ô Ô Ô Ô Ô Ô Ô

DOCE TORRE BOLO POÇO ZORRO SOPA VÔLEI FOGO RODO LOBO NOVO MOÇA TOTAL SILÁBICOS 4 5 9 8 8 8 7 8 9 6 8 7 87 72,5% ALFABÉTICOS 8 9 9 9 9 9 9 8 10 9 9 8 106 88,3% TOTAL 11 14 18 17 17 17 16 16 19 15 17 15 193 80,4%

N máximo = 10 para cada subgrupo de crianças (silábicos e alfabéticos)

O maior índice de acertos ocorreu nas palavras BOLO e RODO, com 90%, as demais variaram de 40% a 80%, onde as notações das sílabas iniciais foram marcadas basicamente pela consoante, em alguns casos convencionais e em outros não. As palavras registradas com os menores números de acertos foram DOCE, notada como IE, DE, EC, UI, BS; TORRE (DI, TI, DE, EU, AL), onde percebemos a troca entre consoantes oclusivas e o uso de vogais sem o valor convencional esperado e LOBO (BA, EY, EI), com a notação de três crianças usando “EI” e “A”, no lugar de “O”.

Assim como observado na vogal /e/, podemos inferir que a ausência de notação da vogal “O”, nesse grupo de palavras, parece estar relacionada à mudança fonêmica ou do timbre vocálico, de aberto /ɔ/ para fechado /o/, o que nos leva a crer que a mudança do timbre vocálico, sim, pode induzir as crianças ao erro no início da alfabetização, provavelmente por não compreenderem, como dito anteriormente, que a mesma letra pode representar mais de um fonema.

Entre os alfabéticos houve 100% de acerto em apenas uma palavra e, em oito outras, observamos 90%. Assim como no grupo dos silábicos, as palavras que apresentaram menor número de acertos foram DOCE (DCI, DASI), FOGO (FGO, FACO) e MOÇA (MESA e NALSA) com 80%. Observamos nas duas primeiras palavras a notação silábica ocorrendo com a consoante, sem a vogal, como no subgrupo dos silábicos, embora tenha sido menos comum a omissão da vogal “O” entre os alfabéticos. Nos demais erros, percebemos a troca da vogal convencional, configurando as falhas na utilização do valor sonoro, ainda comum entre as crianças no início do nível alfabético de escrita.

Em síntese...

Retomando a tabela 6 (Médias percentuais de acertos das crianças nas notações das vogais abertas /ɛ/, /ɔ/ e das vogais fechadas /e/, /o/ nas sílabas iniciais de palavras), o que os dados revelam é que para os dois subgrupos de