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Esquema 11 As três dimensões da proposição-enunciado

5 ANÁLISE DOS DADOS

5.1 ANÁLISE DOS TEXTOS DE HUMANÍSTICA I

Antes de observarmos as questões referentes à (não) assunção da responsabilidade enunciativa nos textos representativos de cada área, apresentaremos um quadro destacando como o plano de texto se materializa nas redações (Artigos de Opinião) produzidos pelos vestibulandos das diversas áreas. Para facilitar a identificação dos textos que apresentam as cinco partes do plano de texto indicadas pela Comperve, destacamos seus respectivos códigos em negrito.

Quadro 23 - Plano de texto dos artigos produzidos pelos candidatos da área humanística I

Texto Título Introdução Argumentação Refutação Conclusão

T1 x x xx - x T2 x x x - x T3 x x xx x x T4 x x x x x T5 x x x x x T6 x x x x x T7 x x x - x T8 x x x x x T9 x x xxx x x T10 x xx xx - x T11 x x xx - x T 12 x x xx - x T 13 x x xx - x T 14 x x xx - xxx T15 x x xxx - x T 16 x x xxx - x T 17 - x xxx - x T18 x x x x x T 19 x x x - x T 20 x x xx - x

Fonte: elaborado pela pesquisadora

Dos vinte (20) textos analisados, na área de humanística I, sete (7) apresentam as cinco (5) partes solicitadas pela Comperve, a saber: título, introdução, argumentação, refutação e conclusão. Desses, cinco (5) apresentam-se divididos em quatro, sendo dois (2) de argumentação e outro, T9, apresenta seis parágrafos, sendo três (3) destinados à apresentação dos argumentos.

Como podemos perceber, através do quadro acima, a maioria dos artigos apresenta um plano semelhante, com a presença de título, introdução, argumentação e conclusão. Há, apenas, texto sem título, trata-se do texto 17.

Observamos que as marcas linguísticas que revelam a ocorrência da responsabilidade enunciativa são as mesmas, a saber: índices de pessoas verbais e lexemas avaliativos. Ressaltamos que identificamos a assunção do PdV total em todos os textos deste grupo, mas em dois textos (T5 e T13) há, também, recorrência a outras instâncias enunciativas, na introdução e na argumentação, para embasar o seu posicionamento, a saber:

Quadro 24 - Fragmentos textuais de T5 e T13

T5 “(...) alguns dados comprovam que, a cada dia o mundo passa por diversas mudanças entre elas esta a tecnologia.”

T13 “Os noticiários demonstram as barbaridades cometidas, que revolta a população (...).”

Fonte: elaborado pela pesquisadora

Como ressaltado anteriormente nesses dois textos encontramos a atribuição de uma informação a outras instâncias enunciativas. Em T5 podemos inferir que essa instância está relacionada a pesquisas e em T13 o vestibulando atribui as informações aos noticiários. Porém, a não assunção da responsabilidade enunciativa ocorre apenas nesses fragmentos. Nas outras partes destes textos encontramos expressões na primeira pessoa do plural (T5: estamos, percebemos, devemos; T13: evitamos, nos indagamos, nos traz, nosso favor) que configuram a assunção da responsabilidade enunciativa através dos índices de pessoas. Fato este que torna esses dois textos diferentes dos demais desse grupo, uma vez que neles encontramos uma “mistura de posicionamentos”.

Quadro 25 - Plano de texto de T06

Título Artigo de luxo (texto 06)

Introdução Em meio a tanta violência passamos a viver como na Paz Armada, em que a potências mundiais investiam em armamentos a espera da grande guerra. O que se observa é uma inversão de papéis: criminosos em liberdade e nós vivendo monitorados por câmeras que estão por toda a parte; aprisionados em nossos lares por cercas elétricas e sendo abordados em estabelecimentos privados por seguranças particulares. Argumentação O fato é que a segurança se tornou um “artigo de luxo”, pois a

população menos favorecida (representando a maior parte da sociedade) não tem condições de se prevenir em níveis igualitários a elite.

Refutação É bem verdade que cada um se previne como pode e que não seria justo com aqueles que tem acesso a esse tão “valioso bem” que abrissem mão do mesmo apenas porque não é acessível a todos. Mas, o que realmente não é justo é a segurança que deveria ser direito de todos ser apenas para alguns.

Argumentação Desta maneira só estamos aumentando a desigualdade social, o que na minha opinião é a principal causa do crescimento do índice de criminalidade mundial. Não é se equipando de recursos tecnológicos que vamos conseguir manter a ordem pública e proteger a cidadania da violência, é investindo no desenvolvimento da classe pobre da sociedade.

Conclusão Assim, sabemos que o percentual da violência não chegaria perto de ser zero, mas haveria um declíneo considerável, com pessoas que não seriam obrigadas a praticar furtos, comercializar drogas, entre outros crimes apenas para o seu sustento.

Fonte: elaborado pela pesquisadora

O texto 06, Artigo de luxo, apresenta-se estruturado em cinco parágrafos; já na introdução percebemos o ponto de vista do autor em relação ao tema proposto. No primeiro período da introdução observamos que o locutor/enunciador assume a responsabilidade

enunciativa quando o usa a expressão “passamos”, que se caracteriza como uma marca linguística da categoria índices de pessoas e favorece a assunção do PdV total. Porém, no segundo período da introdução o vestibulando não se engaja totalmente. Ao propor que na sociedade atual encontramos os papeis invertidos o autor recorre a mediação perceptiva, como podemos ver na expressão destacada em negrito em que o verbo observar está acompanhado da partícula “se” que caracteriza um PdV mediatizado, no qual o locutor não assume a responsabilidade pela informação “O que se observa é uma inversão de papéis...”.

A partir da argumentação podemos afirmar que existe um engajamento total do enunciador, o que caracteriza a assunção da responsabilidade enunciativa, ou seja, temos na argumentação, refutação e conclusão um enunciador que se compromete com as informações e opiniões apresentadas no texto. Esse engajamento pode ser comprovado pelas marcas linguísticas da primeira pessoa do plural (“estamos”, “vamos conseguir”, “sabemos”); do singular (na minha opinião) e pela presença de expressões qualificadoras, como: “valioso bem”, “apenas” e “só” que expõe uma avaliação deste enunciador sobre a temática apresentada, implicando assim, em uma assunção total da responsabilidade enunciativa.

No que diz respeito ao uso dos conectivos identificamos no texto em questão a presença de quatro conectores que direcionam a argumentação, desses; dois pertencem ao grupo dos conectores argumentativos marcadores do argumento (pois, porque), o “mas” que está presente na refutação e na conclusão faz parte dos marcadores de oposição e o assim, marca a conclusão.

De forma geral o “pois” e o “porque” que aparecem no texto, respectivamente na parte da argumentação e da refutação, apresentam uma justificativa, como podemos comprovar em “O fato é que a segurança se tornou um “artigo de luxo”, pois a população menos favorecida (...) não tem condições de se prevenir em níveis igualitários a elite.”.

Em relação ao “mas” no primeiro caso reforça a contra-argumentação e no segundo caso coloca dois argumentos em oposição reforçando o segundo que deixa implícita a conclusão, como podemos observar no fragmento: “Assim, sabemos que o percentual da violência não chegaria perto de ser zero, mas haveria um declínio considerável, com pessoas que não seriam obrigadas a praticar furtos(...)”, ou seja, através do uso desse conectivo o enunciador reforça sua proposta de solução, inferindo que o investimento no desenvolvimento social da classe pobre ocasionará uma redução da violência.

Enfim, através dos índices de primeira pessoa, dos lexemas avaliativos e dos conectivos percebemos o engajamento e comprometimento do enunciador.