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Esquema 11 As três dimensões da proposição-enunciado

5 ANÁLISE DOS DADOS

5.4 ANÁLISES DOS TEXTOS DE TECNOLÓGICA II

Na área de tecnológica II, nossa amostragem é composta por vinte e cinco (25) textos. Para nossa análise seguiremos o formato já apresentado com os textos de outras áreas, de forma que trazemos inicialmente a apresentação do quadro dos planos de texto dos artigos produzidos pelos vestibulandos que concorrem a uma vaga nesta área e na sequência ilustramos como se materializa a (não) assunção da responsabilidade enunciativa.

Quadro 36 - Plano de texto dos artigos produzidos pelos candidatos da área Tecnológica II Textos Título Introdução Argumentação Refutação Conclusão

T51 x x xx - x T52 x x x x x T53 x x xx x x T54 x x x - x T55 - x x - - T56 x x x x x T57 x xxx x - x T58 x x x x x T59 x x xxx - x T60 x x x x x T61 x x xx - x T62 x x xx x x T63 x x xx - x T64 x x xx - x T65 x x xxx - x T66 x x x - x T67 x x xxx - x T68 x x x x x T69 x x xxxx - x T70 x x xx x x T71 x x x x x T72 x x xxx - x T73 x x xx - x T74 x x x x x T75 x x xx - x

Fonte: elaborado pela pesquisadora

Na área de tecnológica II identificamos o maior número de redações com os cinco elementos do plano de texto elencados na expectativa de correção da Comperve, como podemos verificar no quadro através dos dados com destaque em negrito. Dos vinte cinco textos representativos desta área dez (10) apresentam o plano de texto completo. Como ocorre em outras áreas também identificamos neste grupo um texto sem título.

Quadro 37 - Plano de texto de T60

Título “Big Brother” da vida real (texto 60)

Introdução No mundo atual, as pessoas têm suas vidas cada vez mais vigiadas, seja no trabalho, na escola ou até mesmo em seus próprios condomíníos e residências. Dizem os especialistas, tratar-se de um padrão universal que

visa somente a segurança dos indivíduo. Todavia, essa segurança cobra um preço bastante alto, o maior direito pregado pelas democracias ao valo do mundo: a liberdade.

Refutação Eu não vou mentir, é óbvio que as câmeras de segurança ajudam a inibir

assaltos, assassinatos, consumo de drogas e até a destruição do patrimônio público. O que venho criticar aqui é o modo como as polícias, tanto civil

quanto federal e militar, e seguranças invadem a privacidade das pessoas, sem ao menos perguntar o que elas pensam sobre o assunto. Do modo como as coisas vão logo chegaremos ao extremo de termos que ser mantidos a força em nossas casas para escaparmos da violência, como ocorre na

crônica Segurança de Luís Fernando Veríssimo.

Argumentação Na realidade não precisamos ir tão longe, na vida real temos um exemplo

bastante interessante de como os governos estão deixando de respeitar as liberdades individuais dos cidadãos. Ele ocorreu logo após os ataques terroristas de 11 de Setembro de 2001 às torres gêmeas em Nova Iorque, nos Estados Unidos. Sob a justificativa de que estaria travando uma guerra contra o terror a polícia secreta do governo norte-americano (FBI) grampeou sem mandado judicial os números telefônicos de mais de um milhão de pessoas. Outro exemplo também dos Estados Unidos é a prisão de Gustómano, localizada na ilha de cuba, na qual os soldados americanos torturam os presos, que não têm sequer direito a julgamento.

Conclusão Apesar de o caso das câmeras de segurança ser bem menos grave que esses, ele também suprime parcialmente a liberdade individual, visto que as pessoas ficam bem mais inibidas sabendo que estão participando de um verdadeiro “Big Brother”, que muitas vezes não adianta de nada devido ao trabalho falho da polícia. Como ocorreu em um caso recente no qual um empresário paulista viu, por câmeras, sua residência sendo roubada, telefonou para a polícia, e esta, mesmo chegando cinco minutos antes de os ladrões irem embora não conseguiu prendê-los.

No texto sessenta (60) identificamos a materialização de dois tipos de PdV. O PdV anônimo se materializa no segundo período da introdução por meio de dois recursos linguísticos: a presença do verbo dicendi no impessoal “dizem” atribuindo uma informação aos especialistas e o verbo tratar acompanhado do índice de indeterminação “se”, como podemos observar no fragmento: “Dizem os especialistas, tratar-se de um padrão universal que visa somente a segurança dos indivíduo.”. Nesse fragmento textual percebemos que o vestibulando não assume a responsabilidade enunciativa pela informação veiculada, atribuindo o enunciado a uma outra voz, no caso os especialistas.

A partir do terceiro período da introdução, com o uso do conectivo “todavia” que marca uma oposição, até o final do texto identificamos marcas linguísticas do PdV total, entre as quais destacamos o uso de expressões qualificadoras “um preço bastante alto” que apresenta uma avaliação do produtor do texto sobre o fragmento anterior que foi atribuído aos especialistas e a expressão “trabalho falho” referindo-se a ineficiência da polícia, o que justificaria então, o uso das câmeras de segurança.

Os índices de pessoas também confirmam a assunção da responsabilidade enunciativa por parte do autor do texto. As expressões em primeira pessoa do singular “eu não vou mentir”, “o que venho criticar” mostram um enunciador participativo, envolvido com a questão indicando também uma referência a si mesmo. No mesmo parágrafo ele usa a primeira pessoa do plural para apresentar uma previsão sobre as consequências da insegurança, como podemos comprovar: “Do modo como as coisas vão logo chegaremos ao extremo de termos que ser mantidos a força em nossas casas para escaparmos da violência...”. Sendo assim, identificamos na maior porção do texto a presença de um enunciador engajado que assume a responsabilidade enunciativa.

Na conclusão temos a presença dos conectivos apesar, também e visto que que desempenham respectivamente a função de: marcar um argumento fraco, encadear dois argumentos e introduzir uma justificativa, colaborando assim para a orientação argumentativa e a assunção da responsabilidade enunciativa do texto.

Outra marca linguística que localizamos na conclusão é o uso das aspas, que de forma geral caracteriza uma não assunção da responsabilidade enunciativa, porém no fragmento em questão atribuímos o uso das aspas como função de marcar uma expressão em língua estrangeira “Big Brother” que também remete a um programa de televisão.