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Esquema 11 As três dimensões da proposição-enunciado

5 ANÁLISE DOS DADOS

5.3 ANÁLISES DOS TEXTOS DE TECNOLÓGICA I

Na área tecnológica I, nossa amostragem corresponde a cinco (5) textos, tendo em vista que nessa área só temos um curso, como já informamos anteriormente. Para conduzirmos a análise apresentaremos alguns comentários gerais sobre o plano de texto em seguida ilustraremos a (não) assunção da responsabilidade enunciativa nos textos 46 e 48.

Quadro 31 - Plano de texto dos artigos produzidos pelos candidatos da área Tecnológica I Textos Título Introdução Argumentação Refutação Conclusão

T46 x x X x x

T47 x x Xxx - x

T48 x x Xx x x

T49 x x xx - x

T50 x x xxx x x

Fonte: elaborado pela pesquisadora

Considerando as informações expostas no quadro percebemos que dos cinco (5) textos representativos dessa área, três (3), o que equivale a 60%, atendem as perspectivas apresentadas pela COMPERVE nos critérios que orientam a avaliação dos textos em relação ao plano de texto. Ou seja, a maior parte dos textos dessa área (60%) apresentam todos os itens do plano textual do artigo de opinião: título, introdução, argumentação, refutação e conclusão. Em quarenta por cento (40%) dos textos encontramos a presença do título, introdução, argumentação e conclusão, mas não encontramos a presença da refutação.

Podemos perceber também que os textos representativos desta da área tecnológica I apresentam entre quatro (4) e seis (6) parágrafos. Sendo que alguns textos (T47 e T49) não apresentam a refutação, mesmo apresentando dois ou três parágrafos de argumentação. Em todos os textos analisados os itens introdução e conclusão apresentam um parágrafo. Outro item também presente no plano dos textos analisados foi o título, que identificamos nos cinco textos o que corresponde a 100%.

No que concerne a (não) assunção do PdV, encontramos marcas linguísticas que remetem a assunção total do PdV nos textos 46, 47, 49 e 50. Nesses textos a responsabilidade

enunciativa é assumida principalmente através dos índices de pessoas (1ª pessoa do plural ou singular), destacados no texto em negrito, e de adjetivos qualificadores, marcados com itálico, que serão transcritos nos quadros seguintes.

Quadro 32 - Índices de pessoa presentes nos textos da área tecnológica I Código do

texto

Parte do plano de texto

Índices de pessoas

T46 Introdução “nós, cidadãos corretos, somos os que mais sofremos com isso, pois a nossa privacidade fica cada vez mais restrita.”

Argumentação “já possuimos conhecimento / somos submetidos/ nós, a população, nos sentirmos os criminosos.”

Refutação “Sabemos” Conclusão “nossa liberdade”

T47 Conclusão “...quando não nos depararmos” T50 Introdução “nosso mundo/ Estamos cercados”

Argumentação “Nosso cotidiano / nossos aliados” Conclusão “Vejo”

Fonte: elaborado pela pesquisadora

Os índices de pessoas permitem ao locutor/enunciador assumir o seu posicionamento; essa marca linguística foi bastante recorrente nos textos escritos pelos candidatos da área Tecnológica II através do uso de pronomes pessoais do caso reto e oblíquo na primeira pessoa do plural (nós/ nos); dos pronomes possessivos também na primeira pessoa do plural (nossa e nosso); das terminações verbais (somos, sofremos, estamos...) e do verbo “vejo” na primeira pessoa do singular que indica uma referência a si mesmo por parte do locutor/enunciador que se engaja na problemática apresentada.

Observando o quadro percebemos que as marcas da primeira pessoa do singular ou plural aparecem em 60% dos textos desta área (tecnológica I). No que diz respeito à articulação do plano de texto e da assunção da responsabilidade enunciativa destacamos que nos textos em que ocorre o engajamento através da categoria dos índices de pessoas identificamos essa marca linguística principalmente na conclusão, na introdução e na argumentação.

Quadro 33 - Adjetivos qualificadores presentes nos textos da área tecnológica I Código do texto Parte do plano de texto Adjetivo avaliativo

T46 Introdução “Cidadãos corretos”

Refutação “Precário policiamento”

T47 Introdução “a tecnologia do século

XXI, tão bem adaptada ao cotidiano”

“a sensação de vigilância,

antes incômoda, passou a ser necessária”

T49 Conclusão “sinal que ela é eficiente”

T50 Argumentação “nossos aliados/ é uma

forma eficiente” Fonte: elaborado pela pesquisa

Os adjetivos qualificadores apresentam avaliações e julgamentos de valor que indicam a assunção da responsabilidade enunciativa nos textos. Essa marca linguística está presente em quatro textos desta área, o que simboliza 80 %. No primeiro texto da área T46 ela aparece na introdução e na refutação, em T47, T49 e T50 percebemos a ocorrência dos adjetivos qualificadores em apenas uma das partes do plano de texto, a saber: introdução T47, conclusão em T49 e argumentação em T50.

Expostas algumas informações gerais sobre os textos que compõe a amostragem referente à área tecnológica I passaremos a analisar os textos 48 e 50.

Quadro 34 - Plano de texto de T48

Título Tecnologia a serviço da classe média (texto 48)

Introdução Sabe-se que o crescente desenvolvimento tecnológico tem inovado em

relação as câmeras de segurança, uma vez que a violência na maioria das cidades brasileiras acabam por gerar essa necessidade devido ao medo que assola à população. No primeiro semestre deste ano na revista “veja” os

aparatos para câmeras sejam elas portáteis ou conectadas à televisão

acentuaram-se em todo o país.

Argumentação Todavia, a placa de “sorria você está sendo filmado” em algumas situações intimida a ação de pessoas, as quais desejam furtar algo de supermercados, shoppings ou estabelecimentos. Já em outros casos, o sistema de segurança ajuda a solucionar casos de furtos como aconteceu em Natal na redes de supermercados Carrefour há um mês atrás, em que quatro pessoas foram presos em flagrante passando produtos alimentícios sem registrá-los,

segundo o jornal : “Tribuna do norte”.

Além disso, o monitoramento traz outro benefício. Com algumas escolas de todo o Brasil utilizam-se câmeras com o objetivo de reduzir às conversas dos danos, aumentando o desenvolvimento escolar dos mesmos que acabam sendo mais atentos e ocasionando uma redução na interferência do professor na aula para pedir silêncio. Em reportagem ao RNTV, a aluna de uma

escola particular em Natal disse ter um rendimento satisfatório graças à essa interferência e se sente mais segura com esses equipamentos mesmo dentro das escolas.

Refutação Porém, segundo Isacc Neuton “para cada ação corresponde uma reação” e isso é válido para este assunto. As câmeras utilizadas em prédios acabam gerando a reação de tirar a privacidade das pessoas residentes no mesmo. O porteiro controla a vida dos cidadãos, saídas à noite gerando insatisfação de alguns por necessitarem de uma melhor segurança acabam aceitando a situação e tornam-se reféns do próprio medo.

Conclusão Por fim, como bem abordado a ligação “câmera e segurança” tem aparecido até em livros como o de Luís Fernando Veríssimo que acaba fazendo uma crítica através da crônica “Segurança” às pessoas que vivem por trás das grades, cercas e câmeras nos prédios, as quais tornam-se verdadeiras “presidiários”. O medo traz desenvolvimento econômico para os setores de tecnologia, conflitos e soluções psicológicas à vida dos indivíduos, os quais são impostos à isso e tentam conviver harmoniosamente com a situação.

O texto quarenta e oito (T48), tecnologia a serviço da classe média, já mostra o posicionamento defendido pelo autor a partir do título, ou seja, através da análise semântica do título podemos inferir que o vestibulando não é totalmente a favor do uso das câmeras de segurança, uma vez que este serviço só está ao alcance da classe média.

O texto inicia-se com a expressão “sabe-se” que introduz um PdV impessoal, ainda na introdução o locutor faz referencia a revista “Veja” atribuindo a esta instância jornalística a informação sobre o aumento do uso de câmeras de segurança. Ao longo do texto, mais precisamente na argumentação, na refutação e na conclusão, o locutor atribui partes dos enunciados apresentados a outras instâncias enunciativas como podemos observar nos fragmentos transcritos: “segundo o jornal : “Tribuna do norte”.”, “Em reportagem ao RNTV, a aluna de uma escola particular em Natal disse ter um rendimento satisfatório...” e , “segundo Isacc Neuton “para cada ação corresponde uma reação””. No primeiro e no terceiro fragmento o quadro mediativo materializa-se através do marcador de quadro mediador “segundo” que permite ao locutor do texto não assumir as informações relatadas. No segundo fragmento o distanciamento do locutor é marcado pelo verbo “disse” que atribui as informações apresentadas a aluna da escola particular que aparece na reportagem do jornal.

Nesse texto também encontramos o uso das aspas seja para identificar uma instância enunciativa (Revista Veja, Tribuna do Norte); para atribuir uma parte do enunciado a outra instância “sorria, você está sendo filmado!”, que é atribuída ao enunciado da prova de redação e as placas que encontramos em locais que usam a câmera de segurança e “para cada ação corresponde uma reação” que é atribuída a Isacc Newton para fundamentar o argumento de que as câmeras de segurança também apresentam um lado negativo, no caso, retiram a privacidade da população e para afastar a responsabilidade enunciativa referente ao uso do termo “presidiários” que pode ser interpretado como uma metáfora.

Enfim, no texto quarenta e oito (T48) percebemos que o locutor não assume a responsabilidade pelos enunciados, optando por um distanciamento que é marcado principalmente pelo mediativo.

Quadro 35 - Plano de texto de T50

Título No controle do sistema (texto 50)

Introdução O crime, a violência e a desonestidade transformaram o nosso mundo em um grande “reality show”. Estamos cercados por todos os lados de câmeras, sensores e máquinas fotográficas, seja numa loja, condomínio, no trabalho ou mesmo nas ruas.

Refutação Devido a essa constante presença da tecnologia vigilante no nosso cotidiano, um grupo de pessoas contrárias a esse sistema reclamam sua privacidade.

Argumentação Todavia, é necessário compreender que com a corrupção e a bandidagem que se alastram, os recursos tecnológicos de patrulha nada mais são que nossos aliados, pois estão para a sociedade como a polícia para o Estado está.

Os que vão de encontro a tais argumentos alegam que quem deve ser monitorado é o bandido, e não o cidadão. Contudo, o bandido está entre os cidadãos e essa é uma forma eficiente de identificá-lo, como já vem acontecendo.

Concomitantemente, essa é uma tendência cada vez mais forte, pois além de segurança, as câmeras e sensores representam controle. É como ter olhos espalhados pelos lugares mesmo não estando presente. Esse controle representa poder diante da sociedade.

Conclusão Desta forma, vejo na vigilância tecnológica a sociedade como um todo. Esse avanço tecnológico deve se disseminar por todas as áreas do cotidiano do mundo, trazendo segurança e ordem para o futuro.

Fonte: elaborado pela pesquisadora

No texto cinquenta (T50) encontramos a materialização da responsabilidade enunciativa através dos índices de pessoas (nosso mundo/ estamos cercados/ nosso cotidiano/ vejo) destacados em negrito no texto e dos adjetivos qualificadores (aliados/ eficientes/forte), marcados no texto com itálico, ambos apresentados na argumentação. O qualificador “aliados” refere-se aos recursos tecnológicos; o termo “eficientes”, por sua vez faz uma referência implícita também aos recursos tecnológicos que são usados para o monitoramento como forma de garantir a segurança da população e a expressão “forte” qualifica a expressão tendência que também se refere ao uso das câmeras de segurança. A presença dessas duas

marcas linguísticas confirma que o locutor assume a responsabilidade enunciativa na maioria dos períodos apresentados no texto.

Todavia, em uma porção do texto, mas precisamente no momento da refutação o locutor atribui parte do enunciado a outro enunciador, como podemos verificar nos fragmentos: “... um grupo de pessoas contrárias a esse sistema reclamam sua privacidade.” e “Os que vão de encontro a tais argumentos alegam que quem deve ser monitorado é o bandido, e não o cidadão”. A atribuição dessas opiniões a outro enunciador é marcada pelo quadro mediador; no primeiro fragmento quando o locutor indica que “um grupo de pessoas contrárias (...) reclamam” ele apresenta um ponto de vista contrário ao seu posicionamento sem, no entanto, mencionar a fonte desta opinião.

No segundo fragmento o locutor repete essa estratégia argumentativa, porém o marcador de oposição “contudo” que aparece após o argumento contrário ao posicionamento defendido pelo autor do texto, marca a introdução de um argumento forte contrapondo o ponto de vista anterior e modificando a orientação argumentativa do enunciado.