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Inicialmente cabe citar entendimento do Superior Tribunal de Justiça que analisou o tema proposto no RESp nº 1.178.500273 de relatoria da Exma. Ministra Nancy Andrighi:

EMENTA PROCESSO CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. TUTELA ANTECIPADA. NECESSIDADE DE REQUERIMENTO. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL. AUSENTE. [...] 2. Dentre os requisitos exigidos para a concessão da antecipação dos efeitos da tutela, nos termos do art. 273 do CPC, está o requerimento da parte, enquanto que, relativamente às medidas essencialmente cautelares, o juiz está autorizado a agir independentemente do pedido da parte, em situações excepcionais, exercendo o seu poder geral de cautela (arts. 797 e 798 do CPC). [...] 4. A possibilidade de o juiz poder determinar, de ofício, medidas que assegurem o resultado prático da tutela, dentre elas a fixação de astreintes (art. 84, §4º, do CDC), não se confunde com a concessão da própria tutela, que depende de pedido da parte, como qualquer outra tutela, de acordo com o princípio da demanda, previsto nos art. 2º e 128 e 262 do CPC. (....) (STJ - REsp: 1178500 SP 2010/0021330-2, Relatora: Ministra Nancy Andrighi, Data de Julgamento: 04/12/2012, T2 - TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe 18/12/2012) (grifo nosso)

Da decisão em apreço podemos extrair que o requerimento da parte é requisito indispensável para a concessão da tutela antecipada de ofício e para tanto, a Exma. Ministra utilizou como base o princípio da demanda previsto no art. 2º do CPC.

Na seara do Tribunal Regional Federal, são praticamente unânimes as decisões acerca da impossibilidade de concessão de tutela antecipada de ofício. A Exma. Desembargadora Federal Relatora Marga Inge Barth Tessler se filia a essa corrente274:

273 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 1.178.500. Relatora: Min. Nancy

Andrighi. Brasília, DF, 18 de dezembro de 2012. Disponível em: <https://ww2.stj.jus.br/processo/ revista eletronica/inteiroteor?num_registro=201000213302&data=18/12/2012>. Acesso em: 23 mai. 2014.

274 PORTO ALEGRE, Tribunal Regional Federal. Agravo de Instrumento nº 0018974-

87.2010.404.0000. Relatora: Marga Inge Barth Tessler. Paraná, 17 de dezembro de 2010. Disponível em: <http://jurisprudencia.trf4.jus.br/pesquisa/resultado_pesquisa.php>. Acesso em: 23 mai. 2014.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. RECEBIMENTO DE RECURSO DE APELAÇÃO APENAS NO EFEITO DEVOLUTIVO. NA PARTE DA SENTENÇA EM QUE DEFERIDA ANTECIPAÇÃO DE TUTELA. CONCESSÃO DE TUTELA ANTECIPADA DE OFÍCIO. 1. A medida antecipatória deferida na sentença desbordou daquela requerida pelos autores, pois foi deferida antecipação referente à recuperação da área em tela. Ocorre que o ordenamento pátrio não admite a concessão de tutela antecipada de ofício, exigindo sempre "requerimento da parte" (art. 273, caput), o que torna ilegítima a medida concedida. [...] .(TRF-4 - AG: PR 0018974-87.2010.404.0000, Relator: Marga Inge Barth Tessler, Data de Julgamento: 01/12/2010, QUARTA TURMA, Data de Publicação: D.E. 17/12/2010) (grifo nosso)

Na mesma linha de raciocínio275:

PREVIDENCIÁRIO. PROCESSUAL CIVIL. CONCESSÃO DE APOSENTADORIA POR IDADE RURAL. SEGURADO ESPECIAL. REQUISITOS PREENCHIDOS. ANTECIPAÇÃO DA TUTELA DE OFÍCIO. REVOGAÇÃO. TUTELA ESPECÍFICA. 1. Restando comprovado nos autos, mediante início de prova material corroborado pela prova testemunhal, o requisito idade e o exercício da atividade laborativa rural, no período de carência, é de ser concedida aposentadoria por idade rural. 2. Inexistindo requerimento da parte, não é de ser mantida a antecipação da tutela deferida, porquanto não há falar em sua concessão de ofício. 3. Determina-se o cumprimento imediato do acórdão naquilo que se refere à obrigação de implementar o benefício, por se tratar de decisão de eficácia mandamental que deverá ser efetivada mediante as atividades de cumprimento da sentença stricto sensu previstas no art. 461 do CPC, sem a necessidade de um processo executivo autônomo (sine intervallo). (TRF-4 - APELREEX: 2666 SC 2009.72.99.002666-6, Relator: João Batista Pinto Silveira, Data de Julgamento: 10/12/2009, SEXTA TURMA, Data de Publicação: D.E. 17/12/2009) (grifo nosso)

Denota-se que o posicionamento dos Exmos. Desembargadores Federais coadunam com o caput do art. 273 do CPC276, sendo assim, impossível a concessão de tutela antecipada de ofício, já que o referido artigo exige, expressamente, o requerimento da parte.

Com entendimento diverso na apelação cível nº 2004.70.00.022511-0277 a Exma. Desembargadora Federal Relatora Maria Lúcia Luz Leiria concedeu a tutela antecipada de ofício:

275 PORTO ALEGRE, Tribunal Regional Federal. Apelação nº 2666 SC 2009.72.99.002666-6. Relator:

João Batista Pinto Silveira. Paraná, 17 de dezembro de 2009. Disponível em:

<http://jurisprudencia.trf4.jus.br/pesquisa/resultado_pesquisa.php>. Acesso em: 23 mai. 2014.

276 BRASIL. Lei n° 8.952, de 13 de dezembro de 1994. Altera dispositivos do Código de Processo

Civil sobre o processo de conhecimento e o processo cautelar.

Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8952.htm#art273>. Acesso em: 22 abr. 2014.

277 PORTO ALEGRE, Tribunal Regional Federal. Apelação nº 2004.70.00.022511-0. Relatora: Maria

SFH. COBERTURA SECURITÁRIA. VENDA CASADA. OBRIGATORIEDADE DE SEGURO. DIREITO DE ESCOLHA. RECONHECIDO EM JUÍZO DE RETRATAÇÃO. [...] Aplicável de imediato o reconhecimento da abusividade da situação posta, e tendo em vista o interesse do mutuário, aliado à finalidade do SFH, de possibilitar aquisição de moradia nas melhores condições, defiro tutela antecipada de ofício afim de que traga aos autos demonstração de cobertura securitária em valor inferior, com cumprimento dos requisitos mínimos ora declarados na esteira da decisão do STJ. Demonstrado o interesse, determino a substituição imediata do seguro. Reafirmo a impossibilidade de permanência do mútuo sem tal garantia. (TRF4, AC 2004.70.00.022511-0, Terceira Turma, Relatora Maria Lúcia Luz Leiria, D.E. 14/07/2010) (grifo nosso)

Posta a situação, há de se sopesar que nesse caso foi possibilitada a concessão de tutela antecipada de ofício, mas, trata-se de questão bem específica que declarou a abusividade da venda casada porquanto a cobertura securitária do financiamento SFH é de livre escolha do mutuário.

No âmbito do Tribunal de Justiça de Santa Catarina podemos depreender que há divergências sobre a possibilidade de concessão. Nos autos do processo nº 172748 SC 2009.017274-8278 de relatoria do Desembargador Luiz Cézar Medeiros denotamos a possibilidade:

PROCESSUAL CIVIL - BENEFÍCIO ACIDENTÁRIO - IMPLÇÃO - TUTELA ANTECIPADA EX OFFICIO - POSSIBILIDADE - EXGESE DOS ARTS. 273 E 461 DO CPC A determinação para a imediata implantação do benefício acidentário concedido, dada a sua natureza alimentar e a presunção de hipossuficiência do segurado, é medida que se ajusta aos princípios da efetividade e celeridade do processo e incumbe ao juiz, na condição de autoridade com a maior carga de responsabilidade para que esse desiderato de índole constitucional se concretize, adotar as providências necessárias. Nos termos do art. 262 do Código de Processo Civil, o processo começa com a iniciativa da parte - princípio da demanda ou da ação - e se desenvolve por impulso oficial. Não é desarrazoada a afirmação de que as medidas tendentes a garantir a efetividade e a finalidade útil do processo, incluída nesse binômio a eficácia da prestação jurisdicional, são inerentes ao seu regular desenvolvimento e, portanto, passiveis de serem adotadas pelo juiz independentemente de requerimento da parte interessada. [...] (TJ-SC 172748 SC 2009.017274-8, Relator: Luiz Cézar Medeiros, Data de Julgamento: 21/07/2009, Terceira Câmara de Direito Público) (grifo nosso)

<http://www2.trf4.gov.br/trf4/processos/visualizar_documento_gedpro.php?local=trf4&documento=348

8967&hash=09793bb7f5112e4fc11c8aaf2dc78f27>. Acesso em: 23 mai. 2014.

278 SANTA CATARINA. Tribunal de Justiça. Apelação cível nº 172748 SC 2009.017274-8. Relator:

Des. Luiz Cézar Medeiros. Urussanga, 21 de julho de 2009. Disponível em: <http://tj-

sc.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/6546376/apelacao-civel-ac-172748-sc-2009017274-8>. Acesso em: 23 mai. 2014.

Desse modo, no caso em tela, entendeu-se que apesar dos princípios processuais, independe do requerimento da parte, as medidas que visam garantir a efetividade e a finalidade útil do processo, verificando-se assim, uma visão constitucional do processo.

O mesmo entendimento se verifica no acórdão nº 20130072458 SC 2013.007245-8279 de relatoria do Desembargador João Henrique Blasi, conforme se depreende do seguinte excerto:

APELAÇÃO E REEXAME NECESSÁRIO. AÇÃO ACIDENTÁRIA. SENTENÇA DEFERITÓRIA DE ANTECIPAÇÃO DE TUTELA EX OFFICIO. VERBA AXIALMENTE ALIMENTAR. POSSIBILIDADE. [...] admitida, ainda, a antecipação de tutela, haja vista o caráter alimentar da verba em tela, circunstância determinativa do recebimento do apelo apenas no efeito devolutivo II. Inúmeros precedentes assentados por esta Câmara já pacificaram o entendimento de que nada obsta a que perícias, como a realizada nestes autos, sejam atribuídas a fisioterapeuta e não a médico, circunstância que não traz consigo nulidade alguma, até porque se trata de profissional de nível universitário e de confiança do juízo, que, além disso, no caso concreto, apresentou laudo minudente e cabal quanto à situação física do obreiro-autor. III. "[...] A remuneração eventualmente percebida no período em que é devido benefício por incapacidade não implica abatimento do valor do benefício nem postergaçã [...] (TJ-SC - AC: 20130072458 SC 2013.007245-8 (Acórdão), Relator: João Henrique Blasi, Data de Julgamento: 15/07/2013, Segunda Câmara de Direito Público Julgado) (grifo nosso)

No caso sub examine, concedeu-se de ofício a tutela porquanto se considerou o caráter alimentar da verba requerida. Ainda nesse mesmo sentido, o acórdão nº 586896 SC 2008.058689-6280 de relatoria do Exmo. Desembargador Jânio Machado:

APELAÇÃO CÍVEL E REEXAME NECESSÁRIO. PREVIDENCIÁRIO. ACIDENTE DO TRABALHO. AUXÍLIO-ACIDENTE. ART. 86 DA LEI N. 8.213, DE 24.7.1991, COM A REDAÇÃO CONFERIDA PELA LEI N. 9.528, DE 10.12.1997. ARTROSE E HÉRNIA DISCAL NA COLUNA LOMBAR. PERÍCIA MÉDICA JUDICIAL CONCLUSIVA EM RELAÇÃO À EXISTÊNCIA DE LESÃO CONSOLIDADA E QUE ACARRETA A REDUÇÃO DA CAPACIDADE LABORATIVA DO OBREIRO. BENEFÍCIO DEVIDO A PARTIR DA DATA DA CITAÇÃO, VIGORANDO ATÉ A VÉSPERA DO INÍCIO DE QUALQUER APOSENTADORIA OU ATÉ A DATA DO ÓBITO DO SEGURADO. IMPOSSIBILIDADE DO REEXAME DA MATÉRIA EM

279 SANTA CATARINA. Tribunal de Justiça. Apelação cível nº 20130072458 SC 2013.007245-8.

Relator: Des. João Henrique Blasi. Chapecó, 15 de julho de 2013. Disponível em: <http://tj- sc.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/23862230/apelacao-civel-ac-20130072458-sc-2013007245-8- acordao-tjsc>. Acesso em: 23 mai. 2014.

280 SANTA CATARINA. Tribunal de Justiça. Apelação cível nº 586896 SC 2008.058689-6. Relator:

Des. Jânio Machado. Urussanga, 28 de setembro de 2009. Disponível em: < http://tj-

sc.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/14435404/apelacao-civel-ac-586896-sc-2008058689-6>. Acesso em: 23 mai. 2014.

PREJUÍZO DA FAZENDA PÚBLICA. SÚMULA N. 45 DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. CONCESSÃO DA TUTELA ANTECIPADA DE OFÍCIO. POSSIBILIDADE. CARÁTER ALIMENTAR DO BENEFÍCIO. [...] 3. É possível a concessão da tutela antecipada contra a autarquia previdenciária, ainda que de ofício, se preenchidos os seus pressupostos e em virtude do caráter alimentar do benefício. [...] (TJ- SC - AC: 586896 SC 2008.058689-6, Relator: Jânio Machado, Data de Julgamento: 28/09/2009, Quarta Câmara de Direito Público, Data de Publicação: Apelação cível n. , de Urussanga) (grifo nosso)

Destarte, constatamos que da mesma forma que o acórdão anteriormente citado, considerou-se o caráter alimentar do benefício, aduzindo que não há óbice para o deferimento de ofício caso estejam preenchidos os pressupostos autorizadores da tutela antecipada elencados no rol do art. 273 do CPC281.

Todavia, no agravo de instrumento nº 20110565304 SC 2011.056530-4282 de relatoria de José Volpato de Souza, adotou-se posicionamento distinto:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. DECISÃO INTERLOCUTÓRIA QUE CONCEDEU A TUTELA ANTECIPADA DE OFÍCIO. IMPOSSIBILIDADE. EXEGESE DO ART. 273, DO CPC. NECESSIDADE DE REQUERIMENTO EXPRESSO DA PARTE INTERESSADA. PROVOCAÇÃO DO JUÍZO. PRINCÍPIOS DA INICIATIVA DA PARTE E DA ADSTRIÇÃO DO JUIZ AO PEDIDO FORMULADO. ART. 2º E 128, DO CPC. HONORÁRIOS PERICIAIS. NECESSIDADE DE ADEQUAÇÃO. MINORAÇÃO. RESOLUÇÃO 558/2007 DO CONSELHO DA JUSTIÇA FEDERAL. AGRAVO CONHECIDO E PROVIDO. (TJ-SC - AG: 20110565304 SC 2011.056530-4 (Acórdão), Relator: José Volpato de Souza, Data de Julgamento: 12/09/2012, Quarta Câmara de Direito Público Julgado) (grifo nosso)

Assim, do agravo de instrumento supramencionado, denota-se que o requerimento da parte é imprescindível para a concessão da tutela de ofício, considerando o art. 273 do CPC283, bem como os princípios da iniciativa da parte e da adstrição do juiz ao pedido formulado.

281 BRASIL. Lei n° 8.952, de 13 de dezembro de 1994. Altera dispositivos do Código de Processo

Civil sobre o processo de conhecimento e o processo cautelar.

Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8952.htm#art273>. Acesso em: 22 abr. 2014.

282 SANTA CATARINA. Tribunal de Justiça. Agravo de Instrumento nº 20110565304 SC

2011.056530-4. Relator: Des. José Volpato de Souza. Chapecó, 12 de setembro de 2012. Disponível em: <http://tj-sc.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/23816339/agravo-de-instrumento-ag-20110565304-sc- 2011056530-4-acordao-tjsc>. Acesso em: 23 mai. 2014.

283 BRASIL. Lei n° 8.952, de 13 de dezembro de 1994. Altera dispositivos do Código de Processo

Civil sobre o processo de conhecimento e o processo cautelar.

Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8952.htm#art273>. Acesso em: 22 abr. 2014.

Da mesma forma foi a apreciação do acórdão nº 759080 SC 2008.075908-0284 de relatoria do Exmo. Desembargador Newton Trisotto:

PREVIDENCIÁRIO - ANTECIPAÇÃO DA TUTELA DE OFÍCIO - IMPOSSIBILIDADE - AUSÊNCIA DE PEDIDO - DECISÃO ULTRA PETITA - ADEQUAÇÃO - ACIDENTE DO TRABALHO - AUXÍLIO-ACIDENTE DEVIDO - CRITÉRIO PARA CÁLCULO DAS PRESTAÇÕES VENCIDAS - HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS 1. "Não é nula sentença ultra petita; deverá apenas ser adequada ao pedido formulado"(AC nº , Des. Newton Trisotto). 2."A antecipação da tutela 'está sujeita ao princípio dispositivo, não podendo ser concedida de ofício pelo juiz' (Teori Albino Zavascki)" (AI nº , Des. Newton Trisotto). [...] (Lei nº 8.213/1991, art. 86). (TJ-SC - AC: 759080 SC 2008.075908-0, Relator: Newton Trisotto, Data de Julgamento: 23/06/2009, Primeira Câmara de Direito Público, Data de Publicação: Apelação Cível n. , de Ipumirim) (grifo nosso)

Imperioso destacar que o acórdão em análise versa sobre benefício previdenciário e, mesmo assim, não foi concedida a tutela antecipada de ofício. Apreciou-se para denegar tal concessão, a vinculação ao princípio do dispositivo, visto que não há como conceder algo que não foi requerido.

A título de complementar o entendimento de não conceder a tutela antecipada de ofício ainda que a matéria seja de cunho previdenciário, cabe citar o entendimento do Desembargador Jorge Luis Costa Beber extraído do inteiro teor do referido acórdão:

Ainda que se trate de ação envolvendo verbas decorrentes de benefício previdenciário, nas quais se presume a urgência e a necessidade, penso que não se pode abrir exceção que a lei não prevê, concedendo algo que não foi objeto de pedido. Do contrário, em todas as ações envolvendo verba alimentar, naquelas em que participem pessoas humildes, desamparadas, ou ainda nas ações de competência do Juizado Especial, onde a parte pode demandar desacompanhada de advogado, seria possível a concessão de tutelas de urgência não propugnadas pela parte interessada. Não há como refutar a isonomia, ainda que na extremidade passiva da ação sob exame resida uma autarquia e a matéria envolva direito público.

Apreende-se assim que o Desembargador Jorge Luis Costa Beber entende que o pedido da parte deve ser requisito para a concessão, independente se a causa envolva questão de verbas alimentícias decorrentes de benefício previdenciário. Isso porque, senão, estar-se-ia abrindo precedente para que todas as ações envolvendo tais verbas fossem concedidas sem o requerimento das partes.

284 SANTA CATARINA. Tribunal de Justiça. Apelação cível nº 759080 SC 2008.075908-0. Relator:

Des. Newton Trisotto. Ipumirim, 23 de junho de 2009. Disponível em: <http://tj-

sc.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/6541051/apelacao-civel-ac-759080-sc-2008075908-0>. Acesso em: 23 mai. 2014.

Diante de tudo que foi exposto na análise jurisprudencial podemos denotar que no âmbito do Superior Tribunal de Justiça é pacífico a impossibilidade de concessão de tutela antecipada de ofício. No Tribunal Regional Federal da 4ª Região predomina também o entendimento pela impossibilidade, havendo singelas decisões em sentido contrário. Nas decisões do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, por sua vez, a corrente minoritária ganha mais força que no Tribunal anteriormente citado, no entanto, o posicionamento predominante é o da impossibilidade de concessão de tutela antecipada de ofício, porquanto, considera- se os princípios processuais como o da demanda, do dispositivo e o da adstrição do juiz ao pedido, bem como, a interpretação literal do art. 273 do CPC.

5 CONCLUSÃO

Na órbita do processo civil como meio de acesso à justiça, o instituto da tutela antecipada vem se mostrando imprescindível para efetividade da prestação jurisdicional.

Partindo desse pressuposto, o presente trabalho teve como objetivo geral a análise da possibilidade de concessão de tutela antecipada de ofício no âmbito do procedimento comum ordinário com base no art. 273 do CPC, sendo essa, a problemática do referido trabalho.

Por conseguinte, como objetivos específicos, realizou-se uma análise do processo civil como meio de acesso à justiça, examinou-se os requisitos da tutela antecipada, avaliou-se as correntes doutrinárias acerca da celeuma, bem como, verificou-se o posicionamento dos tribunais.

Nessa senda, já que o dispositivo legal em comento, possui a expressão que o juiz poderá, “a requerimento da parte”, antecipar os efeitos da tutela, pode-se depreender que tal requerimento é requisito indispensável para a concessão da antecipação, e assim, impossível sua concessão de ofício.

Todavia, quando da análise do caso concreto, o magistrado pode se deparar com a ausência de um pedido expresso realizado pela parte, mas, com os requisitos autorizadores da tutela antecipada. Assim, diante da situação delineada, verificou-se que tanto as correntes doutrinárias como o posicionamento dos tribunais divergem a respeito de tal questão.

Os que condicionam a concessão ao requerimento da parte, tem como base os princípios do dispositivo, da demanda, da imparciabilidade do magistrado, além de que tratam acerca da questão da responsabilidade civil decorrente dos danos causados.

Para os doutrinadores que entendem que o requerimento da parte não é requisito para a sua concessão de ofício, tem como fundamento, o caráter instrumental do processo como meio de efetivação de direitos (art. 5º, inciso XXXV da CRFB), a precariedade da advocacia pública, a natureza alimentar da postulação, a necessidade de ir contra o manifesto propósito protelatório do réu e o abuso praticado pelas partes, outrossim, há entendimentos no sentido do poder geral de cautela previsto no art. 798 do CPC, ser aplicável não somente as cautelares, mas também, as tutelas antecipadas.

Vislumbrou-se então, que se trata de um tema polêmico e que não há um consenso doutrinário, visto que ambas as correntes possuem justificativas específicas traçando posicionamentos que se embasam nos princípios constitucionais e os elencados no CPC.

Da análise jurisprudencial, concluiu-se que não há controvérsias no âmbito do Superior Tribunal de Justiça, haja vista que resta manifesta a impossibilidade de concessão de tutela antecipada de ofício.

No Tribunal Regional Federal da 4ª Região, por sua vez, predomina também o entendimento pela impossibilidade, havendo singelas e específicas decisões em sentido contrário.

E das decisões do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, no entanto, observa-se que a corrente minoritária ganha mais força que no TRF da 4ª Região, principalmente, considerando-se o caráter alimentar das verbas requeridas, todavia, o posicionamento preponderante é o da impossibilidade de concessão de tutela antecipada de ofício, porquanto, considera-se os princípios processuais como o da demanda, do dispositivo e o da adstrição do juiz ao pedido, bem como, a interpretação literal do art. 273 do CPC.

Destarte, denota-se que os objetivos foram alcançados, visto que as análises propostas, tanto as doutrinárias como jurisprudenciais, foram profundamente realizadas.

Ressalta-se ainda que não se teve o intento de esgotar o assunto, em face de sua polêmica entre a interpretação gramatical do art. 273 do CPC, levando em consideração a questão da responsabilidade pelos danos causados e a efetividade do processo.

Imperioso destacar, por fim, a importância da tutela antecipada como meio de se concretizar antecipadamente as pretensões, mesmo sob o obstáculo da morosidade do judiciário, revelando-se um instrumento de imprescindível para a concretização da justiça e ao estado democrático de direito.

REFERÊNCIAS

ABRÃO, Carlos Henrique. Código de processo civil interpretado. Florianópolis: Conceito editorial, 2010.

ALVIM, Arruda. Manual de direito processual civil. 15. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012.

ALBUQUERQUE, Luciano Campos de. A possibilidade da concessão de tutela

antecipada sem requerimento expresso da parte: julgados do tribunal de alçada

do Paraná. Curitiba: Juruá, 2010.

ANDRADE, Andréa Cristina Borba da Silveira Valença de. LIMA, Rebeca de Araújo Barros. NETO, Arnaldo Fonseca de Albuquerque Maranhão. O instituto da tutela antecipada: possibilidade de aplicação ex officio. Ciências Humanas e Sociais

Facipe, Recife, v.1, n.2, p. 95-104, nov. 2013. Disponível em: