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Prova inequívoca e verossimilhança das alegações

3.3 PRESSUPOSTOS DA TUTELA ANTECIPADA

3.3.1 Pressupostos gerais

3.3.1.2 Prova inequívoca e verossimilhança das alegações

Por se tratar de medida satisfativa tomada antes de completar o debate e a instrução da causa a lei condiciona certas precauções de ordem probatória. A lei exige que a antecipação de tutela esteja sempre fundada em prova inequívoca. Ou seja, a antecipação não pode ser realizada à base de simples alegações ou suspeitas. Haverá de se apoiar em prova preexistente, que, no entanto, não precisa ser necessariamente documental. Terá, todavia, que ser clara, evidente, portadora de grau de convencimento tal que a seu respeito não se possa levantar dúvida razoável164.

Arruda Alvim, entende que a expressão prova inequívoca, significa, apenas que o juiz, para conceder a tutela, deverá estar firmemente convencido da

160 DINAMARCO, Cândido Rangel. Nova era do processo civil. 4. ed. São Paulo: Malheiros, 2013.

p. 76.

161 MOUZALAS, Rinaldo. Processo civil: volume único. 6. ed. Salvador: Juspodivm, 2013. p. 368. 162 MARINONI, Luiz Guilherme. Antecipação de tutela. 10. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,

2008. p. 202.

163 BUENO, Cassio Scarpinella. Curso sistematizado de direito processual civil: tutela antecipada,

tutela cautelar, procedimentos cautelares específicos. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 48.

164 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil: processo de execução e

cumprimento de sentença, processo cautelar e tutela de urgência. 47. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2012. p. 687.

verossimilhança da situação jurídica apresentada pelo autor, e, bem assim, convencido da juridicidade da solução pleiteada165.

Em consonância com tal entendimento, expõe Cássio Scarpinella Bueno166:

O melhor entendimento para a expressão prova inequívoca é o de tratar-se de prova robusta, contundente, que dê, por si só, a maior margem de segurança possível para o magistrado sobre a existência ou inexistência de um fato e de suas consequências jurídicas. [...] o que interessa, pois, é que o adjetivo inequívoca traga à prova produzida, qualquer que ela seja, e por si só, segurança suficiente para o magistrado decidir sobre os fatos e as consequências jurídicas que lhe são apresentados.

Na mesma linha de raciocínio, instrui Cândido Rangel Dinamarco167, porquanto entende que prova inequívoca como prova convergente ao reconhecimento dos fatos pertinentes, ainda que superficial e não dotada de muita segurança, desde que não abalada seriamente por outros elementos probatórios em sentido oposto.

Em vista disso, a prova inequívoca não é aquela que conduza a uma verdade plena, absoluta, real, tampouco a que conduz à melhor verdade possível – a mais próxima da realidade, o que só é viável após uma cognição exauriente. Trata- se de prova robusta, consistente, que conduza o magistrado a um juízo de probabilidade, o que é perfeitamente viável no contexto da cognição sumária168.

Luiz Guilherme Marinoni169 aborda a dificuldade que assola os estudiosos no que tange a compreender como uma prova inequívoca pode gerar somente a verossimilhança. Assim, aduz que para depreender tal diferença, é imprescindível esclarecer a distinção entre prova e conhecimento:

A prova existe para convencer o juiz, de modo que chega a ser absurdo identificar prova com convencimento, como se pudesse existir prova de verossimilhança ou prova de verdade. A intenção da parte, ao produzira prova, é sempre a de convencer o juiz.

165 ALVIM, Arruda. Manual de direito processual civil. 15. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,

2012. p. 878.

166 BUENO, Cassio Scarpinella. Curso sistematizado de direito processual civil: tutela antecipada,

tutela cautelar, procedimentos cautelares específicos. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 38.

167 DINAMARCO, Cândido Rangel. Nova era do processo civil. 4. ed. São Paulo: Malheiros, 2013.

p. 74.

168 DIDIER JR, Fredie. Curso de direito processual civil: teoria geral do processo e processo de

conhecimento.11. ed. Salvador: Juspodivm, 2009, p. 624.

169 MARINONI, Luiz Guilherme. Antecipação de tutela. 10. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,

Tratando da mesma complexibilidade, atenta Teori Albino Zavascki170: Dir-se-á que é um paradoxo a exigência de fato certo e juízo de verossimilhança do direito: se o fato é certo, o direito existe ou não existe, cabendo ao juiz desde logo declará-lo. Na verdade, todavia, a referência a prova inequívoca deve ser interpretada no contexto do relativismo próprio do sistema de provas. Assim, o que a lei exige não é, certamente, prova da verdade absoluta, mas uma robusta, que, embora no âmbito da cognição sumária, aproxime, em segura medida, o juízo de probabilidade do juízo de verdade.

Quanto à verossimilhança das alegações, refere-se ao juízo de convencimento a ser feito em torno de todo o quadro fático invocado pela parte que pretende a antecipação da tutela, não apenas quanto à existência de seu direito subjetivo material, mas também e, principalmente, no relativo ao perigo de dano e sua irreparabilidade, bem como ao abuso dos atos de defesa e de procrastinação praticados pelo réu171.

Ao analisar tal pressuposto, Cássio Scarpinella Bueno, concatena a verossimilhança da alegação e a prova inequívoca, afirmando que é a prova inequívoca que conduz o magistrado a um estado de verossimilhança da alegação. E por conseguinte, alerta é salutar compreender, interpretar e aplicar as duas expressões em concomitância172.

O requisito geral para a concessão da medida satisfativa de urgência é a existência de prova inequívoca capaz de convencer o juiz de que a pretensão da parte é verossimilhante. Em vista disso, sua projeção no mundo jurídico deve ter não só a aparência da verdade, mas constância semelhante, do contrário, estar-se-ia em desacordo com o princípio informativo lógico do direito processual173.

A luz desse raciocínio instrui Teori Albino Zavascki174 que são pressupostos indispensáveis a qualquer das espécies de antecipação da tutela que haja a prova inequívoca e a verossimilhança das alegações. E assevera que o fumus boni iuris deverá estar, portanto, especialmente qualificado, visto que há a exigência que os fatos, examinados com base na prova já carreada, possam ser tidos como fatos certos.

170 ZAVASCKI. Teori Albino. Antecipação da tutela. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 80. 171 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil: processo de execução e

cumprimento de sentença, processo cautelar e tutela de urgência. 47. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2012. p. 688.

172 BUENO, Cassio Scarpinella. Curso sistematizado de direito processual civil: tutela antecipada,

tutela cautelar, procedimentos cautelares específicos. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 39.

173 MOUZALAS, Rinaldo. Processo civil: volume único. 6. ed. Salvador: Juspodivm, 2013. p. 366. 174 ZAVASCKI. Teori Albino. Antecipação da tutela. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 79.

Luiz Rodrigues Wambier175 esclarece que o convencimento de verossimilhança é correlato ao de cognição sumária ou superficial. Nessas hipóteses, o juiz tem uma razoável impressão de que o autor tem razão, mas não certeza absoluta, como ocorre na cognição exauriente. Trata-se então, da tradicional noção de fumus boni iuris.

A respeito do tema, diante do brilhantismo que lhe é peculiar, expõe Luiz Guilherme Marinoni176, que com base no art. 273 do CPC, o juiz está autorizado a decidir com base na convicção de verossimilhança e:

Decidir com base na verossimilhança preponderante, quando da tutela antecipatória, significa sacrificar o improvável em benefício do provável. E nem poderia ser diferente, mesmo que não houvesse tal expressa autorização, pois não há racionalidade em negar tutela a um direito que corre o risco de ser lesado sob o argumento que não há convicção de verdade.

No mesmo sentido, aduz Humberto Theodoro Júnior177:

Exige-se, em outros termos, que os fundamentos da pretensão à tutela antecipada sejam relevantes e apoiados em prova idônea. Realmente, o perigo de dano e a temeridade da defesa não podem ser objetos de juízos de convencimento absoluto. Apenas por probabilidade, são apreciáveis fatos dessa espécie. Mas a lei não se contenta com a simples probabilidade, já que, na situação do art. 273 do CPC, reclama verossimilhança a seu respeito, a qual somente se configurará quando a prova apontar para a probabilidade muito grande de que sejam verdadeiras as alegações do litigante.

Sendo assim, o juízo de verossimilhança é aquele que permite chegar a uma verdade provável sobre os fatos, a um elevado grau de probabilidade da versão apresentada pelo autor. Logo é imprescindível acrescentar que a verossimilhança não se refere somente a matéria de fato, como também a plausibilidade da subsunção dos fatos à norma invocada, conduzindo aos efeitos pretendidos. Isso posto, o magistrado deverá avaliar a probabilidade de ter acontecido o que foi narrado e quais as chances de êxito do demandante178.

175 WAMBIER, Luiz Rodrigues. Curso avançado de processo civil. 12. ed. São Paulo: Revista dos

Tribunais, 2011. p. 399.

176 MARINONI, Luiz Guilherme. Antecipação de tutela. 10. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,

2008. p. 172.

177 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil: processo de execução e

cumprimento de sentença, processo cautelar e tutela de urgência. 47. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2012. p. 688.

178 DIDIER JR, Fredie. Curso de direito processual civil: teoria geral do processo e processo de