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O instituto da tutela antecipada generalizou-se no Código de Processo Civil em 1994 com a edição da Lei nº 8.952, previsto no art. 27389. Entretanto, antes da referida Lei, o Código de Processo Civil já previa hipóteses que autorizavam a antecipação dos efeitos da tutela para os procedimentos especiais. Ou seja, as medidas antecipatórias, até então previstas apenas em determinados procedimentos especiais, passaram a constituir providência alcançável, em qualquer processo90.

Rinaldo Mouzalas91 sustenta que:

A tutela antecipada é fenômeno constitucional de efetividade da prestação da tutela jurisdicional. Sua previsão, constante do art. 273 do Código de Processo Civil, presta sua homenagem ao princípio inserto na Constituição Federal da inafastabilidade do Poder Judiciário, cuja atividade em prestar sua tutela deve ser célere, efetiva e eficaz.

Diante da morosidade que decorre da estrutura do processo, o instituto da tutela antecipada, tornou-se imprescindível para uma prestação jurisdicional efetiva ao jurisdicionado.

Etimologicamente, o termo tutela advêm do latim “tueri”, de proteção, amparo, defesa. Antecipação, por sua vez, significa ato realizado antes do tempo

89 BRASIL. Lei n° 8.952, de 13 de dezembro de 1994. Altera dispositivos do Código de Processo

Civil sobre o processo de conhecimento e o processo cautelar.

Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8952.htm#art273>. Acesso em: 22 abr. 2014.

90 ZAVASCKI. Teori Albino. Antecipação da tutela. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 73. 91 MOUZALAS, Rinaldo. Processo civil: volume único. 6. ed. Salvador: Juspodivm, 2013. p. 365.

determinado92. Assim, dá se o nome de tutela antecipada ao adiantamento dos efeitos da decisão a ser proferida em processo de conhecimento, com a finalidade de evitar dano ao direito subjetivo da parte, podendo ser requerida e concedida em qualquer fase do processo93.

Nesse sentido, afirma Humberto Theodoro Júnior94:

Com a Lei nº 8.952 de 13.12.1994, que alterou a redação do art. 273 do CPC, foi introduzida a antecipação de tutela em caráter genérico, ou seja, para aplicação, em tese, a qualquer procedimento de cognição, sob a forma de liminar deferível sem necessidade de observância do rito das medidas cautelares. Não apenas as liminares, porém, se prestam para a medida satisfativa urgente, pois na atual sistemática do art. 273 do CPC, em qualquer fase do processo é cabível a providência provisória de urgência.

Por conseguinte, nota-se que a partir da inserção do art. 273 ao Código de Processo Civil, propiciou-se a oportunidade de concessão de tutela antecipada em qualquer fase do processo. No entanto, antes da referida inserção, a tutela antecipada só era prevista, excepcionalmente, para a satisfação imediata de alguns direitos, tutelados por procedimentos especiais - como nas ações possessórias, mandado de segurança, ação de alimentos. Mas para a generalidade dos direitos, tutelados pelos ritos comuns, não havia previsão de uma tutela provisória satisfativa95.

Isto é, a necessidade de tal instituto, evidenciou-se mediante o uso distorcido da técnica cautelar para a obtenção da tutela que, em princípio, apenas poderia ser concedida ao final do processo de conhecimento96.

Tese semelhante, possui Vicente Greco Filho97, aduzindo que a medida, substituiu o uso indiscriminado da cautelar, não sendo outra coisa senão o que antes se dizia ser uma cautelar antecipativa ou execução antecipada.

Em relação ao assunto, bem esclarece Teori Albino Zavascki98:

92 GUIMARÃES, Deocleciano Torrieri. Dicionário compacto jurídico. 14. ed. São Paulo: Rideel,

2010. p. 240.

93 DONIZETTI, Elpídio. Curso didático de direito processual civil. 17. ed. São Paulo: Atlas, 2013.

p. 405.

94 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil: teoria geral do direito

processual civil e processo de conhecimento. 52. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2011. p. 377.

95 DIDIER JR, Fredie. Curso de direito processual civil: direito probatório, decisão judicial,

cumprimento e liquidação da sentença e coisa julgada. 4. ed. Salvador: Juspodivm, 2009, p. 604.

96 MARINONI, Luiz Guilherme. Processo cautelar. 4. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012. p.

61.

97 GRECO FILHO, Vicente. Direito processual civil brasileiro. 20. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p.

78.

Em relação ao processo de conhecimento o que se operou foi uma notável valorização do princípio da efetividade da função jurisdicional, ao atribuir-se ao juiz o poder de, já no curso desse processo, deferir medidas típicas de execução, a serem cumpridas inclusive mediante mandados, independentemente da propositura de nova ação, rompendo, com isso, a clássica segmentação das atividades cognitiva e executória.

Denota-se então, que na tutela antecipada há uma luta contra o tempo, visando minimizar (e até mesmo neutralizar) as consequências que a demora na outorga da prestação jurisdicional definitiva pode acarretar ao bem litigioso. Para tanto, o legislador muniu o juiz do poder de precipitar, antecipar a ocorrência de certos efeitos externos ao processo, ou seja, propiciar a imediata satisfação do bem tutelado99.

Nesse diapasão, afirma Carlos Eduardo Ferraz de Mattos Barroso100: A preocupação com a celeridade do processo tem sido uma constante desde os mais remotos tempos. Não raramente a demora no curso do procedimento destinado à satisfação do direito violado acaba gerando maiores injustiças do que a cometida por aquele que resiste injustificadamente à pretensão. A nova redação do art. 273 do Código de Processo Civil introduziu em nosso sistema processual a antecipação de tutela, visando conceder aos sujeitos do processo meio capaz de afastar os danos materiais decorrentes da sua demora.

Assim sendo, a realidade sobre qual o dispositivo da tutela antecipada opera é o tempo como fator de corrosão de direitos, à qual se associa o empenho em oferecer meios de combate à força corrosiva do tempo-inimigo101. Logo, representa uma nova concepção de processo civil, uma alteração nos seus rumos ideológicos, marcada pelo acentuado privilégio do princípio da efetividade da função jurisdicional, permeando todo o sistema102.

Em vista disso, infere-se que a tutela antecipatória constitui instrumento da mais alta importância para a efetividade do processo, porquanto abre a oportunidade para a realização urgente dos direitos103.

99 FUX, Luiz. Nery JR, Nelson. Wambier, Teresa Arruda Alvim. Processo e constituição: estudos em

homenagem ao professor José Carlos Barbosa Moreira. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006. p. 160.

100 BARROSO, Carlos Eduardo Ferraz de Mattos. Teoria geral do processo e processo de conhecimento. 10. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 130.

101 DINAMARCO, Cândido Rangel. Nova era do processo civil. 4. ed. São Paulo: Malheiros, 2013.

p. 65.

102 ZAVASCKI. Teori Albino. Antecipação da tutela. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p.75. 103 ABRÃO, Carlos Henrique. Código de processo civil interpretado. Florianópolis: Conceito

Conceituando tal instituto, Fredie Didier Júnior104 aduz que antecipar os efeitos da tutela significa adiantar no tempo, acelerar os efeitos de futura sentença favorável.

Cassio Scarpinella Bueno105 ensina que essa deve ser entendida como a possibilidade da precipitação da produção dos efeitos práticos da tutela jurisdicional, os quais, de outro modo, não seriam perceptíveis, isto é, não seriam sentidos no plano exterior do processo.

Tratando sobre os sujeitos que podem se beneficiar do instituto da tutela antecipada, orienta Elpídio Donizetti106:

Por parte entende-se quem deduz pretensão em juízo, ou seja, quem pleiteia o reconhecimento de algum direito material. Assim não só o autor tem legitimidade para requerer a antecipação da tutela, mas também o opoente, o denunciado, o autor da ação declaratória incidental e o réu, quando reconvém, quando, no procedimento sumário, formula pedido contraposto ou deduz pretensão nas ações dúplices.

Na mesma seara, esclarece o renomado processualista Humberto Theodoro Júnior que o que o texto do art. 273 do CPC autoriza é107:

nas hipóteses nele apontadas, a possibilidade de o juiz conceder ao autor (ou ao réu, nas ações dúplices) um provimento imediato que, provisoriamente, lhe assegure o bem jurídico a que se refere a prestação de direito material reclamada como objeto da relação jurídica envolvida no litígio.

A tutela antecipada é uma tutela provisória, obtida através de cognição sumária e que gerará ao autor consequências muito similares às que teria se viesse a obter, ao final, a procedência da demanda. Há, pois, uma satisfação antecipada ao autor, invertendo o ônus do tempo do processo que passa a ser do réu frente a quem a medida foi concedida. Trata-se, assim, de tutela temporariamente satisfativa, uma vez que se constitui em adiantamento da própria tutela ao final pretendida108.

104 DIDIER JR, Fredie. Curso de direito processual civil: teoria geral do processo e processo de

conhecimento.11. ed. Salvador: Juspodivm, 2009, p. 617.

105 BUENO, Cassio Scarpinella. Curso sistematizado de direito processual civil: tutela antecipada,

tutela cautelar, procedimentos cautelares específicos. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 35.

106 DONIZETTI, Elpídio. Curso didático de direito processual civil. 17. ed. São Paulo: Atlas, 2013.

p. 405.

107 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil: processo de execução e

cumprimento de sentença, processo cautelar e tutela de urgência. 47. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2012. p. 682.

108 DINAMARCO, Cândido Rangel. Nova era do processo civil. 4. ed. São Paulo: Malheiros, 2013.

Luiz Guilherme Marinoni, ao abordar o tema, muito bem asseverou que109: Quem desvia os olhos na moldura técnica do processo civil e passa a se preocupar com a tutela dos direitos deixa de lado a relação de satisfatividade e coisa julgada material, já que a efetividade da tutela de um direito não pressupõe a coisa julgada. Embora essa tenha grande importância, a tutela do direito se dá independentemente da coisa julgada, até porque a tutela do direito, para ser efetiva, em muitos casos tem de ser prestada em cognição sumária.

Nesse diapasão, podemos extrair que antecipar a tutela é deferir à parte autora que para tal preencha os requisitos legais (elencados no art. 273 do CPC), a fruição de direitos que somente poderiam ser fruídos depois de proferida a sentença de mérito que possa ser objeto de execução110.

Logo, a respeito do papel da tutela antecipada, Luiz Rodrigues Wambier, aponta que sua função é a de permitir que a proteção jurisdicional seja oportuna, adequada e efetiva. Visto que garantir a efetividade de suas decisões é a contrapartida que o Estado tem que dar à proibição da autotutela111. Rogério Greco Filho112, coaduna com o referido doutrinador, já que depreende que sua finalidade é dar maior efetividade à função jurisdicional. Por conseguinte, Fredie Didier Júnior nos alerta que113:

Se a tutela antecipada não tiver o condão de dar efetividade à jurisdição, e a tutela jurisdicional for útil e servível se conferida em caráter definitivo, não deve ser concedida a medida antecipatória.

A natureza jurídica da antecipação de tutela é de decisão interlocutória, passível de ser impugnada por recurso de agravo, através do qual o juiz antecipa os efeitos da tutela pleiteada, é provisória, baseada em cognição sumária, e passível de ser posteriormente confirmada ou infirmada. Não obstante a natureza jurídica

109 MARINONI, Luiz Guilherme. Processo cautelar. 4. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012. p.

64.

110 CASTAGNA, Ricardo Alessandro. Tutela de urgência: análise teórica e dogmática. São Paulo:

Revista dos Tribunais, 2008, p.73.

111 WAMBIER, Luiz Rodrigues. Curso avançado de processo civil. 12. ed. São Paulo: Revista dos

Tribunais, 2011. p. 398.

112 GRECO FILHO, Vicente. Direito processual civil brasileiro. 20. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p.

78.

113 DIDIER JR, Fredie. Curso de Direito processual civil: teoria geral do processo e processo de

mencionada, outrossim, é possível a concessão da antecipação de tutela no bojo da própria sentença114.

Dessa maneira, cabe enfatizar que consoante com que dispõe o parágrafo 4º do art. 273 do CPC115, a tutela antecipada poderá ser revogada ou modificada a qualquer tempo, em decisão fundamentada. Logo, apreende-se o traço de revogabilidade dessa.

Acerca do tema, assevera Cássio Scarpinella Bueno116:

É correto, a propósito, salientar que, à luz do §5º do art. 273, o processo, antecipada ou não a tutela, prossegue justamente para o atingimento daquela cognição; o processo desenvolve-se para o aprofundamento da cognição jurisdicional que, para fins de prestação de tutela jurisdicional efetiva, contudo não deve e não pode ficar restrita à necessidade de seu prévio exaurimento. Para o processo civil brasileiro decisões proferidas com base em cognição sumária não adquirem estabilidade e, por isso mesmo, são passíveis de modificação e revogação a qualquer tempo, como expressamente prevê, para o instituto em análise, o §4º do art. 273.

Abordando a questão da compatibilização da tutela antecipada com os direitos fundamentais, confrontando o instituto com a garantia do devido processo legal e especificamente a garantia do contraditório e da ampla defesa, assevera Humberto Theodoro Júnior117:

Acontece, todavia, que as múltiplas garantias fundamentais nem sempre são absolutas e, muito frequentemente, entram em atrito umas com as outras, reclamando do aplicador um trabalho de harmonização ou compatibilização, para definir na área aparente do conflito, qual o princípio deve prevalecer. No caso da tutela antecipada, estão em jogo dois grandes e fundamentais princípios, ou seja, o da efetividade da tutela jurisdicional e o da segurança jurídica.

114 WAMBIER, Luiz Rodrigues. Curso avançado de processo civil. 12. ed. São Paulo: Revista dos

Tribunais, 2011. p. 402.

115 BRASIL. Lei n° 8.952, de 13 de dezembro de 1994. Altera dispositivos do Código de Processo

Civil sobre o processo de conhecimento e o processo cautelar.

Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8952.htm#art273>. Acesso em: 22 abr. 2014.

116 BUENO, Cassio Scarpinella. Curso sistematizado de direito processual civil: tutela antecipada,

tutela cautelar, procedimentos cautelares específicos. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 40.

117 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil: processo de execução e

cumprimento de sentença, processo cautelar e tutela de urgência. 47. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2012. p. 683.

Sobre a extensão da medida, permite a lei a antecipação total ou parcial. Isto é, a medida antecipada pode corresponder à satisfação integral do pedido ou apenas de parte daquilo que se espera alcançar com a futura sentença de mérito118.

À vista disso, salienta-se, em síntese, que a tutela antecipada é possibilidade de o juiz antecipar, total ou parcialmente, os efeitos do pedido, a requerimento da parte, desde que, existindo prova inequívoca, se convença da verossimilhança da alegação e haja fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação, ou fique caracterizado o abuso do direito de defesa ou o manifesto propósito protelatório do réu119.