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ANÁLISE MACROSCÓPICA DA TENDINITE

No documento Biodiversidade e Biotecnologia no Brasil 2 (páginas 165-172)

EFEITOS DO ÓLEO DA GRAVIOLA (Annona muricata) EM TENDINITE INDUZIDA EM RATOS

2.8 ANÁLISE MACROSCÓPICA DA TENDINITE

A análise macroscópica da tendinite foi realizada a partir da verificação do edema, medindo o diâmetro dos tendões em seu terço médio, com paquímetro posicionado médio lateralmente do membro posterior direito, fazendo as medidas no primeiro e no último dia de acordo com os tempos experimentais estudados (7 e 14 dias) e posteriormente a análise estatística.

2.9 ANÁLISE HISTOLÓGICA E HISTOMORFOMÉTRICA

Os tendões foram seccionados longitudinalmente, desidratados em soluções crescentes de álcool e diafanizados em xilol; em seguida, incluídos em parafina. Foram obtidos em micrótomo American Optical quatro cortes semisseriados com 5μm de espessura, sendo dois corados com hematoxilina-eosina (HE), e dois pelo Tricrômico de Masson (TM), o qual permitiu visualizar as fibras colágenas. O material foi examinado com um microscópio óptico Olympus 2000, equipado com câmera digital e acoplado a um microcomputador. Foi realizada uma avaliação histomorfométrica nas lâminas coradas com o tricrômico de Masson, quantificando o número de neutrófilos e fibroblastos. As imagens digitalizadas foram avaliadas com auxílio do programa de análise computacional de imagens Image-J® (Versão 1,32 para Windows) de domínio público, para contagem do número de células inflamatórias na função “cell conter”. Para tanto, foram obtidas imagens de três regiões das lesões cirúrgicas (margem direita, região central e margem esquerda) de cada animal, na objetiva de 40X, utilizando o programa LeicaQwin.

2.10 ANÁLISE ESTATÍSTICA

A análise estatística dos dados coletados foi realizada de maneira descritiva, por meio do teste ANOVA, para comparação entre grupos. O intervalo de confiança foi de 95% e o nível de significância, ou seja, a probabilidade de erros na análise p< 0,05. Os resultados foram quantificados e expressos através de gráficos feitos no software estatísticos GraphPad Prism 5.0.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados desta pesquisa mostraram que a terapia com óleo da Annona muricata apresenta efeito anti-inflamatório significativo na fase aguda do processo inflamatório, no que diz respeito à variação de neutrófilos e fibroblastos (Figuras 1 e 2), análise histológica qualitativa (Figuras 3A e 3B) e avaliação do edema (Quadro 1) tratado por um período de sete e quatorze dias.

A análise da figura 1 revela significativa variação do número de neutrófilos (p<0,001), comparando-se o grupo controle (C) com o grupo em que foi induzida a tendinite (T), tanto em sete como em quatorze dias. Essa variação, como mostrado na figura, revela que o grupo em que foi induzida a tendinite apresentou aumento significativo do número de células inflamatórias, ou seja, do processo inflamatório.

Também foi considerada estatisticamente significativa comparando-se o grupo controle (C) com o grupo tratado com o óleo (TO) após sete e quatorze dias; contudo, neste último, a variação mostrou-se mais significativa (p<0,001) do que aos sete dias. Com isso, observa-se que o grupo que foi tratado com o óleo por 14 dias apresentou maior diminuição do número de células inflamatórias.

Quanto ao número de fibroblastos (Figura 2), os resultados também foram significativos, apresentando p<0,05 comparando-se o grupo que apresentou tendinite (T) com o grupo tratado com o óleo (TO) em sete e em quatorze dias. Tal resultado significa, como mostrado na figura, que houve aumento significativo deste tipo de célula, responsável por produzir colágeno e matriz extracelular durante o processo de reparação tecidual.

Quanto à análise histológica qualitativa (Figuras 3A e 3B), houve melhora significativa no grupo tratado com o óleo (TO) aos quatorze dias de tratamento, evidenciando presença de tecido de granulação em amadurecimento e vasos neoformados, mais organizados e proliferação de fibroblastos com deposição de matriz extracelular (ME). Este resultado evidencia maior efetividade do óleo quando o tempo de tratamento é maior.

Figura 1. Gráfico comparativo da variação (∆) do número de neutrófilos após sete e

quatorze dias de tratamento.

Figura 2. Gráfico comparativo da variação (∆) do número de fibroblastos após sete e

Figura 3. A) Grupo tratado com o óleo (TO) por 7 dias; B) Grupo tratado com o óleo (TO)

por 14 dias

A terapia com o óleo Annona muricata também apresentou resultado significativo no período de sete e quatorze dias no que diz respeito ao edema. Aos 14 dias de tratamento, observou-se maior redução do diâmetro do membro direito no grupo tratado com o óleo (TO) que em 7 dias e também se comparado aos grupos T (tendinite) e C (controle).

Quadro 1. Tabela comparativa do diâmetro dos tendões (em milímetros) após sete e

quatorze dias de tratamento.

Os resultados obtidos demonstraram que a utilização do óleo da semente da Annona muricata em ratos, aplicado de forma tópica, no tratamento da tendinite por um período de sete e quatorze dias produz redução significativa do processo inflamatório.

A inflamação é uma resposta a um microrganismo invasor, substância química, reação imune ou a uma necrose; e pode ser tanto benéfica quanto maléfica para o organismo. Pode ser classificada em aguda e crônica, neste trabalho foi considerada a inflamação aguda (SERRA; CAMPOS, 2010).

Grupos Dia 1 Dia 7 Dia 14

Controle 36 36 32

Tendinite 62 58 55

A inflamação aguda é um processo natural do organismo que visa recuperá-lo por meio de mecanismos de fagocitose e mediadores químicos. Sua duração é curta e envolve a liberação de exsudato. Os cinco sinais mais comuns da inflamação são: dor, calor, rubor, edema e perda de função(BERTOLINI et al., 2012).

Muitos mediadores químicos estão envolvidos no processo inflamatório na inflamação aguda, uma das primeiras células a participar desse processo é o leucócito (mais especificamente do tipo neutrófilo) (MÜLLER, 2015). Isso justifica seu aumento significativo no grupo que foi induzida a tendinite.

Durante o período da inflamação aguda, ocorre inicialmente uma resposta vascular, com produção de vasoconstrição pela ação da noradrenalina e contração do endotélio, seguida de vasodilatação, e as células inflamatórias (leucócitos e neutrófilos) são atraídos para a área da lesão. Nesse momento, os macrófagos removem os restos celulares e componentes extracelulares alterados, e os fibroblastos iniciam a síntese de colágeno

(VIEIRA et al., 2008) evidenciando, portanto, o porquê do aumento significativo de

fibroblastos em 7 e 14 dias de tratamento.

Durante o processo inflamatório ocorre também sobrecarga na reabsorção do líquido tecidual e, com isso, formação do edema. Os capilares normais e as vênulas de menor calibre, permitem passar livremente através de suas paredes água, sais, aminoácidos, glicose e outras pequenas moléculas. Os segmentos mais próximos às arteríolas formam líquido tecidual e os que estão em continuidade com as vênulas reabsorvem; os principais fatores envolvidos na formação e reabsorção do líquido tecidual são as pressões osmótica e hidrostática (NUNES DA SILVA et al., 2010).

Na inflamação a pressão hidrostática aumenta e a osmótica tende a diminuir, devido a saída de proteínas para o espaço intersticial. Revertido ou minimizado o processo inflamatório, ocorre retorno das pressões e consequente redução do edema, como ocorreu no presente estudo tanto no grupo tratado com o óleo (TO) em 7 dias como em 14 dias.

Por fim, buscou-se na literatura artigos que demonstrassem outros efeitos encontrados pela Annona muricata e encontrou-se que os extratos de graviola (sejam da polpa, da semente ou da folha), apresentam papel importante na área medicinal sendo, então, usados como antiviral, antiparasita, adstringente, antirreumático, antileishimania (LIAW et al., 2002) e, corroborando com o evidenciado no presente estudo apresenta efeitos benéficos na redução do processo inflamatório da tendinite.

4. CONCLUSÃO

A pesquisa revelou que os animais tratados com óleo (O) por 14 dias, apresentaram maior ação anti-inflamatória, quando comparados ao grupo controle (C7 e C14) e ao grupo óleo (O7). A análise histológica e histomorfométrica demonstraram qualitativa e quantitativamente aumento no número de fibroblastos e das fibras colágenas, aos 14 dias, para o grupo óleo (O), quando relacionadas com as dos grupos controle e óleo (7 dias); além disso, houve redução significativa do edema para o grupo tratado com óleo, seja no período de sete dias, seja no período de quatorze dias, evidenciando, portanto, efetividade no tratamento da tendinite.

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