BACTÉRIAS ENTOMOPATOGÊNICAS NO CONTROLE DE LARVAS DE MOSQUITOS
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Nas duas localidades avaliadas foi coletado um total de 706 anofelinos, distribuídos em cinco espécies. Anopheles darlingi correspondeu a 96,3% da amostra, seguida por Anopheles braziliensis com 1,3% e por Anopheles albitarsis sensu lato (s.l.) com 1,0%. As maiores densidades obtidas foram de indivíduos no estágio larval (70,4%) contra 29,6% de adultos (Tabela 1).
No Caldeirão do Inferno o ILHH foi de 13,2 antes do tratamento com biolarvicida e depois do tratamento caiu para 1,3. No Sítio Domingas a variação nos dois grupos, antes e depois do tratamento, foram respectivamente, 39,9 e 0,8 (Tabela 2). A média de larvas de Anopheles sp. diferiu significativamente antes e depois do tratamento em ambas as localidades: Caldeirão do Inferno H= 3,9706 e p = 0,0463; Sítio Domingas H= 3,8571 e p= 0,0495 (Figura 4).
Os IPHHs obtidos no Caldeirão do Inferno foram 2,0 antes do tratamento e 0,9 cinco dias, 0,3 com dez dias e 0,7 com quinze dias pós-tratamento. No Sítio Domingas os índices para os mesmos grupos foram: 6,8; 2,3; 1,8 e 1,3. Não houve diferenças significativas entre os períodos de tratamentos em Caldeirão do Inferno (p= 0,1163) e no Sítio Domingas (p= 0,2317) (Figura 5).
Tabela 1. Espécies de Anopheles, por estágio de desenvolvimento, coletados em duas
localidades de Rondônia.
Espécie Caldeirão do Inferno Sítio Domingas Subtotal / Espécie
% / Espécie Larvas Adultos Larvas Adultos
Anopheles albitarsis s.l. 1 1 2 3 7 1,0 Anopheles braziliensis 1 1 3 4 9 1,3 Anopheles darlingi 128 59 354 139 680 96,3 Anopheles nuneztovari - - 1 1 2 0,3 Anopheles triannulatus - 1 2 - 3 0,4 Anopheles sp. 1 - 4 - 5 0,7 Total 131 62 366 147 706 - % por estágio 18,6 8,8 51,8 20,8 - -
Tabela 2. Densidades de larvas de Anopheles sp, desvio padrão e ILHH, antes e depois do
tratamento com Vectolex® CG, aplicado em duas localidades do Estado de Rondônia.
Localidades Antes Depois
n DP ILHH n DP ILHH
Caldeirão do Inferno 119 ±5,1 13,2 12 ±1 1,3
Sítio Domingas 359 ±15,2 39,9 7 ±0,8 0,8
Figura 4. Médias de larvas de Anopheles sp. coletadas antes e depois do tratamento com
Vectolex® CG em duas localidades do Estado de Rondônia.
Figura 5. IPHH antes e após o tratamento com Vectolex® CG em duas localidades do
Estado de Rondônia.
O controle biológico com bactérias entomopatogênicas tem se mostrado como uma importante ferramenta no manejo de vetores (LACEY, 2007; LACEY et al., 2015). As experiências práticas em campo têm permitido perceber o importante potencial que esses organismos têm desempenhado na redução das densidades de anofelinos na Amazônia (TADEI et al., 2007; TADEI et al., 2017).
Os dados obtidos neste trabalho estão de acordo com os achados de Alves et al. (2006) em Culex spp.; e com Anopheles sp. por Rodrigues et al. (2008); Rodrigues et al. (2013); Ferreira et al. (2015); Fontoura et al. (2019) que demonstraram a efetividade Ls contra larvas de mosquitos, em especial dos vetores de malária.
Os ILHHs obtidos por Rodrigues et al. (2013) em criadouros naturais foram mais elevados do que o obtido em leituras prévia nos criadouros naturais do Caldeirão do Inferno, mas foram semelhantes após a aplicação do biolarvicida. Em tanques de piscicultura Rodrigues et al. (2008) registraram ILHH prévio de 13,7, portanto, inferior aos tanques no Sítio Domingas, e redução pós-tratamento em níveis (0,6) semelhante ao alcançado nos ensaios dessa localidade. E Fontoura et al. (2019) conseguiram 100% de redução da densidade larval em tanques de piscicultura com Vectolex®CG (20kg/ha). As variações nos
índices e densidades ocorreram provavelmente pelas particularidades existentes em cada ambiente e pelo desempenho das espécies de mosquitos.
O IPHH atingido em ambas as localidades foram variáveis, tais quais os registrados por Póvoa et al. (2009) em Juruti, Pará. Embora o ILHH tenha reduzido significativamente
após as aplicações, o mesmo não aconteceu com relação ao IPHH. Este fato pode estar relacionado a outros criadouros naturais disponíveis no entorno de Caldeirão do Inferno, assim como os artificiais (outras fazendas de piscicultura) que estão localizadas próximas ao Sitio Domingas, os quais não participaram o estudo. Esses dados sinalizam a importância de expandir as ações ao máximo de criadouros possíveis para reduzir a sua produtividade, além de combinar medidas de controle e prevenção de picadas dos adultos, conforme recomenda o Manejo Integrado de Vetores (BEIER et al., 2008).
Considerando as características socioeconômicas do Estado de Rondônia baseados na agropecuária, aquicultura, geração de energia elétrica e extrativismo (mineral e vegetal), atividades as quais exercem impactos que aumentam a transmissão da malária, o uso de bactérias entomopatogênicas pode colaborar na redução da produção de vetores e, consequentemente, nos casos da doença.
4. CONCLUSÃO
O uso de biolarvicidas à base de Ls é uma alternativa viável no Manejo Integrado de Vetores de malária na Amazônia, tanto para criadouros em condições naturais (igarapés), quanto para criadouros artificiais, como os tanques de psicultura, pois reduz as densidades larvárias nesses ambientes.
5. AGRADECIMENTOS
O autor agradece às empresas Oikos Consultoria e Projetos e Jequitibá Consultoria, Projetos e Serviços pelo suporte em campo nas coletas e aplicações de produtos biológicos. Também é grato aos proprietários dos sítios, que preferiram o anonimato, e que disponibilizaram os acessos aos ambientes para a realização do estudo.
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