• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 2. Metodologia

2.5. A análise dos resultados

A análise dos dados se deu em dois momentos: o primeiro consistiu em organizar todas as informações referentes ao contexto onde a pesquisa foi realizada, estabelecer o referencial teórico que embasaria as análises, organizar as falas dos estudantes e realizar uma análise a partir dos dados empíricos; o segundo momento deu-se após organização do relatório de qualificação, quando os dados empíricos receberam um tratamento analítico a partir das sugestões dos participantes da banca e dos referencias teóricos. Com isso, procurei analisar o conteúdo das falas dos estudantes em busca de compreender uma lógica interna (MINAYO, 2010) acerca da

visão sobre conhecimento e do lugar deste no currículo de Ciências para a EJA.

O primeiro momento da análise37

37 A partir desta primeira análise elaborei dois artigos acadêmicos apresentados em simpósios e congressos Caminhos metodologias quando estudantes da EJA são participantes da pesquisa. IV Simpósio do grupo de estudos e pesquisa em educação de jovens e adultos - GEPEJA. Campinas/SP. Setembro de 2012; A investigação sobre o currículo de Ciências para a Educação de Jovens e Adultos

(EJA): Diálogo com estudantes sobre os conhecimentos científico e popular. IX Congresso Internacional

sobre Investigación en la Didáctica de las Ciencias apresentado em setembro de 2013, Girona, Espanha.

dos resultados teve início após a primeira entrevista coletiva, começando pela transcrição. As sistematizações do procedimento metodologia para a execução da primeira entrevista coletiva e dos dados resultantes, contribuíram para que iniciasse a organização das falas e também para que elaborasse os outros instrumentos de obtenção de dados.

88

Para a análise, inicialmente fiz a leitura de todas as falas e identifiquei elementos que se repetiam e que poderiam ser organizados de acordo com o que já esperava obter em função das perguntas elaboradas para a entrevista. Assim, esperava encontrar falas que buscassem distinguir o conhecimento científico do popular, por exemplo. Embora cada grupo tenha sido distinto, encontrei também convergências, pois utilizei as mesmas perguntas e os mesmos vídeos para mediar a entrevista coletiva, o que possibilitou organizar as falas da mesma maneira para analisar a entrevista com os dois grupos de estudantes.

A análise da entrevista coletiva sobre os conteúdos de Ciências trabalhados na EJA se deu de duas formas: a análise dos conteúdos de Ciências e da entrevista propriamente dita.

Realizei a leitura do formulário no qual os estudantes analisaram os conteúdos trabalhados nas aulas de Ciências e organizei as respostas de acordo com as perguntas respondidas. Uma das perguntas queria saber a nota que cada estudante daria para cada conteúdo trabalhado e para essa fiz uma média entre todos os valores dados. Às outras perguntas os estudantes deveriam responder “sim” ou “não”, e para analisar essas respostas, somei a quantidade de cada uma e calculei a porcentagem para obter um resultado possível de ser visualizado. A partir da análise deste instrumento, além da organização quantitativa, a partir da fala dos estudantes durante a entrevista, organizei duas categorias: conteúdos que devem ser ensinados da EJA e aqueles fáceis e difíceis de aprender.

A análise das entrevistas individuais, que pretendiam obter dados para aprofundar os assuntos trabalhados nas duas entrevistas coletivas, também partiu de uma organização inicial das transcrições das falas em tabelas, sendo que na primeira, organizei as respostas referentes à análise das imagens e as outras partes da entrevista foram organizadas de acordo com as perguntas formuladas aos estudantes.

A organização das falas seguiu três ordens:

1. Agrupamento em categorias a priori, aquelas que se relacionavam com a visão e o lugar. Como os procedimentos metodológicos foram elaborados tendo em vista analisar esses dois elementos, em um primeiro momento a organização seguiu a orientação dos procedimentos metodológicos;

2. Organização das falas. Para tanto, segui a orientação do conteúdo delas, as ideias que se repetiam, palavras, exemplos relatados pelos estudantes, as respostas para as perguntas que realizei durante as entrevistas, algum conceito que apareceu que não havia sido perguntado, mas que emergiu na fala, foram elementos que ajudaram para definir estas organização;

89

3. Organização de toda a análise das falas de acordo com os referenciais teóricos: Educação e EJA, Conhecimento e Conteúdos Curriculares de Ciências.

Esta análise inicial gerou o relatório de qualificação e um panorama organizado das falas dos estudantes sobre o objeto pesquisado, mas havia muitos elementos ainda a serem compreendidos e, portanto, analisados. Ao iniciar a pesquisa, parti do pressuposto de que os estudantes falariam muitas coisas que contribuiriam para pensar no currículo de Ciências para a EJA. Para compreender o que eles falavam, precisaria debruçar-me sobre conteúdos das falas que não tratavam diretamente do que havia perguntado nas entrevistas. O que parecia para mim a não compreensão pelo estudante do tema da entrevista, necessitaria de uma atenção redobrada, pois ali poderiam estar elementos que me ajudariam a compreender o fenômeno que estudava.

Assim, a priori, de acordo com a forma pela qual coletei os dados, a fala dos estudantes contribuiria diretamente para uma análise da visão sobre os conhecimentos científico e popular. E, tendo em vista compreender qual o lugar dos conhecimentos no currículo de EJA, analisei as falas sobre o processo educativo pela qual passaram, as consequências para a vida e sobre os conteúdos que foram trabalhados durante as aulas de Ciências.

Contudo, da primeira análise das falas emergiram categorias (categorias emergentes) que não foram previstas, respostas que não foram perguntadas. Questões que não pensei em fazer, até porque também estava me apropriando do campo teórico da pesquisa, a fala dos estudantes me ajudou a pensar diferente, aquilo que Paulo Freire (2013) chamou de “pensar certo”. Pensava ingenuamente sobre muito do que foi escrito e analisado nesta tese, e analisar a fala dos estudantes – principalmente as categorias emergentes –, me ajudou a compreender de forma mais aprofundada os conceitos, por exemplo, da práxis, de “saber de experiência feito”, “leitura do mundo, leitura da palavra” e de “problematização”.

Diante disso, para elaborar a tese, reorganizei as falas com suas categorias a

priori em dois capítulos, sendo que em um deles foram analisadas todas as falas que

contribuiriam para compreender a visão dos estudantes a respeito do conhecimento, sendo que a base teórica utilizou referências diversas sobre conhecimento; no capítulo seguinte, à luz dos referenciais teóricos, principalmente, sobre currículo, educação e conteúdos de Ciências, busquei analisar as falas que ajudam a compreender o lugar dos conhecimentos no currículo de Ciências para a EJA. A partir desta nova organização, que neste momento necessitou de um aprofundamento da análise dos

90

dados a partir dos referenciais teóricos, foi possível identificar que a pesquisa partiu de

categorias a priori (a visão e o lugar), destas emergiram outras (categorias

emergentes), cuja análise foi possível a partir do surgimento de uma segunda ordem de categorias emergentes. Assim, por exemplo, para compreender a visão dos estudantes sobre conhecimento, foi necessário analisar as falas a partir de três Categorias Emergentes: a relação teoria e prática, a ciência e o conhecimento popular, sendo que para compreender cada uma destas categorias, outras emergiram (categorias emergentes de segunda ordem). A Figura 1 representa graficamente a organização realizada na análise dos dados da pesquisa.

Quadro 9. Representação gráfica da organização das categorias de análise das falas dos estudantes.

Por fim, é necessário esclarecer que em cada capítulo analisei trechos das entrevistas, que ora são falas isoladas, ora são destaques de um diálogo. Ao transcrever as falas procurei respeitar a sintaxe e usar a ortografia oficial, pois o que estava em análise não era a forma de expressão e sim o conteúdo das falas. A identificação de cada estudante foi feita colocando-se o nome fictício ao final do excerto quando se tratava de uma fala isolada; na frente da transcrição da fala quando se tratava de um diálogo e quando foi relevante deixar no texto a minha participação nesta situação para compreender o contexto da análise, coloquei na frente de minha fala o meu nome “Graziela”. Utilizei o sinal “jogo da velha” (#) para separar diálogos de trechos das falas isolados quando incluí na mesma categoria esses dois tipos de excerto.

92