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CAPÍTULO 2. Metodologia

2.2. Entrevista coletiva sobre a visão dos estudantes a respeito dos conhecimentos

O primeiro passo da organização da obtenção de dados foi elaborar questões orientadoras da entrevista com os estudantes sobre conhecimento científico e o conhecimento popular, que foram as seguintes (QUADRO 1):

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Quadro 1. Questões orientadora da entrevista coletiva sobre conhecimento Qual o valor do conhecimento popular (CP) para sua vida?

E para a vida de todos?

Qual o valor do conhecimento científico (CC) para sua vida? E para a vida de todos?

De que forma aparece o CP na sua vida? Dê exemplos. De que forma aparece o CC na sua vida? Dê exemplos. Qual o valor do CP na escola?

Qual o valor do CC na escola?

O CP faz parte dos conteúdos escolares? Se não, por que não faz parte?

O CP pode fazer parte dos conteúdos escolares? Os professores poderiam usá-lo?

Como seria a escola se os professores usassem o CP?

A forma como o CC aparece na escola te ajuda a entender as coisas da vida? O quê? Dê exemplo.

Se não, por que se aprende ciência na escola?

Você acha que existe uma briga entre o CP e o CC? Por quê? Dê um exemplo.

Você acha que é possível esses conhecimentos dialogarem? Como? Se não, por quê? O que poderia sair de uma conversa entre CP e CC?

A intenção com essas perguntas foi a de identificar a visão dos estudantes sobre o valor dos conhecimentos científico e popular para as suas vidas, para a sociedade como um todo, para a escola, e se eles acreditam que existe, ou não, o conflito entre esses dois tipos de conhecimentos. Com estas perguntas também tive a intenção de identificar como os estudantes enxergam o valor e o lugar de ambos os conhecimentos na escola. Elaboradas as questões, passei para a busca de algum instrumento que ilustrasse os dois conhecimentos de forma que contribuísse para sensibilizar os participantes a falarem sobre o tema e, como já escrito, a escolha foi pela utilização de filmes.

Encontrei dois vídeos no site Youtube: “Conheça o maior laboratório de Engenharia Naval”30 e o segundo “Arquitetos do Mar”31

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. O primeiro vídeo trata de uma matéria exibida pela rede de televisão Bandeirantes, cujo conteúdo foi disponibilizado na Internet em 2012. Este vídeo apresenta um laboratório de pesquisa do Centro de Engenharia Naval e Oceânica (CNAVAL) do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT)

http://www.youtube.com/watch?v=bMOW1rX7gKg. Acesso em 01/03/2013

31 Parte1: http://www.youtube.com/watch?v=9cm8f5qruGE Acesso em 01/03/2013 Parte 2: http://www.youtube.com/watch?v=bcpStCXGXQU Acesso em 01/03/2013

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da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo32

O outro vídeo escolhido é um curta metragem intitulado “Arquitetos do Mar” . O vídeo mostra os pesquisadores do laboratório, homens, brancos, jovens e adultos. O vídeo apresenta computadores, lousa digital, tanque para simulação das ondas do mar, simulador das ondas do mar em três dimensões, entre outros equipamentos utilizados na pesquisa para desenvolver projetos de navios e plataformas de extração de petróleo. Embora o filme reforce uma imagem bastante estereotipada da ciência e da tecnologia, decidi usar este vídeo, pois ele apresentava um potencial para fazer a contraposição com outro que mostrasse a produção de embarcação de forma artesanal. Portanto, neste momento da construção dos dados não haveria a problematização com os estudantes sobre a diversidade de formas de produzir conhecimento científico e de como a ciência pode ser também diversa, tampouco que o filme é uma representação hegemônica da produção de conhecimento científico.

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Considerei que ambos os vídeos poderiam contribuir, junto com as perguntas, para a pesquisa, pois ilustram as diferenças e oposições entre o conhecimento popular e científico, elemento que gostaria de explorar juntamente com os estudantes. Enquanto o filme “Arquitetos do Mar” mostra o trabalho artesanal, que representa o conhecimento transmitido ao longo de gerações, cuja aprendizagem se dá por meio da observação do ofício e pela oralidade, o vídeo dos engenheiros navais apresenta a elaboração dos projetos por pesquisadores científicos, com uso de computadores e simuladores das condições do mar.

. O filme mostra o processo artesanal de produção de embarcações do tipo escuna em um povoado chamado Cajaíba do Sul, situado na cidade de Camamu, sul da Bahia. As embarcações são produzidas de maneira coletiva, também por homens, muitos deles negros, jovens, adultos e idosos. O conhecimento desta produção é aprendido oralmente e visualmente, de pai para filho, há séculos. O filme apresenta desde a pessoa responsável por produzir o óleo de dendê que irá impermeabilizar a madeira, até as pessoas que fazem a pintura e a carpintaria e a forma como colocam o barco no mar. Mostra o depoimento dos trabalhadores de como aprenderam este ofício, as dificuldades em produzir as embarcações de forma artesanal, as expectativas com o futuro e as desesperanças deste ofício desvalorizado por nossa sociedade.

32http://www.ipt.br/centros_tecnologicos/CNAVAL Acesso em 01/03/2013

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Ficha Técnica: Roteiro e Direção: Marcelo Abreu Góis; Som Direto: Kléber Morais; Ass. Direção: Virgínia Jorge e Gabriel Gussen; Montagem e Finalização: Marcelo Abreu Góis.

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Escolhidos os filmes, organizei a entrevista coletiva da seguinte maneira: estudantes do projeto de EJA foram convidados a participar da entrevista coletiva no período da manhã, na sala onde são ministradas as aulas do projeto. Em um primeiro momento houve a explicação sobre a finalidade da pesquisa e sobre a dinâmica da atividade. Em seguida foram exibidos os filmes e, posteriormente, orientada pelas perguntas, realizada a entrevista coletiva sobre os conhecimentos.

O projeto de EJA naquele momento contava com 3 turmas: uma de Ensino Médio com nove alunos e duas do Ensino Fundamental (5ª série com dois alunos e 7ª séries com quatro alunos). Dois estudantes do Ensino Médio haviam completado as séries do Ensino Fundamental no projeto de EJA, Joaci e Mendel, por isso convidei-os para compor o grupo para a entrevista coletiva. Desta forma, o grupo foi composto por oito estudantes: dois da 5ª série e quatro da 7ª série, ambos do Ensino Fundamental; dois do Ensino Médio, que haviam completado o Ensino Fundamental no projeto.

Em função da quantidade de pessoas, e prevendo que algumas delas poderiam não falar, decidi que seriam realizados dois grupos: o grupo da “7ª série” e o “grupo misto”, com os estudantes da 5ª série e do 1º termo do Ensino Médio. Entreguei um convite por escrito para os participantes do grupo com a data, o local e o objetivo da atividade. Participaram seis pessoas, três em cada grupo, pois duas pessoas convidadas tiveram problemas de saúde na família e precisaram se ausentar nos dias combinados. Em ambos os grupos expliquei que a atividade seria uma obtenção de dados onde os estudantes falariam sobre os conhecimentos científico e popular. O meu papel naquele momento não era o de avaliar se eles sabiam ou não conceituar a ciência e o conhecimento popular, mas qual a opinião ou o que pensavam a respeito destes conhecimentos. Combinei com todos que respeitaríamos a opinião de cada um, mesmo que não houvesse concordância com o que a outra pessoa falasse. Por fim, falei que a intenção daquele grupo não era convencer ninguém a acreditar naquilo que estava sendo apresentado, nem convencê-los a pensar de forma diferente, mas que aquele seria um momento para falar sobre o que pensavam a respeito do tema apresentado.

A primeira entrevista coletiva foi realizada com os estudantes da 7ª série e dela participaram Rosa, Otelo e Paulo. Para este grupo, iniciei questionando o que seus componentes entendiam sobre as expressões “conhecimento científico” e “conhecimento popular” e, em seguida apresentei os dois vídeos. Ao final da exibição foi iniciada a entrevista coletiva. Já o segundo grupo, foi formado pelos estudantes do Ensino Médio, Joaci e Mendel e um da 5ª série do Ensino Fundamental, Chico. As duas entrevistas coletivas foram realizadas ao término do 1º semestre letivo de 2012;

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ambas foram registradas em um gravador semiprofissional; o áudio foi posteriormente transcrito na íntegra.

2.3. Entrevista coletiva sobre os conteúdos trabalhados no Ensino