• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 3. A visão dos estudantes sobre os conhecimentos científico e popular

3.3. As visões sobre ciência

Os dados revelaram que a visão dos estudantes sobre a ciência parte de um princípio de que ela não faz parte da vida deles e, portanto, é algo ininteligível. Talvez por isso, ao mesmo tempo, a ciência seja supervalorizada, pois compreendo que exista um desejo de se apropriar dela, já que aquelas pessoas que dominam a ciência são consideradas mais aptas para melhores trabalhos, por exemplo. Assim, as análises que se seguirão basearam-se na perspectiva de que a ciência é estranha aos estudantes em função de a cisão com suas vidas ter se dado a partir da divisão social do trabalho. A análise também considera que os estudantes estão imersos em um contexto ideológico em que a ciência é concebida como o único meio valorizado pelo qual é possível descrever os fenômenos e conhecer a verdade. Além disso, a ciência é vista como sinônimo dos produtos da tecnologia.

A visão dos estudantes sobre o conhecimento científico é carregada de contradições, pois ora é permeada pelo senso comum, “associada a um suposto método científico, único, algorítmico, bem definido e quiçá, mesmo, infalível” (PEREZ

et al, 2001, p.126); em outros momentos, mesmo que ainda de forma incipiente, é

possível identificar traços de crítica quando consideram a ciência como um conhecimento distante, ininteligível e exclusor.

110

Na visão de Mendel e Chico, a ciência relaciona-se com um tipo de pesquisa que se realiza por meio de experimentos em laboratório:

Eu acho que uma pessoa que tem um estudo, pega um animal, uma coisa para fazer uma experiência com ele. Quer dizer, tem diversos tipos de experiência nas ciências. A pessoa pega um animal para estudar... Não sei se é o caso. Cada um estuda um caso, pegam diversas pessoas e vão se formando como funciona essa porção de cientistas. Eu acho que a pessoa pega e vai estudando, cada um fala e faz uma parte de uma coisa ali. (MENDEL)

A ciência a gente tem que acompanhar em laboratório, fazer pesquisa, esse tipo de coisa. A maior parte disso aí, a gente vê como se fosse uma comprovação, que funciona uma coisa, sem aquilo ali que a gente não vai fazer remédio, essas coisas aí. Deu certo uma coisa, aí a pessoa até descobre mais coisa com aquilo ali. (CHICO)

Perez et al (2001) indicam que esta visão está associada a uma concepção “empírico-indutivista” (p.129), ou seja, consideram que a ciência se realiza, essencialmente, por meio da experimentação, considerada como sendo o “método científico”, com etapas bem definidas e controladas.

Na visão de Chico, além de ser realizada em um laboratório, a ciência ainda é relacionada à necessidade de comprovação. De acordo com Marilena Chauí (2009), a utilização de métodos rigorosos para compreender a realidade são elementos que caracterizam a ciência. Embora não exista uma metodologia única que dê conta de compreender toda a realidade, a ciência tem sim um compromisso com a verdade, mesmo que esta seja provisória, a comprovação faz parte do processo científico. Na fala de Chico, um fenômeno comprovado pela ciência além de possibilitar a produção de conhecimentos benéficos para a humanidade, por exemplo, a descoberta de remédios, é também importante para a busca de novos conhecimentos (científicos). Trata-se da generalização que possibilita à ciência “estabelecer teorias gerais que sejam aplicáveis ao estudo do maior número possível de fenômenos” (PEREZ et al, 2001, p.137).

O rigor com que a ciência busca compreender e descrever a realidade, por vezes faz com que lhe seja atribuído o caráter de ser papel dela – e de nenhum outro conhecimento – descrever, explicar, dizer se um dado é verdadeiro ou não: “A ciência é uma das coisas que comprova tudo aquilo que existe na vida, os seres vivos” (JOACI).

Na fala de Chico é possível também identificar como ele relaciona a ciência com a tecnologia quando exemplifica a ciência e a produção de remédios, que são benéficos para as pessoas. Cerezo (1998) argumenta que em uma concepção clássica, ciência e tecnologia “puede resumirse en una simple ecuación: + ciencia = +

111

tecnología = + riqueza = + bienestar social” (p.1). O autor afirma que esta concepção está presente nos meios acadêmicos e de divulgação (Ibid.). Assim, é possível analisar que o estudante reproduz uma ideia bastante recorrente no senso comum que que não é somente fruto de um conhecimento de origem popular.

O papel da ciência como certificadora da verdade e qualidade também é destacado por Paulo, ao analisar a Figura 3 que escolheu como representativa do conhecimento científico.

Fonte: Revista “Planeta Mulher”. Edição 12. Ano 2. No. 6. Nov/dez 2007. Bimestral Figura 3. Imagem escolhida por Paulo como representante do conhecimento científico.

Está passando uma propaganda da Colgate®... Assim, a melhor, a marca número um que eles recomendam. Porque eles falam que faz bem para os dentes, cuidar da higiene bucal e foram desenvolvendo até chegar nesse ponto aqui. E o científico, o científico é uma coisa que eles estudam para ter certeza de que é isso mesmo que eles querem. (PAULO)

Paulo ainda destaca qual o tipo de verdade é afirmada pela ciência: o que faz bem, aquilo que se refere ao cuidado com a pessoa. Nota-se também que ele compreende a ciência como um processo cumulativo, cujo resultado é um conhecimento que certifica a qualidade de um produto. A Figura escolhida por Paulo como representativa do conhecimento científico mostra a imagem de uma dentista, porém por ele ter escolhido esta como uma imagem que representa a ciência, é

112

possível também interpretar que essa escolha se deva ao fato de mostrar uma imagem estereotipada de uma cientista, usando jaleco e equipamentos. O estudante Chico também entende que a ciência tem papel para validar a realidade e também acrescenta outros elementos:

Acho que tudo que você pesquisar para ciência é valido, entendeu? Porque o que a gente faz, se não tiver a ciência junto nunca vai dar certo. Eu penso desse jeito, entendeu? Você vê, tem um navio de 250 metros, é uma coisa astronômica, né? Ali... Tem coisa ali... Equipamento que foi desenvolvido que a gente nem tem conhecimento às vezes, né? (CHICO)

Na visão de Chico, nada do que é feito pode dar certo se não for ratificado pela ciência. Chico fez esta análise a partir daquilo que pensa sobre a ciência, mas também a partir dos dois vídeos, sendo que um deles de fato tratava da elaboração de projetos de navios para extração de petróleo em regiões oceânicas e as pessoas ali retratadas eram cientistas, trabalhando em um laboratório dentro de um instituto de pesquisa científica. Porém, destaco que Chico generaliza sua análise para tudo que é produzido e desconsidera o que viu no vídeo “Arquitetos do Mar”. Guardadas as devidas proporções, as embarcações produzidas também “deram certo” para a finalidade a que se destinavam.

Talvez o que sustente esta visão seja a própria natureza da ciência e seu compromisso com explicações consistentes sobre os fenômenos e a formulação de conceitos de modo que sirvam como “critério de validação” para um determinado grupo (MATURANA; VARELA, 2005, p. 34). Contudo, estes autores argumentam que a “magia” também tem esse cuidado, porém o que a difere da ciência é o “modo como se gera um sistema explicativo científico, o que constitui de fato o seu critério de validação. Uma afirmação só é científica quando se fundamenta em explicações científicas” (Ibid., p.34). Maturana e Varela (2005) ainda destacam que na ciência há o compromisso de realizar cada etapa de produção de conhecimento de forma consistente e articulada, além da elaboração de síntese e documentação do conhecimento para que este seja registrado e se torne algo que se mantenha por outras gerações.

No excerto da fala de Chico é possível identificar a visão de que tudo que ciência se propõe a estudar é considerado importante, e compreender a realidade só é possível a partir deste conhecimento. Porém, nem tudo tem resultado positivo e é válido para a humanidade como um todo e desta forma, é importante compreender quais são as bases que geram este tipo de visão.

113

Chauí (2009) escreve que, no Ocidente, o desenvolvimento do cristianismo a partir da Idade Média ocasionou a ruptura entre humanidade e Deus, e a distinção entre verdades da razão e da fé; consequentemente, séculos mais tarde, filósofos modernos puderam questionar o que é um conhecimento verdadeiro e os caminhos para se buscar a verdade e partiram em busca de criar meios para alcança-la utilizando-se da racionalidade sem o intermédio de Deus. Entendo que neste processo resida um elemento importante para a construção e disseminação do conhecimento científico que se compromete com a produção de um conhecimento que, por se opor a tudo que é fantástico, mágico, proveniente do senso comum, busca rigorosamente entender os fenômenos naturais e o homem/mulher.

De acordo com Ramón Grosfoguel (2013) a visão de que todo conhecimento produzido pela ciência é importante e sem ela não há outro meio de validar o conhecimento pode ser entendida a partir da perspectiva de que a ciência, historicamente, se relaciona com a dominação cultural exercida pelos territórios do norte para com os territórios do sul, do qual o Brasil faz parte. Grosfoguel (2013) argumenta também que a partir de Descartes (“penso logo existo”) o conhecimento substitui Deus. O sujeito é cognoscente e possui a capacidade de produzir conhecimento verdadeiro; ele ainda argumenta que a ciência também se fundamenta na ideia do universalismo, ou seja, o conhecimento que se produz além de qualquer particularidade e de situação específica e por isso desqualifica outras formas de conhecer. Então, para o autor estes elementos são fundamentos da ciência moderna em que a objetividade e a neutralidade negam outras formas de conhecimento (ibid.). Todos estes elementos apresentados sustentam a ideologia que permeia a ciência e esta contribuem para o estranhamento por parte dos estudantes perante este conhecimento e por formar uma visão da ciência como onipotente.

Ao analisar as falas dos estudantes foram, ainda, identificados outros aspectos que reforçam a análise de que a visão deles é permeada por estes aspectos ideológicos. Neste sentido, a ciência estaria relacionada apenas a aspectos positivos muito valorizados em nossa sociedade, como, por exemplo, a geração de benefícios e desenvolvimento para a humanidade. A ciência também se mostra como algo relacionado à inteligência, ao diferente, ininteligível e belo, simultaneamente. Esses elementos também fazem com quem não detém o conhecimento científico se sinta excluído e, por diante deste aspecto negativo, a ciência também se relaciona à competição.

114

A visão de que ciência traz sempre benefícios para problemas é apontada por Otelo ao escolher também a Figura 1 como sendo a representante do conhecimento científico e justifica sua escolha da seguinte maneira:

Ah, eu acho uma injustiça, uma poluição. A poluição é um lugar que eles deveriam reciclar, né? Deveriam pegar para limpar. Limpar para não deixar essa sujeira acumulada na beira do rio, porque ali vai juntando bicho um monte de coisas. Desmatam muita coisa da natureza, estragam muita coisa da natureza. Principalmente as pessoas que vão à beira do rio assim elas pegam aquela infecção... Aquele ar meio desagradável. Então eles deveriam limpar o ambiente, não fazer mais isso porque é uma injustiça. A gente vai lá para passear, isso é tipo um lazer, não para fazer sujeira. Eu acho que é uma falta de educação fazer uma ‘sujeirada’ dessa. (OTELO)

Na fala de Otelo, assim como na de Chico, é possível identificar a perspectiva de que os produtos da ciência são sempre positivos para a humanidade de forma geral e para o ambiente. E estas falas não indicam uma visão crítica de que os produtos da ciência também podem causar danos, nem sempre são benéficos e podem ser usados como forma de dominação. A imagem apontada por Otelo mostra duas pessoas em um local repleto de lixo e uma legenda escrita “Injustiça Ambiental” e a reportagem traz em seu conteúdo que camadas da sociedade, em geral as que vivem situações de exclusão, são mais afetadas pela degradação ambiental do que outras e por isso trata- se da injustiça ambiental. Na fala de Otelo é possível interpretar justamente o contrário, que em vez de vítimas, aquelas pessoas são as responsáveis pelo estado de degradação daquele ambiente.

Na fala de Otelo também é possível identificar sua visão de que somente a partir da ciência é possível organizar, limpar, despoluir aquilo que “O” outro deixou sujo, desorganizado... Macedo (2004) em um estudo analisou imagens que representam a ciência em livros didáticos, em especial a forma como sociedades ditas “primitivas” se alimentam em comparação com a alimentação ocidental, e afirma que a maneira como são representadas estas diferenças cria

uma distinção entre o branco ocidental – detentor do conhecimento científico, da razão, de instituições como a escola – e as outras raças, marcadas pela ausência de civilização, de refinamento, de instituições sociais e fortemente ligadas ao ambiente natural (MACEDO, 2004, p. 115).

Esta perspectiva reforça a ideia de que as sociedades que detêm o conhecimento científico são mais civilizadas que as outras, portanto, escolhem os caminhos certos, são detentoras da verdade, são aquelas capazes de solucionar todos os problemas. Por outro lado, as pessoas que não detêm tal conhecimento são

115

responsáveis por todos os problemas. Novamente é possível identificar a visão dicotômica do conhecimento, mas agora em uma perspectiva de que de um lado é papel da ciência resolver os problemas que foram criados pelas pessoas “sem educação” – que são sempre “as outras pessoas” –, as que poluem, as que não sabem criar seus filhos, as desprovidas de conhecimento, as ignorantes.

A visão da ciência como sinônimo de desenvolvimento é identificada na imagem que Dália escolheu como sendo a representante do conhecimento científico, como se pode verificar na Figura 4:

Fonte: Revista “Planeta Mulher”. Edição 12. Ano 2. No. 6. Nov/dez 2007. Bimestral

Figura 4. Imagem escolhida por Dália como representante do conhecimento científico.

Uma cidade grande, que existe muitos conhecimentos, deve ter muitas escolas, faculdades e universidades. Então acho que tem um pouco de coisa científico lá. Acho que já é uma cidade mais avançada. (DÁLIA)

Nesta perspectiva, a ciência é vista por ela como imprescindível para que uma cidade alcance o estado de desenvolvimento considerado avançado. Na fala de Dália ela relaciona a ciência com as instituições de ensino, portanto, o processo de urbanização de uma cidade, que envolve o conhecimento científico, é preciso que as pessoas estudem e por isso na cidade urbanizada existem muitas instituições de ensino. É possível que o fato de ela trabalhar numa universidade influenciaria essa visão.

Toni relaciona ciência com inteligência e para isso escolhe a imagem de uma estátua produzida por Auguste Rodin como a representante do conhecimento científico (FIGURA 5):

116

Fonte: Revista “Carta Capital”. 21/out/2009. Ano xv. No. 568

Figura 5. Imagem escolhida por Toni como representante do conhecimento científico.

A pessoa que esculpiu essa escultura tem que ter uma ciência, uma cultura41 muito inteligente, para você fazer uma escultura dessas não é fácil. Estou vendo que a pessoa tem uma ciência na cabeça muito boa, um conhecimento para poder fazer essa estátua aqui. Tem que ser inteligente, tem que saber fazer. Acho que não só ciência, todas as coisas que você faz tem que ter um pouco de conhecimento, um pouco de inteligência para você poder fazer, se não você não consegue fazer. (TONI)

Toni entende que a produção de uma obra de arte – por exemplo, uma escultura – requer conhecimento, ciência, e inteligência. Ele também analisa que não só a ciência requer inteligência, o que demonstra o caráter contraditório da visão deste estudante, que em um momento de reflexão, talvez de sua própria vida, afirma que também é necessário ter inteligência para realizar qualquer atividade do cotidiano.

Chico relaciona a ciência com a imagem de uma escada que tem um desenho não convencional Figura 6:

41 Não me dedicarei a aprofundar a análise desta pesquisa nos aspectos culturais, mas cabe fazer um destaque da fala de Toni quando ele relaciona a produção da escultura como um tipo de inteligência relacionada com a cultural. Talvez para ele a cultura se relacione com a produção artística erudita. Quem produz esse tipo de arte é possuidor de cultura.

117

Fonte: Revista “Construir mais por menos”. Ano II. Edição 25. Nov.2012

Figura 6. Imagem escolhida por Chico como representante do conhecimento científico.

Chico: Essa aqui eu não sei se serve... É uma coisa diferente está vendo? Eu nunca vi na verdade isso aqui. Isso aqui é uma ciência que a pessoa tem.

Graziela: Só para entender o que é? Uma escada?

Chico: É uma escada com umas coisas diferentes, não é uma coisa simples. É uma coisa diferente, acho que a pessoa que fez isso aqui deve ter consultado porque ela é completamente diferente, está vendo?

Em sua explicação, o estudante traçou uma relação do conhecimento científico com algo que é diferente daquilo que ele conhecia e dominava. Em se tratando se uma escada diferente das comuns, ele entende que a sua produção não seja simples, e por isso exige “consulta”. Embora não esteja explícito o significado da palavra consulta, mas em se tratando de uma relação com a ciência, é possível que ele quisesse dizer que para produzir uma escada desta natureza é necessário se certificar que ela vai ser funcional e segura e, por isso, a necessidade de obter um parecer confiável. Não é uma tarefa fácil produzir uma escada com tamanha complexidade; necessita de criatividade e conhecimento elaborado, tal como a ciência é capaz de produzir. Chico também relaciona a ciência ao diferente, ininteligível e belo (FIGURA 7).

118

Está vendo aquele negócio ali? Isso aí, o professor [de um departamento da universidade] sempre inventa alguma coisa, eu não sei nem o que é isso aí, mas eu sei que ele inventou. Não sei se é algum cálculo que ele faz. (CHICO)

Fonte: Autora. Retirada em jul/2012

Figura 7. Imagem escolhida por Chico como representante do conhecimento científico.

Eu não sei se é um... Para mim é um... Eu não sei como definir. Eu não sei se é porque ele é matemático, não sei se ele fez algum cálculo, alguma coisa, ou ele viu também em algum lugar isso aí, entendeu? Eu pergunto para ele, nem ele às vezes sabe explicar o que é isso aí. Eu acho que sim, porque é uma coisa diferente, não é? Eu nunca ia imaginar que... eu acho que deve ser. A gente acha alguma coisa bonita. Mas uma ciência tem alguma coisa, acho que deve ter. Como que é feito? Ele pegou, tudo com pontinha de... Eu não sei se ele vai fazer isso aqui, mas ele vai fazer grande, vai fazer com três metros de altura. Então já tem a barra ali, vou fixar isso aqui em uma figura, em um quadro de concreto42. (CHICO)

A maquete apontada por Chico representa uma hipérbole. Um professor de um departamento da Universidade construiu a maquete a partir do reaproveitamento de lata de mantimentos, anéis de latas de refrigerantes, entre outros resíduos, e solicitou

42 Observe-se que a dificuldade que ele atribui à compreensão deste objeto é diretamente proporcional à sua dificuldade de se expressar para falar sobre ele.

119

que Chico construísse uma réplica desta hipérbole em tamanho ampliado, utilizando- se de materiais metálicos. Para este estudante, a maquete representava o conhecimento científico, possivelmente porque foi elaborada por um professor- cientista da Universidade, mais do que isso, é também um objeto belo, tão diferente, algo que a própria pessoa que a construiu não conseguiu explicar para Chico o que ela representa de uma maneira que o estudante compreendesse do que se tratava. Essa é uma forte razão para que ele o tenha escolhido como representante da ciência. Perez et al (2001), argumentam que uma das visões – considerada por eles como distorcida – sobre a ciência expressa a ideia de que o “trabalho científico” (Ibid., p.133) é tarefa de pessoas com inteligência fora do comum. Nesta perspectiva é possível analisar a relação que Chico fez entre a hipérbole, a ciência, a beleza, a diferença e a ininteligibilidade. Sendo então o trabalho científico tão complexo, somente pessoas especiais estariam aptas a desenvolvê-lo e o seu resultado tem que ser algo “fora do comum” (por isso belo, diferente, complexo...).

Paulo é o único estudante que se aproxima de uma visão mais crítica sobre a ciência ao relacioná-la com disputa e exclusão: “Na parte científica tem muita disputa. Um quer ser mais do que o outro, aquele sabe mais, aquele que não sabe tá fora” (PAULO).

Paulo indica que a ciência promove a competitividade e, consequentemente, a exclusão de pessoas que não detêm o conhecimento científico. Na sociedade