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Análise do território em estudo

NO ESPAÇO URBANO

5. PROPOSTA ESTRATÉGICA DE ESPAÇO PÚBLICO

5.1. Análise do território em estudo

Para apoio do estudo da vida pública de Caneças, recorreu-se à obra científica de Gehl e Svarre (2013) sobre o espaço público e a sua utilização. Os autores demonstram como estudar as interações sociais, quais os métodos e técnicas a utilizar. Recorremos então a estas ferramentas para analisar as interações sociais e a ocupação do espaço público. Antes de iniciar a experiência é necessário perceber qual é a intenção, os recursos, o tempo e as condições do local para identificar quais serão as melhores ferramentas a utilizar. Deve ter-se em conta o contexto local para definir qual o dia em que se irá proceder à análise, bem como o horário e as condições climatéricas. Por exemplo, uma área que tenha uma vida noturna muita ativa deve ser analisada durante esse período, já a análise de uma área residencial deve ser realizada durante o dia.

O espaço público encontra-se bastante degradado e com recursos insuficientes para os pedestres. No núcleo antigo de Caneças, as mesmas características se evidenciam, apresentando os edifíciosde importância histórica e cultural uma total ausência de obras de conservação ou manutenção. No decorrer das últimas décadas, não se verificaram investimentos em espaços de recreio ou lazer que possam ser utilizados pela população (Fig.92).

135 As ferramentas e os métodos utilizados para o registo podem variar consoante o financiamento e a mão de obra, podendo ser aplicadas de forma manual ou automatizada. Grande parte dos estudos que Jan Gehl e Birgitte Svarre (2013) demonstram que não é necessário a utilização de grandes recursos financeiros, basta recorrer a ferramentas tradicionais como o papel e o lápis. Por outro prisma, quando se utilizam ferramentas digitais torna-se possível analisar uma maior quantidade de dados no mesmo período de tempo, mas implica efetuar um investimento em mão de obra e equipamentos. O investigador deve utilizar a ferramenta adequada às condições que estão ao seu alcance.

Fig. 92 – Carta do Património de Caneças

136 Gehl e Svarre (2013) descrevem técnicas específicas que podem ser utilizadas na análise dos espaços públicos:

- A contagem: sendo das ferramentas mais básicas para analisar o comportamento da população, tem como objetivo quantificar aspetos como o número de pessoas que atravessam o território, as suas idades, género, se as pessoas estão de passagem ou em permanência, procurando a sociabilização, o mobiliário urbano, etc. Para contar o fluxo de pessoas, o observador deve-se posicionar de frente para o espaço público e contar as pessoas à medida que passam à sua frente, bem como automóveis, bicicletas e transportes públicos. Esta técnica é considerada de baixo custo. O tempo de contagem deve ser de 10 minutos, ao longo do dia, de modo a perceber a apropriação do espaço público.

Este tipo de análise foi aplicado no caso de estudo, concretamente no núcleo antigo de Caneças (Fig.93): foram realizadas amostragens de 10 minutos às 8 horas, 12 horas, 16 horas e 19.30 horas. Estes horários foram escolhidos com base na partida e chegada da população para os seus empregos, bem como na perceção da apropriação do espaço público durante o dia. Foi considerado o número de pessoas, o género e as idades, bem como o trânsito e a forma como ele se organiza.

Fig. 93 – Núcleo Antigo de Caneças

137 8.00h 12.00h 16.00h 19.30h Homens 26 10 12 16 Homens +65 13 13 6 4 Mulheres 29 28 16 14 Mulheres +65 10 16 3 6 Adolescentes 5 8 16 12 Crianças 5 6 6 6 TOTAL 88 81 59 58

Tabela 3 – Contagem de Indivíduos existentes no Espaço Público ao longo do dia

Fonte: Da Autora, 2019

Com esta amostra conseguimos perceber que o horário em que as pessoas utilizam mais o espaço público é da parte da manhã, às 8 horas existe um maior movimento de pessoas no espaço público, essencialmente nas paragens de autocarro, com o objetivo de seguir para o seu posto de trabalho, apesar da permanência ser reduzida.

Fig. 94 – Paragem nº1 - Núcleo Antigo de Caneças

138 Verificámos que num espaço de pequenas dimensões existem quatro paragens de autocarro (Fig.94/95/96/97). Apesar da quantidade, conseguimos perceber que nenhuma cumpre as necessidades dos utilizadores. Seria pertinente encontrar uma solução para garantir uma maior segurança e conforto à população.

Fig. 95 – Paragem nº2 - Núcleo Antigo de Caneças

Fonte: Da Autora, 2019

Fig. 96 – Paragem nº3 - Núcleo Antigo de Caneças

Fonte: Da Autora, 2019

Fig. 97 – Paragem nº4 - Núcleo Antigo de Caneças

139 Já às 12h verificou-se o inverso, existia uma maior permanência da comunidade no espaço público, existindo uma sociabilização, como idosos sentados no mobiliário urbano, pessoas a deslocarem-se para comércio e serviços, pessoas aproveitando o espaço público para convívio (Fig.100).

Fig. 100 – Utilização do espaço publico às 12h

Fonte: Da autora, 2019

Fig. 98 – Foco de atividade humana na paragem nº1, Perfil do Largo Vieira Caldas, Esc.: 1/200

Fonte: Da autora, 2019

Fig. 99 – Foco de atividade humana, Perfil da Praça Dr. Manuel de Arriaga, Esc.: 1/200

140 Às 16 horas era visível um maior número de adolescentes no espaço público, estando de passagem vindos da escola, sendo que outros permaneciam nas paragens.

Às 19.30 horas era visível a chegada das pessoas através dos transportes públicos. Era visível algumas pessoas sentadas nos bancos de jardim, sendo que um número inferior registado relativamente à parte da manhã (Fig.101).

8.00h 12.00h 16.00h 19.30h Automóveis 228 152 175 184 Motociclos 3 2 1 3 Autocarros 7 8 7 10 Bicicletas 0 0 0 5 TOTAL 238 162 183 202

Tabela 4 – Contagem de veículos

Fonte: Da autora, 2019

Fig. 101 – Pessoas em permanência no espaço publico às 19.30h

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Fig. 102 – Trânsito às 19.30h

Fonte: Da autora, 2019

Conseguimos perceber que o número de transportes públicos que passam neste espaço é de grande quantidade ao longo de todo o dia (Fig.102). Muito motivado pela proximidade ao parque da Rodoviária de Lisboa, empresa que serve o município de transportes públicos. A maior quantidade de automóveis registada foi às 8 horas, onde se comprova o excesso de utilização do automóvel nas áreas periféricas, visto que também neste horário é normal a ida da população para o seu posto de trabalho. Percebe-se que no início e no final do dia, o tráfego é maior, mais caótico e emerge a desorganização. Os cruzamentos são pontos cruciais para uma futura intervenção, pois é onde é visível uma maior confusão por parte dos condutores, bem como não estão capacitados para as manobras que os autocarros necessitam realizar, pondo muitas vezes o peão em risco. A largura das vias acaba também por não facilitar estes processos.

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Fig. 103 – Percursos dos vários autocarros

Fonte: Da autora, 2019

Durante a análise foi possível identificar o percurso de alguns autocarros, como se pode ver na figura acima. Foram observados os trajectos das carreiras 201 - Caneças/Campo Grande (castanho), 215 - Cacém/Loures (verde), 220 - Caneças/Sabugo (amarelo), 221 - Caneças/Almargem do Bispo (azul escuro), 224 -

143 Pontinha (Metro)/Caneças (azul claro), 225 - Odivelas (Metro)/Jardim Radial (vermelho). Podemos dizer que esta área está bem servida de transportes públicos, apesar do trânsito se tornar caótico e as vias não terem a dimensão certa para este tráfego, o que dificulta as manobras dos autocarros (Fig.103).

- Mapear (Mapping): Gehl e Svarre (2013) descrevem também esta técnica de representação, consistindo em mapas temáticos, que refletem os comportamentos levantados em campo. Pode ser utilizado para perceber as pessoas que permanecem em pé, sentadas, etc. Os autores referem que para este tipo de análise o observador deve ter uma visão o mais ampla possível em relação ao espaço público, de modo a mapear as pessoas. Caso não seja possível obter este tipo de visão, devem dispor-se duas ou mais pessoas para proceder ao mapeamento, também podem-se fazer pequenas caminhadas, para mapear todos os grupos que possam estar em locais fora do campo de visão. Os dados podem ser desenhados num mapa impresso ou num croqui. 19

19 Croqui Delineamento inicial de uma obra de desenho ou de pintura, in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, https://dicionario.priberam.org/croqui [consultado em 02-07-2019].

Fig. 104 – Coreto no centro de Caneças

144 O espaço do coreto (Fig.104), apesar de ser o mais amplo e com capacidade de albergar uma maior quantidade de pessoas, é utilizado como espaço de passagem, não havendo permanência de pessoas neste local.

No registo acima conseguimos contabilizar o número de pessoas em permanência. Estavam sete pessoas numa paragem de autocarro e as restantes estavam a sociabilizar nos outros pontos indicados.

- Traçar as Deslocações (Tracing): esta técnica consiste em traçar os percursos realizados pelos indivíduos dentro do espaço em estudo. Através desta técnica é possível identificar padrões de fluxos, mudanças de direção bem como locais mais utilizados para as deslocações. As deslocações podem ser desenhadas num mapa durante um período de 10 a 30 minutos, desenhando as linhas de movimento. Como algumas vezes é difícil seguir o percurso do individuo, pode-se adotar por setorizar o espaço estudado.

Fig. 105 – Quantidade de pessoas em permanência no espaço público às 12.00h

145 Durante a análise foi possível perceber os percursos realizados pelos indivíduos. Conseguimos perceber que a maioria das pessoas prefere deslocar-se pela via principal e que muitas deslocam-se a este local à procura dos transportes existentes (Fig.106).

Fig. 106 – Percursos realizados pelos indivíduos

146 5.2. Diagnóstico SWOT

SWOT

Forças Fraquezas

Potencialidade de adaptabilidade e mistura de funções Diversidade e riqueza de património arquitetónico e arqueológico

Riqueza paisagística

Elevado índice de envelhecimento Inexistência de espaços de recreio e lazer Escassez de usos e serviços

Falta de equipamentos culturais

Degradação do edificado: edifícios e lojas devolutos Degradação e falta de funcionalidade dos espaços públicos

Fraca mobilidade e acessibilidade

Oportunidades Ameaças

Requalificação e valorização do núcleo antigo de Caneças Desenvolvimento de uma Área de Interesse turístico-cultural Revitalização das fontes classificadas de interesse municipal Implementação de uma rede de percursos pedestres (Rota da Água)

Desenvolvimento de espaços públicos de estadia e recreio Consolidação do tecido urbano da vila sem desvirtuação da característica rural

Reestruturação das acessibilidades e estacionamento Valorização da paisagem

Património Arquitetónico e Arqueológico

Falta de atratividade do núcleo antigo Tráfego no núcleo antigo de Caneças

A forma urbana pode perder o cariz de ruralidade

Tabela 5 – Diagnóstico SWOT

147 Ao nível demográfico, económico, político, social, cultural, do edificado e territorial, o seguinte diagnóstico SWOT (strengths, weaknesses, opportunities and threats) tem por objetivo verificar a posição estratégica da organização do território em questão. A ideia central é avaliar os pontos fortes, os pontos fracos, as oportunidades e as ameaças deste território.

Deste modo procura-se utilizar ao máximo as forças e potencialidades, bem como melhorar ou corrigir as fragilidades, não esquecendo de reforçar uma proteção em relação às ameaças.

Refletindo sobre as análises e os diagnósticos produzidos são definidos certos objetivos gerais, tais como, qualificar o tecido urbano-rústico local contribuindo para a valorização da Zona Especial de Interesse Turístico de Caneças, apostando numa imagem de coerência da forma urbana que preserve o seu cariz rural, potenciado pelo espaço público, pela presença de património cultural arquitetónico, de espaços verdes e de um modelo edificado renovado em harmonia com o edificado tradicional e com a estrutura verde. Também é possível apostar na salvaguarda e valorização do núcleo antigo de Caneças e na renovação do seu espaço público. Devemos criar condições para fomentar os usos e atividades de turismo em espaço rural na área de potencial património natural e paisagístico, através de uma Zona de Especial Interesse Turístico. Outro dos objetivos é criar condições para afastar o tráfego do núcleo antigo, facilitando a acalmia, requalificação e humanização do núcleo antigo e do seu espaço público. É também necessário promover a qualificação e dinamização do tecido comercial local, tratando e gerindo as transformações no espaço edificado e intervindo no espaço público.

148 5.3. Intenção da Estratégia

De seguida, iremos apresentar a intenção da estratégia, fundamentada no diagnóstico do território, elaborada a partir das análises e levantamentos realizados no local de estudo em Caneças.

O Programa Rede Social (criado pela Resolução do Conselho de Ministros 197/97 de 18 de Novembro), contextualizava uma nova geração de políticas sociais ativas, com base na mobilização e responsibilização do individuo, da comunidade e do Estado. Este Programa articula diferentes formas de entreajuda, entre as várias entidades com e sem fins lucrativos, visiona os organismos públicos a trabalharem no domínio da ação social, articulando atuações, com vista a erradicar problemas de pobreza, exclusão social, promovendo assim um desenvolvimento social. O intuito deste trabalho é ajudar a promover o envolvimento de diversas entidades locais, no sentido de garantir várias respostas sociais, fomentando sinergias que promovam um planeamento participativo e o envolvimento de todos.

Fig. 107 – Vista sobre Caneças

149 Neste sentido, perspetivou-se uma abordagem social e espacial baseada num trabalho planificado, tendo em conta o comportamento da população.

Esta parte do trabalho surge após o estudo e análise de conceitos como áreas periféricas, vazios urbanos, espaço público e estratégias de intervenção no espaço urbano. Exemplos realizados com base nestas estratégias serviram como base para o processo que irá ser apresentado de seguida.

Este capítulo é o somatório de todo o trabalho realizado, tanto a nível de investigação conceptual como de análise do território de Caneças.

Primeiro foi realizado o desenho da investigação, com o objetivo de tentar perceber como o espaço público poderia ser moldado para melhorar a vida da comunidade, tendo em conta as suas necessidades.

O caso de estudo foi escolhido com base na existência de um núcleo antigo em Caneças que nunca foi alterado, onde as funções foram adicionadas sem nenhuma regra, não foram adaptadas ao local, resultando num espaço caótico.

É importante compreender a possibilidade de implementar uma estratégia que reúna todos os conceitos analisados de forma a colocá-los em prática, percebendo que diretrizes devem ser seguidas e os prós e os contras de uma possível intervenção.

Com as estratégias escolhidas pretende-se reorganizar o espaço público, revitalizar espaços que não são utilizados por não serem aprazíveis à população, reorganizar os circuitos rodoviários, dar outro local mais seguro para as paragens de transportes públicos, desta forma contribuindo para ajudar a colmatar as necessidades sentidas pela população e dando uma nova imagem ao território. O objetivo deste trabalho é sugerir ideias para a criação de um novo tipo de espaço público, em que vazios urbanos, como espaços degradados e desadequados possam fazer parte de um todo, possam fazer parte da cidade, tornando-os apetecíveis aos cidadãos. É possível mudar o espaço público e desencadear novas energias para esta mudança.

Neste sentido, os objetivos que esta estratégia pretende atingir são: - Criar um diálogo entre as estratégias metropolitanas e o desenho local;

- Estimular a densificação dos espaços abandonados, através da mistura funcional; - Gerar dinâmicas distintas;

150 - A mistura funcional deve ser criteriosa e estudada para cada situação;

- Criar uma maior interação e sinergia entre as atividades, através do desenho do espaço público com capacidade de atração;

- Encontrar alternativas à circulação automóvel; - Criar percursos pedonais;

É visível que a intensificação do território criou determinados eixos metropolitanos, onde depois a ausência de planeamento deu origem à segregação e à falta de comunicação com a envolvente. É necessário criar uma reestruturação funcional e espacial, bem como a criar relações sinérgicas em articulação com os restantes municípios.

Esta fase acaba por ser o culminar de um trabalho de análise e interpretação dos dados quantitativos recolhidos junto de diversas fontes, o que permitiu a contextualização dos problemas locais e estabelecer prioridades.

Para facilitar a compreensão das estratégias determinadas resolvemos ilustrá-las esquematicamente. Visto que, de acordo, com as análises realizadas foi notório a quantidade de tráfego existente, assim constata-se que a construção das vias secundárias propostas pela Câmara Municipal de Odivelas no PDM são de extrema necessidade. Sendo o número de autocarros que passa e que faz paragem na localidade elevado, e grande a quantidade de paragens existentes nos sítios mais inóspitos, torna-se pertinente pensar noutro tipo de planeamento rodoviário, como seja um parque intermodal, em que a população possa deixar o seu automóvel e ir de transportes públicos para o seu local de trabalho, contribuindo assim para a redução de automóveis dentro das cidades de Lisboa e de Odivelas, bem como melhorar as condições das paragens, trazendo mais segurança à população.

Por termos constatado a necessidade de espaços de lazer e de recreio na região, podiam alguns vazios urbanos contribuir para esta mudança, desta forma os vazios deixavam de estar ao abandono e passavam a ser parte da localidade, podendo contribuir como espaços lúdicos para a população, como sejam jardins, parques de manutenção, parques infantis, entre outros. A freguesia deveria reunir sinergias, criando reuniões com os cidadãos de modo a perceber a necessidade e vontade da população. Podia ser utilizada a Rota da água para fomentar percursos pedonais que levassem à passagem pelas fontes existentes na localidade.

O edificado deveria ser reabilitado para que certos vazios urbanos deixassem de existir, permitindo uma continuidade, melhorando a zona e a sua paisagem,

151 tornando o espaço público num momento mais aprazível à vista, o que contribuiria para a melhoria da vida das pessoas.

Desta forma o plano de intenções tem o intuito de criar condições para anular a fragmentação urbana em Caneças; criar oportunidades para um melhor crescimento e desenvolvimento urbano; juntar sinergias para enaltecer a identidade do local, através da requalificação do espaço público, valorizando a imagem urbana.

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Fig. 108 – Plano de Intenções (esc.: 1:5000)

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Fig. 109 – Plano de Intenções (esc.: 1:5000)

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6.CONCLUSÕES

Nesta investigação pretendeu-se compreender conceitos relacionados com os temas abordados, como sejam o desenvolvimento da cidade e das áreas periféricas, os processos que conduziram à fragmentação da cidade e ao nascimento de vazios urbanos no seu seio, a aplicabilidade da reabilitação e da revitalização do espaço público usando estratégias que colmatassem os problemas identificados.

O caso de estudo Caneças permitiu aprofundar o conhecimento teórico num cenário sedento de ideias e propostas contributivas para a revitalização desta localidade.

Resumidamente, o crescimento das áreas periféricas resulta do êxodo rural, da vinda de ex-combatentes e ex-colonos para a cidade de Lisboa.

Existindo a necessidade de colmatar a procura de tão elevado número de habitações, desenvolve-se um rápido crescimento urbano sem planeamento, face à ausência duma resposta eficaz por parte da Administração Pública.

Surgem os territórios dormitórios, sem vida durante o dia, dado a maioria da população trabalhar em Lisboa.

Atualmente, constata-se uma preocupação em requalificar estas áreas periféricas, pensando estes territórios como parte integrante da cidade.

É de grande importância serem debatidas as estratégias de intervenção no espaço urbano, inserindo-as no planeamento de propostas e processos participativos que reflitam as necessidades dos residentes.

Mudando os vazios urbanos existentes no território, com o recurso a estratégias de urbanismo tático e de acupuntura urbana, através da realização de intervenções temporárias, de modo a permitirem experimentações, ou de intervenções de pequena escala, são geradas novas energias e funções nestes espaços.

No caso de estudo na localidade de Caneças foram aplicadas estas ideias e apresentados alguns exemplos reais deste tipo de estratégias, onde conseguimos perceber a energia que trazem às áreas intervencionadas.

O planeamento urbano é uma ferramenta muito importante para o desenvolvimento da cidade. É importante que a cidade possa ser multifuncional, que contenha uma variedade funcional, para poder corresponder às necessidades

155 da população, e os vazios urbanos devem ser preenchidos, para garantir uma continuidade da cidade.

Estas e outras questões foram desenvolvidas durante o processo de investigação do caso de estudo em Caneças. Foi possível compreender, durante as análises realizadas, as características do local, perceber as fraquezas e as oportunidades, ao nível de revitalização do espaço público.

Desde o primeiro contato com o local e com as pessoas, foi notória a recetividade em relação a estas matérias. Através dos estudos e análises realizados ao local, ficou claro que o espaço público não estava a conseguir corresponder às necessidades da população.

Existiam espaços amplos, como a área do coreto junto à igreja, que não são frequentados pela população. As pessoas preferem conviver em áreas muito mais