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Diagnóstico do território de Caneças

NO ESPAÇO URBANO

4. CASO DE ESTUDO: CANEÇAS, ODIVELAS

4.2. Diagnóstico do território de Caneças

Na análise do território, apoiada pela delimitação da área (Fig.74) através de métodos e ferramentas específicas, foram utilizados os Censos tanto a nível da população como de edificado, foi feita uma caracterização dos diferentes espaços para entender a fisiografia do território. Por outro lado, foram realizadas várias visitas ao local, desenvolvendo a observação in loco, gerando análises que possibilitaram chegar a determinadas conclusões.

117 A geografia de Caneças é constituída por um relevo heterogéneo, com declives distribuídos de uma forma desigual por toda a vila. A altitude média na área de Caneças situa-se próximo dos 160m (Fig.75).

Fig. 75 – Carta de altitudes

118 Atendendo à figura 76, os rios e ribeiras expõem-se de uma forma bastante encaixada e as vertentes dominantes apresentam pendentes que, geralmente, têm inclinações superiores a 25%.

Fig. 76 – Rede Hidrográfica de Caneças

119 Considerando que o clima e o relevo condicionam as atividades humanas, as áreas com declives menos acentuados reúnem condições mais favoráveis à permanência das populações (Fig.77).

Fig. 77 – Carta de declives de Caneças

120 Caneças representa 18% dos edifícios clássicos do município de Odivelas. Em relação ao número de fogos/edifício, a freguesia de Caneças registou um aumento de 1.8 para 1.9.

Como é possível verificar no gráfico, Caneças é um local principalmente residencial, com uma percentagem superior de edifícios exclusivamente residenciais em comparação com o registado no restante município. Para este facto também contribui o facto de existir pouco comércio e os serviços disponíveis serem de números reduzido. A própria tipologia do edificado é um fator adicional para a ocorrência desta realidade.

O crescimento desmesurado ocorrido nas últimas décadas foi fragmentando, quer ao nível urbanístico, quer ao nível social, em todo o território correspondente ao Concelho de Odivelas. Em consequência, surgem disparidades ao nível das freguesias no que diz respeito a população e à habitação.

Fig. 78 – Gráfico de Edifícios Clássicos por Freguesia (%)

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Fig. 79 –Gráfico de Edifícios Construídos por Época (%)

Fonte: Censos, 2011

Fig. 80 – Gráfico de Número de Pisos por Edifício (%)

122 A partir de 1930, surgem as primeiras carreiras de camionagem de ligação a Lisboa, o que leva ao surgimento de novas aglomerações urbanas.Durante a década de 70, a terciarização invade Odivelas, o que faz acentuar o carácter de dormitório, e surgem também mais pessoas juntos aos eixos de penetração com Lisboa. Na década de 80, o crescimento populacional abranda.

A grande maioria do edificado em Caneças possui entre 1 ou 2 pisos, facto motivado pela história do local, visto ser um território que se desenvolveu ao longo da estrada nacional e com o aparecimento de edifícios unifamiliares. Esta tendência continuou até aos anos 60, quando edifícios com 3 e 4 pisos começaram a ser construídos. Até aos dias de hoje, verificamos que continua diminuta a construção em altura em Caneças.

Localidade Clássicas Famílias Alojamentos Edifícios

% Caneças 25,60 27,98 24,17 Famões 28,49 36,97 45,32 Odivelas 23,01 22,66 6,76 Olival Basto 7,76 7,34 -0,30 Pontinha 2,93 9,97 5,39

Póvoa Sto. Adrião 3,13 4,52 10,48

Ramada 33,55 20,47 15,33

Concelho Odivelas

18,20 18,79 15,79

Tabela 1 – Tabela com a Taxa de variação de famílias clássicas, alojamentos e edifícios por localidade 2001-2011 (%)

Fonte: Censos 2001 e 2011

A dinâmica habitacional concelhia caracteriza-se no último período intercensitário por um crescimento bastante significativo: 18,79% correspondente à dinâmica de crescimento dos alojamentos familiar, de 18,20% de famílias e 15,79% relativamente ao número de edifícios.

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Localidade Idade Média dos Edifícios

Caneças 30,83

Famões 19,65

Odivelas 35,81

Olival Basto 42,07

Pontinha 35,55

Póvoa Sto. Adrião 34,41

Ramada 28,18

Concelho Odivelas 31,19

Tabela 2 – Tabela de Idade média dos edifícios por localidade

Fonte: Censos, 2011

Os edifícios concelhios apresentam uma idade média de 31,19 anos sendo que Caneças apresenta um valor um pouco mais baixo, com 30,83 anos.

Em 2011, foram recenseados na região de Caneças 5543 alojamentos vagos, representando 10.7% do parque habitacional da região. Esta proporção é semelhante à observada a nível municipal e nacional. Na última década, observou-

Fig. 81 – Gráfico de Número de Alojamentos Vagos (%)

124 se, num grande número de municípios, um reforço da ocorrência de alojamentos vagos.

O diagnóstico social que irá ser apresentado de seguida constitui uma primeira visão de âmbito descritivo sobre a realidade do município de Odivelas e, mais concretamente, de Caneças. Esta análise tem como finalidade perceber os problemas sociais existentes, a sua relação de causalidade e principais tendências. Ao mesmo tempo, tenta-se perceber quais os recursos e meios existentes. O crescimento populacional da freguesia teve a sua maior expressão nas décadas de 1970 e 1980. Com o pós-25 de Abril, surgiram novas políticas de habitação que vieram facilitar o aparecimento de novas construções, procuradas pelos regressados combatentes da guerra do Ultramar e pelos retornados das ex- colónias portuguesas.

Desde o final dos anos 1990, a par com o crescimento populacional, também a construção de habitações tendeu a estagnar. No concelho de Odivelas, registou-se, nas duas últimas décadas, um ligeiro aumento populacional. Atualmente, o município regista cerca de 144.549 habitantes, representando cerca de 7% dos residentes da área da Grande Lisboa.

Caneças pertence ao grupo das freguesias com menor densidade populacional no concelho, com pouco mais de 2.000 habitantes por quilómetro quadrado (ano de

Fig. 82 – Gráfico da Evolução da População do Município de Odivelas e da localidade de Caneças

125 2011), apesar de ser uma das freguesias em que se verificam os valores mais elevados de dimensão média das famílias, com 2,7.

Uma das freguesias que apresenta uma evolução positiva superior na década 1991- 2001 é Caneças (15,8%). Uma leitura da população por grupos etários permite confirmar uma tendência de envelhecimento da população residente em Caneças, orientação absolutamente consentânea com a verificada a nível municipal e nacional. Conforme se pode observar, atualmente reside em Caneças a maior percentagem de idosos (10.6%) do concelho de Odivelas. Apesar da classe etária dos 0-13 anos apresentar um ligeiro crescimento, esse crescimento é acompanhado por uma ligeira estagnação ou até decréscimo dos jovens. Uma ilação que podemos tirar destes dados é que o investimento nacional ou local em políticas de promoção de natalidade não está a ser eficaz.

Fig. 83 – Gráfico de Indivíduos Residentes por Estrutura Etária do Município de Odivelas e da localidade de Caneças (%)

126 Neste município, encontramos uma pirâmide etária idosa ou decrescente, característica de países desenvolvidos. A distribuição da população residente em Caneças por género revela um equilíbrio entre homens e mulheres, ainda que exista uma ligeira superioridade percentual da população feminina (52%).

A população residente no município de Odivelas caracteriza-se por um baixo grau de qualificações académicas. Mais de metade da população residente em Caneças (66%) só possui habilitações até ao 3º ciclo. A par com este facto, a restante

Fig. 84 – Gráfico da Pirâmide Etária de Caneças (%)

Fonte: Censos, 2011

Fig. 85 – Gráfico do Nível de Instrução em Caneças (%)

127 população apresenta ainda os níveis de escolaridade mais baixos do concelho e uma elevada taxa de analfabetismo.

Relativamente à condição perante o trabalho, mais de metade da população residente no concelho de Odivelas é ativa (64.1%), assim como em Caneças (62.7%). O concelho de Odivelas está inserido na região da Grande Lisboa, área que apresenta uma das mais elevadas taxas de atividade do país. Os índices de dependência, ao avaliar o peso dos grupos economicamente inativos, permite constatar a pressão que estes exercem nas camadas ativas da população. Não só ao nível do concelho, mas também de Caneças, verifica-se ainda um aumento da dependência dos grupos inativos, mais expressivo no grupo dos idosos. No que respeita ao desemprego, assistiu-se, na última década, a um aumento abrupto do número de desempregados.

Fig. 86 – Gráfico de Indivíduos Residentes por Ocupação em Caneças (%)

128 Em termos de distribuição da população empregada por sectores de atividade económica, Caneças apresenta um evidente predomínio do sector terciário, representando 80% do total, tendo cerca de 19% da população empregada no sector secundário e um sector primário praticamente inexistente, com um valor residual de 0.3%. Caneças apresenta uma situação semelhante à registada tanto em Odivelas como em Lisboa.

Fig. 87 – Gráfico do tipo de Emprego em Caneças (%)

129 Em termos de indivíduos residentes e que frequentam estabelecimentos de ensino no município, Caneças possuí pouco mais de metade dos estudantes a estudar dentro do município, cerca de 50.8%.

A nível de ensino superior, não existem instituições públicas no município (o que leva os estudantes a recorrer principalmente ao município de Lisboa) e existe apenas uma instituição de ensino superior privada, na área das ciências educativas. A nível de ensino profissional, o município oferece algumas opções, mas não toda a variedade possível.

Fig. 88 – Gráfico de Indivíduos Residentes que Estuda no Município (%)

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Fig. 89 – Gráfico de Indivíduos Residentes que Trabalham no Município (%)

Fonte: Censos, 2011

Lisboa é uma cidade com a capacidade de gerar muitos postos de trabalho, muito mais do que o município de Odivelas. Por Odivelas estar num local de charneira com Lisboa, a maioria da população ativa residente desloca-se principalmente para Lisboa para trabalhar. A população residente em Caneças que trabalha no próprio município (40.1%) está maioritariamente empregada no sector terciário, assim como residentes do município de Odivelas.

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Fig. 90 – Levantamento funcional de Caneças

Fonte: Da autora, 2019

Os serviços disponíveis à população de Caneças são escassos (Fig. 90), bem como o comércio local, que é diminuto e disperso. Para colmatar a necessidade de consumo existe um supermercado. Podemos dizer que, a nível de ensino, o território está bem servido, pois existem escolas desde o 1º ciclo até ao secundário. A nível cultural, já não podemos efetuar a mesma afirmação, pois não existe qualquer oferta. Apesar da paisagem verdejante, o espaço dedicado a recreio e a lazer é quase nulo. Daí a emergência em revitalizar o espaço público.

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Fig. 91 – Carta da Hierarquia Viária de Caneças

Fonte: PDM de Odivelas

Ao nível viário, verificamos a presença nítida da CREL (a lilás) que, até pelo ruído se faz notar, apesar de Caneças não ter nenhum ponto de entrada para esta via, poderia ser um bom mote para realizar uma ligação de modo a atrair mais investidores para esta localidade, permitindo assim uma injeção de energia da vida urbana.

A via distribuidora principal, como iremos observar de seguida, acumula muito tráfego, pois não foi desenhada para este tipo de tráfego, conforme se constata pelas suas dimensões. À procura de solucionar este problema, a própria Câmara Municipal de Odivelas já prevê no PDM duas vias propostas para construção (a vermelho) para ajudar a distribuir o trânsito por outros locais (Fig.91).

133 4.3. Planos, programas e projetos

A publicação do PDM (Aviso n.º 10014/2015 - Diário da República, 2.ª Série, n.º 171 de 2 de setembro de 2015) e da Reserva Ecológica Nacional (Portaria nº 7/2016, no Diário da República, 1ª. Série nº 19 de 28 de janeiro de 2016) vieram facultar ao Município de Odivelas instrumentos de gestão do território.

O PDM de Odivelas, na sua planta de Ordenamento - Usos do Solo, delimita para o município 18 Unidades Operativas de Planeamento e Gestão, onde se encontram definidos os objetivos gerais, objetivos programáticos, bem como as condições de execução e compensação para cada uma das delimitações. Assim, e de acordo com o artigo 66º Secção I – Capítulo VIII do regulamento, estas áreas ficam condicionadas ao prévio estudo integrado de planeamento e gestão urbanísticos. O território da União das Freguesias da Ramada e de Caneças absorve no seu território cerca de 9 Unidades Operativas de Planeamento e Gestão, sendo que a mais representativa em termos territoriais é a UOPG10 (Vila de Caneças).17

Foi criada uma Unidade de Execução (UE) do Núcleo Antigo de Caneças, de acordo e para os efeitos do previsto no n.º 2 do artigo n.º 147 do Decreto-Lei N.º 80/2015, de 14/maio, com a atual redação, o Regime Jurídico de Instrumentos de Gestão Territorial (RJIGT). A UE proposta integra a área da UOPG 10 – Vila de Caneças, estabelecida no Plano Diretor Municipal de Odivelas, aprovado na Assembleia Municipal de Odivelas, na sessão de 29/junho/2015 e publicado em Diário da República N.º 171, 2.ª Série, de 02/Setembro/2015. Esta delimitação consigna, assim, um conjunto de projetos e ações que determinarão a valorização da identidade histórica do concelho através da salvaguarda, promoção, valorização e reabilitação de um dos mais emblemáticos Núcleos Antigos municipais, dotando tanto a Vila de Caneças como o Município de mais uma área de carácter estratégico e estruturante para o desenvolvimento e valorização turística de Odivelas.18 Assim o Programa de Execução e Financiamento caracteriza esta UOPG 10 como um espaço urbano, onde se identificam alguns vazios urbanos de dimensão considerável, que se assumem como futuras áreas de expansão do aglomerado que importa estruturar.

17 http://www.cm-odivelas.pt/anexos/areas_intervencao/pdm/unidades_execucao/nucleo_antigo_canecas 18 http://www.cm-odivelas.pt/anexos/areas_intervencao/pdm/unidades_execucao/nucleo_antigo_canecas

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5.

PROPOSTA ESTRATÉGICA DE