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Enquadramento e evolução de Caneças

NO ESPAÇO URBANO

4. CASO DE ESTUDO: CANEÇAS, ODIVELAS

4.1. Enquadramento e evolução de Caneças

A vila de Caneças tem 5,85 km2 de área e apresentava uma população de 12 324 habitantes, em 2011 (INE, 2011), resultando numa densidade populacional de 2 106,7 habitantes/km2.

No que diz respeito à evolução histórica e à presença humana no território de Odivelas, existem vestígios com cerca de 5000 anos, evidenciando inclusive a presença de romanos e árabes, confirmando o território como uma área fértil e agradável à vivência do Homem.

Oprimeiro impulso ao desenvolvimento da região parece ter sido dado pelo Rei D. Dinis, no século XIII, ao ordenar a construção de um Mosteiro em Odivelas. Este local de culto atraiu para a região o interesse de reis, príncipes e artistas. Também a realização de uma feira franca na zona, onde se comercializavam na sua maioria produtos ligados à agricultura e ao gado, serviu para atrair o povo dos arredores bem como os fidalgos da corte de D. Dinis.9

A primeira referência a Caneças, especificamente, surge em finais do século XVIII, no reinado de D. José I, relativamente a uma feira lá realizada.

Em 1731, D. João V decretou o início da construção do Aqueduto das Águas Livres, com origem na Fonte das Águas Livres, perto de Carenque, que iria desaguar no depósito das Amoreiras, cuja Mãe d'Água foi terminada em 1834 (Fig.61).

107 O Aqueduto das Águas Livres (Fig.62) nunca foi totalmente eficaz porque o caudal de água era insuficiente para as necessidades da cidade. Não se sabe a data concreta da construção dos aquedutos de Caneças, mas situa-se por volta da segunda metade do século XVIII.

Um aqueduto é um sistema que tem como finalidade conduzir a água de um lugar para outro. O seu objetivo é o abastecimento de cidades e o fornecimento de água para a irrigação de plantações. O aqueduto pode ser à superfície ou subterrâneo. Normalmente, estas estruturas são edificadas sobre arcadas.

Fig. 61 – Planta Geral com o Património associado ao Aqueduto das Águas Livres e aos Aquedutos subsidiários

Fonte: Benali, 2014/2015

Fig. 62 – Aqueduto das Águas Livres

Fonte: http://munhodoalfobre.blogspot.com/2011/01/o-serial-killer- do-aqueduto-das-aguas.html (Consultado a 10 de Maio de 2019)

108 Entre o séc. XV e o séc. XVIII, começaram a existir preocupações com a inexistência de fornecimento de água à cidade de Lisboa. Estas preocupações surgem devido ao aumento da população elemento potenciador da propagação de doenças por falta de higiene e limpeza nas ruas. Os incêndios eram constantes. Por estas razões, começam a surgir as primeiras propostas para a construção do Aqueduto das Águas Livres (SILVA, 2016).

O Aqueduto das Águas Livres assume-se como uma obra de relevante interesse público e é construído entre 1731 e 1799, constituindo um vasto sistema de captação e transporte de água, por via gravítica. Mais tarde, em 1910, é classificado como Monumento Nacional, sendo considerado uma obra notável de engenharia hidráulica.

Em termos construtivos, a arcaria do vale de Alcântara tem uma extensão de novecentos e quarenta e um metros e é composta por trinta e cinco arcos, entre eles construído o maior arco em ogiva, em pedra, do mundo.

A água era capturada de nascentes integradas na bacia hidrográfica da serra de Sintra. De um modo geral, o seu trajeto coincidia com o percurso do antigo aqueduto romano.

O sistema do Aqueduto das Águas Livres é composto por um troço de catorze quilómetros (desde a Mãe de Água Velha, em Belas, até ao reservatório da Mãe de Água das Amoreiras, em Lisboa), vários troços secundários que transportavam a água de sessenta nascentes e cinco galerias para o abastecimento de trinta chafarizes na capital.10

Este sistema atingia cerca de cinquenta e oito quilómetros de extensão, dentro e fora de Lisboa. Em 1960, as suas águas deixaram de ser aproveitadas para consumo humano.

Ao longo do tempo, tornou-se notório que esta infraestrutura foi fundamental para o desenvolvimento da cidade, pois, para além de resolver um problema de escassez de água, mudou a cidade, pois reorganizou-a, gerou novos espaços públicos, reformulou outros espaços existentes e, ao mesmo tempo, potencializou o desenvolvimento e o crescimento da cidade de Lisboa (SILVA, 2016).

Simultaneamente o Aqueduto das Águas Livres foi transformando a paisagem envolvente ao longo da sua extensão. Deu origem ao desenvolvimento de núcleos

10 http://www.epal.pt/EPAL/menu/museu-da-%C3%A1gua/exposi%C3%A7%C3%A3o-permanente-patrim%C3%B3nio- associado/aqueduto-das-%C3%A1guas-livres (Consultado a 30 de Janeiro de 2019)

109 urbanos e de quintas na periferia da cidade, por permitir melhorar as atividades à volta da agricultura com a existência de água (SILVA, 2016).

Caneças é um bom exemplo deste fenómeno. Inicialmente, por volta de 1719, a população instala-se naquele lugar devido à abundância de nascentes. A área é ocupada por quintas, onde o meio de subsistência era a agricultura. Pouco depois, desenvolve-se o comércio de água, que era transportada até Lisboa através de carroças.

Com a construção do Aqueduto das Águas Livres, as águas das nascentes de Caneças eram conduzidas até à Mãe de Água Nova, em Carenque. Esta nova infraestrutura motivou o aparecimento de fontes, o que trouxe novas vivências e oportunidades de trabalho que não existiam até à data em Caneças. O comércio de bens alimentares, os aguadeiros e as lavadeiras tornam-se na imagem de Caneças nesta época, existindo assim um forte crescimento da população nesta época. Nos terrenos férteis de Odivelas multiplicavam-se as quintas, na Pontinha (na Paiã chegou a haver um cais para escoar os víveres para Lisboa), na Póvoa de Santo Adrião e em Caneças.

O terramoto de 1755 causou grandes estragos na região, mas levou também a que muitos lisboetas se viessem fixar na zona, considerada como possuidora de ares mais saudáveis.

Segundo as Memórias Paroquiais, redigidas a 16 de abril de 1758, o dito Lugar de Odivelas situava-se no termo de Lisboa e de acordo com a informação do Cura Joaquim Lopes Cardozo, existiam nesta freguesia muitos casais e várias quintas. O mesmo documento dá-nos conta ainda de outras descrições sobre o território, nomeadamente orográficas, indicando o percurso tomado pelas águas do rio, a localização de moinhos, os produtos agrícolas mais recolhidos, entre outras referências.11

A povoação de Caneças existe desde 1719, tendo sido criada a freguesia em 1915 e, posteriormente, elevada a vila em 1991 (Fig.63). Em 1998, por divisão administrativa do concelho de Loures, passa a pertencer ao novo concelho de Odivelas, estando situada a norte deste município. A freguesia de Caneças é delimitada pelas freguesias de Loures, Ramada, Famões, Casal de Cambra e Almargem do Bispo. Em 2013, por força da Reforma Administrativa, esta freguesia foi agregada à da Ramada, passando a designar-se por União das Freguesias da Ramada e de Caneças.

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Fig. 63 – Caneças (1950)

Fonte: https://www.postais-antigos.com/odivelas-largo-do-chafariz-canecas.html (Consultado a 5 de Abril de 2019)

A história de Caneças funde-se com a da cidade de Lisboa. Lisboa era o grande mercado para a água de Caneças, o que motivou o aparecimento das fontes que se encontram na freguesia, parte importante da sua história e arquitetura: Fontainhas, Castanheiros, Piçarras, Passarinhos, Castelo de Vide, Fonte Velha, Fonte Santa e Fonte do Ouro (Fig.64/65/66). Era nestas fontes que se fazia o comércio da água. Estas constituem um marco de uma época e de modos de vida caraterísticos da freguesia, e, em sentido mais lato, do concelho.12

12 http://www.cm-odivelas.pt/index.php/concelho/94-historia (Consultado a 30 de Janeiro de 2019) Fig. 64 – Fonte das Piçarras

Fonte:

https://canecas_odivelas.blogs.sapo.pt/9191.html (Consultado a 15 de Janeiro de 2019)

Fig. 65 – Fonte das Fontainhas

Fonte:

https://canecas_odivelas.blogs.sapo.pt/8349. html (Consultado a 15 de Janeiro de 2019)

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Fig. 68 – Lavadeiras de Odivelas

Fonte:

http://aofundodaminharua1.blogspot.com/2013/01/ lavadeiras-de-odivelas.html (Consultado a 5 de

Abril de 2019)

A venda da água de Caneças fazia-se através de carroças ou galeras, que transportavam para Lisboa e arredores a água em bilhas de barro, juntamente com as trouxas de roupa das lavadeiras e produtos hortícolas (Fig.67/68/69).

Fig. 67 – Enchimento das bilhas de barro onde era armazenada a água - Anos 60

Fonte:

http://aofundodaminharua1.blogspot.com/20 12/11/agua-de-canecas.html (Consultado a 5

de Abril de 2019)

Fig. 69 – Água de Caneças em Lisboa. A venda da água de Caneças fazia-se através de

carroças ou galeras

Fonte:http://restosdecoleccao.blogspot.com/ 2011/11/antigamente-19.html (Consultado a 5

de Abril de 2019)

Fig. 66 – Fonte dos Castanheiros, Caneças

Fonte:

http://aofundodaminharua1.blogspot.com/2012/ 09/fonte-dos-castanheiros-canecas.html

112 Em terras de Caneças exploravam-se nascentes cujas águas eram conduzidas até à Mãe de Água Nova, em Carenque e, daí, até Lisboa, pelo Aqueduto das Águas Livres, concluído em 1748. A noroeste da povoação, as mães de água indicam os locais de captação e as condutas mostram o caminho que a água percorria até ao seu destino. Por volta de 1910, antes da Primeira Guerra Mundial, Caneças não possuía estradas, mas já se vendia água. A água ia para Lisboa em cima de burros por caminhos acidentados. O auge da venda de água de Caneças atingiu-se por volta de 1928-1930.13

O poder político tenta responder a certas aspirações criando as freguesias da Pontinha (1984), de Olival Basto, da Ramada e de Famões (1989). A Póvoa de Santo Adrião passa a vila em 1986, Odivelas é elevada a cidade em 1990, a Pontinha sobe a vila (1991), o mesmo acontecendo ao Olival Basto, em 1997 (Fig.70). Neste mesmo ano, um grupo de cidadãos, defendendo um desenvolvimento próprio para a região, cria o «Movimento Odivelas a Concelho». No dia 19 de novembro de 1998, com o voto unânime dos Deputados de todas as forças políticas, a Assembleia da República votava, na especialidade, e em votação final global, o Projeto de Lei da Criação do Município de Odivelas. No dia 14 de dezembro de 1998, é publicado no Diário da República, a Lei n.º 84/98, da criação do Município de Odivelas (Fig.71) referindo o seu Artigo 1º: Através do presente

diploma é criado o Município de Odivelas, com sede na Cidade de Odivelas, que fica a pertencer ao Distrito de Lisboa.14

13 http://www.cm-odivelas.pt/index.php/concelho/94-historia (Consultado a 30 de Janeiro de 2019) 14 http://www.cm-odivelas.pt/index.php/concelho/94-historia (Consultado a 30 de Janeiro de 2019)

Fig. 60 – Cidade de Odivelas

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Em 20 de Janeiro de 1999, a Comissão Instaladora do Município de Odivelas é empossada pelo então Ministro do Equipamento, Planeamento e Administração do Território, Dr. João Cravinho. Depois de 3 anos de administração, a Comissão Instaladora cessa funções, e no seguimento das eleições autárquicas de dezembro de 2001, toma posse, no dia 4 de janeiro de 2002, a primeira Câmara Municipal de Odivelas.15

15 http://www.cm-odivelas.pt/index.php/concelho/94-historia (Consultado a 30 de Janeiro de 2019) Fig. 71 – Odivelas na Área Metropolitana de Lisboa

114 No dia 28 de janeiro de 2013, foi decretado em Diário da República, a Lei n.º 11- A/2013 – Reorganização Administrativa do Território das Freguesias – determinando que o Município de Odivelas contemple apenas quatro Uniões de Freguesia, com as seguintes denominações: Junta de Freguesia de Odivelas, União das Freguesias de Pontinha e Famões, União das Freguesias de Ramada e Caneças e União das Freguesias de Póvoa de Santo Adrião e Olival Basto (Fig.72).16

16 http://www.cm-odivelas.pt/anexos/areas_intervencao/pdm/1_1/Cronologia (Consultado a 30 de Janeiro de 2019) Fig. 72 – Freguesias de Odivelas

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Fig. 73 – Evolução de Caneças

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Fig. 74 – Delimitação da área de estudo

Fonte: https://www.google.com/maps/place/Cane%C3%A7as/@38.8141796,-

9.2297891,1656m/data=!3m1!1e3!4m5!3m4!1s0xd1ed2ee15a80e79:0x500ebbde4904700!8m2!3d38.8 140334!4d-9.2220318 (Consultado a 10 de Fevereiro)