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ANALISANDO AS ATRIBUIÇÕES SETORIAIS

5 DISCUSSÕES E PROPOSIÇÕES

5.2 ANALISANDO AS ATRIBUIÇÕES SETORIAIS

Neste item, o foco centrou-se nas estruturas gerenciais que dificultam as ações institucionais ou que apresentam algumas lacunas, sejam elas do ponto de vista legal, sejam do ponto de vista operacional. Assim, serão analisados dois organismos estratégicos no caminho da servidora e do servidor com deficiência: o INCLUIR e a Equipe Multiprofissional de Acessibilidade (EMA).

Começou-se pelo INCLUIR, que tem, sob sua responsabilidade, a articulação das ações de acessibilidade na UFRGS, envolvendo toda a comunidade universitária. É uma tarefa bastante ambiciosa do ponto de vista institucional e organizacional. No levantamento da infraestrutura à disposição do INCLUIR, foram apresentadas carências em termos de espaço físico, com ambientes separados ou “emprestados”, em que existia a necessidade de realizar o acompanhamento das pessoas atendidas ou de algum recurso, como gravação de áudio; e uma equipe técnica insuficiente, principalmente, pessoal técnico especializado, como pedagogos,

intérpretes de Libras, entre outros. Outra limitação colocada foi a funcional, com o INCLUIR sendo vinculado organicamente à PROGESP, mas que, no entendimento do Núcleo, o seu vínculo deveria ser com o Gabinete do Reitor, por se tratar de um núcleo que atua em uma política institucional que abrange toda a comunidade.

Ao discutir a atuação do INCLUIR na construção dos modelos apresentados no item 4.3 do caminho percorrido pelas servidoras e servidores com deficiência e as demandas levantadas no item 4.4, são percebidas algumas lacunas institucionais que deveriam ser supridas pela gestão, mas que não são contempladas atualmente. O INCLUIR assessora as ações de acessibilidade, atendendo a comunidade universitária “caso seja solicitado” e propõe caminhos. São citados vários exemplos, como a necessidade de alguma adaptação física, indicando a SUINFRA, alguma adaptação digital, indicando o CPD, ou alguma necessidade de tecnologia assistiva, podendo o próprio INCLUIR disponibilizar ou, se não possuir, a própria chefia pode indicar o que deve ser adquirido. Feita a assessoria, a partir deste momento, a responsabilidade fica por conta da chefia, não havendo uma fiscalização posterior quanto à efetividade das soluções apresentadas, a não ser que seja novamente acionado.

Nos levantamentos setoriais, o constatado foi que as questões que envolvem acessibilidade física direcionadas a SUINFRA eram atendidas por um setor específico que tratava das demandas de acessibilidade, mas que foi extinto em 2017. Atualmente, essas demandas vão para o Departamento de Planejamento da SUINFRA, onde são analisadas junto com as demais da instituição. Quanto às adaptações digitais, quem deve atender é o CPD. No entanto, atualmente, o CPD não dispõe de alguém especializado que possa analisar a demanda, com dificuldades na implementação de alguma melhoria que implique em alteração nos sistemas disponibilizados e gerenciados pelo Centro.

A forma encontrada pelo INCLUIR para atendimento das necessidades de acessibilidade na universidade, optando por atender as demandas solicitadas, ou seja, que chegam até o Núcleo, está relacionada ao colocado acima, da falta de pessoal que poderia propiciar uma atuação mais ativa, inclusive no sentido de fiscalização das normas e leis de acessibilidade. Também, o INCLUIR não dispõe de informações relativas ao contingente de pessoas com deficiência na universidade, uma lacuna que foi levantada em várias partes deste trabalho e que foi motivo de discussão no item 5.3. Para suprir a falta de informações, o Núcleo desenvolveu, junto ao CPD, um sistema de cadastro, por adesão, das pessoas com deficiência na comunidade universitária, mas ainda aguarda a aprovação final da administração superior da Universidade para que seja colocado à disposição pública.

Pela literatura apresentada no que diz respeito à implementação de uma cultura organizacional inclusiva, em especial, com Cox e Blakes (1991) e Pereira (2016), é estratégica a criação de uma estrutura que possa gerenciar as ações de acessibilidade dentro da organização e, em especial, quando essa cultura ainda não está consolidada. A reivindicação do INCLUIR, em estar vinculado diretamente ao Gabinete do Reitor para que possa ter mais autonomia e suas ações serem ampliadas, poderá não só ter maior efetividade, bem como poderá apresentar mais solidez institucional. Entretanto, como colocado no final do item 2.3.2, essa alteração organizacional deverá vir em conjunto a uma reorganização do Núcleo no sentido de reforço em sua infraestrutura, permitindo que o organismo possa cumprir com sua função de articuladora das ações de acessibilidade na universidade, sob pena de se tornar um mero formalismo burocrático.

Portanto, no sentido de propor uma discussão sobre uma reestruturação administrativa e entendendo o INCLUIR como um espaço de assessoria à comunidade universitária e de articulação entre os diferentes organismos institucionais, a proposição dois recomendou uma análise da vinculação funcional do INCLUIR.

Em relação à EMA, a discussão foi relativa ao seu escopo de atuação e acompanhamento junto às servidoras e aos servidores com deficiência. A EMA teve sua criação amparada no artigo 43, do Decreto nº 3.298/1999, com a finalidade, entre outras, de acompanhar o servidor ingressante por reserva de vagas durante o estágio probatório. Atualmente, a EMA só acompanha os servidores técnico-administrativos; os servidores docentes com deficiência, em sua totalidade, surdos, são atendidos no departamento em que prestaram o concurso, que indica um tutor para tal. Existem duas questões que se apresentam nessa falta de atendimento, por parte da EMA, aos servidores docentes com deficiência: a primeira é que o Decreto especifica atendimentos aos servidores42, não fazendo a distinção de

categoria, mas os servidores docentes com deficiência não ingressaram por cotas, e sim, via acesso universal. As alegações de não atendimento por parte da EMA têm sua origem muito mais no que tange à falta de recursos humanos do que ao legalismo levantado acima. De qualquer forma, há uma distinção: o servidor técnico-administrativo é acompanhado, em seu estágio probatório, pela EMA, e o servidor docente pelo tutor, designado pelo Departamento.

O acompanhamento prestado pela EMA aos servidores técnico-administrativos foi bastante discutido nas entrevistas e a avaliação não foi positiva pelas servidoras e pelos

42 Reforçando o colocado anteriormente, foi publicado um novo decreto, o Decreto nº 9.508/2018, em que omite a obrigatoriedade de acompanhamento em Estágio Probatório por parte da EMA. A Universidade, no momento, posiciona-se em prosseguir com o acompanhamento realizado pela EMA (em 22/03/2019).

servidores com deficiência. Conforme foi colocado no item 4.4.3, as servidoras e os servidores com deficiência ressintiram-se desse acompanhamento, assim como desconheceram a quem deveriam recorrer caso tivessem alguma demanda a fazer. Segundo informações feitas pela equipe da EMA, um contato era realizado, muitas vezes, por telefone, antes da primeira avaliação do estágio probatório, para ver se existia alguma necessidade. Caso não houvesse a necessidade de intervenção, a EMA colocava-se à disposição do servidor caso necessitasse e não realizava um novo contato. Atualmente, a EMA não possui informações do andamento das avaliações realizadas pelo servidor durante o período de estágio probatório, se houve troca de chefia ou, até mesmo, se o servidor foi removido, a não ser que o próprio servidor informe. Em contraponto ao discutido, os docentes entrevistados mostraram-se satisfeitos com a possibilidade de contar com um tutor para acompanhá-los e apoiá-los nas questões funcionais. Nesse sentido, foi que a proposição três sugeriu a criação da tutoria para servidores técnico-administrativos com deficiência em estágio probatório e o pleno atendimento da EMA, sendo ele servidor técnico-administrativo ou servidor docente. Objetivando essa proposição, um projeto foi encaminhado à EDUFRGS para o estabelecimento da tutoria para servidores técnico-administrativos dentro do plano de capacitação, na linha de Aprendizagem em Serviço (Apêndice 5). Ressaltou-se que essa tutoria não supriria o importante papel de acompanhamento da EMA.

Outra questão foi sobre o papel crucial da EMA no momento da definição do local de trabalho, necessitando-se de um olhar atento às condições ambientais, espaciais e tecnológicas. Essa avaliação, atualmente, fica por conta da análise individual do membro da EMA que realiza o procedimento e contará muito com sua experiência e sua percepção. A EMA é uma equipe multiprofissional composta por membros de diferentes setores, com atividades diferenciadas e cujo exercício diário não está relacionado, necessariamente, com as competências exigidas para atuação na EMA. Para tornar essa análise mais padronizada, a proposição quatro sugeriu a confecção de um formulário de averiguação das condições de trabalho, que poderá utilizar, como modelo, o Index de Inclusão Organizacional proposto por Pereira (2016), que se colocou no Anexo 2.