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LEI BRASILEIRA DE INCLUSÃO: UM NOVO PATAMAR

2.1 LEGISLAÇÃO REFERENTE À INCLUSÃO

2.1.2 LEI BRASILEIRA DE INCLUSÃO: UM NOVO PATAMAR

Em 2015, houve um avanço significativo com a Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015 (BRASIL, 2016), no seu aspecto técnico e de incentivo à pesquisa em tecnologias inclusivas, reforçando o compromisso público com as questões de acessibilidade, como um ente fomentador e financiador de pesquisas, bem como de normatizador de processos e modelos no que tangem aos artefatos e procedimentos que envolvam a acessibilidade. Na apresentação do Estatuto (BRASIL, 2016), o senador Paulo Paim, autor da Lei Brasileira de Inclusão (LBI), colocou que a lei vinha consolidar as leis já existentes e que “cerca de 46 milhões de brasileiros serão beneficiados”.

Em mensagem encaminhada à presidenta Dilma Rousseff, o senador colocou que foram 15 anos de tramitação e 1.500 encontros realizados, contando “com ampla participação de entidades e do movimento de pessoas com deficiência.” (BRASIL, 2016, p.10). Para o senador Paulo Paim, “a deficiência não será mais vista como antes. O peso desta definição, agora, não recairá mais apenas sobre o corpo, mas também em toda a sociedade e na forma como o mundo é construído” (BRASIL, 2016, p.11).

Na abordagem dessa lei, foram destacados apenas os dispositivos legais relacionados ao tema da pesquisa por se tratar de uma lei com grande abrangência. Como colocou o senador Paulo Paim, essa lei veio não apenas consolidar, mas atualizar leis já existentes, transformando-se em paradigma legal na questão da inclusão no Brasil.

No artigo 2º, a Lei consolidou o conceito de pessoa com deficiência presente em nossa legislação, a partir do Decreto 6.946/2009, que ratificou a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência. Também discutiu, no artigo 3º, conceitos que versavam sobre acessibilidade, desenho universal, tecnologia assistiva ou ajuda técnica e barreiras e, no artigo 112, nas disposições finais, fez a revisão legal na Lei n° 10.098/2000.

O capítulo IV, Do Direito à Educação, da Lei nº 13.146 / 2015, legislou sobre o direito da pessoa com deficiência à educação em todos os níveis, versando desde o seu acesso, em processos seletivos inclusivos, sua permanência, grade curricular, pesquisas e serviços no atendimento - com medidas individualizadas ou coletivas - das necessidades das pessoas com deficiência. O artigo 28 explicitou, em seu caput, que cabe ao poder público: “assegurar, criar,

desenvolver, implementar, incentivar, acompanhar e avaliar”, explicitando, no item XVI, “acessibilidade para todos os estudantes, trabalhadores da educação e demais integrantes da comunidade escolar às edificações, aos ambientes e às atividades concernentes a todas as modalidades, etapas e níveis de ensino”.

A inserção do Direito ao Trabalho, no capítulo VI do Título II, Dos Direitos Fundamentais, ressaltou a importância desse direito na sociedade. São três sessões e cinco artigos que versaram sobre tal tema, em que foram tratados pontos como a habilitação e a reabilitação profissional, formação e capacitação, garantia de ambientes acessíveis e inclusivos. Na alínea V, do artigo 37, “a realização de avaliações periódicas” foi destacada, visando à colocação competitiva da pessoa com deficiência no trabalho e ao processo de seleção sem discriminação, respeitando-se as normas de acessibilidade legais vigentes, mesmo quando é terceirizado (artigo 38), como é o caso da UFRGS. Coelho coloca que,

Assim, o direito ao trabalho foi colocado na LBI em posição de destaque e superior importância, ao lado do direito à vida, à educação, à moradia, à saúde, por exemplo. E, na categoria de direito fundamental, submete-se ao princípio máximo da dignidade da pessoa humana, ressaltado também em nossa Constituição Federal, nas normas internacionais e no art. 10 da LBI já tratado aqui. (COELHO, 2016, p.92)

O Título III, da Lei nº 13.146/2015, dedicou quatro capítulos para tratar sobre acessibilidade: Disposições Gerais, Do Acesso à informação e à Comunicação, Da Tecnologia Assistiva e Do Direito à Participação na Vida Pública e Política, iniciando no artigo 53 e encerrando no artigo 76. No artigo 3º, foi apresentada a definição de vários conceitos que serão normatizados nesses capítulos, entre eles, de acessibilidade, desenho universal e Tecnologia Assistiva, atualizando leis anteriores, como o já analisado Decreto n° 5.296/04. Para Cambiaghi (2016), o artigo 54 foi um dos mais importantes para a aplicabilidade dessa Lei, pois “se a acessibilidade não for vinculada a documentos emitidos pelos órgãos públicos, aprovação de recursos financeiros e projetos de veículos é muito difícil obrigar e monitorar sua execução.” (CAMBIAGHI, 2016, p.168).

Dois pontos foram levantados por Cambiaghi (2016) e encontram eco em diversos autores, que foram relativos ao efetivo cumprimento da lei por duas razões: 1. a lei não detalhou, em diversos pontos, as sanções em caso de não cumprimento; 2. não houve clareza jurídica quanto às esferas de competência, visto tratar-se de uma lei federal, o que leva muitos estados e municípios a dificultarem sua aplicação. Em muitos casos, essas barreiras levam as pessoas lesadas recorrerem ao Ministério Público para que seu direito seja efetivado. Um

terceiro ponto a destacar, que é motivo de discriminação legal, são os detalhamentos: existem muitos para os organismos e espaços públicos e escassos para a esfera privada.

No tocante à acessibilidade de informação, mais especificamente, às informações eletrônicas, em sítios e recursos disponíveis, a Lei nº 13.146/2015 avançou em relação ao que vigia legalmente, estendendo a obrigatoriedade de seguir os padrões de acessibilidade também a sítios e serviços privados. Mas é fundamental reforçar que essa obrigação já estava vigorando para as organizações públicas desde 2004, com o Decreto 5.296/2004.

Um ponto criticado por Cambiaghi (2016), sobre as sanções penais, tem sua razão de ser quando a questão é relativa às pessoas jurídicas. Mas, no tocante às pessoas físicas, existe um ordenamento no Título II – Dos Crimes e das Infrações Administrativas onde as penas passíveis de punição foram definidas, caso não sejam cumpridos os dispositivos legais. Em relação ao agente público, houve um adendo ao artigo 11, da Lei 8.429/1992, no artigo 103 das disposições finais e transitórias, que elencou o que seja passível de enquadramento como ato de improbidade administrativa, “IX - deixar de cumprir a exigência de requisitos de acessibilidade previstos na legislação. (Incluído pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência)”.

O avanço contido na Lei n° 13.146/2015 foi realmente inegável do ponto de vista legal. Seus dispositivos e suas normatizações permitiram um novo patamar de relações de respeito e inclusão relativos a produtos, serviços e processos. Mas sua robustez legal não garantiu a efetiva implementação social. Como já foi colocado anteriormente e foi amplamente analisado na literatura, isso acontece porque as políticas de inclusão não são apenas de caráter legal, são de natureza cultural sobretudo, o que pressupõem uma consciência política e social que deve perpassar nas pessoas e, no que diz respeito aos espaços coletivos, pelas organizações sociais. Nesse sentido, é que se precisou discutir não só como se efetivaram as normativas legais, mas, também, como se estruturaram as relações interpessoais, que refletiram sua cultura organizacional, ao discutir acessibilidade em uma organização pública de ensino superior.