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3. Classificação das Ferramentas de Gestão do Conhecimento

3.4. Adoção de Ferramentas de Gestão do Conhecimento em Empresas Brasileiras

3.4.2. Andrade Gutierrez

setor privado. Fundada em 02 de setembro de 1948, a Andrade Gutierrez é uma das três maiores empresas de construção pesada do Brasil e líder em outros setores da economia, como concessões públicas e telecomunicações. A construtora, responsável por projetos como o metrô de São Paulo e Lisboa e uma hidrelétrica no Tocantins, mantém 80 escritórios em 18 países. De acordo com a cartilha interna da empresa, a AG (1999, p.1) constatou que um diferencial da maior importância é a sua experiência acumulada em execução de obras ao longo de seu meio século de atividades. A empresa percebeu que esta experiência, se bem aproveitada, pode representar ganhos em termos de produtividade e redução de custos, para a melhoria da competitividade.

Assim sendo, a AG (1999, p.1) implantou no início de 1999 o programa de Gestão do Conhecimento na Execução de Obras com o objetivo de aproveitar as melhores práticas, evitar a repetição de erros e concentrar-se em soluções que resultem em ganhos de eficácia e qualidade. Ao contrário do programa do SERPRO, que tem o foco na inovação e na geração de novos conhecimentos, o programa da AG concentra-se no compartilhamento do conhecimento já existente, procurando transformar o conhecimento tácito em explícito. Segundo AG (1999, p.1), um dos problemas da empresa era que muitas experiências importantes deixavam de ser aproveitadas convenientemente, porque eram de conhecimento restrito ou não eram difundidas de forma organizada. Percebe-se que a comunicação interna é um elemento fundamental para uma iniciativa de Gestão do Conhecimento.

Uma característica interessante do caso da AG é que a empresa se preocupou mais com a relevância do que com a plenitude do conhecimento. Ao invés de desenvolver um projeto faraônico de levantamento de todo o conhecimento da empresa, percebeu-se que o conhecimento sobre a execução de obras constituía um dos diferenciais competitivos, permitindo assim o estabelecimento de um foco preciso para o projeto.

Para desenvolver essa iniciativa, a AG optou pela aquisição do software norte- americano da empresa TelTech. Segundo a tipologia proposta neste trabalho, esse software apresenta as funcionalidades de um sistema de mapa de conhecimento e uma

ferramenta voltada para a intranet. A versão mais recente desse software, denominada Sopheon e datada de outubro de 2000, evoluiu para um pacote integrado de soluções de Gestão do Conhecimento. Percebe-se no projeto de Gestão do Conhecimento da AG um sentido de urgência maior do que o encontrado no SERPRO. Essa urgência foi um dos fatores que contribuiu para a AG adquirir uma solução pronta ao invés de partir para o desenvolvimento interno, como no caso do SERPRO. O desenvolvimento interno de ferramentas de Gestão do Conhecimento é usualmente não recomendado, visto trataram-se de softwares de alta complexidade.

Segundo a AG (1999, p.3), as informações sobre execução de obras são armazenadas em cinco bancos de dados acessíveis através da intranet. Os bancos de dados são os seguintes:

- Banco de Profissionais: contém biografias de profissionais internos e consultores externos. Cada biografia contém informações para contato, classificação do nível de experiência (elevado, secundário ou básico) em áreas do conhecimento, descrição da experiência profissional e outros componentes adicionais da biografia como participação em projetos, publicações, experiência no exterior e hobbies.

- Banco de Obras: relaciona informações gerais sobre as obras como características

do projeto, equipe e composição do custo unitário.

- Banco de Experiências Adquiridas: contém as experiências boas e ruins que

aconteceram com os profissionais durante a execução das obras. Funciona como uma interseção entre o banco de profissionais e o banco de obras. Cada obra deve descrever pelo menos 1 experiência significativa adquirida e cada profissional será incentivado a relatar pelo menos 1 experiência adquirida em sua biografia.

- Banco de Sub-Contratados: relaciona informações sobre áreas de atuação,

capacitação e avaliação de empresas que prestam serviços para a AG.

- Banco de Padrões: contém a descrição de padrões de sistemas, procedimentos

operacionais e normas desenvolvidos pelo Grupo de Qualidade Total (GQT). Este banco é particularmente interessante porque mostra que Qualidade Total e Gestão do Conhecimento não são disciplinas incompatíveis. Pelo contrário, a Gestão do Conhecimento pode obter muitos benefícios resultantes de uma implantação prévia

de Qualidade Total.

A AG (1999, p.4) relata que os bancos de dados são alimentados através de formulários específicos disponíveis na intranet AG. Os bancos de dados são monitorados por um quadro técnico composto por nove grupos de profissionais de reconhecida experiência. Esses grupos técnicos funcionam como “editores do conhecimento” pois são responsáveis pela avaliação contínua da qualidade e relevância do conteúdo dos bancos de dados. Os nove grupos estão divididos por área do conhecimento na execução de obras e são os seguintes: concreto, escavação subterrânea, escavação em rocha, engenharia jurídica, equipamentos, gerência de contratos, obras portuárias, pavimentação e terraplanagem.

De acordo com a AG (1999, p.5), as consultas no sistema podem ser feitas de três maneiras:

- Pesquisa pela lista de conhecimentos, que reúne aproximadamente 500 assuntos ou temas relacionados à atividade de construção;

- Pesquisa por palavra-chave;

- Busca direta nos cinco bancos de dados existentes.

A AG (1999, p.6) relata que o sistema de Gestão do Conhecimento está sendo utilizado atualmente por cerca de 700 profissionais, mas espera-se expandir o número de usuários. Um dos resultados já visíveis é a reprodução de conhecimentos em projetos com o mesmo perfil. Uma complexa estrutura para uma hidrelétrica em São Paulo foi reproduzida no Tocantins. A proposta da AG para o futuro é de criar novos bancos de dados sobre clientes e mercados potenciais, desenvolvendo sua inteligência competitiva. Um outro passo consiste em replicar o modelo de Gestão do Conhecimento para a unidade de concessões de obras públicas, um dos mais importantes segmentos onde a construtora atua.

A AG também optou por desenvolver uma política de recursos humanos que incentivasse o compartilhamento do conhecimento. Segundo a AG (1999, p.7), no início

de cada ano, irão ocorrer premiações das pessoas que melhor contribuírem para o sucesso do programa de Gestão do Conhecimento. A empresa espera assim alavancar a participação de seus colaboradores. Isto deixa claro que um projeto de Gestão de Conhecimento deve envolver não só aspectos de Tecnologia da Informação. A própria cartilha da AG conclui que possuir uma máquina de fazer exercícios não é igual a fazer exercícios. Em outros termos, de nada adianta dispor de um excelente recurso tecnológico, se as pessoas não estiverem dispostas a compartilhar soluções e disseminar o conhecimento.