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ANEXO A – PRODUÇÃO DE SEVERINO PARA ATIVIDADE “SE A MEMÓRIA NÃO ME FALHA”

UNIVERSIDADE FEDERAL DABAHIA – Faculdade de Educação EDC306 – Leitura e Produção de Textos

Docente- Lícia Brandão

Discente- Jarbas da Silva Marques

“Se a Memória Não me Falha” As Moiras e a Linha da História

Conta-se que, certa vez, num reino distante, distantíssimo!,o povo do lugar foi acometido do terrível feitiço de Apatia. Cada habitante daquele reino desenvolveu graus variados de desdém para com a vida, de tal modo que felicidade se tornou palavra que foi riscada do dicionário do povo. Ninguém se importava com nada ou com ninguém. Tanto fazia se chovia ou fazia sol...! Se raiava o dia, ou caía a noite. Como se diz por aí, “ninguém sabia o que comera ontem”. E porque não eram mais admiradas, as flores sucumbiam antes de abrirem seus botões em cor e aroma. E ,como não era mais contemplada, a lua minguou, e o céu cobriu-se de nuvens gris. Acontece que as três moiras que viviam no alto do Monte Olimpo, reclusas em seu covil, Atropos, Láquesis e Cloto Lícia,e que passavam a eternidade ocupadas com os infortúnios dos homens do lugar e o inexorável destino das suas vidas, fazendo uso da roda da fortuna, com a qual fiavam incansavelmente suposições de como o mundo mortal poderia vir se tornar, depararam-se com esse paradoxo, em ponto de cruz, na fluência de composição do tecido da vida. Como então desfiar o nó e refiar a manta que guardasse a felicidade geral?

Diante aquele ponto em cruz indecifrável que perturbava a estrutura do tecido, Atropos, aquela que trazia a tesoura nas mãos e era responsável por encerrar os destinos, propôs que se cortasse a linha naquele ponto em nó, embora soubessem que, feito isto, encerrar-se-ia definitivamente o destino daquele povo. Todo o reino sucumbiria ao esquecimento.

Cloto Lícia, aquela que segurava o fio da vida, compadecida com os homens, não compartilhava com aquela decisão e propôs às outras duas moiras que consultassem o Oráculo a fim de tentarem desvendar os caminhos da alma humana, antes de

tomarem uma decisão tão radical. O Oráculo talvez lhes esclarecesse como desatar as tramas de Apatia no inconsciente daquele povo.

E do verbo a ação se fez.

Chegando as moiras ao sítio onde o Oráculo repousava e indagarem uma possível solução sobre o que haveria de ser feito pelo povo daquelas distantíssimas terras,a divindade levantou-se, afastou com as mãos o dread que lhe escondia as feições, aproximou-se da fogueira que queimava no centro da caverna, apanhou e cutucou com um graveto o fornilho do narguilé que havia ao lado, segurou e levou a mangueira à boca. Pitou sete vezes. Sete vezes soprou contra o fogo a fumaça. E ,com uma voz grave, que assombrou a caverna, respondeu assim:

- Sou quem sou porque somos todos nós.

As irmãs entreolharam-se contrafeitas, sem entender o sentido daquelas palavras. Afinal estavam ali em busca de uma orientação! Mas o Oráculo não titubeou diante do descontentamento das moiras. Agachou-se, riscou a terra com a ponta dos dedos num transe xamânico e, observando a estrutura das combinações dos riscos, finalmente afirmou:

- O hoje só pode ser construído pela ressignificação do que foi dito ontem.

Devolveu os cachos do dread sobre a face e, após entrar em novo transe, silenciou. As moiras voltaram ao seu sinistro covil em polvorosa. Não entendiam como aquelas palavras poderiam vir ajudá-las a resolver o dilema da causa humana.

Acontece, caros ouvintes, que as palavras de um Oráculo não foram ditadas para serem entendidas pela razão pura e simples. Por isso mesmo, só três noites exatas depois, Clotos Lícia teve uma intuição que lhe ocorreu em sonho. Desceria ao reino dos homens e escolheria o primeiro dos campônios que passasse pela estrada, submetendo-o a uma prova específica. Se o escolhido passasse pela provação, o destino dos demais estaria assegurado, e o feitiço de Apatia, finalmente, seria quebrado, desfazendo-se os nós do destino. Caso contrário, a única solução visível seria aquela dada por Atropos: que o reino sucumbisse!...

As outras irmãs concordaram, e Cloto Lícia desceu à terra na forma de uma chuva de ouro, pelo primeiro raio de sol da manhã, justamente no centro do povoado. Logo de cara, encontrou um camponês muito formoso que passava distraído. A moira, que não pretendia disfarçar sua divindade, logo foi reconhecida pelos demais campônios que se reuniram à sua roda para ouvir as razões daquela entidade ter descido das terras do divino à humilde terra humana. Quando todos estavam finalmente reunidos, Cloto Lícia proclamou:

- Esse homem que vos aponto foi o primeiro que encontrei ao descer neste reino. Por isso, tornou-se o eleito que será submetido a uma provação que selará os destinos do

vosso reino. Para tal feito, me seguirá pela estrada, durante todo o dia de hoje, e deverá estar atento a tudo que lhe ocorrer durante este dia e a tudo que lhe for dito. Amanhã, me revelará minunciosamente os detalhes do que foi aprendido.

O pobre camponês ficou aturdido com a responsabilidade a ele conferida porque ultimamente tudo lhe parecia tão desmotivante... e a atenção lhe escapava facilmente. Mas sabia que não poderia escapar das determinações das divindades. E por isso saíram, mortal e imortal, pela estrada afora.

Na manhã seguinte, todo o povo apreensivo se reuniu na praça para assistir à sentença. O coração do camponês estava acelerado quando ele iniciou suas lembranças sob o olhar das moiras:

- Se a memória não me falha, encontramos na estrada a ninfa Laíssa que, após uma profusão de ideias, resolveu presentear Cloto Lícia com uma receita mágica e saborosa que acabara de realizar.

Dito isto, a trama que a moira Laquesis trazia enrolada nas mãos mudou seu matiz de cores.

- Se a memória não me falha, encontramos uma série de cartazes produzidos pelo povo, ao longo da estrada, então Cloto Lícia apontou-me a frase como um gênero textual. Logo em seguida, o Bruxo Bakhtin apresentou-se e nos disse que toda enunciação que assuma uma função sociocomunicativa será entendida como um gênero. Também considerou os aspectos variantes e os aspectos invariantes do gênero frase. Segundo ele, extensão, leitura rápida, linguagem verbal são aspectos invariantes do gênero frase. Sobretudo, ao depararmo-nos com um cartaz onde havia uma sigla muito especifica e fora do entendimento de todos, Cloto Lícia alertou sobre a característica indispensável da universalidade da frase enquanto gênero, para que não caíssemos nesse equívoco.

O camponês observou que a seda refez, adquiriu nova textura e passou a dançar no vento. Isso o estimulou continuar.

- Se a memória continua a me ajudar, ao passarmos pelo rio do tempo, descobrimos que toda palavra carrega temporalidade. Cloto Lícia alertou que todos os gêneros exigem de nós uma leitura situada no sentido de reorganizar o texto dentro do contexto de sua função sociocomunicativa.

O povo começou a vibrar, porque a urdidura do tecido que Laquesis trazia nas mãos afrouxou seus nós. E porque também perceberam que as nuvens que escondiam o azul do céu já não estavam mais ali. O camponês entusiasmou-se:

- Se a memória não me falha, antes de seguirmos adiante, o Bruxo Bakhtinnos alertou que o texto é a manifestação viva da linguagem e que substituir o formalismo gramatical é uma das formas de tornar o texto mais acessível.

Nesse instante, todos ali na praça foram invadidos por um perfume familiar, que há muito não experimentavam. Eram as rosas que haviam despertado para ouvir as reminiscências do camponês. E os nós na trama do tecido da vida afrouxaram-se mais ainda.

- Se a memória não me falha, enquanto continuávamos a jornada sobre o dia, Cloto Lícia alertou que os gêneros textuais não podem ser aprendidos apenas pela sua forma, como um produto estático, mas precisam ser compreendidos primeiramente pelo viés dinâmico da sua produção. Os gêneros estão relacionados e concorrem dentro de certa atividade sociocultural como formas relativamente estabilizadas. As moiras ficaram boquiabertas pois perceberam que aquele ponto em cruz paradoxal estava se desfazendo.

- Se a memória não me falha – continuou o camponês – chegamos, finalmente, quando a tarde caia, a uma vereda onde várias fadinhas realizavam um sarau de poesias para homenagear a moira, mas antes fomos convidados a modelar os nossos melhores desejos pra ofertar e compartilhar. Saímos às pressas das comemorações porque a noite aproximou-se não sem antes sermos convidados para, na semana seguinte, irmos ao castelo de Nildão colher pedrinhas preciosas.

Todo o povo vibrou. Os nós do tecido da vida finalmente se desfizeram completamente e as moiras puderam retomar o seu ofício. Os habitantes do reino ficaram tão felizes!..., mas tão felizes e agradecidos, que resolveram declarar aquele formoso camponês como seu legítimo rei. E, somente após todos terem aprendido que a vida exige atenção, puderam viver felizes para sempre.

Ah! Conta-se que aquele formoso camponês exerceu o melhor reinado da história daquele povo e ficou conhecido como Jarbas I, o Comunicador.

ANEXO B – PRODUÇÃO DE LILA PARA ATIVIDADE “VAI PARA O TRONO OU