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2.1 RABISCOS METODOLÓGICOS

2.1.1 Rabiscando duas linhas

Pensando na realização da minha pesquisa, estabeleci dois caminhos, ou duas linhas a serem seguidas. Estas linhas não são caminhos opostos, são caminhos que se cruzam, mas cada uma tem sua especificidade, uma linha me conduz à pesquisa teórica, e outra linha me conduz à empiria.

Na primeira linha que me conduz à pesquisa teórica, o primeiro movimento realizado foi a leitura de obras de Sylvia, considerando a diversidade de gêneros (poemas, narrativas em versos, contos, crônicas, gênero dramático, autobiografia) e a diversidade de temática (narrativas com personagens do universo feérico, que apresentam animais como protagonistas, com personagens que marcaram a história da humanidade, como Mozart, Santos Dumont, Vitalino e Hieronymus Bosch). O segundo movimento consistiu em criar motes a partir dos sentidos atribuídos ao conjunto de livros de Sylvia lidos previamente. Para a elaboração dos motes, foi pensada a relação entre a produção literária de Sylvia Orthof e as alegrias culturais escolares. Os motes resultantes desse processo foram: “Sylvia Orthof e o patrimônio cultural da humanidade” e “Sylvia Orthof e a política”.

Referentes ao primeiro mote, os livros selecionados foram: A Onça de Vitalino, Sonhando Santos Dummont e Cadê a peruca de Mozart?. Referentes ao segundo mote, os livros selecionados foram: Mudanças no galinheiro mudam as coisas por inteiro, Quem roubou meu futuro?, Papos de anjo, Ervilina e o Princês ou Deu a louca

em Ervilina e O Fantasma Travesti. Os livros que compõem os motes foram analisados, tendo como suporte a concepção polissêmica de leitura, conforme Orlandi (2001), já exposta na seção Ponto de tecer pesquisa deste texto. Tudo quanto foi produzido com as análises foi textualizado sob forma de ensaio.

A inspiração para textualizar os estudos do universo literário de Sylvia Orthof sob a forma de ensaios provém da tese A escrita do outro: anúncios de uma alegria possível, de autoria da Profa. Dra. Lícia Maria Freire Beltrão. Interessada pela escrita escolar e pelas possibilidades de renovação de sentidos no trato da escrita dos alunos por parte da escola, a pesquisadora textualiza seus estudos em quatro ensaios. Motivada pela leitura da tese, me alio ao argumento defendido pela autora para escolha do gênero: “Talvez como todo gênero textual, é também o ensaio uma produção híbrida, um texto “polifacetado”. A sua definição, por isso, não se faz de modo linear, requer um grau mais sofisticado de conceituação”. (BELTRÃO, 2006, p. 56) Da comunidade argumentativa evocada pela autora para tratar do gênero “ensaio”, me alio a Massaud Moisés (2004).

Ao tratar do gênero ensaio, Massaud Moisés (2004) confessa ser praticamente impossível delimitar de forma rigorosa os limites para escrita ensaística. Moisés faz referência a Montaigne como precursor da denominação “ensaios”, quando denominou em 1580 os seus textos de Essais. O filósofo Theodor W. Adorno, também teorizou sobre o gênero ensaio, em seu conhecido texto O ensaio como forma, ele levanta características do gênero e dos seus escritores. Sobre o assunto, ele expressa o que segue citado:

Escreve ensaisticamente quem compõe experimentando; quem vira e revira o seu objeto, quem o questiona e o apalpa, quem o prova e o submete à reflexão; quem o ataca de diversos lados e reúne no olhar de seu espírito aquilo que vê, pondo em palavras o que o objeto permite vislumbrar sobre as condições geradas pelo ato de escrever. (ADORNO, 2003, p. 35)

É com essa aspiração que, após ler a obra de Sylvia Orthof por diferentes ângulos, considerando o seu texto verbal, as ilustrações, as relações entre essas duas linguagens, questionando e refletindo sobre o que ali está posto, desejei, ao compor os meus ensaios, resgatar a polissemia que foi valorada no momento de estudo dos livros. Pretendi trazer para os ensaios o que foi principal para responder à minha pergunta de pesquisa, sem me esquecer dos momentos de riso, como nas situações de quiprocó em Uxa, ora fada, ora bruxa, como também aqueles em que as minhas

lágrimas rolaram, como na leitura dos seus textos autobiográficos em que a autora relembra o período da ditadura militar no Brasil. Sobre a presença da emoção no texto ensaístico, o pesquisador Jorge Larrosa, em seu metaensaio O ensaio e a escrita acadêmica, tece um diálogo com o já citado texto de Adorno e afirma que “o ensaísta quando lê, ri ou se enfada, se emociona ou pensa em outra coisa que a leitura lhe evoca. E seu ensaio, a sua escrita ensaística, não apaga riso nem o enfado, nem suas emoções e evocações” (LARROSA,2003).

Pensando na metodologia do ensaio, Larrosa (2003) o caracteriza como “metodologicamente inventivo”. Acerca da presença dos conceitos no meu texto, também dialogo com eles seguindo a “lógica” de um texto ensaístico, não os definindo e fechando-os a priori, mas precisando-os no texto à medida que os desdobro e estabeleço com eles relações (LARROSA, 2003). Entre os conceitos mobilizados, cito os já mencionados neste texto introdutório, são eles: o de Alegria, conforme Spinoza (2016), Alegria cultural escolar, de Georges Snyders (1993), o conceito de Afeto, que busco em Spinoza (2016) e Luciana di Leone (2014), e o de Ficção, conforme, Hans Vaihinger (2011).

Considerando que os meus ensaios refletiram sobre textos, verbais e imagéticos, me interessaram os conceitos de Eni Orlandi (2001) de texto empírico e texto teórico. Dada a natureza de estudo das obras, também foi muito caro o conceito de leitura polissêmica, da pesquisadora brasileira. Devido aos textos imagéticos estudados serem as ilustrações dos livros de literatura infantil, contribuiram com o debate os estudos de Flávia Ramos e Neiva Panozzo (2011), Graça Ramos (2011), Sophie Van der Linden (2011), Maria Nicolajeva e Carole Scott (2011), que tematizam a ilustração nos textos de literatura infantil.

Em razão de os casos de intertextualidade nos livros estudados serem singulares, tanto casos de intertextualidade explícita quanto implícita (Jenny, 1979), somam-se aos pesquisadores já citados Julia Kristeva (2005), Laurent Jenny(1979), Samir Curi Meserani (1995) e Ingedore Koch (2013) por serem expoentes em suas pesquisas sobre a intertextualidade. Sabendo que os textos de literatura, demandam um movimento específico de leitura, recorro ao conceito de leitura literária elaborado por Graça Paulino (2005) (2014). Em se tratando de textos de literatura contemporânea, são caras as contribuições de Florência Garramuño (2014) e Luciana di Leone (2014), a primeira por tecer reflexões acerca da literatura como um campo expandido e a segunda por pensar o lugar do afeto na produção literária

contemporânea. Por fim, já que os textos estudados são textos da literatura infantil brasileira, são fundamentais as contribuições de Lajolo (1988) (2002), Zilberman e Lajolo (1984), Lígia Cademartori (2007), Ana Maria Machado (2009), Peter Hunt (2010) e Mônica Menezes (2011) (2017).

Após essas considerações, nos ateremos agora, leitores, à segunda linha dos meus rabiscos metodológicos. Ao “concluir” as análises e em fase de processo de escrita dos ensaios, caminhei para a parte empírica da pesquisa. Os objetivos da parte empírica da pesquisa foram: compartilhar com estudantes universitários os estudos sobre a alegria cultural escolar; construir com eles proposições pedagógicas sobre a alegria cultural escolar em diálogo com a produção literária de Sylvia Orthof; além de nos aliarmos às postulações de Georges Snyders e afirmar com o autor que a alegria cultural escolar, também é alegria na universidade. Para esse caminho, assumi realizar o Estágio Docente Orientado, na Faculdade de Educação da UFBA, Curso de Pedagogia, no semestre letivo 2017.2, iniciado em outubro de dois mil e dezessete e concluído em fevereiro de dois mil e dezoito, nas turmas dos turnos diurno e noturno de EDC 306 – Leitura e Produção de Textos, componente disponibilizado para estudantes de diferentes cursos da UFBA.

O envolvimento com o “campo” de ação se iniciou com a composição do plano de curso, orientado pela ementa do componente. O mote organizador do plano, LPT em parágrafos, permitiu, sem artificialidade, a inserção dos repertórios previstos no programa, incluindo o do interesse da pesquisa em questão: literatura de Sylvia Orthof, alegria cultural escolar, segundo Georges Snyders e ações pedagógicas baseadas nesses repertórios. Considerados os objetivos voltados à formação dos estudantes universitários leitores e produtores de textos, a metodologia escolhida para dinamizar os estudos, combinava a atividade permanente, com aulas-passeio, exposições participadas e a recepção de convidados cuja atuação profissional dialogava com o debate do componente.

“Literatura, música e filmes livres”, atividade permanente do componente curricular, consistia na disponibilização de acervos, por parte da Profa. Lícia Beltrão e minha, compostos por textos de natureza artística e acadêmica, em gêneros e suportes diversos (Livros físico e virtuais, Cds, Cards, programas de exposição, entre ouros). Nessa atividade, os acervos, que dialogavam com os conteúdos e discussões realizadas em classe, eram oferecidos para os estudantes universitários levarem, como empréstimo, para realização de leituras. Essa atividade também colaborou para

a montagem de um programa de leitura individual dos estudantes durante o semestre, que, no turno noturno, foi socializado no correr das aulas e, no turno diurno, no final do semestre.

“Se a memória não me falha”, atividade também permanente, inspirada em título homônimo da obra de Sylvia, motivava a escrita da memória de cada aula realizada, por um estudante voluntário que tinha a liberdade de escolher sob que forma de gênero textual apresentaria sua memória. LPT vai à Caixa Cultural, às ruas de Salvador, ver o Natal, ao Museu de Arte da Bahia (MAB), ver que museu é lugar de criança e à escola constituíram o segundo tipo de atividade, inspirada no que o pedagogo francês Célestein Freinet chamou de aulas - passeio. O terceiro tipo foi constituído de estudos em grupo, rodas de conversa e exposição dialogada.

Nomeamos o quarto tipo de atividades de “LPT Recebe”. Na ocasião, recebemos, no turno diurno, a Contadora de História Regina Campana e, no turno noturno, a Profa. Dra. Mônica Menezes, professora do componente LET C37 Literatura Infanto-Juvenil, do Instituto de Letras da UFBA.

Nos primeiros parágrafos do curso, quando foram tratadas questões referentes a concepções do ato de ler, experiências leitoras, a escrita do outro, assumi realizar a observação participante. Segundo Maria Cecília de Souza Minayo (2016, p. 64), a observação participante é:

[...] um processo pelo qual um pesquisador se coloca como observador de uma situação social, com finalidade de realizar uma investigação científica. O observador, no caso, fica em relação direta com seus interlocutores no espaço social da pesquisa, na medida do possível, participando da vida social deles, no seu cenário cultural, mas com a finalidade de colher dados e compreender o contexto da pesquisa. Por isso, o observador faz parte do contexto sob sua observação e, sem dúvida, modifica esse contexto, pois interfere nele, assim como é modificado pessoalmente.

A turma do turno diurno era composta, por estudantes do curso de Licenciatura em Pedagogia, Licenciatura em Letras Vernáculas, Secretariado e Bacharelado Interdisciplinar em Ciência e Tecnologia. As estudantes de Pedagogia, com exceção de uma, eram concluintes. A turma do turno noturno era composta majoritariamente de estudantes do curso de Licenciatura em Pedagogia, mas também tínhamos duas estudantes e um estudante do Bacharelado Interdisciplinar em Humanidades.

No início do semestre, a Profa. Lícia Beltrão conversou com as turmas buscando descobrir os motivos que levaram os estudantes a se matricularem, visto que o componente é de natureza optativa. A maioria das respostas dos estudantes acerca

das suas razões versou sobre os interesses pela escrita acadêmica e pelo diálogo com a literatura. Acredito que tais interesses colaboraram para que, no momento em que os conheci e dialoguei sobre o motivo da minha presença nas turmas, a finalidade e os convidei a serem sujeitos da minha pesquisa, estudando comigo a alegria cultural escolar em diálogo com a produção literária de Sylvia Orthof, aceitassem prontamente.

Na medida em que realizava a observação, fazendo registro anedótico e as intervenções, que cabiam quanto aos estudos que se realizavam, decisões foram tomadas: todos os estudantes universitários seriam sujeitos da pesquisa, quer como estudantes que teriam suas ações leitoras e produtoras de textos, apreciadas na perspectiva da alegria cultural escolar, quer como estudantes desafiados a compor proposições pedagógicas, valorizando o diálogo entre a alegria cultural escolar e as obras de Sylvia Orthof, para levarem a escolas e compartilhá-las com estudantes da Educação Básica. Em razão de combinados já firmados pela Professora do componente, as escolas a serem visitadas e onde aconteceriam as ações planejadas pelos estudantes de EDC 306 – LPT, foram a Escola Municipal São José (EMSJ), anexa ao Colégio Santíssimo Sacramento, e a Educação de Jovens e Adultos do Colégio Antônio Vieira (EJACAV). As duas escolas estão localizadas no bairro do Garcia, na cidade de Salvador. A EMSJ, integra a Rede Municipal de Ensino de Salvador e atende a crianças do Ensino Fundamental I, exclusivamente no turno diurno. A EJACAV atende a estudantes do Ensino Médio e se configura como uma modalidade de ensino do Colégio Antônio Vieira, instituição que integra a Rede Jesuíta de Educação.

Com relação à identificação dos estudantes universitários envolvidos na pesquisa, tomei a decisão de identificá-los com nomes de personagens da obra de Sylvia, para preservá-los. Assim é que serão feitas referências a Yeda, Violeta, Betina, Severino e Lila, personagens residentes, respectivamente, nos livros: Papos de anjo, Meus vários quinze anos, O livro que ninguém vai ler, Mudanças no galinheiro mudam as coisas por inteiro e Quem roubou meu futuro?.

Começamos o curso, com os parágrafos que tematizavam concepções do ato de ler. Depois tecemos considerações sobre experiências de leitura e refletimos sobre os usos da escrita do outro, conforme reflexões dos estudos da Profa. Lícia Beltrão, textualizados na tese A escrita do outro: anúncios de uma alegria possível. Na

continuidade, estudamos a palavra em sua dimensão discursiva, os gêneros textuais, gêneros do discurso e logo chegamos às leituras sobre a análise do discurso.

Em janeiro de 2018, no retorno do recesso de final de ano, iniciei o período de regência da classe. Com fins de estudo sobre a alegria cultural, realizei a mediação de aulas expositivas dialogadas. Nessas aulas, após o estudo do conceito de alegria cultural escolar e iniciadas as leituras da produção literária de Sylvia Orthof, os estudantes de LPT foram desafiados para que, divididos em grupos, construíssem proposições pedagógicas valorizando o diálogo entre a alegria cultural escolar e as obras de Sylvia Orthof. Cada grupo ficou responsável por um dos três livros selecionados em que Sylvia declara, desde o início das narrativas, o diálogo com pessoas que marcaram o patrimônio cultural da humanidade, foram eles: Sonhando Santos Dumont, A onça de Vitalino e Cadê a peruca do Mozart?.

É necessário dizer que outros livros poderiam ser escolhidos, como Quincas plim pois foi assim, que dialoga com a produção de Hieronymus Bosch, pintor holandês que viveu entre os séculos XV e XVI; Tem graças no Boticelli, que dialoga com a obra de Sandro Boticelli, pintor de Florença que viveu entre os séculos XIV e XV, que dialoga com a produção de Sandro e O anjo do Aleijadinho, que dialoga com a obra de Aleijadinho, escultor mineiro que viveu entre os séculos XVIII e XIX. Ainda poderíamos escolher livros como Fada-Fofa Onça-Fada ou Manual de boas maneiras das fadas, livros em que, mesmo não sendo o motor da história, o diálogo com figuras que marcaram o patrimônio cultural da humanidade também se faz presente, como é característica das produções de Sylvia Orthof. Escolhi, porém, os livros Sonhando Santos Dumont, A onça de Vitalino e Cadê a Peruca do Mozart? por razões que seguem explicitadas.

Ao escolher A Onça de Vitalino, valorizei os artistas populares do Nordeste do Brasil, dentre os quais, Vitalino é um expressivo nome, em razão de sua obra ter galgado reconhecimento tanto nacional quanto internacionalmente. Com a escolha de Sonhando Santos Dumont, desejei marcar o lugar da ciência entre as obras-primas, como deseja Snyders (1993). Por fim, eleger o livro Cadê a Peruca do Mozart decorre tanto da sua contribuição para música mundial quanto pela presença de Mozart na obra de Sylvia Orthof. Dentre os muitos livros de Sylvia Orthof, lidos em virtude da pesquisa, pude encontrar em dois deles a figura de Mozart, foram eles: Fada Fofa, Onça-Fada, em que os personagens da história – Fada Fofa, o Vento e Onça – encontram Mozart na cidade de Salzburgo e Cadê a Peruca do Mozart?, livro dedicado

ao compositor austríaco. Inferimos que a razão da presença de Mozart nos dois livros pode ser consequente de uma possível admiração de Sylvia Orthof pelo compositor, admiração que também podemos encontrar em Georges Snyders.

Construídas as proposições, como planejado, elas foram postas em prática. As estudantes do turno diurno de LPT, realizaram atividades na EMSJ, com estudantes do Ensino Fundamental I, e as estudantes de e os estudantes do turno noturno de LPT, na EJACAV, com estudantes do Ensino Médio.

A opção por trabalhar com estudantes de graduação em lugar de trabalhar com professores da Educação Básica, como era previsto no início da pesquisa, se justifica pela oportunidade dos estudantes graduandos transitarem por espaços diversos, como escolas (durante o período dos estágios), grupos de pesquisa e extensão, movimentos políticos e sociais, sem esquecer as muitas salas de aula da universidade.

Tendo contato com os estudos sobre a alegria cultural escolar, inferimos que cada estudante pode ser um mediador da alegria, compartilhando os estudos de Snyders com as pessoas dos espaços em que transitam. Nossa inferência se confirmou quando, após o término do componente, recebi uma ligação de uma das alunas em que ela me perguntava se poderia socializar o meu contato com uma colega, estudante do curso de Pedagogia, que, ao ouvi-la falar sobre a alegria cultural escolar, demonstrou interesse em conhecer mais os estudos de Snyders.

Como já mencionado, os dois caminhos da pesquisa foram geradores de dois ensaios: Nos trilhos da invenção da música e das artes visuais: Sylvia Orthof e Tato Gost em diálogos intertextuais e “Papos de anjo”: conversas sobre alegrias políticas, literatura e escola. No primeiro ensaio, eu convido os leitores a uma viagem pelos livros A onça de Vitalino, Sonhando Santos Dumont e Cadê a Peruca do Mozart?.

Nesse ensaio, eu me inspiro nos versos de Bartolomeu Campos de Queirós: “O livro é passaporte, é bilhete de partida” (QUEIRÓS,1999.p.24). Na viagem pelos livros, contextualizamos as cidades nas quais eles são ambientados, passeamos pela biografia dos artistas (no caso de Vitalino e Mozart) e do cientista (no caso de Santos Dumont) e fazemos uma leitura da narrativa, considerando os textos verbais e imagéticos. No final de cada parada, há a subseção “Enquanto isso, no vagão LPT...”, que se repete por três vezes, na qual são textualizadas as proposições pedagógicas elaboradas pelos estudantes universitários, a partir da leitura das obras em diálogo com a alegria cultural escolar.

O segundo ensaio é inspirado nos livros Papos de Anjo, de Sylvia Orthof e Sylvia sempre surpreendente, de Fanny Abramovich. É o livro Sylvia sempre surpreendente que me inspira a imaginar a chegada de Fanny Abramovich ao céu. No livro, lançado em 2007, a autora imagina a chegada de Sylvia Orthof, falecida em 1997, ao céu. Com o falecimento de Fanny Abramovich, no ano de 2017, enquanto eu escrevia a minha dissertação, eu imaginei a chegada de Fanny Abramovich ao céu, reconhecendo a importância dos seus escritos para minha pesquisa, valorizando a potência afetiva da amizade entre ela e Sylvia Orthof e também como uma forma de homenagear, postumamente, uma figura importante para a educação e para literatura brasileira. O segundo ensaio responde ao mote, “Sylvia Orthof e a política”. É preciso lembrar que a alegria cultural escolar é a alegria do contato dos estudantes com as obras-primas, e a produção de sentidos que decorre desse contato, na escola e através da escola. Georges Snyders defende que as obras-primas não são apenas provenientes das artes, mas da ciência e também da política, às últimas ele nomeia de obras-primas da ação.

Diferente do primeiro ensaio em que valorizei a experiência dos estudantes de EDC 306 – Leitura e Produção de Textos com a obra de Sylvia Orthof e as proposições pedagógicas por eles elaboradas, no segundo ensaio, faço uma leitura da obra de Sylvia, valorizando o que Georges Snyders nomeia de obras-primas da ação. Como