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Antecipar as ações de outros

No documento MESTRADO EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA (páginas 35-41)

QUADRO TEÓRICO

10- Antecipar as ações de outros

“Diante dos resultados de uma investigação particular, todo acadêmico está interessado no que acontecerá a seguir e pode antecipar ações posteriores. Membros de uma comunidade acadêmica discutem idéias uns com os outros, reagem a cada idéia dos outros e sugerem novos passos, modificações de estudos anteriores, elaborações de procedimentos, e assim por diante. Os acadêmicos tentam situar cada estudo em uma cadeia de investigação. Coisas que vieram antes e que virão depois de qualquer estudo particular são importantes.” (p. 53)

O procedimento de identificação destas dez atividades características de pesquisa, nas dissertações, tem como finalidade sugerir um padrão para as análises que deverá facilitar a posterior categorização destes trabalhos.

Além destas atividades, ROMBERG, em seu artigo, trata de outros assuntos ligados ao processo de pesquisa e que são do interesse para esse trabalho, por envolverem idéias ligadas aos métodos usados por pesquisadores.

ROMBERG expõe suas idéias sobre a ideologia e paradigmas de diferentes comunidades de pesquisa.

“Um acadêmico conduz pesquisa dentro de uma comunidade. As comunidades acadêmicas envolvem um comprometimento com certas linhas de pensamento e premissas para certificar o conhecimento. Cada campo acadêmico é caracterizado por uma constelação própria de questões, métodos e procedimentos. Essa constelação fornece formas compartilhadas de “enxergar” o mundo, de trabalho, e de testar o estudo de cada um dos outros”. (p. 53)

Essas formas compartilhadas de “enxergar” o mundo têm implicação nas diferentes abordagens de pesquisa. ROMBERG examina a “visão de mundo” de três paradigmas de pesquisa que segundo ele “emergiram para dar definição e estrutura à prática da pesquisa educacional: empírico-analítico, simbólico e crítico,[...]” (p. 54)

Na educação, o paradigma empírico-analítico, se traduz na crença de que

... “o conhecimento a ser aprendido em qualquer área, como em matemática, pode ser especificado a partir de fatos, conceitos, procedimentos e assim, por diante; de que o trabalho do estudante é de dominar esse conhecimento; de que o papel do professor é o de apresentar esse conhecimento ao aluno, de uma forma organizada e monitorar seu progresso em direção ao domínio; e, de que a organização e tecnologia da sala de aula e da escola são arranjadas para tornar o ensino e o domínio desse conhecimento tão eficiente quanto possível.” (p. 55)

No paradigma simbólico a crença subjacente é de que

... “o conhecimento é situado e pessoal, de que os alunos aprendem por construção como conseqüência de experiências, de que o papel do ensino é criar experiências instrucionais para os estudantes e negociar com eles compreensões intersubjetivas ganhas dessas experiências, e que a organização da sala de aula e da escola são arranjadas para que todas essas experiências possam ser ricas e cheias de sentido.” (p. 55)

Exemplos de estudos nessa perspectiva do paradigma simbólico em educação matemática podem ser encontrados em estudos recentes em “etnomatemática”.

O paradigma crítico envolve a crença de que

... “o conhecimento é ganho pela reflexão em como o homem pode melhorar as condições sociais, que os alunos aprendem através da reflexão e

ação, e que o papel do ensino é fazer os estudantes refletirem sobre o mundo social no qual ele vive e inicie ações que desafiem a prática atual.” (p.55)

Para ROMBERG, o método real que um pesquisador usa para obter evidências depende das crenças, listadas acima, de uma certa comunidade acadêmica, das situações criadas ou já existentes, da fonte dessas evidências, da orientação temporal da questão: direcionada ao passado, presente ou futuro e do julgamento ou avaliação dos estudos feitos.

ROMBERG caracteriza os métodos específicos, encontrados na literatura, que se baseiam ou utilizam estes cinco fatores. São eles:

Métodos usados com dados existentes

Historiografia

Análise de conteúdoAnálises de tendências

Métodos usados quando uma situação existe e o dado deve ser desenvolvido

Pesquisa retrospectiva

Levantamento, mapeamento descritivo de grande númeroEntrevistas estruturadasEntrevistas clínicasLevantamentos projetivosObservações estruturadasObservações clínicasEstudo longitudinal

Cross-sectional designs (Desenho de sessões cruzadas)Modelagem de causa

Estudo de casoPesquisa ação

Experiências (experimento)

“Se uma conjectura envolve predizer, prever o que irá acontecer sob condições que ainda não existem; isto é, se envolve coleta de dados sobre os efeitos de um produto ou programa novo e diferente, a pessoa usa uma abordagem experimental.[...] existem três abordagens usadas na Educação:

Experiências no ensino. [...] as hipóteses são criadas primeiramente em relação ao processo de aprendizagem, desenvolve-se uma estratégia de ensino que envolve intervenção sistemática e estimulação da aprendizagem do estudante, e ambas são determinadas, a eficácia da estratégia de ensino e as razões para essa eficácia.

Experimentos comparativos. Este método de investigação é usado para determinar se um conjunto específico de ações pode ou não causar o resultado desejado. A determinação é feita comparando os resultados de um grupo tratado pelo conjunto das ações com o de um grupo similar (grupo de controle) que não tenha sido tratado daquela forma para ver se existem diferenças previstas nos resultados.

Série de experimentos - Tempo descontínuo. [...] A chave para se usar esta estratégia está em fazer observações suficientes antes de começar o tratamento, e assim uma tendência pode ser determinada e então comparada com os resultados após o tratamento.” (p. 57)

O mapeamento feito por FIORENTINI, constou de análise dos quarenta e oito trabalhos do Grupo de Trabalho de Educação Matemática da ANPED, aprovados pelo Comitê Científico dessa entidade. Segundo o autor:

“Tendo em vista os objetivos deste estudo, julgamos necessário, primeiramente, fazer o fichamento de cada um dos trabalhos. Assim, tentamos extrair, além de informações gerais (ano, autor, título do trabalho, instituição de origem), outras mais específicas, tais como: foco temático; problema ou objetivos

do estudo; referencial teórico; procedimentos metodológicos de pesquisa; resultados obtidos; e contribuições teóricas e práticas à educação e à pesquisa.” (p. 2)

Pode-se vislumbrar nas informações específicas a que se referiu FIORENTINI, uma convergência com as dez atividades listadas por ROMBERG.

Com relação a necessidade de se eleger focos para a investigação e posterior categorização, FIORENTINI diz que:

“As possibilidades de organização ou categorização dos trabalhos podem ser diversas. Poderíamos, por exemplo, organizar os estudos pela metodologia de pesquisa utilizada ou pelo referencial teórico. Outra alternativa, seria classificá-los segundo o problema ou os objetivos de investigação; ou, ainda segundo os paradigmas epistemológicos da pesquisa educacional. [...] Preferimos, entretanto, com base em FIORENTINI (1994) e KILPATRICK (1994), organizá-los tematicamente. Essa forma de organização exige que se identifique, para cada trabalho, o foco principal da investigação. Esse processo não é simples ou direto pois acontece de forma indutiva e, às vezes, dedutiva, exigindo ajustes individuais (para cada estudo) e grupais (envolvendo um conjunto de estudos). A vantagem é que as categorias construídas emergem do material sob análise e não da literatura propriamente dita, embora, neste processo, o diálogo com a literatura e outras formas de classificação seja conveniente e necessário.” (p. 5).

Como resultado do mapeamento feito para organizar os trabalhos do GT-19, tematicamente, FIORENTINI identificou oito focos temáticos, que, resumidamente são:

Estudos sobre o professor de Matemática

Estudos cognitivos e metacognitivos: inclui estratégias, habilidades e processos cognitivos dos alunos

Estudos sobre o ensino de matemática na universidade

Estudos sobre as tendências teóricas, didático-pedagógicas e investigativas em Educação Matemática

Estudos que utilizam a metodologia da Engenharia Didática, no ensino e aprendizagem de geometria (Produção, aplicação e análise de seqüências didáticas)

Estudos sobre Educação Matemática e políticas educacionais públicas

Estudos sobre a produção de significados em atividades matemáticas

Estudos sobre a matemática em contexto não-escolar

O quadro síntese elaborado por FIORENTINI mostra que os dois principais focos temáticos de interesse dos trabalhos apresentados foram os Estudos cognitivos e metacognitivos, com doze trabalhos e os Estudos sobre o professor de Matemática com doze trabalhos também.

É importante notar a interpretação dada por FIORENTINI à metodologia de pesquisa denominada Engenharia Didática, que a seu ver constitui um tema de pesquisa.

No documento MESTRADO EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA (páginas 35-41)