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Apêndice II 483 Apêndice III 485 Apêndice IV 489 Apêndice V 497 Apêndice VI 499

Apêndices do tratamento estatístico (Apêndices_t.e.) 501

Apêndices do tratamento estatístico das provas 511

Apêndices do tratamento estatístico das Provas A (Apêndices_t.e.A) Apêndices do tratamento estatístico das Provas B (Apêndices_t.e.B) Apêndices do tratamento estatístico da Prova do Intruso (Apêndices_t.e.I)

INTRODUÇÃO

Conhecimento linguístico e uso interagem no acto linguístico humano na medida

em que o desempenho materializa o conhecimento linguístico (Chomsky, 1986/1994). As manifestações verbais são o produto de operacionalizações anatomofisiológicas (Chomsky, 2002), cabendo aos sistemas sensório-motores o tratamento de informações linguísticas processadas no cérebro (Chomsky, 2000). Em termos fonológicos, compete aos diferentes sistemas envolvidos no processamento linguístico converter as representações mentais em produtos fonéticos resultantes do acto articulatório, captáveis auditivamente e interpretados em função das mesmas representações mentais. Não sendo um reflexo fiel do conhecimento fonológico implícito, sabe-se que devem ser consideradas as limitações dos dados provenientes da performance, assumindo-se a natureza meramente inferencial das conclusões extraídas

dessas observações empíricas (Chomsky, 1957/1980; Veloso, 2003, 2010).

O estudo da relação entre o conhecimento linguístico e a consciência sobre esse conhecimento, bem como o dos processos cerebrais a eles associados, constitui uma difícil tarefa, tal como o afirmam especialistas na área do processamento linguístico (Pratt & Grieve, 1984a, 1984b; Titone, 1988; Gombert, 1990; Scliar-Cabral, 1991; Chomsky 2002, 2006; Veloso, 2003, 2010). Um dos princípios fundamentais das ciências cognitivas remete para a assunção de que os processos mentais humanos, incluindo os envolvidos na linguagem, são processos computacionais. Em conformidade com esta perspectiva, as crianças desenvolvem conhecimento implícito por disporem de um algoritmo de aprendizagem que lhes permite integrar a gramática da língua a partir da sua exposição a uma quantidade razoável de dados (input) e de

um determinado esforço computacional (processamento). No caso específico do trabalho sobre a consciência linguística, ainda é escassa a informação disponível na literatura quanto ao efeito do input no domínio do processamento metalinguístico.

O acesso a operações mentais, explícitas ou implícitas, relativas ao conhecimento da língua interiorizado pelos falantes constitui uma dificuldade reconhecida na literatura. Apesar de constituir a porta de acesso preferencial para a maioria dos linguistas, a performance é vulnerável a influências socioculturais. Segundo Veloso (2003, 2010), a análise de produções escritas emergentes e de operações (meta)fonológicas constitui uma forma alternativa de aceder ao conhecimento (meta)fonológico, com vista a uma caracterização, também ela inferencial, do conhecimento (meta)linguístico. O presente trabalho usa este tipo de evidência empírica para estudar quer a capacidade de codificar (produções escritas) e descodificar (leitura) estímulos linguísticos escritos, quer a de executar operações metafonológicas sobre estímulos apresentados, observando o impacto de propriedades fonológicas na realização de tarefas de consciência segmental, de leitura e de escrita.

Sabendo que o conceito de identidade fonémica constitui a chave da aprendizagem do código alfabético (Adams & al., 1998/2006; Byrne, 1998; Treiman & al., 1998), é determinante identificar as propriedades linguísticas com interferências na capacidade de as crianças processarem metalinguisticamente a unidade segmento (Treiman & al. 1998). Assim, da mesma forma que outros estudos no domínio do conhecimento fonológico se debruçam sobre o efeito das propriedades gramaticais na performance dos sujeitos e apresentam padrões associados à emergência e ao

desenvolvimento fonológico (na produção e na percepção), é objectivo do presente estudo verificar e descrever o efeito de propriedades fonológicas no domínio da consciência segmental e da leitura e escrita, contribuindo para apurar o padrão de

emergência a ele associado. Mais especificamente, pretende-se observar o impacto de propriedades fonológicas inerentes ao sistema consonântico do Português Europeu (PE) no desempenho de operações metassegmentais em tarefas de consciência segmental e de escrita e leitura emergentes, tendo-se, para tal, definido os seguintes objectivos gerais:

(i) descrever o efeito das propriedades segmentais numa tarefa de consciência segmental, realizada por sujeitos com baixo conhecimento ortográfico;

(ii) descrever o efeito das propriedades segmentais em tarefas de escrita e de leitura de palavras e de pseudopalavras, realizadas pelos mesmos sujeitos.

A confirmar-se o efeito de tais propriedades nos desempenhos das crianças observadas, contribuir-se-á para a alteração de práticas profissionais nos domínios clínico e/ou educacional, associadas (i) à estruturação de instrumentos de avaliação e de intervenção utilizados em terapia da fala e em outras áreas terapêuticas afins e (ii) ao planeamento de programas curriculares implementados em contexto escolar. Na área da saúde, a consideração destes dados poderá contribuir para melhorar a reabilitação de perturbações do processamento metassegmental, responsáveis por patologias como a dislexia, por exemplo; na área do ensino, contribuir-se-á para prevenir e/ou minimizar as dificuldades de aprendizagem da leitura e da escrita, recorrentemente apontadas na literatura.

De acordo com o acima referido, o presente estudo enquadra-se no campo da psicolinguística (área científica responsável pelo estudo do processamento linguístico) e da fonologia (área científica responsável pelo estudo da organização da dimensão sonora das línguas). De forma a responder aos objectivos propostos acima,

desenvolveu-se um estudo transversal com um grupo de crianças detentoras de baixo conhecimento ortográfico1, cujas características são explicitadas na parte II deste estudo.

A dissertação divide-se, em quatro partes. Na parte I, expõe-se a base teórica que suporta o estudo desenvolvido. No capítulo 1, é descrito o funcionamento do sistema consonântico do PE e são apresentados dados disponíveis na literatura no domínio do desenvolvimento segmental (nos planos da produção e da percepção), tanto para o português como para línguas do mundo. No capítulo 2, são explicitados os conceitos de conhecimento linguístico e de consciência linguística, de conhecimento metafonológico, de consciência fonológica e de consciência segmental. Nesse

capítulo, são ainda referidas algumas interferências relativas às propriedades segmentais descritas na literatura dedicada ao estudo da consciência segmental e são apresentadas algumas metodologias habitualmente utilizadas para o estudo do processamento (meta)linguístico e metassegmental. No capítulo 3, é estabelecida a relação entre consciência segmental e alfabetização.

Na parte II (capítulo 4), apresentam-se as questões de investigação, os objectivos e as hipóteses do presente estudo, expõem-se os critérios experimentais adoptados, descrevem-se as provas construídas, explicita-se o tratamento dos dados efectuado e apresentam-se os procedimentos subjacentes à selecção e à organização da amostra.

A parte III integra os dois capítulos relativos à apresentação dos resultados deste estudo. O capítulo 5 apresenta a análise efectuada às respostas decorrentes da

1 Apesar de a capacidade de ler e escrever constituir um dos requisitos deste estudo, também

se definiu que a amostra não apresentaria um elevado conhecimento ortográfico, a fim de tentar assegurar a não sobreposição do conhecimento ortográfico ao conhecimento metassegmental, já que os estudos constatam frequentemente essa realidade (cf. Veloso, 2003; Paiva, 2009; Castelo, 2012 para o PE).

aplicação das provas de escrita e de leitura de palavras e de pseudopalavras, designadas como Provas B; no capítulo 6 é efectuada a descrição dos resultados da prova de consciência segmental, designada como Prova do Intruso. Ambos os capítulos obedecem à mesma estrutura interna, começando por expôr os resultados em função do modo de articulação (MA), isoladamente e na sua realção com o vozeamento, passando, depois, para os resultados em função do ponto de articulação (PA), isoladamente e na sua relação com o MA.

Na parte IV, composta pelos capítulos 7 e 8, são discutidos os resultados apresentados nos dois capítulos anteriores, estabelecendo-se a relação com o enquadramento teórico realizado na parte I. É dado destaque aos efeitos fonológicos, fonéticos e ortográficos observados, reflectindo-se sobre os tempos de reacção e sobre o efeito de frequência de ocorrência nos resultados obtidos (capítulo 7). São, ainda, confrontados os resultados observados com os descritos na literatura para o desenvolvimento segmental, estabelecendo-se, a partir daí, as conclusões do presente

estudo (capítulo 8). Por último, são referidas as limitações encontradas ao longo do trabalho.