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CAPÍTULO 4 Critérios para a elaboração do estudo experimental: concepção, aplicação e revisão das provas, tratamento dos dados e organização da amostra

70 O corpus do Português Fundamental foi recolhido pelo Centro de Linguística da

4.4. Pilotagem e revisão das provas

Um instrumento de medida é considerado aferido e normalizado quando administrado a uma amostra de grandes dimensões que se considere representativa da população para a qual é concebido e da qual se extraem dados, posteriormente assumidos como normativos (padrões). Após esta etapa, é possível aceder à norma, ou seja, ao resultado médio ou típico da amostra do estudo, que permite atribuir significado aos resultados obtidos posteriormente por outros indivíduos, a partir da aplicação do mesmo instrumento. Para chegar a esse produto, é necessário que o processo respeite etapas anteriores, tal como as ilustradas na figura 10 (Almeida & Freire, 2003).

Figura 10 - Etapas para a aferição de instrumento de medição de competências (meta)linguísticas

Na primeira etapa (1), é definido o constructo103 do que se pretende medir, fazendo a revisão da literatura sobre o tema em questão, consultando outros instrumentos relativos ao mesmo contructo e recorrendo a peritagem, entre outros possíveis procedimentos de validação interna. Antes da aplicação de qualquer instrumento de medição a uma amostra estratificada, procede-se a uma pilotagem (2). Nessa fase, o instrumento é aplicado a uma amostra menor do que a amostra final, com o objectivo de aferir o instrumento. A amostra do estudo piloto deve ser constituída por cerca de 25 a 60 elementos, para amostras finais de 200 (Sampieri, Collado & Lúcio, 2006). Com base neste estudo-piloto, é feita uma revisão do estudo experimental (3), com eventual remoção de itens inconsistentes ou mais problemáticos e reflexão sobre os procedimentos inerentes à aplicação do instrumento. Só após estas etapas se poderá prosseguir com o processo de validação externa e de verificação da

103 O constructo remete um conjunto de informações relativas a um conceito abstracto

apreendido por meio de fenómenos concretos. A definição de um constructo obriga à identificação de comportamentos que dele derivam e que com ele se relacionam. Para mais detalhes, consulte-se Almeida e Freire (2003).

•  revisão da literatura

•  consulta de outros instrumentos com o mesmo constructo •  peritagem do constructo

•  e/ou outros possíveis procedimentos

(1) Validação Interna do instrumento > construção do instrumento

•  aferição do instrumento a uma amostra-piloto por via da sua aplicação (2) Pilotagem

• revisão dos estímulos, do procedimento e de outros parâmetros do instrumento (3) Revisão

•  Validade: (i) validação de critério (validade concorrente e preditiva) e/ou (ii) validade de constructo (validade convergente)

•  Fidelidade: teste/reteste, bipartição dos itens, consistência interna dos itens e/ou outros possíveis procedimentos

(4) Validação Externa e Fidelidade do instrumento

•  aferição do instrumento a uma amostra de grandes dimensões por via da sua aplicação •  normalização/padronização dos dados recolhidos

fidelidade dos itens (4). Por último, é realizada a aferição e normalização do instrumento de medição (5).

O instrumento do presente estudo segue as seguintes etapas: (1) validação interna, (2) pilotagem e (3) revisão.

Para a validação interna (1), foi definido o constructo de acordo com os procedimentos descritos figura 10.

Tendo este estudo uma amostra inferior a 100 sujeitos, (basta que a amostra do estudo-piloto seja constituída por 13 elementos; Sampieri, Collado & Lúcio, 2006, todas as provas foram aplicadas a 13 sujeitos, concretizando, assim, a etapa relativa à pilotagem (2).

Para a revisão (3), foi realizado um conjunto de operações com vista à adequação do instrumento foi feito um pré-teste com carácter exploratório, a fim de se aferirem aspectos metodológicos gerais que permitissem definir adequadamente o estudo experimental final. Foi inicialmente realizado um teste de nomeação com base nas imagens selecionadas.Verificou-se que alguns dos estímulos utilizados não apresentavam problemas, outros apresentavam apenas uma ocorrência de nomeação errada, enquanto outros apresentavam um insucesso superior, decorrentes de problemas de reconhecimento lexical que invalidavam a nomeação da palavra visada.

Na impossibilidade de se efectuarem algumas alterações de natureza linguística (como, por exemplo, a substituição de palavras), dadas as dificuldades encontradas ao longo da construção das provas, decorrentes da conjugação entre critérios linguísticos e critérios e procedimentais, optou-se pela implementação de um programa de familiarização. Este programa de familiarização foi levado a efeito pela investigadora e pelas professoras, através de actividades lúdicas, recorrendo a livros e a outros

suportes didácticos e pictográficos. Foi feita uma selecção prévia de livros infantis que evoquassem os conceitos envolvidos nas palavras seleccionadas na secção 4.2.2, usadas na habitual “hora do conto” em que as crianças participam semanalmente. As actividades associadas a esta prática exploraram os novos conceitos aprendidos através de recontos, colagens, pinturas, recortes e outras tarefas que promovessem o desenvolvimento lexical. Nestas actividades, foram incluídas palavras e imagens deste estudo, entre outras palavras e outras imagens. As palavras que apresentaram maiores dificuldades de nomeação (cf. quadro 20) foram sujeitas a um maior reforço de treino.. Quadro 20 - Correspondência entre alvos lexicais e produções realizadas

Palavras Problemáticas (Alvo)

Ocorrência mais Frequente (Produção Errada)

Cana cana de pesca

Chupa chupa-chupa Couve alface Filha menina Gado vacas Galo galinha Garra Unha Gola camisa Golo futebol Gorro Boné Jarra Jarro

Nata bolo / pastel de nata

Rata Rato

Soco murro

Terra lua

zero104 o (letra)

bala, cano, capa, cave, chapa, data, fado, guerra, jacto, lava, rota, rolo, ralo, rota, vala e zorro

produções inconscistentes

Na maioria dos casos, em contexto de pré-teste, bastou recorrer a pistas não verbais para desencadear a nomeação esperada. Ainda assim, todas as imagens não

104 Inicialmente, a palavra zero também levanta alguns problemas, solucionados posteriomente

com a inclusão de um detalhe gráfico na imagem, nomeadamente dos respectivos algarismos subsequentes, em formato muito reduzido e numa coloração mais discreta (cinza claro), em vez de aparecer apenas o algarismo zero.

nomeadas espontaneamente foram incluídas no programa de familiarização, bem como outras que não integravam o estudo, a fim de dinamizar este treino da forma mais natural possível. Os conceitos foram retirados do treino à medida que a professora e investigadora consideravam que o conceito e respectivo nome já eram familiares à criança. Após a implementação do programa de familiarização e durante a aplicação efectiva das provas, se alguma tarefa deixasse de ser executada por falta de nomeação (espontânea ou induzida), o sujeito seria excluído do estudo. Tal ocorrência nunca se verificou.