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Apelações Cíveis conhecidas Preliminar rejeitada No mérito, recursos não

No documento rdj103 (páginas 186-193)

apelação cível 2011011235321-

6. Apelações Cíveis conhecidas Preliminar rejeitada No mérito, recursos não

providos.

acórdão

Acordam os Senhores Desembargadores da 3ª Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios, Nídia Corrêa Lima – Relatora, Getúlio de Moraes Oliveira – Revisor, Mário-Zam Belmiro – 1º Vogal, sob a presidência do Senhor Desembargador Mário-Zam Belmiro, em proferir a seguinte decisão: conhecer. Pre- liminares rejeitadas. Negar provimento aos recursos. Unânime, de acordo com a ata do julgamento e notas taquigráficas.

Brasília (DF), 13 de novembro de 2013.

relatório

Cuida-se de Apelações Cíveis interpostas por BOEHRINGER INGELHEIM DO BRASIL QUÍMICA FARMACÊUTICA LTDA. e por VALEANT FARMACÊUTICA DO BRASIL LTDA., contra a r. sentença de fls. 475/486, cujo relatório transcrevo, verbis:

R.D.P.R., menor impúbere, representado por seu genitor, D.D.P., devidamente qualificado nos autos, propõe pela via da tutela cognitiva, a presente ação de compensação por danos extrapatrimoniais, em desfavor de VALEANT FAR- MACÊUTICA DO BRASIL LTDA., BOEHRINGER INGELHEIM DO BRASIL QUÍMICA E FARMACÊUTICA LTDA. E BLANVER FARMOQUÍMICA LTDA., partes igualmen- te qualificadas no processo, pretendendo o recebimento da quantia de R$ 100.000,00 (cem mil reais).

Alega o autor, em apertada síntese, que faz uso do medicamento “melleril” de 25 mg, sendo certo que no dia 20/08/2011 adquiriu duas caixas do referido medicamento na Drogaria Sanfarma Ltda. localizada no Cruzeiro Novo/DF.

Narra que após passar a fazer uso da medicação adquirida naquele dia, passou a apresentar diferenças comportamentais, como conduta agressiva e desafia- dora, agredindo professores, coordenadores e colegas na escola onde estuda. Esclarece que após apresentar essas alterações, seus pais passaram a verificar qual poderia ser a causa, percebendo que estava sendo ministrada uma super- dosagem, porquanto embora estivesse constando na caixa dos medicamentos a dosagem de 25 mg, as drágeas eram de 100 mg, conforme faz juntar aos autos. Arremata que até perceberem o problema, o autor fez uso de 16 compri- midos. Reporta-se aos efeitos da superdosagem.

Elenca o direito que entende aplicável à hipótese.

Requer os benefícios da gratuidade judiciária e a inversão dos ônus da prova. Pretendem seja a ANVISA notificada sobre possíveis equívocos no lote do me- dicamento e busca compensação pecuniária em torno de R$ 100.000,00 (cem mil reais) pelos danos morais enfrentados.

A inicial veio instruída com os documentos de fls. 10/21.

Determinada a comprovação da miserabilidade jurídica e emenda quanto à necessária intervenção do Ministério Público (fls. 23/24), sobreveio petição a fls. 25/27 com os documentos de fls. 28/48.

Os réus foram regularmente citados (fls. 51-v, 52-v e 53-v), remetendo-se ofí- cio à ANVISA para ciência da demanda (fls. 54).

Certificada a inércia dos réus em ofertar resposta (fls. 56), os autos foram ao Ministério Público que se manifestou pela procedência do pedido, nos moldes do parecer de fls. 60/65. Observado o prazo em dobro conferido aos requeri- dos, nos termos do art. 191 do Código de Processo Civil, foram acostadas as contestações.

A ré VALEANT FARMACÊUTICA DO BRASIL LTDA. apresentou contestação a fls. 67/89 pugnando pela improcedência do pedido ao argumento inicial de que há severas diferenças no fluxo de fabricação dos medicamentos de 25 mg e 100 mg, inclusive com diversidade na sua apresentação, sendo certo que aquele contém cartucho com um blister de 20 drágeas, e a caixa deste último

tem cartucho com dois blísteres de 10 drágeas cada. Informa que a ré Blanver fabrica e embala apenas o medicamento de 200 mg.

Narra acerca da supervisão exercida pela ANVISA e sobre todos os procedi- mentos preventivos utilizados para fabricação do medicamento, esclarecendo que as drágeas de 25 mg têm coloração marrom e os comprimidos de 100 mg, verde acinzentada. Impugna as receitas apresentadas pelo autor, para dizer que quando da compra do medicamento objeto do litígio não havia receita válida no que tange à data de validade do receituário e à quantidade de caixas prescritas/adquiridas.

Passa, então, a relatar os fatos envolvendo o contato mantido pelo SAC com o genitor do autor, para dizer da não observância, pelos pais do requerente, das prescrições médicas. Sustenta não haver responsabilidade da requerida, porquanto inexiste ato ilícito que lhe seja imputável, tampouco há nexo de causalidade ou dano comprovado. Insurge-se contra o “quantum” pretendido à guisa de compensação pelos alegados danos morais e sustenta ser impossí- vel a adoção do regime de solidariedade passiva na condenação. Impugna a pretensa inversão do ônus da prova. Junta os documentos de fls. 91/148. No mais, a contestação e seus respectivos documentos são repetidos nos autos por via fax (fls. 149/175).

A ré BLANVER FARMOQUÍMICA LTDA. ofertou contestação a fls. 179/180 para requerer sua exclusão do polo passivo da lide, eis que não fabrica o medica- mento adquirido pelo autor, embora mantenha contrato com a empresa Va- leant Farmacêutica do Brasil Ltda. para fabricação de vários outros produtos. Acosta os documentos de fls. 181/202.

A requerida BOEHRINGER INGELHEIM DO BRASIL QUÍMICA E FARMACÊUTICA LTDA. apresentou contestação a fls. 203/223 pretendendo a improcedência do pedido. Insurge-se, a princípio, contra a pretendida inversão dos ônus pro- batórios, com o argumento de que não se fazem presentes os elementos legais. Aduz não haver o autor demonstrado o fato ensejador do alegado dano moral, repisando a tese de incompatibilidade entre os receituários apresentados e o cupom fiscal utilizado como prova da aquisição do medicamento. A seguir, relata o procedimento de fabricação/embalagem do medicamento, para re-

portar-se à investigação por si levada a efeito, que culminou com a conclusão de que o lote das drágeas de 100 mg encerrou-se sete dias antes do início do processamento do lote da caixa de medicamento com dosagem de 25 mg, o que inviabiliza a tese da “contaminação cruzada”. Salienta, assim, que o autor não demonstrou que a cartela acostada a fls. 18 estivesse na caixa também juntada a fls. 18; contrariamente, diz haver comprovado o contrário, o que elide sua responsabilidade, uma vez provado que o defeito inexiste.

Afirma, ainda, que o autor não comprovou haver ingerido o medicamento com dosagem de 100 mg, impugnando o documento de fls. 21 que seria apócrifo. Salienta a ausência dos elementos configuradores da responsabilidade civil, uma vez que inexiste nexo causal e tampouco há demonstração do alegado dano. Insurge-se contra o valor pretendido a título de compensação pecuniá- ria. Junta os documentos de fls. 225/290.

O autor manifestou-se em réplica a fls. 295/303 refutando os argumentos ex- pendidos pelas requeridas. Na oportunidade, juntou o documento de fls. 304. A segunda ré manifestou-se a fls. 305/306 pretendendo a produção de prova oral e pericial, bem assim o depoimento dos genitores do requerente e expedi- ção de ofício à ANVISA.

A primeira ré, igualmente, requereu a produção de provas testemunhal e peri- cial, reportando-se, ainda, à prova documental (fls. 312/313). A primeira de- mandada voltou, ainda, aos autos a fls. 324/325 para impugnar a juntada de documento pelo autor com a réplica, por não se tratar de documento novo. Foi juntada a fls. 327/329 resposta de ofício encaminhado por este Juízo, mencionando arquivamento de procedimento administrativo, no âmbito da- quela agência, relacionado a eventual irregularidade na fabricação/embala- gem do lote de medicamento que teria sido utilizado pelo autor.

A terceira requerida não se manifestou sobre produção de provas (fls. 333), e o Ministério Público sinalizou não ter interesse na produção de outras provas (fls. 335).

Pela decisão saneadora de fls. 336/337 a preliminar de ilegitimidade passiva suscitada pela terceira ré foi apreciada e rejeitada. Foi, ainda, deferida a pro-

dução de prova testemunhal e o pedido de tomada de depoimento pessoal dos genitores do autor. Foi, ademais, indeferido pleito de ofício à ANVISA, haja vista a providência anteriormente tomada, já com resposta da agência, e des- cartado o valor probante do documento de fls. 304 por não se subsumir ao conceito jurídico-material do art. 397 do Código de Processo Civil. A princípio, foi registrada a desnecessidade da produção da prova pericial, reservando-se o Juízo o direito de rever o posicionamento após a produção da prova oral. A referida decisão foi alvo de agravo de instrumento interposto pela ré BO- EHRINGER INGELHEIM DO BRASIL QUÍMICA E FARMACÊUTICA LTDA., confor- me se extrai de fls. 343/359, ao qual foi negado seguimento (fls. 457/468). Designada audiência de conciliação, instrução e julgamento, a solenidade transcorreu na forma dos termos de fls. 387/394 pelos quais se vê que a ten- tativa conciliatória restou frustrada, sendo tomado o depoimento pessoal dos genitores do autor e ouvida a testemunha por ele arrolada. Determinou-se o aguardo da resposta da precatória para oitiva de duas testemunhas em São Paulo e, após, dada vista às partes e ao Ministério Público para alegações fi- nais e parecer meritório, respectivamente.

A primeira ré veio aos autos a fls. 401/402 requerer expedição de ofícios à drogaria onde teria havido a compra do medicamento, ante os depoimentos prestados em audiência.

A carta precatória pela qual foram ouvidas duas testemunhas arroladas por uma das rés foi juntada a fls. 405/425.

O autor manifestou-se em alegações finais a fls. 432/434 reiterando os ter- mos da inicial. A requerida VALEANT FARMACÊUTICA DO BRASIL LTDA. ofertou suas alegações finais a fls. 438/445 repisando os argumentos de sua defesa. A demandada BOEHRINGER INGELHEIM DO BRASIL QUÍMICA E FARMACÊUTICA LTDA. veio em alegações finais a fls. 447/455 insistindo na produção da prova pericial e ratificando os termos de sua contestação. A terceira ré não se mani- festou em alegações finais (fls. 474).

O Ministério Público ratificou o parecer de fls. 60/65, produzido antes da ofer- ta de defesas e da produção probatória.

Acrescento que a MMª Juíza sentenciante julgou procedente o pedido inicial em relação às rés BOEHRINGER INGELHEIM DO BRASIL QUÍMICA FARMACÊUTICA LTDA. e por VALEANT FARMACÊUTICA DO BRASIL LTDA., para condená-las ao pagamento de indenização por danos morais, no valor de R$ 15.000,00 (quinze mil reais), bem como ao pagamento das custas processuais e dos honorários advocatícios, estes fixados em 10% (dez por cento) do valor da condenação. Quanto à re BLANVER FARMOQUÍMICA LTDA. o pedido inicial foi julgado improcedente o pedido e o au- tor condenado ao pagamento de honorários de sucumbência no importe de R$ 800,00 (oitocentos reais), cuja exigibilidade ficou suspensa, nos termos do artigo 12 da Lei 1.060/50.

Irresignada, a ré BOEHRINGER INGELHEIM DO BRASIL QUÍMICA FARMACÊUTICA LTDA. interpôs recurso de apelação (fls. 492/509), suscitando preliminar de cer- ceamento de defesa, em face da necessidade de produção de prova pericial. No mérito, pugnou pelo afastamento da condenação ao pagamento de indenização por danos morais, dada a ausência dos elementos caracterizadores da responsa- bilidade civil. Ademais, alegou que houve culpa exclusiva dos genitores do autor, ao ministrarem o medicamento na dosagem errada. Pleiteou, assim, a reforma da r. sentença, para que seja julgado improcedente o pedido inicial. Sucessivamente, pleiteou a redução do valor da indenização por danos morais.

Preparo regular (fl. 510).

Por sua vez, a ré VALEANT FARMACÊUTICA DO BRASIL LTDA. interpôs recurso de apelação (fls. 512/522), defendendo a tese de impossibilidade de troca dos me- dicamentos, em razão dos procedimentos adotados na linha de produção. Alegou, também, que não houve dano moral, em face da ausência de ato ilícito e nexo causal. Insurgiu-se contra a inversão do ônus da prova, em face da ausência de verossimilhança das alegações do autor/apelado. Ao final, pugnou pela reforma da r. sentença, para que seja julgado improcedente o pedido inicial. Sucessivamente, pleiteou a redução do valor da indenização por danos morais.

Preparo regular (fl. 523)

Contrarrazões ofertadas às fls. 534/548.

A d. Procuradoria de Justiça, às fls. 555/565, oficiou pelo não provimento do re- curso.

É o relatório.

votos

Desa. Nídia Corrêa Lima (Relatora) – Conheço dos recursos, porquanto presentes

os pressupostos de admissibilidade.

Cuida-se de Apelações Cíveis interpostas por BOEHRINGER INGELHEIM DO BRASIL QUÍMICA FARMACÊUTICA LTDA. e por VALEANT FARMACÊUTICA DO BRASIL LTDA., contra a r. sentença de fls. 475/486.

Consoante relatado, R.D.P.R. representado por seu genitor D.D.P. ajuizou Ação de Indenização em desfavor das ora apelantes e de BLANVER FARMOQUÍMICA LTDA., alegando que comprou o medicamento que utiliza regularmente, (Melleril 25mg) e no interior das caixas de 25mg, havia, na verdade, cápsulas com 100mg. Destacou que, após a utilização de 16 (dezesseis) comprimidos com dosagem mais elevada, apresentou conduta agressiva com professores, alunos e coordenadores da escola em que estuda. Em razão do ocorrido, pugnou pela reparação dos danos morais experimentados, no valor de R$ 100.000,00 (cem mil reais).

A d. Magistrada sentenciante julgou procedente o pedido inicial em relação às rés BOEHRINGER INGELHEIM DO BRASIL QUÍMICA FARMACÊUTICA LTDA. e por VALEANT FARMACÊUTICA DO BRASIL LTDA., e improcedente em relação à ré BLANVER FAR- MOQUÍMICA LTDA., nos seguintes termos, verbis:

Pelas razões expendidas, julgo PROCEDENTE o pedido em relação às rés VA- LEANT FARMACÊUTICA DO BRASIL LTDA. e BOEHRINGER INGELHEIM DO BRA- SIL QUÍMICA E FARMACÊUTICA LTDA. para condená-las, solidariamente, ao pagamento da quantia de R$ 15.000,00 ao autor, devidamente atualizada pelos índices oficiais, a partir desta data (Súmula 362/STJ) e juros de 1% ao mês, da data do evento danoso (20/08/2011) (Súmula 54/STJ). E julgo IM- PROCEDENTE o pedido em relação à ré BLANVER FARMOQUÍMICA LTDA. Re- solvo o mérito com arrimo no art. 269, inciso I, do Código de Processo Civil.

Ante a sucumbência, condeno, ainda, as duas primeiras rés ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios que, com força no art. 20, § 3º, do Código de Processo Civil, arbitro em 10% sobre o valor da condenação. Condeno o autor ao pagamento de honorários fixados em R$ 800,00 em favor do Patrono da terceira ré, ficando sua cobrança sobrestada na forma do art. 12 da Lei 1.060/50.

Em suas razões de apelo, a ré BOEHRINGER INGELHEIM DO BRASIL QUÍMICA FAR- MACÊUTICA LTDA. suscitou preliminar de cerceamento de defesa e, quanto ao mé- rito, sustentou que não se encontram evidenciados nos autos elementos de prova suficientes para demonstrar o ato ilícito passível de dar ensejo aos danos morais alegados. Sustentou, ainda, que houve culpa exclusiva dos genitores do autor, ao ministrarem medicamento com dosagem errada. Sucessivamente, pleiteou a redu- ção da indenização por danos morais.

A ré VALEANT FARMACÊUTICA DO BRASIL LTDA., no recurso de apelação interposto, afirmou que não há possibilidade de que tenha havido troca dos medicamentos, em face da natureza do processo de sua embalagem, bem como da diferença entre as cápsulas de 100mg e de 25mg e da quantidade distinta de cartelas contidas em cada caixa dos remédios. Sustentou que não ficou evidenciada a prática de ato ilícito a justificar a sua condenação ao pagamento de indenização por danos mo- rais. Asseverou, ainda, que não se encontram configurados os pressupostos para a inversão do ônus da prova e pleiteou, em caráter sucessivo, a redução do valor da indenização por danos morais.

É a suma dos fatos.

No documento rdj103 (páginas 186-193)