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Recurso conhecido e provido.

No documento rdj103 (páginas 128-132)

apelação cível 2009071034913-

5. Recurso conhecido e provido.

acórdão

Acordam os Senhores Desembargadores da 2ª Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, J.J. Costa Carvalho – Relator, Sérgio Rocha – Vogal, Fátima Rafael – Vogal, sob a presidência da Senhora Desembargadora Car- melita Brasil, em proferir a seguinte decisão: dar provimento. Unânime, de acordo com a ata do julgamento e notas taquigráficas.

Brasília (DF), 23 de outubro de 2013.

relatório

Trata-se, na origem, de ação de indenização por danos morais, sob o rito sumá- rio, ajuizada por E.R. de J.A. em desfavor da ASSOCIAÇÃO DOS PRAÇAS POLICIAIS E BOMBEIROS MILITARES DO DISTRITO FEDERAL – ACS/ASPRA, sob a alegação de culpa in eligendo e in vigilando da ré quando da contratação de advogado para representá-lo judicialmente em ação de conhecimento que pleiteava a anulação de concurso para promoção no CBMDF, em virtude do recurso de apelação inter- posto na demanda mencionada, que não foi conhecido por descumprimento do disposto no art. 514, inciso II, do CPC.

O d. juízo sentenciante julgou improcedente o pedido, ao fundamento de que, por se tratar da Teoria da Perda de uma Chance aplicável aos serviços prestados por advogados, o caso prático não revelava uma chance real, atual e séria. Em face da sucumbência, condenou o autor a pagar as despesas finais do processo e os ho- norários advocatícios, estes arbitrados em R$ 1.000,00 (hum mil reais), de acordo com art. 20, § 4º, do CPC, ficando suspensa sua exigibilidade, nos moldes do art. 12 da Lei 1.060/50 (fls. 1458/1463).

Inconformado, o autor apela às fls. 1474/1497, sustentando que os advogados contratados pela associação apelada agiram com desídia e comodidade com os direitos do apelante no processo de fls. 45/217 (cópia), afetando seus direitos de personalidade, devendo ser ressarcido pelos danos morais sofridos. Aduz contra- dição na sentença ao passo que reconhece a falha da causídica que representou o apelante na ação anulatória, quando apresentou, de forma displicente, recurso de

apelação sem atender aos requisitos do art. 514, inciso II, do CPC, resultando no não conhecimento daquele meio recursal.

Assevera contradição também quando o magistrado a quo não entendeu ser pos- sível reconhecer falha na prestação do serviço dos advogados da apelada quanto a não-interposição de recurso aos tribunais superiores contra o acórdão desfavo- rável à apelação desidiosa.

Noticia omissão também quanto à ausência de apreciação dos argumentos relati- vos a culpa presumida in eligendo e in vigilando por parte da apelada.

Defende que a anulação pleiteada no processo de fls 45/217 (cópia) era por conta da ilegalidade cometida pela Administração Pública consistente em flagrante des- respeito a edital de concurso público, sendo ato ilegal e nulo.

Ampara que nada justifica a desídia dos advogados quanto ao recurso de apelação interposto na ação anulatória, pois detinham capacidade postulatória técnica e obrigação de intentarem o recurso da maneira exigida em lei.

Aduz a ocorrência de sofrimento capaz de abalar seus direitos da personalidade, posto que se o concurso tivesse sido anulado, teria a oportunidade de fazer as novas provas com êxito.

Por fim, postula o conhecimento e provimento do recurso, nos moldes pleiteados. Ausente o preparo em razão da gratuidade de justiça deferida.

Contrarrazões às fls. 1504/1516, requerendo a manutenção da sentença. É o relatório.

votos

Des. J.J. Costa Carvalho (Relator) – Conheço do recurso, porquanto presentes os

pressupostos de sua admissibilidade.

Cinge-se o meritum causae à possibilidade de responsabilização da associação ré pelos alegados danos morais sofridos pelo autor em razão de culpa in eligendo e in vigilando, quando da contratação de advogado para representá-lo judicial-

mente em ação de conhecimento, na qual pleiteava a anulação de concurso para promoção no CBMDF, em virtude do recurso de apelação interposto na demanda mencionada, que não foi conhecido por descumprimento do disposto no art. 514, inciso II, do CPC. Ante a improcedência do pedido, apela o autor almejando a re- forma da sentença.

Diante das provas coligidas aos autos e dos argumentos trazidos pelo réu em suas razões recursais, entendo merecer reparos a d. sentença hostilizada.

O d. magistrado sentenciante usou como fundamento para decidir a famigera- da Teoria da Perda de uma Chance, inspirada na doutrina francesa (perte d’une

chance), segundo a qual, alguém que pratica um ato ilícito gera a perda de uma oportunidade de obtenção de vantagem ou prejuízo a ser evitado, ensejando uma indenização pelos danos oriundos do ato.

Nesse passo, em que pese a teoria em tela ser adotada no Direito Pátrio (REsp 1.104.665-RS, Rel. Min. Massami Uyeda, julgado em 9/6/2009 e AgRg no REsp 1220911/RS, Segunda Turma, julgado em 17/03/2011), entendo não ser aplicável ao presente caso concreto. Explico.

O autor, ora apelante, na petição inicial delimitou seu pedido nos seguintes ter- mos, in verbis:

“III – DOS PEDIDOS (...).

C) A procedência do pedido, condenando a Ré a lhe repara danos morais no valor de R$ 27.900,00 (vinte e sete mil e novecentos reais), acrescidos de cor- reção monetária, conforme índice oficialmente estabelecido, retroativa à data da citação, acrescidos de juros pela mora no pagamento. (...)” (fls. 20/21)

Pois bem, pela Teoria da Perda de uma Chance, o dano oriundo de sua aplicação não pode ser considerado dano emergente ou lucros cessantes, tratando-se de uma terceira classificação de dano material. O objetivo de tal teoria é responsabi- lizar o agente de perda de possível vantagem, a qual, provavelmente seria alcan- çada se não houvesse a ocorrência do ato ilícito praticado.

É o que se depreende do seguinte julgado do c. Superior Tribunal de Justiça. Confira-se:

“RESPONSABILIDADE CIVIL. RECURSO ESPECIAL. ADVOGADO QUE CONTRATA SERVIÇOS DOS CORREIOS PARA O ENVIO DE PETIÇÃO RECURSAL. SEDEX NOR- MAL. CONTRATO QUE GARANTIA A CHEGADA DA PETIÇÃO AO DESTINATÁRIO EM DETERMINADO TEMPO. NÃO CUMPRIMENTO. PERDA DO PRAZO RECURSAL. RESPONSABILIDADE CIVIL DOS CORREIOS PARA COM OS USUÁRIOS. RELAÇÃO DE CONSUMO. DANO MORAL CONFIGURADO. DANO MATERIAL NÃO PROVADO. TEORIA DA PERDA DE UMA CHANCE. NÃO APLICAÇÃO NO CASO CONCRETO. (...)

4. Descabe, no caso, a condenação dos Correios por danos materiais, por-

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