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Porém, quanto aos danos morais, colhe êxito a pretensão É de cursivo conhecimento, no ambiente forense e acadêmico, que a perda de prazo

No documento rdj103 (páginas 132-140)

apelação cível 2009071034913-

5. Porém, quanto aos danos morais, colhe êxito a pretensão É de cursivo conhecimento, no ambiente forense e acadêmico, que a perda de prazo

recursal é exemplo clássico de advocacia relapsa e desidiosa, de modo que a publicação na imprensa oficial de um julgamento em que foi reconhecida a intempestividade de recurso é acontecimento apto a denegrir a imagem de um advogado diligente, com potencial perda de clientela e de credibi- lidade. É natural presumir que eventos dessa natureza sejam capazes de abalar a honra subjetiva (apreço por si próprio) e a objetiva (imagem social cultivada por terceiros) de um advogado, razão suficiente para reconhecer a ocorrência de um dano moral indenizável.

6. Condenação por dano moral arbitrada em R$ 20.000,00 (vinte mil reais).

7. Recurso especial parcialmente provido.”

(REsp 1210732/SC, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, jul- gado em 02/10/2012, DJe 15/03/2013) (g.n.)

Acrescente-se que o apelante deixa claro em suas razões recursais que seu pleito restringe-se à “(...) apelação inepta em prol do Apelante, indiferentemente se tal

recurso teria ou não êxito, pois o que importa era (sic) atendimento responsável

e devido para com o inconformismo do Apelante para com a sentença que pre- tendiam recorrer. Além do mais tal múnus/dever/obrigação/prerrogativa recursal cabe ao (à) Advogado (a) que detém a reserva de mercado de postular em Juízo, (...)” (g.n.) (fl. 1497).

Superada essa questão, a análise da responsabilidade civil da apelada restringe-se ao disposto nos artigos 186 e 927 do Código Civil, pelos quais, aquele que causar dano a outrem, terá o dever de indenizar. É o que se extrai do texto legal abaixo transcrito:

“Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou impe- rícia, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito, causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.

Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente de- senvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.”

Dessa forma, estabelece o Código Civil a responsabilidade objetiva para o empre- gador e seus prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir ou em razão dele, a qual, por analogia, é aplicável ao presente caso. Vejamos:

“Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil: (...)

III – o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele;

(...)

Art. 933. As pessoas indicadas nos incisos I a V do artigo antecedente, ainda que não haja culpa de sua parte, responderão pelos atos praticados pelos ter- ceiros ali referidos.”

Relevante mencionar que não há se falar que, pelo fato de a relação entre a asso- ciação apelada e os advogados ser de prestação de serviço e que, em razão disto, não haveria vínculo empregatício, a responsabilidade seria do próprio prestador, uma vez que, sobre a responsabilidade civil do tomador de serviços por danos causados pelo prestador, como ocorre no presente caso, o c. STJ já se manifestou no sentido de que: “O tomador de serviço somente será objetivamente respon- sável pela reparação civil dos ilícitos praticados pelo prestador nas hipóteses em que estabelecer com este uma relação de subordinação da qual derive um vínculo de preposição” (REsp 1171939/RJ, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TUR- MA, julgado em 07/12/2010, DJe 15/12/2010).

Entendo como presente a relação de subordinação (vínculo de preposição) entre a associação apelada e os causídicos atuantes nos processos em defesa dos asso- ciados, resguardando-se, é claro, o direito de regresso.

Neste ambiente, cabe agora analisar se a conduta dos advogados que atuaram na ação anulatória configurou ilícito capaz de ofender os direitos da personalidade do apelante.

Quanto à análise das provas realizada pelo magistrado sentenciante, transcrevo trecho, o qual adoto como razões de decidir, onde o d. juiz conclui pela falha da advogada do apelante quando deixou de cumprir a exigência do art. 514, inciso II, do CPC, o que gerou o não-conhecimento do recurso de apelação da demanda anulatória. Confira-se:

“Do exame da farta documentação acostada aos autos, verifica-se que, de fato, houve falha na atuação da advogada vinculada à ré, consistente na apresen- tação de recurso de apelação que não atacou os fundamentos expostos na sentença (fls. 209/214), descumprindo a regra do inciso II do artigo 514 do

CPC. Não há escusas para essa displicência, pois o advogado deve conhecer, mais do que ninguém, as normas processuais e regimentais dos Tribunais pe- rante os quais atua.

Quanto à não interposição de recurso aos tribunais superiores contra o acór- dão acima referido, tenho que, diversamente, não é possível reconhecer uma falha na atuação da preposta da ré. O advogado, no patrocínio de seu cliente, não é obrigado a interpor recurso contra toda e qualquer decisão desfavorável, cabendo-lhe a análise da conveniência e viabilidade da prática de tal ato. E, no caso concreto, pode-se constatar que não era viável a interposição de re- curso especial ou extraordinário, pois a apelação limitou-se a reproduzir os fun- damentos de mérito da pretensão veiculada naquela ação, quando a sentença extinguiu o feito, sem resolução de mérito, por falta de interesse processual. Sem tecer uma linha no apelo sobre os fundamentos que levaram o juízo de primeira instância a reconhecer a ausência de tal condição da ação, inexistiria qualquer chance de sucesso nas instâncias superiores, em recursos de funda- mentação limitada, para reverter o entendimento do acórdão proferido pelo TJDFT.” (fls. 1459/1460)

No âmbito da responsabilidade objetiva, basta a comprovação do dano e do nexo de causalidade entre este e a conduta. Dessa forma, a associação apelada possui responsabilidade sobre os atos praticados pelos causídicos contratados para atuar nas demandas de seus associados, notadamente pelas falhas endoprocessuais, gerando abalos de ordem moral, posto que, in casu, houve ofensa ao direito do apelante de acesso ao duplo grau de jurisdição, ceifando a possibilidade de exame do mérito da demanda na instância recursal, o que aconteceu por falha técnica de sua postulante à época.

Em harmonia com o posicionamento aqui firmado a mais pacífica jurisprudência emanada dos Tribunais pátrios. Assentou o colendo Superior Tribunal de Justiça acerca da matéria, in verbis:

“CIVIL E PROCESSUAL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO INDENIZATÓRIA.

RESPONSABILIDADE CIVIL DO EMPREGADOR POR ATO DE PREPOSTO (ART. 932, III, CC). TEORIA DA APARÊNCIA. RESPONSABILIDADE OBJETIVA.

PRECEDENTES.

1. Nos termos em que descrita no acórdão recorrido a dinâmica dos fatos, tem- -se que o autor do evento danoso atuou na qualidade de vigia do local e, ainda que em gozo de licença médica e desobedecendo os procedimentos da ré, pra- ticou o ato negligente na proteção do estabelecimento.

2. Nos termos da jurisprudência do STJ, o empregador responde objetivamente pelos atos ilícitos de seus empregados e prepostos praticados no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele (arts. 932, III, e 933 do Código Civil). Precedentes.

3. Recurso especial provido.”

(REsp 1365339/SP, Rel. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, QUARTA TURMA, jul- gado em 02/04/2013, DJe 16/04/2013)

A propósito, colaciono o seguinte precedente desta eg. Corte quanto à respon- sabilidade do empregador por ato de preposto, que se aplica analogicamente ao caso, in verbis:

“CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. DANOS MORAIS. ATROPELAMENTO. INDENIZAÇÃO PLEITEADA PELA GENITORA DO FALECIDO. VEÍCULO DIRIGIDO POR PREPOSTO DE EMPRESA. PRELIMINAR DE ILEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM AFASTADA. RESPONSABILIDADE CIVIL CONFIGURADA. RESPONSABILIDADE INDIRETA DA EMPRESA. DEDUÇÃO DO DPVAT. POSSIBILIDADE DESDE QUE COMPROVADO O RECEBIMENTO PELOS BENEFICIÁRIOS. JUROS DE MORA. TERMO INICIAL. FI- XAÇÃO A PARTIR DA CITAÇÃO EM FACE DOS LIMITES DO RECURSO. SENTENÇA PARCIALMENTE REFORMADA.

1 – Nos termos dos artigos 927, parágrafo único, e 932, inciso III, do Códi- go Civil, a responsabilidade do empregador advém da prova de que o ato danoso foi produzido pelo empregado ou preposto e que este agiu com culpa ou dolo, não observando o dever de cuidado. Preliminar de ilegitimi-

dade passiva da empresa-ré rejeitada.

2 – O dever de indenizar da Ré decorre da comprovação do nexo de causalida- de havido entre o ato ilícito praticado por preposto seu e o dano causado à Au- tora, que teve seu filho vitimado pelo veículo conduzido pelo referido preposto. 3 – Tendo o quantum arbitrado, a título de compensação por dano moral, sido fixado mediante prudente arbítrio do Juiz, de acordo com o princípio da razo- abilidade e da proporcionalidade, observados a finalidade compensatória, a extensão do dano experimentado, o grau de culpa e a capacidade econômica das partes, ao mesmo tempo, o valor não pode ensejar enriquecimento sem causa, nem pode ser ínfimo a ponto de não coibir a reiteração da conduta, não há que se falar em minoração.

4 – Nos termos da jurisprudência do TJDFT e do enunciado 246 do STJ, cabível é a dedução do valor pago a título de DPVAT do valor arbitrado judicialmente, a título de danos morais, desde que haja a devida demonstração de que o seguro foi efetivamente pago aos beneficiários.

5 – Os juros de mora, tratando-se de danos morais, tem como termo inicial para sua incidência a fixação do quantum indenizatório, haja vista que o mes- mo fundamento para que a atualização monetária seja contada a partir do julgamento que fixou ou promoveu modificação na quantia deve ser utilizado na contagem dos juros de mora. Solução decorrente da natureza das coisas. Não é possível cobrar juros em período que não se sabia qual era a quantia devida. Entretanto, em face da limitação do pedido de reforma formulado pelo Apelante, que buscava a fixação do termo inicial dos juros moratórios a partir da citação, impõe-se a reforma do decisum nestes termos.

Apelação Cível parcialmente provida.”

(Acórdão 590773, 20090310182922APC, Relator: ANGELO CANDUCCI PAS- SARELI, 5ª Turma Cível, Data de Julgamento: 30/05/2012, Publicado no DJE: 08/06/2012. Pág.: 132) (g.n.)

In casu, verificada a falha na prestação do serviço quando da interposição do re- curso e a responsabilidade da apelada pelos atos do causídico atuante na deman- da anulatória, emerge o direito de indenização do apelante, já que demonstrada a situação capaz de afetar seus direitos de personalidade.

Nota-se que a doutrina adota um tratamento diferenciado, no que concerne aos meios probatórios tradicionais, para a configuração do dano moral, onde o direito à dignidade é violado. Trata-se de uma arquitetura jurídica levada a cabo para superar a fase de irreparabilidade, anteriormente existente no sistema, em face das dificuldades inerentes à comprovação de dor, tristeza, vexame, humilhação ou outro valor imaterial sofrido em qualquer dos bens integrantes do patrimônio personalíssimo do ser humano.

Vale dizer, o dano moral é ínsito à ofensa, in casu, à frustração pelo não conhecimen- to do recurso, porquanto decorre de presunção, segundo as regras da experiência comum, devido à gravidade do fato ofensivo.

No que tange ao quantum indenizatório, convém frisar que inexiste critério cien- tífico para se medir quantitativamente a intensidade do dano moral. Cumpre ao julgador sopesar tanto o caráter de indenização à vítima, quanto o de sanção ao causador do dano, para que o quantum indenizatório seja efetivamente adequado e proporcional ao prejuízo efetivamente experimentado.

O professor Humberto Theodoro Júnior leciona (in Livro de Estudos Jurídicos, nº 2, p. 49) que, in verbis:

“(...) resta para a justiça a penosa tarefa de dosar a indenização, porquanto haverá de ser feita em dinheiro, para compensar uma lesão que, por sua pró- pria natureza, não se mede pelos padrões monetários. O problema há de ser solucionado dentro do princípio do prudente arbítrio do julgador, sem parâme- tros apriorísticos e à luz das peculiaridades de cada caso, principalmente em função do nível sócio econômico dos litigantes e da maior ou menor gravidade da lesão.”

Guisados estes marcos e ao considerar as peculiaridades do caso concreto, enten- do que o valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) encontra-se adequado e satisfaz o autor, ora apelante, encontrando-se compatível com o vulto dos interesses em conflito e compatível com os dissabores e transtornos experimentados por ele, os quais foram suficientes a desarticular os seus valores morais e éticos, que resta- ram maculados.

Ante o exposto, dou provimento ao apelo para julgar procedente o pedido inicial e condenar a apelada ao pagamento do montante de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), a título de danos morais, corrigido monetariamente a partir da data do julgamento e, juros de mora de 1% (um por cento) ao mês, contados da data do evento dano- so, no caso, da data do acórdão encontrado por cópia às fls. 209/213. Em face da sucumbência, condeno a ré, ora apelada, ao pagamento das despesas processuais e honorários advocatícios, estes fixados em 10% (dez por cento) sobre o valor da condenação, conforme art. 20, § 3º, do CPC.

É como voto.

Des. Sérgio Rocha (Vogal) – Com o Relator. Desa. Fátima Rafael (Vogal) – Com o Relator.

decisão

Dar provimento. Unânime.

apelação cível

No documento rdj103 (páginas 132-140)