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Multa civil fixada em patamar razoável 7 Recursos desprovidos.

No documento rdj103 (páginas 106-117)

apelação cível 2008011137174-

6. Multa civil fixada em patamar razoável 7 Recursos desprovidos.

acórdão

Acordam os Senhores Desembargadores da 3ª Turma Cível do Tribunal de Justi- ça do Distrito Federal e Territórios, Getúlio de Moraes Oliveira – Relator, Otávio Augusto – Revisor, Mário-Zam Belmiro – 1º Vogal, sob a presidência do Senhor Desembargador Otávio Augusto, em proferir a seguinte decisão: conhecer. Rejeitar preliminares. Negar provimento ao recurso. Unânime, de acordo com a ata do jul- gamento e notas taquigráficas.

Brasília (DF), 25 de setembro de 2013.

relatório

Adoto o relatório da r. Sentença, in verbis:

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO DISTRITO FEDERAL E TERRITÓRIOS ajuizou ação ci- vil pública por ato de improbidade administrativa em face de A.H.B.V. e L.C.S.L. De acordo com o relato contido na inicial e documentos que a acompanha- ram, no dia 17 de abril de 2008, a partir das 7h50min, os autores, valendo-se da condição de policiais civis e em razão das informações que detinham pelo exercício dela, previamente ajustados, com unidade de desígnios, praticaram extorsão contra E.F. da C., funcionário do 5º Distrito Rodoviário do DER.

Após interceptarem a vítima nas proximidades de seu local de trabalho na BR 080 (antiga DF 180), em Brazlândia/DF, os réus forçaram-na a acompanhá- -los a outros lugares – primeiramente até um colégio localizado entre a Vila São José e o Setor Veredas, em Brazlândia, e depois no trajeto Brazlândia/Ta- guatinga. Durante o deslocamento realizaram “entrevista” questionando os veículos de propriedade do ofendido e a quantia em dinheiro que detinha em casa ou em estabelecimentos bancários, acabando por exigir a entrega de R$ 24.000,00 até as 16h daquele mesmo dia, sob pena de prisão.

Ainda segundo a peça de ingresso, a conduta dos réus transcorreu ao desabri- go das normas e procedimentos legais e somente foi estancada com a inter- venção da Polícia Militar que os prendeu em flagrante pela prática do crime de extorsão, após ser acionada e comunicada do fato por parte de um vigia do DER que avistara a abordagem à vítima. Já no interior da Delegacia de Polícia para a qual foram conduzidos, verificou-se que um dos veículos utilizados pe- los acusados na criminosa empreitada era produto de roubo.

O Ministério Público sustentou que o comportamento dos réus configuraria o ato de improbidade administrativa descrito no art. 11 da Lei 8.429/92 e, justamente por isso, requereu ao final a condenação dos mesmos na perda definitiva da função pública, na suspensão dos direitos políticos, no pagamen- to de multa civil e na proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais e creditícios, na forma da lei em referência. Os réus foram notificados, conforme art. 17 da Lei 8.429/92 e se manifesta- ram às fls. 207/227.

Arguíram, em preliminar, a carência de ação sustentando a ilegitimidade do Ministério Público para o ajuizamento do feito e a ausência de interesse de agir. Afirmaram, ainda, a inépcia da inicial.

No mais, sustentaram a inexistência de qualquer indício da prática de crime ou de ato de improbidade administrativa e a ausência de prova de que tenham realmente auferido vantagem econômica indevida na ação. Aduziram, ainda, que a acusação, da forma como elaborada, transformaria toda e qualquer con- duta policial em ato de improbidade.

A decisão interlocutória de fls. 229/231 rejeitou as preliminares arguídas e recebeu a inicial, determinando o processamento do feito. Registro que em face da referida decisão os autores manejaram o Agravo de Instrumento 2009.00.2.017509-6, ao qual foi negado provimento na 3ª Turma Cível do TJDFT.

Os réus foram então citados e apresentaram resposta em forma de contesta- ção, juntada às fls. 244/268.

Insistiram nas preliminares de ilegitimidade do Parquet e ausência de interesse de agir.

No mérito, a defesa sustentou que o autor não indicou precisamente a condu- ta dos réus que pudesse caracterizar a prática de improbidade administrativa; que a abordagem à suposta vítima observou os padrões normais da atividade policial; que à época dos fatos o segundo réu estava lotado na Delegacia de Roubos e Furtos de Veículos, encarregado de investigar quadrilha de desman- che de automóveis envolvendo pessoas residentes em Brazlândia e justamente por isso atuou na região na data registrada na inicial, no regular exercício de sua função investigatória; que o primeiro réu, apesar de estar afastado da ativi- dade policial, auxiliou o segundo no procedimento investigativo, após receber dele solicitação nesse sentido e devido à carência de agentes que pudessem fazê-lo; que os réus abordaram a suposta vítima da extorsão e a entrevistaram, mas como ela “não tinha conhecimento total do esquema em que estava en- volvido e ainda que era pessoa com endereço e trabalho fixo, resolveram voltar a Brazlândia e liberá-la”; que os acusados não exigiram vantagem econômica indevida e não sabiam da origem ilícita de um dos veículos utilizados na opera- ção; que inexistiu irregularidade na abordagem dos réus à vítima e não houve intimidação com o propósito de obterem vantagem econômica ilegal.

O Ministério Público se manifestou em réplica, reiterando sua convicção apre- sentada na inicial (fls. 346/352).

Houve posterior desmembramento da defesa dos réus. O primeiro – A.H.B.V. – constituiu novo patrono que em seu favor ofertou defesa às fls. 355/398, reite- rando a negativa da imputação ministerial, sustentando, em suma, ter inexistido ilegalidade no comportamento do acusado que pudesse configurar a prática de

crime de extorsão ou de ato de improbidade administrativa. Consta na referida peça que o réu somente teve participação na ação relatada na inicial após “ape- lo insistente” do outro denunciado (L.C.S.L.), que desconhecia a origem ilícita do veículo utilizado na empreitada, que a abordagem e entrevista à suposta vítima não excedeu os padrões policiais e que não obteve vantagem econômica ilegal. A defesa afirmou, ainda, a inadequação da propositura da ação civil de impro- bidade administrativa dada a ausência de interesse processual, pois a perda do cargo público somente poderia se dar na via da ação criminal e defendeu não restar comprovado o necessário dolo na conduta do acusado, em especial porque a palavra da vítima não mereceria crédito, diante de seu envolvimento com a prática de atos ilegais relacionados à investigação policial.

Houve nova manifestação do. Ministério Público às fls. 456/463, inclusive pro- cedendo à juntada de cópia da sentença penal condenatória imposta aos réus no Juízo Criminal de Brazlândia em decorrência dos mesmos fatos descritos na inicial.

Seguiu-se com a instrução nos presentes autos.

Inicialmente, o Juízo determinou que fossem prestados esclarecimentos acerca da investigação policial conhecida como “Operação Fanfarrão”, na qual teve participação o Agente da Polícia Civil ora segundo réu L.C.S.L. Na sequência foi deferida e produzida prova oral consistente na colheita do depoimento pessoal dos réus e oitivas das testemunhas arroladas pelas partes (fls. 1126/1145 e 1176/1181).

As partes apresentaram memoriais: o Ministério Público às fls. 1182/1211; L.C.S.L. às fls. 1217/1232 e A.H.B.V. às fls. 1244/1258. Todos reiteraram a linha de raciocínio desenvolvida nas peças anteriores, deduzindo idênticos pedidos. É o relatório. Passo à fundamentação. (Fls. 1.260/1.263).

Acrescento que o MM. Juiz a quo julgou procedente o pedido nos seguintes ter- mos, in verbis:

Ante o exposto, JULGO PROCEDENTE o pedido para:

I) Condenar definitivamente os réus na perda da função pública;

II) Impor-lhes a suspensão dos direitos políticos pelo prazo de 5 (cinco) anos, em razão da gravidade do fato, da extrema incompatibilidade com a função que exerciam e evidente prejuízo à imagem da Polícia e da própria Administração; III) Condená-los no pagamento de multa civil em quantia equivalente a 5 (cin- co) vezes o valor da remuneração mensal que auferiam à época do fato, con- forme diretriz acima adotada;

IV) Proibir os réus de contratarem com o Poder Público ou dele receberem quaisquer benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indireta- mente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual sejam sócios, pelo prazo de 3 (três) anos.

Julgo extinto o feito, na forma do art. 269, I, do CPC.

Sem custas e honorários em face da natureza da ação.Fl. 1.269.

Foram rejeitados os embargos de declaração opostos pelo Réu L.C.S.L. (fls. 1.273/1.277), conforme Decisão às fls. 1.327/1.328 dos presentes autos.

Inconformados, os Réus interpõem recursos de apelação.

O Réu A.H.B.V. suscita preliminar de inadequação da via eleita, ao argumento de a Lei 8.429/92 tem por escopo a penalização de atos praticados por servidor públi- co no exercício da função, que gera dano ao erário, ocasionando enriquecimento ilícito; e que a inicial aponta suposta prática dos crimes comuns de extorsão e receptação.

Argumenta que o fato apurado não se enquadra aos ditames da Lei de Improbi- dade, e que a perda do cargo público poderá ser levada a efeito através de ação penal, o que revelaria a ausência do interesse de agir do Parquet.

Afirma que na valoração das provas deve imperar o princípio in dubio pro reo, ante a alegada inexistência de certeza quanto à prática de ato de improbidade.

Sustenta que a abordagem da suposta vítima foi feita de dia, de forma bastante visível, em frente à guarita do seu local de trabalho, e que não houve violência ou utilização de qualquer arma de fogo, e que de forma ostensiva, e após a aborda- gem, o agente L.C. identificou-se como policial.

Assevera que a obtenção de autorização por escrito ou verbal para realização de diligência policial é uma exceção, e que os policiais primeiro checam as informa- ções que obtém e depois as relatam aos superiores hierárquicos, e que a exigência de conduta diversa engessaria a atividade policial.

Reconhece que o nome da suposta vítima – E. – não apareceu nas escutas telefô- nicas deferidas para apurar furtos e roubos de veículos, na denominada Operação Fanfarrão, mas que as diligências estavam sendo realizadas na cidade de Brazlân- dia – DF, e as informações repassadas ao policial L.C. apontavam o envolvimento de E. com os fatos por ele apurados; o que ensejou o levantamento de informa- ções junto àquele.

Argumenta que o fato do policial L.C. não ter comunicado ao seu superior hierár- quico sobre a diligência que desejava efetuar não a torna suspeita, e tampouco pode ser interpretada em detrimento dos Réus.

Sustenta que o policial L.C. não integrava mais a equipe da DRPV em razão das al- terações promovidas, e que tentou concluir os trabalhos decorrentes da Operação Fanfarrão para após ser transferido.

Afirma que não estava no exercício de suas funções em razão de afastamento pre- ventivo decorrente de outro processo administrativo, no qual foi inocentado, e que possui 17 (dezessete) elogios em seu histórico funcional, tendo descumprido o disposto no inciso XX, do artigo 43, da Lei 4.878/65, e “sendo merecedor da pena

de suspensão prevista na lei” (fl. 1.307).

Alega que a suposta vítima – E.F. – trabalha como vigilante no DER, e que partici- pava de esquema ilícito de financiamento de veículos sinistrados mediante van- tagem pecuniária, tendo criado a versão de extorsão para encobrir os verdadeiros fatos. Alude a mentiras e contradições nos depoimentos prestados por E., o qual, segundo afirma, aufere o salário de R$ 3.400,00 e possui cerca de R$ 200.000,00 (duzentos mil reais) em veículos, e que “atribuir credibilidade as suas palavras é

atestar a total desmoralização das instituições” (fl. 1.316).

Quanto ao carro utilizado pelos Réus – GM/Astra – o qual era proveniente de rou- bo, afirma que lhe foi emprestado por E.G. da S., pois seu veículo estava na oficina,

sendo ilação não permitida no âmbito processual a presunção de que tinha conhe- cimento de sua origem ilícita.

Assevera a inobservância aos princípios da razoabilidade e proporcionalidade na imposição judicial de sanção máxima prevista em lei.

Ao final, postula o provimento do recurso, para que seja julgado improcedente o pleito inicial, ou para que seja afastada a perda da função pública e a pena civil, ou a sua redução.

Preparo regular às fls. 1.324/1.325.

Em suas razões recursais, o Réu L.C.S.L. suscita preliminar de insuficiência na fundamentação da r. Sentença (artigo 93, inciso IX, da Constituição Federal), por- quanto aviou embargos declaratórios por omissão que não foram acolhidos, tendo aquela sido feita em apenas quatro parágrafos, ancorada em depoimento da su- posta vítima de extorsão, do Delegado R.M., e Sentença condenatória proferida em processo criminal.

Afirma que não agiu de forma ímproba, e que executou o seu mister ao investigar o criminoso, para apreender a prova material, que era o dinheiro fruto do estelio- nato. Alega que como era o único responsável remanescente pela investigação, solicitou ajuda ao colega A., para acompanhá-lo no carro deste.

Assevera que à época dos fatos estava lotado na Delegacia de Repressão aos Fur- tos de Veículos – DRPV e investigava uma suposta quadrilha de desmanche de carros e clonagem de veículos salvados. Que a investigação inicial contava com um delegado (Dr. Robert) e três agentes de campo, para promoverem diligências, levantamentos, investigações e escutas telefônicas, e que o processo tramitava no Juízo de Direito da 2ª Vara Criminal de Ceilândia.

Durante a investigação, afirma que ocorreram mudanças na lotação do DRPV, pois os policiais M.A. e R.L. foram transferidos para outra delegacia, ficando somente o Apelante como responsável pela finalização da investigação em curso, tendo obtido a informação de que E. estaria na posse de duas caminhonetes obtidas por meio de financiamento fraudulento.

Argumenta a inexistência de prova que possa amparar a condenação por impro- bidade administrativa, porquanto tinha total liberdade para executar diligências e levantamentos relacionados à Operação Fanfarrão, e que o objetivo da inquirição de E. era o de apurar seu envolvimento com supostos delitos investigados na re- ferida operação.

Sustenta que a acusação de extorsão foi inventada por E., o qual compareceu à Delegacia porque foi abordado por policiais militares quando já estava em seu local de trabalho.

Afirma que o depoimento de E. prestado nos autos do Processo Criminal 2008 02 1 001897-4 afasta o suposto crime de extorsão, visto que declara que não ficou intimidado com a abordagem dos policiais, não foi solicitado o cartão bancário e senha, e que não foi ameaçado ou lhe apresentada qualquer arma de fogo. Defende a subjetividade do artigo 11 da Lei 8.429/92, o qual não pode ser utiliza- do para todos os casos de transgressão disciplinar, e que não ficou configurado o dolo em malferir os princípios da Administração Pública. Ao final, postula o reco- nhecimento de fundamentação deficiente da r. Sentença, e a sua reforma, ante a ausência de caracterização da extorsão ou o dolo.

Preparo regular às fls. 1.355/1.356.

Contrarrazões ao recurso às fls. 1.392/1.414.

A Procuradoria de Justiça, em seu Parecer às fls. 1.461/1.472, oficiou pelo conhe- cimento e desprovimento dos recursos de apelação.

É o relatório.

votos

Des. Getúlio de Moraes Oliveira (Relator) – Presentes os pressupostos de admis-

sibilidade, conheço do recurso.

Cuida-se de recursos de apelação interpostos contra r. Sentença que julgou proce- dente pedido de condenação dos Réus por pratica de atos de improbidade admi- nistrativa, consubstanciado no constrangimento ilegal de E.F. da C., com o intuito

de obter vantagem ilícita, em inobservância aos princípios que regem a Adminis- tração Pública (artigo 11, inciso I, da Lei 8.429/92).

De início, registro que o Apelante A.H.B.V. suscita preliminar de inadequação da via eleita, ao argumento de a Lei 8.429/92 tem por escopo a penalização de atos praticados por servidor público no exercício da função, que gera dano ao erário, ocasionando enriquecimento ilícito; e que a inicial aponta suposta prática dos cri- mes comuns de extorsão e receptação, bem como que a perda do cargo público poderá ser levada a efeito através de ação penal, o que revelaria a ausência do interesse de agir do Parquet.

Ocorre que a caracterização de ofensa ao disposto no artigo 11 da Lei 8.429/92 dispensa a comprovação de enriquecimento ilícito do servidor público, bem como a prova de dano ao erário, uma vez que necessária apenas a demonstração de conduta contrária aos princípios da Administração Pública. Nesse sentido: REsp 951.389/SC, Rel. Min. Herman Benjamin, 1ª Seção, DJe 04.05.2011; REsp 799.094/ SP, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, 1ª Turma, DJe 22.09.2008; e REsp 988.374/MG, Rel. Min. Castro Meira, 2ª Turma, DJe 16.05.2008.

Ademais, o fato de os Apelantes terem sido condenados em processo criminal, inclusive com a perda da função pública, não afasta o interesse processual na im- posição das sanções previstas no artigo 12 da Lei 8.429/92, em autos de Ação de Improbidade Administrativa, porquanto ausente informação de efetiva demissão do serviço público em sede administrativa.

Rejeito, pois, a preliminar.

De igual forma, não prospera a preliminar de insuficiência de fundamentação da r. Sentença (artigo 93, inciso IX, da Constituição Federal), suscitada ao argumento de que o Apelante L.C.S.L. aviou embargos declaratórios por omissão, que não foram acolhidos, e que aquela está lastreada em apenas quatro parágrafos.

O artigo 93, inciso IX, da Constituição Federal exige que o acórdão ou decisão se- jam fundamentados, ainda que sucintamente, sem determinar, contudo, o exame pormenorizado de cada uma das alegações ou provas, nem que sejam corretos os fundamentos da decisão.

Desse modo, não padece de nulidade a Sentença por ausência de fundamentação se o magistrado deduziu as razões de fato e de direito que levaram ao seu conven- cimento, em estrita observância à norma do artigo 93, inciso IX, da Constituição Federal.

Sobreleva destacar que as razões deduzidas em sede de embargos de declaração, na verdade, alberga a intenção de modificar o mérito do Decisum, adequando-o a tese defendida pela parte (fls. 1.273/1.277 – 1.327/1.328).

Rejeito, pois, a preliminar.

É certo que “a Lei da Improbidade Administrativa (Lei 8.429/92) objetiva punir os

praticantes de atos dolosos ou de má-fé no trato da coisa pública, assim tipificando o enriquecimento ilícito (art. 9º), o prejuízo ao erário (art. 10) e a violação a princípios da Administração Pública (art. 11)” (STJ, AgRg no AREsp 21.662/SP, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 07/02/2012, DJe 15/02/2012).

Dispõe o artigo 4º da Lei 8.429/92 que “os agentes públicos de qualquer nível ou

hierarquia são obrigados a velar pela estrita observância dos princípios de legali- dade, impessoalidade, moralidade e publicidade no trato dos assuntos que lhe são afetos”, e seu artigo 11, inciso I, que “constitui ato de improbidade administrativa

que atenta contra os princípios da administração pública qualquer ação ou omissão que viole os deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade, e lealdade às ins- tituições, e notadamente: praticar ato visando fim proibido em lei ou regulamento diverso daquele previsto, na regra de competência”.

No caso, restou provada a conduta antijurídica dos Apelantes, em flagrante ato doloso de violação aos princípios da Administração Pública, o que autoriza a apli- cação das sanções previstas na Lei 8.429/92.

Com efeito, o MM. Juiz a quo examinou com a acuidade a questão posta sub judice, cujas razões adoto como parte integrante deste voto, in verbis:

O Ministério Público ajuizou a presente ação civil pública por ato de improbi- dade administrativa em face de A.H.B.V. e de L.C.S.L., na qual sustentou que os acusados adotaram condutas perfeitamente enquadráveis no comando legal abstrato contido no art. 11, inciso I, da Lei 8.429/92 e, por isso, requereu a

condenação dos mesmos nas seguintes penas: na perda definitiva da função pública, na suspensão dos direitos políticos, no pagamento de multa civil e na proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incenti- vos fiscais e creditícios, na forma da lei em referência.

Segundo a peça de ingresso, no dia 17 de abril de 2008, a partir das 7h50min, os autores, valendo-se da condição de policiais civis e em razão das informa- ções que detinham pelo exercício dela, previamente ajustados, com unidade de desígnios, praticaram extorsão contra o funcionário do 5º Distrito Rodoviário do DER E.F. da C.

Os réus, após interceptarem ilegalmente a vítima nas proximidades de seu local de trabalho, forçaram-na a acompanhá-los a outros lugares realizando procedimento de “entrevista” à margem da regular atuação policial, na qual questionaram sobre os veículos de propriedade do ofendido e a quantia de dinheiro que detinha em casa ou em estabelecimentos bancários, acabando por exigir que lhes entregasse o montante de R$ 24.000,00 até as 16h daquele mesmo dia, sob pena de prisão.

De acordo com o autor, a conduta dos réus somente foi estancada com a inter-

No documento rdj103 (páginas 106-117)