Técnicas Cromatográficas
8.2.5. Aplicação a Matrizes Reais
A metodologia optimizada foi aplicada a matrizes reais, previamente filtradas e fortificadas para os níveis de concentração desejados. Foram realizados ensaios em branco, com amostras reais não fortificadas. O procedimento experimental utilizado foi o mesmo aplicado anteriormente (vd. 6.9.1), tendo sido utilizado o método de adição de padrão (SAM), o qual consiste na adição à matriz de quantidades conhecidas dos compostos em estudo antes da aplicação da metodologia analítica. Este método é frequentemente usado para quantificação principalmente quando as amostras são muito complexas, permitindo ter em conta a ocorrência de eventuais interferentes, minimizando assim os efeitos de matriz.11
Foram analisadas duas amostras aquosas, uma de água superficial (recolhida na Barragem do Castelo de Bode) e outra de água subterrânea (recolhida num poço de uma zona
153
agrícola na região de Tomar). Assim, 25 mL de amostras reais com concentrações dos herbicidas em estudo compreendidas entre 0,8 e 16,7 µg/L e respectivos brancos foram analisados em triplicado usando a metodologia optimizada SBSE(P20)‐LD/HPLC‐DAD. As curvas obtidas pelo SAM para cada composto encontram‐se no Anexo 1. A tabela 8.6 resume os resultados obtidos para as matrizes estudadas.
Tabela 8.6 – Declives, coeficientes de correlação (r2) e valores obtidos nas amostras para os sete herbicidas triazínicos em estudo, usando a metodologia optimizada SBSE(P20)‐LD/HPLC‐ DAD (adaptado de Talanta 77 (2008) 7653). Água Superficial Água Subterrânea Declive r2 C0(µg/L) Declive r2 C0 (µg/L) Simazina 6,0728 0,9957 < LOD 6,1843 0,9944 < LOD Atrazina 6,4601 0,9991 7,6484 0,9992 Prometon 6,0174 0,9891 6,8140 0,9995 Ametrina 7,5663 0,9948 8,9667 0,9947 Propazina 8,8084 0,9899 6,5973 0,9978 Prometrina 13,2751 0,9937 11,8200 0,9914 Terbutrina 13,3474 0,9965 11,5069 0,9964 É possível observar que a metodologia apresentada demonstra excelente desempenho na análise dos sete herbicidas triazínicos em matrizes reais ao nível vestigial. Os coeficientes de correlação apresentam valores adequados (> 0,9891), semelhantes para os dois tipos de amostra, assim como os declives obtidos. As variações mais elevadas do declive verificam‐se para os compostos mais apolares, o que indica que para estes o efeito de matriz se faz notar com mais intensidade. Porém, estes valores permitem‐nos concluir que os efeitos de matriz são negligenciáveis, pelo que a metodologia é aplicável a estes dois tipos de amostra, para este conjunto de compostos em particular.
As matrizes ambientais estudadas evidenciaram a ausência de contaminação pelos herbicidas em estudo, uma vez que as concentrações obtidas no branco da amostra (C0) se
encontravam abaixo do LOD determinado por SBSE(P20)‐LD/HPLC‐DAD para cada composto, como apresentado anteriormente na tabela 8.3. O método analítico proposto apresenta boa selectividade e sensibilidade adequada para analisar os herbicidas triazínicos em águas superficiais e subterrâneas. A figura 8.14 exemplifica os perfis cromatográficos obtidos para as duas amostras estudadas após aplicação da metodologia proposta.
154
Figura 8.14 – Perfis cromatográficos obtidos por HPLC‐DAD para (a) a mistura padrão de
herbicidas triazínicos estudados, (b) herbicidas triazínicos em água subterrânea após SBSE(P20)‐LD e (c) herbicidas triazínicos em água superficial após SBSE(P20)‐LD, sob condições experimentais optimizadas; simazina (1), atrazina (2), prometon (3), ametrina (4), propazina (5), prometrina (6), terbutrina (7) (adaptado de Talanta 77 (2008) 7653).
A sensibilidade da metodologia não foi, no entanto, a desejável, principalmente de forma a estar de acordo com as directivas internacionais que regulam a qualidade da água para consumo humano. Tendo em conta os valores estipulados pela EU,12 os LODs obtidos podem ser considerados aceitáveis, uma vez que a sua soma é inferior a 5 µg/L, embora não estejam de acordo com as directivas europeias no que respeita aos valores para cada pesticida individual (à excepção do prometon) em águas para consumo humano. No entanto, pode ser aplicada à análise de águas superficiais, pois neste tipo de matriz os VMAs para estes compostos encontram‐se compreendidos entre 1 e 3 µg/L.13
No entanto, apesar da metodologia SBSE(P20)‐LD/HPLC‐DAD ter demonstrado ser uma ferramenta analítica adequada, o seu desempenho pode ser melhorado com o recurso à detecção por espectrómetros de massa ou sistemas tandem (LC‐MS ou LC‐MS/MS), de modo a aumentar a selectividade e a sensibilidade e diminuir os LODs, para cumprimento das directivas internacionais para os compostos individuais em amostras de água para consumo humano.
155
8.3. Conclusões
O método aqui proposto provou ser uma técnica analítica valiosa para a análise de herbicidas triazínicos ao nível vestigial. Realizaram‐se ensaios sistemáticos com barras revestidas com 71 µL de P20 usando água ultra‐pura modificada com 5 % (v/v) de MeOH, a qual foi colocada sob agitação a 1250 rpm durante 6 h à temperatura ambiente, seguindo‐se a retroextracção com 5 mL de MeOH durante 20 min sob tratamento US. Estes ensaios permitiram obter um bom desempenho na análise de sete herbicidas triazínicos em matrizes aquosas. Sob condições experimentais optimizadas, obteve‐se boa precisão e exactidão, linearidade dentro de uma gama de concentrações compreendidas entre 0,9 e 16,7 µg/L. (r2 > 0,9948) e LODs ao nível vestigial. O método desenvolvido permitiu a obtenção de recuperações compreendidas entre 20,4 e 62,0 % e boa repetibilidade (RSD > 7,0 %).
A aplicação da metodologia optimizada com recurso ao SAM na análise de triazinas em amostras ambientais nomeadamente, águas subterrâneas e superficiais, permitiu obter bom desempenho, com efeitos de matriz negligenciáveis e boa gama de linearidade (r2 > 0,9891).
A realização de ensaios de recuperação para comparação do P20 com as barras comerciais revestidas com PDMS permitiu a obtenção de recuperações até cerca de 5 vezes maiores quando o P20 é usado. Comparando as afinidades de P20 e do PDMS para os compostos estudados há claramente maior afinidade por parte do primeiro, mesmo com volumes poliméricos menores, evidenciando a sua elevada capacidade para extracção dos compostos mais polares, visivelmente superior ao PDMS, o que o torna uma valiosa alternativa para a SBSE, permitindo a análise de compostos com características mais polares.
8.4. Referências Bibliográficas
[1] R. Carabias‐Martínez, E. Rodríguez‐Gonzalo, E. Miranda‐Cruz, J. Domínguez‐Álvarez, J. Hernández‐Méndez, J. Chromatogr. A 1122 (2006) 194.
[2] W.M. Meylan, SRC KOWWIN Software SRC‐LOGKOW Version 1.66, Syracuse Research Corporation, USA, 2000.
[3] F. C. M. Portugal, M. L. Pinto, J. M. F. Nogueira, Talanta 77 (2008) 765. [4] G. M. F. Pinto, I. C. S. F. Jardim, J. Chromatogr. A 869 (2000) 463.
156
[5] M. E. León‐González, L. V. Pérez‐Arribas, L. M. P. Díez, C. Panis, M. P. San Andrés, Anal.
Chim. Acta 445 (2001) 29.
[6] A. Paschke, P. L. Neitzel, W. Walther, G. Schüürmann, J. Chem. Eng. Data 49 (2004) 1639. [7] L. Zarpon, G. Abate, L. B. O. dos Santos, J. C. Masini, Anal. Chim. Acta 579 (2006) 81. [8] M. Kuster, M. L. de Alda, D. Barceló, J. Chromatogr. A 1216 (2009) 520.
[9] R. Rodil, J. von Sonntag, L. Montero, P. Popp, M. R. Buchmeiser, J. Chromatogr. A 1138 (2007) 1.
[10] E. Baltussen, P. Sandra, F. David, C. Cramers, J. Microcolumn Sep. 11(1999) 737. [11] M. Ribani, C. Bottoli, C.H. Collins, I. Jardim, L. Melo, Quim. Nova 27 (2004) 771. [12] S.‐D. Huang, H.‐I. Huang, Y.‐H. Sung, Talanta 64 (2004) 887.
9
SBSE(P20)‐LD/HPLC‐DAD de
Metabolitos Triazínicos
159
9.1. Introdução
Conforme referido no Capítulo 3, as triazinas podem sofrer vários processos de degradação, originando metabolitos que podem ser tão ou mais tóxicos que os compostos originais, pelo que a sua monitorização é de extrema importância. Optou‐se por estudar metabolitos que derivam principalmente da simazina, atrazina e terbutilazina, uma vez que estas são actualmente as triazinas mais estudadas (vd. Capítulo 3). Neste sentido, os metabolitos triazínicos seleccionados para este estudo foram a desetil‐2‐hidroxiatrazina (OH‐ DEA), desisopropilatrazina (DIA), desetilatrazina (DEA), 2‐hidroxiatrazina (OH‐ATR) e desetilterbutilazina (DTBZ). As respectivas estruturas moleculares são apresentadas na figura 9.1. Figura 9.1 – Estruturas moleculares dos cinco metabolitos triazínicos estudados.
A tabela 9.1 apresenta os valores de log KO/W e de pKa para estes metabolitos,
observando‐se que apresentam valores de log KO/W muito baixos, podendo ser considerados
muito polares, para os quais o PDMS não apresenta afinidade. Para além disso, são compostos acídicos, visto apresentarem valores de pKa inferiores a 7.
160
Tabela 9.1 – Resumo dos valores de log KO/W e pKa para os metabolitos triazínicos em estudo.
log KO/W1,2 pKa1,3 OH‐DEA 0,20 4,57 – 4,75 DIA 1,15 1,30 – 1,58 DEA 1,52 1,30 – 1,65 OH‐ATR 0,76 4,90 – 5,20 DTBZ 2,19 ‐‐‐‐
Na figura 9.2 apresenta‐se um esquema do equilíbrio ácido‐base destes compostos (tomando a OH‐ATR como exemplo), bem como um esquema do equilíbrio ceto‐enólico referenciado na literatura para as hidroxi‐triazinas. Estas apresentam um equilíbrio ceto‐ enólico a valores de pH compreendidos entre ≈4,6 e 11,5.3 Para os metabolitos clorados (DIA, DEA e DTBZ), apenas o equilíbrio ácido‐base representado na caixa em evidência na figura está disponível, uma vez que não possuem a função álcool.
Figura 9.2 – Formas tautoméricas da OH‐ATR a diferentes valores de pH (adaptado de J. of
Chromatogr. A 835 (1999) 2173).
161
Por consulta bibliográfica, verificou‐se que apenas dois estudos foram realizados com recurso a SBSE‐TD para extracção de DEA e DIA,4,5 sendo os valores apresentados algo discrepantes. O estudo apresentado neste capítulo encontra‐se já publicado.6