Índice de Tabelas
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1.3.2.1. Conceitos teóricos
A teoria da SBSE é bastante semelhante à da SPME. Considera‐se que existe uma correlação entre os coeficientes de partição relativos à distribuição dos compostos entre o PDMS e a fase aquosa (KPDMS/W) e os coeficientes de distribuição octanol‐água (KO/W). Estes
últimos constituem uma medida de polaridade dos compostos orgânicos e, embora esta correlação seja apenas aproximada, permite obter uma estimativa da eficiência teórica de extracção para cada composto. De uma forma geral, embora algo grosseira, os compostos apolares são caracterizados por log KO/W superiores a 4 e os polares por valores inferiores a 2.3
KPDMS/W consiste na razão entre a concentração de um determinado composto no
PDMS (CPDMS) e na fase aquosa (CW), após atingido o equilíbrio, de acordo com a equação 1.3,
em que mPDMS e mW são a sua massa no PDMS e na fase aquosa, respectivamente, m0 é a
massa inicial de composto, VW é o volume de amostra e VPDMS o volume de PDMS.
KO/W≈ PDMS/W PDMS W PDMS W W PDMS PDMS W β (1.3)
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Nesta equação um novo parâmetro é definido, designado razão de fase, β, que relaciona VW com VPDMS (equação 1.4).
O/W β PDMS W PDMS PDMS (1.4)
A eficiência de extracção ou percentagem de recuperação consiste na razão entre a massa de composto extraída, mPDMS, e m0, de acordo com a equação 1.5:
Recuperação % PDMS 0 100% O/W β 1 O/W β 100 % (1.5)
Desta forma, os parâmetros que controlam a recuperação dos compostos são KO/W e β,
ou seja, a quantidade de PDMS, para um mesmo volume de amostra, influencia a recuperação dos compostos. Dependendo do KO/W ou polaridade, os analitos são extraídos em maior ou
menor extensão.3,15,18
De um modo geral, a SBSE é considerada uma técnica mais vantajosa relativamente à SPME em termos de sensibilidade e precisão para determinação a nível vestigial, uma vez na primeira o volume em PDMS utilizado para revestir a barra ser muito superior o que proporciona uma menor razão de fase logo, de acordo com a equação 1.5, maiores recuperações e limites de detecção mais baixos.3,16,17 O volume máximo em PDMS numa fibra de SPME é 0,5 μL, enquanto em SBSE existem disponíveis barras com volumes compreendidos entre 26 e 126 μL, o que significa que nesta última técnica é teoricamente possível um aumento da capacidade extractiva e, consequentemente, um aumento da sensibilidade da técnica em cerca de 50 a 250 vezes.3 No entanto, a maior quantidade de PDMS traduz‐se também em maiores tempos de extracção para alcançar o equilíbrio, uma vez que a extracção é controlada pela difusão dos compostos da amostra para a fase extractante.5,17
Na figura 1.4 apresenta‐se uma curva que relaciona a eficiência ou recuperação teórica com os valores de log KO/W correspondentes, considerando‐se um volume de amostra de 25
mL, uma fibra de SPME com 0,5 μL e uma barra de agitação com 26 μL em PDMS, nas mesmas condições experimentais.
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Figura 1.4 – Comparação da eficiência extractiva por SPME (0,5 μL em PDMS) e SBSE (26 μL em
PDMS) em função do log KO/W, em idênticas condições experimentais.
Verifica‐se que na SBSE a extracção qualitativa é teoricamente possível para valores de log KO/W muito mais baixos comparativamente à SPME, devido à razão de fase mais baixa. De
acordo com a literatura,3,5,16 os compostos com valores de log KO/W superiores a 3 são extraídos
quantitativamente por SBSE, enquanto para valores abaixo de 3, pode ocorrer extracção incompleta. Neste caso, ou em situações de não equilíbrio, a calibração continua no entanto a ser possível, pois na prática não é essencial que se atinja o equilíbrio para uma quantificação, podendo usar‐se um tempo de agitação definido para calibração. Porém, é desejável que haja uma aproximação à quantidade extraída no equilíbrio, de modo a maximizar a sensibilidade.15 Como se pode também verificar pela figura 1.4, a SBSE apresenta baixas recuperações teóricas para os compostos mais polares, com log KO/W igual ou inferior a 2, o que limita o alcance desta
técnica. 1.3.2.2. Desenvolvimento do método experimental Na optimização em SBSE existem vários parâmetros a ter em conta, nomeadamente, o tempo e a velocidade de extracção, o volume de fase polimérica e de amostra, bem como as características da fase aquosa, nomeadamente a força iónica, o pH e o conteúdo orgânico. A recuperação dos compostos mais polares pode ser incrementada por adição de um sal iónico, normalmente NaCl (efeito salting out); o pH pode ser modificado de modo a manter as
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moléculas de composto na sua forma neutra; a adição de um modificador orgânico (ex. metanol) à amostra permite alterar a sua polaridade, diminuindo dessa forma a adsorção dos compostos menos polares à superfície do vidro do frasco de amostragem.3,19,20
De um modo geral, a barra revestida é introduzida na amostra e colocada em agitação até o equilíbrio ser atingido. Após a extracção, a barra é removida, lavada suavemente com água destilada e de seguida seca em papel. Este procedimento de lavagem e secagem permite remover componentes indesejáveis da amostra, que iriam interferir com a instrumentação analítica e recolher gotas de água da barra, não causando este procedimento qualquer perda dos compostos alvo, uma vez que estes se encontram sorvidos na fase polimérica.17,19,20 Em condições não agressivas, as barras de PDMS não mostram qualquer sinal de degradação após centenas de extracções, podendo ser reutilizadas. De seguida, os compostos são retroextraídos da fase polimérica por dessorção térmica (TD) ou líquida (LD).
Na TD, a barra é colocada dentro de um tubo de vidro oco, o qual é introduzido numa unidade específica que se encontra acoplada a um injector de vaporização com temperatura programada (PTV) de um cromatógrafo gasoso. A unidade de TD consiste num dispositivo construído de forma a não induzir um grande volume morto, sendo a temperatura de dessorção definida de acordo com a volatilidade dos analitos, normalmente entre 150 e 300°C. Os compostos são dessorvidos e criofocados no PTV, seguindo‐se um aquecimento rápido, após o qual entram na coluna, sendo posteriormente separados por cromatografia gasosa (GC). A criofocagem dos compostos é necessária neste tipo de dessorção, uma vez que a quantidade de PDMS é elevada, pelo que os compostos são mais lentamente dessorvidos; criofocando os compostos, estes entram na coluna em simultâneo, evitando‐se assim o alargamento das bandas.3,5,16,20,21 A TD é uma técnica de análise única (one‐shot process), o que se apresenta como uma desvantagem, uma vez que a amostra não é passível de re‐análise, para além de ser apenas compatível com GC, o que limita o tipo de compostos que podem ser estudados; Por outro lado, permite elevada sensibilidade pois toda a amostra entra no sistema cromatográfico, e torna a SBSE numa técnica solventless, visto que os compostos são dessorvidos sem recorrer ao uso de solventes orgânicos.21
Alternativamente, pode recorrer‐se à LD, que tem no entanto a desvantagem de acrescentar mais um passo analítico. Porém, é um modo menos oneroso (porque não necessita de equipamento específico e dispendioso como a TD), em que as amostras em estudo podem ser re‐analisadas e os compostos a analisar podem ser não voláteis.3,17,21 Em LD a barra é colocada num volume reduzido de solvente orgânico compatível com a fase extractante (ex. metanol ou acetonitrilo), seguindo‐se um tratamento ultrassónico, cuja
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duração e solvente usado são objectos de optimização.3,19,20 Este modo de dessorção é compatível com diversas técnicas analíticas de separação, tais como LC e GC, bem como electroforese capilar.
A SBSE pode ser utilizada quer na matriz da amostra, quer no espaço de cabeça, como a SPME; no último caso, a técnica passa a designar‐se extracção sortiva no espaço de cabeça (HSSE). Neste processo as barras são colocadas no espaço de cabeça acima da amostra, podendo esta ser sujeita ou não a uma agitação convencional.3,15
As grandes vantagens da SBSE consistem na sua grande capacidade de concentração, simplicidade de manipulação e elevada sensibilidade. Embora o PDMS não seja muito selectivo, permitindo que alguns interferentes da matriz sejam também extraídos (embora, conforme referido, sejam facilmente identificados), a SBSE tem sido uma técnica bem sucedida na análise vestigial de compostos prioritários, possuindo a reprodutibilidade analítica necessária para, por exemplo, registar perfis analíticos dos componentes voláteis e semi‐ voláteis de amostras complexas (ex. ambientais e biológicas).5,11,17,22