Espumas de Poliuretano
3.2.1.2. Herbicidas triazínicos e seus metabolitos
Pesticida é um termo genérico que identifica um conjunto variado de compostos sintéticos usados para combater, entre outros, ervas (herbicidas), fungos (fungicidas), insectos (insecticidas). São compostos essenciais na agricultura moderna, usados para aumentar a produção, havendo actualmente uma grande variedade de formulações.11 Recentemente, a poluição ambiental por pesticidas tem‐se tornado um problema sério, em especial para os ecossistemas marinhos, devido ao uso intensivo na agricultura e à sua elevada persistência.12
Os herbicidas são usados a nível mundial há mais de 40 anos, dos quais os herbicidas triazínicos ou triazinas constituem uma das mais importantes classes, representando cerca de 50 % dos compostos agrícolas usados.13,14 Nos últimos 50 anos, as triazinas tiveram um grande impacto na agricultura e no combate à fome mundial, uma vez que permitiram o desenvolvimento de novos métodos agrícolas, maior produção e uso das capacidades totais das terras, aumentando assim as colheitas.15
As triazinas foram desenvolvidas na Suíça entre 1950 e 1970 por J. R. Geigy, sendo a simazina a primeira a ser registada em 1956 para uso em caminhos‐de‐ferro, milho, espargos e uvas.16 De um modo geral, são usadas como herbicidas selectivos pré e pós‐emergentes numa grande variedade de colheitas, nomeadamente, milho, trigo, cevada, vinha, árvores de fruto, espargos, cana‐de‐açúcar, ananás, café, chá, algodão, soja, batatas, girassóis e amendoins, para além de outras aplicações não agrícolas, como o uso no controlo de ervas em bermas de estrada, caminhos‐de‐ferro, campos de golfe e florestas, bem como para esterilização de solos.17‐25 Adicionalmente às aplicações terrestres mencionadas, as triazinas, em particular a terbutrina, podem também ser usadas como herbicidas aquáticos para controlo de ervas ou algas submersas ou flutuantes em rios e lagos.24 A forma de actuação destes herbicidas consiste na inibição das reacções de fotossíntese das plantas que se pretende eliminar.15,24,26,27
Estruturalmente, as triazinas mais importantes são as simétricas (s‐triazinas) que possuem um heterociclo com átomos de azoto simetricamente localizados nas posições 1, 3 e 5 e grupos substituintes nas restantes posições. Na figura 3.1 apresenta‐se a estrutura molecular geral de uma s‐triazina.
39 Figura 3.1 – Estrutura molecular geral de uma s‐triazina.
Os nomes e propriedades das s‐triazinas dependem do substituinte na posição 2, o qual pode ser um cloro (–Cl; –azina), um grupo metiltio (–SCH3; –trina) ou metoxi (–OCH3; –
ton). As metiltio‐ e metoxi‐triazinas apresentam propriedades semelhantes entre si, enquanto os derivados clorados apresentam diferenças significativas em relação às duas primeiras. As posições 4 e 6 são normalmente ocupadas por grupos amina, pelo que a solubilidade em água das s‐triazinas depende principalmente do substituinte na posição 2.28
Actualmente, o uso de triazinas é objecto de preocupação pois estes herbicidas e alguns dos seus metabolitos são encontrados não apenas em plantas e solos tratados directamente com eles, mas também em águas superficiais e subterrâneas, assim como em produtos agrícolas ou alimentos, como é o caso do leite.23 Estes factos devem‐se à elevada persistência e bioacumulação e à absorção relativamente baixa em solos, migrando facilmente destes para os sistemas aquosos e consequentemente para as cadeias alimentares. Estes compostos podem ser perniciosos para a saúde humana, sendo potenciais cancerígenos, suspeitos de causar defeitos de nascença e modificações nas funções hormonais.19,20 A lista da EPA dos 100 pesticidas e produtos de degradação prioritários inclui diversas triazinas, entre elas a ametrina, atrazina, prometrina, propazina, simazina e terbutrina.29
Entre os 10 herbicidas mais usados a nível mundial encontra‐se a atrazina, usada principalmente em plantações de milho. Porém, o seu uso actual é restrito ou mesmo proibido em vários países europeus, como a Dinamarca, a França e a Alemanha, devido a contaminações detectadas em águas superficiais e subterrâneas e ao facto de ter sido classificada como potencial carcinogénico humano.13,14,30 A atrazina pode entrar na atmosfera, águas superficiais e subterrâneas, através da sua aplicação nas colheitas, volatilização, lixiviação e movimento através dos solos.16,26 Na literatura31‐33 estão documentados estudos com cobaias de laboratório, mostrando uma maior incidência de tumores nas glândulas mamárias e perturbações endócrinas após exposição prolongada a atrazina, bem como em anfíbios, com anormal desenvolvimento sexual, mesmo para baixas concentrações de atrazina.
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A atrazina tem vindo a ser gradualmente substituída pela terbutilazina, a qual possui menor solubilidade em água, mas maior adsorção nos solos. Embora também tenha um grande alcance, é menos eficaz que a atrazina em certas plantações, não sendo utilizada para usos não agrícolas. Na Europa é um herbicida importante em cerca de 45 países, em plantações como milho, sorgo, ervilhas, feijões, citrinos, etc. No entanto, a terbutilazina foi já detectada em águas subterrâneas, nomeadamente na Alemanha onde é usada desde 1990.22,34 A simazina é também utilizada em plantações de milho, embora seja mais usada em fruta (citrinos, uvas, maçãs, etc.); tal como a atrazina, tem actividade estrogénica elevada, estando a ser gradualmente banida.12,16,35
Apesar de persistentes, as s‐triazinas são sujeitas a processos de degradação bióticos e abióticos nos solos e nos sistemas aquosos, os quais podem ser divididos em degradação física (ex. fotólise), química (ex. hidrólise, oxidação, etc.) e biológica.25 Estes processos causam desalquilação oxidativa e hidrolítica dos grupos amina, descloração, desaminação e hidroxilação na posição 2 e, embora em menor extensão, quebra do anel. Os metabolitos desaminados e desalquilados formam‐se maioritariamente por mecanismos de degradação biótica, enquanto os hidroxilados se formam por via abiótica, principalmente nos solos.16,17,30,36 Quer nos solos, quer nos sistemas aquosos, a degradação é potenciada pela interacção das s‐ triazinas com substâncias húmicas, as quais actuam como catalisadores nas reacções de degradação.33
Os metabolitos desalquilados, desaminados e hidroxilados têm toxicidades semelhantes ou mesmo superiores aos compostos de partida.14,29,37 Entre outros, os metabolitos mais comuns da atrazina são a desetilatrazina (DEA), a desisopropilatrazina (DIA) e a 2‐hidroxiatrazina (OH‐ATR); a simazina degrada‐se predominantemente a DIA, enquanto DEA e DIA se degradam a didealquiltrazina (DDA); a OH‐ATR degrada‐se a desetil‐2‐hidroxiatrazina (OH‐DEA); para a terbutilazina, os produtos de degradação mais comuns são a desetilterbutilazina (DTBZ), a 2‐hidroxiterbutilazina (OH‐TBZ) e DIA.16,22,30 A figura 3.2 propõe os metabolitos mais comuns provenientes da degradação das s‐triazinas referidas.
Os compostos triazínicos e os correspondentes metabolitos são mais facilmente encontrados em sistemas aquosos, enquanto as hidroxi‐triazinas ficam fortemente adsorvidas à matéria orgânica do solo.14,16,22 Os metabolitos hidroxilados possuem capacidade para se tautomerizar, dependendo do pH do meio.38 Nas águas subterrâneas, a OH‐ATR pode ser encontrada ao nível das ng/L, enquanto em águas superficiais se encontra principalmente a DEA, a níveis compreendidos entre 0,01 e 1,0 µg/L, podendo encontrar‐se muitas vezes misturas na proporção 1:1 de atrazina e DEA.29,30,39
41 Figura 3.2 – Proposta dos metabolitos mais comuns de s‐triazinas e relações correspondentes com os compostos de partida. Em Portugal, a legislação existente para regulamentar as águas para consumo humano estabelece 0,1 µg/L como valor máximo admissível (VMA) para os pesticidas individuais e 0,5 µg/L para a soma de todos pesticidas e produtos de degradação existentes na amostra. No entanto, em águas superficiais os VMAs sobem para valores compreendidos entre 1 e 3 µg/L.36,37 Nos EUA os VMAs são definidos de acordo com a toxicidade dos compostos, pelo que para a atrazina e simazina estes valores são de 3 e 4 µg/L, respectivamente; por outro lado, a OMS estipula VMAs de 2 µg/L para as triazinas referidas em águas superficiais.12,35
Tendo em conta as propriedades físico‐químicas das triazinas, têm sido propostas diversas opções analíticas sendo as técnicas mais usadas a GC, acoplada a vários tipos de detectores, nomeadamente, de azoto e fósforo (NPD), de captura electrónica (ECD) e por acoplamento à espectrometria de massa (GC‐MS), e a HPLC, com detector de rede de díodos (DAD) e MS.13,16,21 O recurso a GC‐MS implica um passo prévio de derivatização para as
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triazinas mais polares de forma a torná‐las mais voláteis, menos termolábeis e mais compatíveis com o método cromatográfico.14,16,30,33,40 Desta forma, a HPLC é preferida à GC, uma vez que permite analisar em simultâneo as triazinas e os correspondentes metabolitos, incluindo os mais polares, sem derivatização prévia, sendo neste momento a técnica cromatográfica mais referenciada.21,30,38,39 Na última década, o LC‐MS tem vindo a ser implementado, pelo facto de possibilitar a identificação estrutural de fragmentos dos analitos, o que o torna muito atractivo na área da análise de pesticidas, uma vez que muitos dos seus metabolitos não se encontram ainda completamente estudados.13,16,25,28
Para alcançar os VMAs legislados é necessário introduzir um passo prévio de extracção/concentração, no sentido da diminuição dos LODs. Actualmente, as técnicas mais usadas são a extracção líquido‐líquido (LLE), a SPME e principalmente a SPE, embora recentemente outros métodos emergentes tenham vindo a ser propostos, nomeadamente o recurso à SBSE, utilizando para tal polímeros molecularmente impressos.14‐16,28,30,40
Para as triazinas e em particular para os seus metabolitos, a SBSE(PDMS) possui baixa afinidade, pelo que esta família de compostos se apresenta como um modelo ideal para testar a eficácia da técnica SBSE(PU). Neste sentido, e tendo em conta a sua inclusão pela EPA nos 100 pesticidas prioritários, utilizaram‐se como compostos modelo os seguintes herbicidas triazínicos: simazina, atrazina, prometon, ametrina, propazina, prometrina e terbutrina. Os metabolitos triazínicos analisados foram escolhidos em função das triazinas mais estudadas, ou seja, a simazina, atrazina e terbutilazina, sendo o seu conjunto constituído por: OH‐DEA, DIA, DEA, OH‐ATR e DTBZ.