• Nenhum resultado encontrado

2.6 Descrição da Pesquisa Bibliográfica

2.6.3 Aplicações de Análises de Metodologias Ativas

Na literatura encontram-se alguns trabalhos que propõem o uso de metodologias ativas e instrumentos para avaliar a percepção dos alunos a essas metodologias.

Roach (2014) relata a experiência da aplicação parcial da metodologia ativa Sala de Aula Invertida durante um semestre de uma disciplina. Um de seus objetivos foi identificar as percepções negativas dos alunos quanto à vivência nessa metodologia. Para as aulas, Roach (2014) utilizou uma variedade de vídeos, sendo que alguns seguiam a ideia de vídeo aulas e outros, o formato de palestras. Para identificar as percepções dos alunos, o autor aplicou dois questionários: o primeiro, composto por dez perguntas discursivas, foi aplicado no meio do semestre para obter dados qualitativos e ajudar na melhora dos vídeos; o segundo continha questões demográficas simples e dez questões utilizando a escala Likert. Os resultados revelaram alunos receptivos à aplicação da abordagem, sendo que 76% afirmaram que a abordagem contribuiu para o aprendizado e 94% que a abordagem proporcionou aulas mais interativas.

Baird e Munir (2015) aplicaram uma abordagem de ensino de Seminário em uma disciplina eletiva de Contabilidade Gerencial no curso de graduação de Contabilidade. Os autores desse estudo consideraram que essa abordagem permite que os alunos trabalhem ativamente nas atividades em grupo. Os alunos foram avaliados por meio de três atividades

(estudo de caso, apresentações em sala de aula e prova exame composta por duas questões), em dois métodos de ensino: abordagem baseada em seminários (centrada no aluno) e abordagem tradicional (centrada no professor). Para avaliar a receptividade dos alunos quanto a abordagem, Baird e Munir (2015) utilizaram questionários seguindo a escala Likert e agrupados quanto a abordagem de seminários, trabalho em equipe e habilidade genéricas. Como principal resultado, relataram a percepção positiva dos alunos quanto ao uso da abordagem de ensino ativa em relação ao desenvolvimento de competências genéricas, como a resolução de problemas e o pensamento crítico.

Nyemb (2017) utilizou a aprendizagem baseada em problemas para o ensino de anatomia. O autor aplicou a metodologia em uma turma de oitenta alunos de graduação em Medicina, objetivando avaliar as impressões dos alunos sobre o conteúdo de anatomia. Como estratégias de ensino-aprendizagem, foram utilizadas palestras, workshops, demonstrações em manequins e outros recursos que mostraram a anatomia do corpo humano. Os problemas foram distribuídos para grupos pequenos de alunos, que ficaram encarregados de discutirem o assunto. No final do curso os alunos foram avaliados quanto à qualidade do trabalho entregue e responderam a um questionário de opinião, elaborado seguindo a escala Likert, para comentar o método de ensino. Resultados expressivos revelaram que, para 92% dos alunos, o método aplicado foi encorajador e intuitivo. Assim, Nyemb (2017) constatou a receptividade do método pelos alunos, certificando-se de que a aprendizagem baseada em problema pode complementar os métodos tradicionais de ensino.

No estudo de Moya (2017), o objetivo foi estabelecer a opinião e a percepção de alunos sobre o uso de metodologias ativas em salas de aulas no ensino superior. Para isso o autor aplicou questões relacionadas a três dimensões: a) se os alunos conheciam o uso de metodologias ativas; b) se os professores utilizavam metodologia ativa nas aulas; e c) se os professores consideravam a opinião do aluno para o planejamento do processo de ensino- aprendizagem. O questionário utilizado foi baseado em León e Crisol (2011), composto por 129 itens, usando a escala Likert. Esse estudo foi aplicado em 2.472 alunos em uma universidade no ano letivo de 2014 a 2015, nas diversas áreas do conhecimento, como Ciências Sociais, Ciências da Saúde, entre outras. Como principal resultado, Moya (2017) relata que a maioria dos alunos se sentem satisfeitos com a formação recebida de seus professores, porém aqueles não têm muito conhecimentos sobre metodologias ativas e sua aplicação. Segundo Moya, isso pode ser devido à falta de interesse do aluno, de informação do professor e, também, de alterações nos currículos de ensino para representar o uso de metodologias ativas. Outro ponto

destacado por Moya é a percepção dos alunos em relação a pequenas mudanças com uso de metodologias ativas, porém, a grande maioria dos alunos relatou que os professores não consideram a opinião deles no planejamento das aulas e dos materiais.

White et al. (2015) utilizaram estratégias de aprendizagem ativa em disciplinas de uma universidade australiana, com o propósito de avaliar as percepções dos alunos no uso da abordagem pedagógica. O estudo foi dividido em duas fases: na primeira fase foi feito um estudo piloto, no qual os professores explicaram aos alunos sobre aprendizagem ativa e foram feitas avaliações para identificar as percepções destes a respeito da influência da aprendizagem ativa na sua aprendizagem. Nessa fase, membros da equipe aplicaram algumas estratégias de aprendizado ativa (clickers são aparelhos semelhantes a um controle remoto de TV que possibilitam o professor receber respostas rápidas dos alunos as questões definidas). As aulas nessa fase foram uma sequência de palestras definidas com temas únicos de uma unidade de estudo, aplicadas ao longo dos três anos do Bacharelado em Ciências Farmacêuticas e dos quatro anos do Bacharelado em Farmácia. No final da fase piloto, foi feita uma avaliação das percepções dos alunos sobre a aprendizagem ativa. A segunda fase foi a de implementação, na qual foi realizada uma reunião de grupo envolvendo todos os líderes representantes dos alunos e professores para discutirem sobre as estratégias de ensino-aprendizagem e suas aplicações. White et al. (2015) compararam as percepções dos alunos com seu aproveitamento na participação das aulas presenciais e no desempenho das provas. Como resultado principal, os autores relataram um melhor entendimento dos alunos em relação ao conteúdo, à comunicação e ao pensamento crítico com a aprendizagem ativa. Uma porcentagem de 53% dos alunos da primeira fase apontou que os alunos aprenderam melhor nas aulas que utilizaram abordagens tradicionais como palestras. Após a implementação das estratégias ativas houve uma queda de 34%, ou seja, mais alunos discordaram sobre o primeiro ano de implementação. No segundo ano, apenas 15% concordaram contra 64% discordaram que aprendem melhor com palestras.

Em síntese, Roach (2014) buscou identificar as percepções negativas dos alunos quanto à vivência na metodologia ativa. Nyemb (2017) analisou o uso da metodologia ativa quanto à qualidade do trabalho entregue e a opinião dos alunos. Já Baird e Munir (2015) buscaram avaliar a receptividade dos alunos quanto ao uso de instrumentos (seminários, trabalho em equipe e habilidade genéricas) aplicada à disciplina. Moya (2017) buscou estabelecer a opinião sobre o uso de metodologias ativas em salas de aulas no ensino superior. White et al. (2015) compararam a receptividade dos alunos na aplicação das estratégias de aprendizagem ativa com o aproveitamento dos alunos (participação das aulas presenciais e

desempenho das provas).

Esses trabalhos (ROACH, 2014; BAIRD; MUNIR, 2015; NYEMB, 2017; MOYA, 2017; WHITE et al.; 2015) utilizaram-se de questionários com uso da escala Likert para parametrizar as percepções dos alunos. O uso da escala Likert, sendo poderosa para quantificar opiniões, limita a expressão das percepções dos alunos a respostas fechadas, não podendo se aprofundar nas causas dessas percepções. Por outro lado, avaliar a percepção em questionários abertos pode ser uma tarefa difícil, que usualmente leva muito tempo, pois cada aluno pode expressar de maneira diferente sua percepção.

Neste trabalho, define-se um processo para analisar os EA dos alunos por meio de MCE em uma disciplina que utilizou uma metodologia ativa. Para isso, o processo de análise utilizou os Modelos Mentais dos alunos que são extraídos a partir de textos obtidos de questionários respondidos por esses alunos e representados no MCE. O Capítulo 4 descreve o processo de análise de EA por meio de MCE.