• Nenhum resultado encontrado

7 RESULTADOS

7.4 Organização do trabalho e fatores psicossociais

7.4.5 Apoio social

Em ordem decrescente das freqüências obtidas, segue-se a avaliação dos operadores pesquisados:

- a possibilidade de pedir ajuda aos colegas de trabalho, se necessária, foi confirmada por 91,1% dos operadores;

- 62,1% referiram não ter informações suficientes sobre seu desenvolvimento na empresa;

- 59,7% referiram que seus colegas irritam-se facilmente;

- 57,3% consideram que os supervisores têm um bom conhecimento sobre o trabalho desenvolvido pelos operadores; - 57,3% referiram que suas opiniões não são levadas em conta

174

- para 51,6%, o gerenciamento cotidiano do trabalho é considerado eficaz, com que não concordam 48,4% dos operadores;

- o clima do ambiente de trabalho foi referido como bom por 50,8% e como não bom por 49,2%;

- exatos 50,0% referiram receber apoio suficiente por parte dos supervisores, os demais tendo referido o contrário.

A avaliação dos operadores quanto à qualidade do clima de trabalho mostrou-se bastante equilibrada: pouco mais da metade dos sujeitos avaliaram-no como bom, e pouco menos da metade, como ruim.

Dentre os aspectos positivos identificados, merece destaque, em primeiro lugar, a relação de apoio e cooperação que se estabelece entre os colegas de trabalho, apontada por 91,0% dos operadores pesquisados.

As informações levantadas através da entrevista coletiva corroboram esse resultado, ressaltando a solidariedade e a cooperação existentes entre os colegas de trabalho:

Depoimento 49

"Eu acho uma coisa boa que tem aqui dentro, que todo mundo se preocupa com quem tá do lado. Ontem eu tava ficando... você vai falando mais alto sem perceber, quando você está ficando estressada, você vai atingindo o nível da conversa daquela pessoa. Quando aí a S. já me olhou... -- 'Calma!' -- quer dizer, então você sente que não tá sozinha! Seu colega tá preocupado com você. Aí você se toca, "Nossa, se ela já falou 'calma', você já tá estressada, né? (risos). Aí você parece que faz 'tum', cai uma ficha e você já acorda... E hoje foi a mesma coisa: a Y., coitada, pegou um caso lá que ela ficou pra explodir! Você não quer que a pessoa se estressa. Aí eu falei, 'Y., não fica assim, né?' Então você tá trabalhando e o seu colega tá te vendo, você não tá sozinha! Então, isso tira também um pouquinho do estresse... (operadora N; grifos nossos).

Depoimento 50

"Existe a cooperação? Existe, existe a cooperação, sim, principalmente as pessoas do mesmo cargo com cargos mais próximos. E existe cooperação total -- a pessoa tá atendendo, alguém do lado tem uma dúvida, não pode ter mínimo pudor em perguntar pra gente, tanto pro sênior, só que pro sênior já é mais difícil você conversar, porque não são tantos. Então é um pouco mais difícil, você liga num ramal e tá ocupado,

175 então você tá do lado... Então existe a cooperação, o problema é que não é tão grande quanto a competição dentro da central... Infelizmente"(operador S; grifos nossos).

Outro aspecto positivo reside no relacionamento dos operadores com os médicos auditores, visto como um importante fator de satisfação, como será descrito adiante.

Em pequeno número, os supervisores não eram facilmente acessados pelos operadores, o que dificultava a efetivação de maior apoio por parte daqueles. Os seguintes depoimentos apontam para o clima de competição percebido naquele nível hierárquico (em razão do sistema de rodízio de substituição dos coordenadores) e o questionamento da autoridade de alguns supervisores, considerados despreparados para o exercício da função:

Depoimento 51

"... hoje tá meio na competição, principalmente nos cargos superiores... A gente ouve aqueles buxixos, aquela disputa de quem vai ficar substituindo um mês ou quinze dias, claro que pelo salário também a pessoa quer, mas ela tem que ter uma certa categoria pra ir pro lado de lá da mesa, uma competência..." (operadora N; grifo nosso).

Depoimento 52

"a gente tem vários supervisores que foram assim supervisores no susto, né? Na hora que precisou eles foram, mas muitos não têm estrutura e não separam o profissional do pessoal, então gera assim uma insatisfação (...).Então, nessa parte dos supervisores, eles estão deixando muito a desejar com a gente... tem muitos que podem ou poderiam fazer ou sugerir coisas pra melhorias nossas, e não estão fazendo isso" (operadora N; grifo nosso).

Depoimento 53

"... não está estruturada pra tá ocupando o mesmo cargo que é logo acima de você... Não é simples assim! A pessoa tem que estar capacitada, principalmente porque... o cliente interno somos nós, e o tipo de trabalho que a gente exerce é desgastante. Ainda mais dessa parte de saúde, que a gente tá trabalhando com o problema dos outros o dia inteiro..." (operador B; grifo nosso).

176

À percepção de uma certa omissão dos supervisores em relação às condições de trabalho dos operadores, registrada nos depoimentos acima, acrescentava-se um sentimento de desconfiança quanto à conduta de alguns supervisores:

Depoimento 54

"Uma vez aconteceu comigo: eu sugeri uma coisa... A gente teve a oportunidade de estar sugerindo algo, pra estar resolvendo, e o supervisor na hora absorveu a mensagem e levou ao supervisor dele, como idéia dele! Quem levou o mérito? O operador, que sabe de todo o problema? Ele não levou a mim, levou no geral, e não é a primeira vez que acontece isso... Então tem gente que não fala, não cita nada, com medo! 'Pô, vou citar, e aí ele vai levar para os supervisores dele... Ele ganha os méritos, ele é promovido, e eu continuo como operador!'. Não que eu queira mérito, muito pelo contrário!..." (operador S; grifo nosso).

Depoimento 55

"Se você não tem um ambiente de saúde interna legal, que vai te passar um estímulo legal, como é que você vai poder trabalhar e render, ter um rendimento bom?" (operador B; grifo nosso).

Durante o período da pesquisa, as oportunidades de reunião informal entre os colegas de trabalho limitavam-se às pausas para lanche, na copa, e alguns minutos de conversa no 'fumódromo'. Os eventos destinados à confraternização dos funcionários, antes existentes, haviam escasseado, por fraca adesão, aparentemente após a seleção interna já comentada. Uma prática verificada durante o trabalho de campo foi o 'Xnique': uma vez por mês, em dias de semana alternados, os funcionários realizavam uma 'vaquinha' para patrocinar um café da manhã bastante farto, que ia sendo consumido durante os horários regulares de lanche. Se não proporcionava exatamente uma confraternização, por não reunir os funcionários em um mesmo horário, de certa forma representava um ritual de cooperação e de prazer para os participantes.

Quatro dos dez fatores de satisfação referem-se a aspectos relacionados à categoria apoio social: a cooperação com os colegas foi apontada por 72,2% dos pesquisados como importante fonte de satisfação; algumas vezes, por 22,0%, e nunca ou raramente, por apenas 5,9%; o

177

relacionamento com os médicos auditores, por 71%; por 21,0% algumas vezes, e raramente ou nunca por 8% dos pesquisados; o relacionamento com o supervisor, por 54%; algumas vezes, por 28,2% e raramente ou nunca, por 17,7%; as brincadeiras 'de momento' que ocorrem durante o trabalho foram avaliadas como importante fator de satisfação por 45,1%; algumas vezes, por 36,3% e raramente ou nunca, por 18,5%.

Documentos relacionados