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Apologia da mobilidade: turistas e zapeadores

ESPAÇO URBANO E MOBILIDADE

2.2 Apologia da mobilidade: turistas e zapeadores

(...) ‘o número de pessoas que se deslocam através dos continentes nos períodos de férias, hoje em dia, é superior ao número total de homens que se puseram a caminho no momento das grandes invasões’ (...). A aceleração das comunicações é

contemporânea de um enorme crescimento da mobilidade física. (...) O turismo é hoje a primeira indústria mundial em volume de negócios. O peso econômico das

atividades que sustentam e mantêm a função de locomoção física (veículos, infraestruturas, carburantes) é infinitamente superior ao que era nos séculos passados. (LÉVY, 1996, p. 23).

Em uma sociedade que prima pela velocidade, que deseja a qualquer custo ganhar tempo, ser móvel é um símbolo de poder. Em A modernidade líquida (2001), Zygmunt Bauman afirma que a velocidade não teria essa carga de significado que tem hoje se a locomoção dependesse apenas das capacidades físicas do homem ou, no máximo, de um animal; quando o homem tinha

apenas suas pernas para se locomover, percorrer um espaço em um

determinado tempo era uma tarefa igual, ou com poucas variações, para todos. Quando surgem os aparelhos artificiais de locomoção, todos os limites de velocidade podem ser transgredidos, e aquele que possui mais meios de transporte chega mais rápido, tem mais possibilidades de exercer domínio e, assim, conquista mais oportunidades

(...) se mover com a velocidade do sinal eletrônico – e assim o tempo requerido para o movimento de seus ingredientes essenciais se reduziu à instantaneidade. Em termos práticos, o poder se tornou verdadeiramente extraterritorial, não mais limitado, nem mesmo desacelerado, pela resistência do espaço (o advento do telefone celular serve bem como ‘golpe de misericórdia’ simbólico na dependência em relação ao espaço: o próprio acesso a um ponto telefônico não é mais necessário para que uma ordem seja dada e cumprida. Não importa mais onde está quem dá a ordem – a diferença entre o ‘próximo’ e o ‘distante’, ou entre o espaço selvagem e o civilizado e ordenado, está a ponto de desaparecer). Isso dá aos detentores do poder uma oportunidade

verdadeiramente sem precedentes: eles podem se livrar dos aspectos irritantes e atrasados da técnica de poder do Panóptico. (BAUMAN, 2001, P. 18).

Para Bauman essa apologia da mobilidade estaria transformando os nômades em detentores de poder na sociedade atual. Se, como já citado anteriormente, a sociedade informacional é permeada por fluxos – de capital, de dados, de informação, de pessoas – e se a velocidade de transmissão é o que importa, então aqueles que podem se deslocar livremente e com rapidez é que têm o poder. Até porque, quando decidem voltar a ser sedentários, encontram sempre um local que consideram bem seguro, cercado e distante, ao menos fisicamente, da subjetividade-lixo (ROLNIK, 2007):

Ao longo do estágio sólido da era moderna, os hábitos nômades foram mal vistos. A cidadania andava de mãos dadas com o assentamento, e a falta de ‘endereço fixo’ e de ‘estado de origem’ significava exclusão da comunidade obediente e protegida pelas leis, freqüentemente tornando os nômades vítimas de discriminação legal, quando não de perseguição ativa. Embora isso ainda se aplique à ‘subclasse’ andarilha e ‘sem- teto’ (...) a era da superioridade incondicional do sedentarismo sobre o nomadismo e da dominação dos assentados sobre os nômades está chegando ao fim. Estamos testemunhando a vingança do nomadismo contra o princípio da territorialidade e do assentamento. No estágio fluido da modernidade, a maioria assentada é dominada pela elite nômade e extraterritorial. (BAUMAN, 2001, P. 20).

Essa idéia está presente também em outra obra do autor. Em O mal-estar da pós-modernidade (1998), ele nomeia os nômades de turistas e expõe como metáfora da vida pós-moderna a sua oposição aos vagabundos. Os turistas seriam aqueles que se consideram livres para fazer suas escolhas, mudar de posição quando o desejarem, errarem pelos setores sociais ao seu bel-prazer, enquanto os vagabundos seriam aqueles que são obrigados a migrar porque a sua condição de desprovidos e necessitados os obriga ou porque sua presença não é desejada, sem escolha ou quase nenhuma.

Para explicar essa oposição, primeiro ele investiga a necessidade de

movimento e de não-fixação que caracteriza a sociedade atual e, para tanto, retoma o comportamento dos seres na modernidade. Bauman afirma que a diferença entre os modernos e os pós-modernos seria que os primeiros tinham uma noção de tempo-espaço muito mais estruturada do que a dos segundos. Eles podiam perderem-se, mas também acharem-se, porque tinham uma noção mais exata de direção, de para onde deveriam ir. Era fácil traçar um trajeto e segui-lo, bastava ter conhecimento e determinação.

E, assim, os homens e mulheres modernos viveram num tempo-espaço com estrutura, um tempo-espaço rijo, sólido, durável – exatamente a correta referência de nível para traçar e controlar o caráter caprichoso e volátil da vontade humana – mas também um duro recipiente em que os atos humanos podiam achar-se sensíveis e seguros. Nesse mundo estruturado, uma pessoa podia perder-se, mas também podia achar seu caminho e chegar exatamente aonde pretendia estar. A diferença entre se perder e chegar era feita de conhecimento e determinação: o conhecimento da estrutura do tempo-espaço e a determinação de seguir, fosse qual fosse, o itinerário escolhido. Sob tais circunstâncias, a liberdade era de fato a necessidade conhecida – mais a decisão de agir com esse conhecimento. (BAUMAN, 1998, p. 110)

Já os pós-modernos, observando essa experiência moderna, têm a noção daquilo que lhes falta, “o que pensamos que o passado tinha é o que sabemos que não temos”, que para Bauman é “a facilidade de retirar a estrutura do mundo da ação dos seres humanos; a solidez firme, de pedra, do mundo exterior à flexibilidade da vontade humana”. Para o autor, o mundo em que se vive na pós-modernidade lembra muito um jogo, no qual cada jogador deve concentrar-se em cada lance, sem uma visão futura, tentando tirar o máximo possível de cada oportunidade, com as cartas que se possui. Assim, o autor afirma que não foi o ser que passou a ter atitudes mais frágeis e erráticas, mas sim o mundo, entenda-se as relações sociais, que passaram a exigir dele tais ações:

Como pode alguém viver a sua vida como peregrinação se os relicários e santuários são mudados de um lado para o outro, são profanados, tornados sacrossantos e depois novamente ímpios num período de tempo mais curto do que levaria a jornada para alcança-los? Como pode alguém investir numa realização de vida inteira, se hoje valores são obrigados a se desvalorizar e, amanhã, a se dilatar? Como pode alguém se preparar para a vocação da vida, se habilidades laboriosamente adquiridas se tornam dívidas um dia depois de se tornarem bens? Quando profissões e empregos desaparecem sem deixar notícia e as especialidades de ontem são os antolhos de hoje? E como se pode fixar e separar um lugar no mundo se todos os direitos adquiridos não o são senão até segunda ordem, quando a cláusula da retirada à vontade está inscrita em todo contrato de parceria, quando – como Anthony Giddens adequadamente o expressou – todo relacionamento não é senão um ‘simples’ relacionamento, isto é, um relacionamento sem compromisso e com nenhuma obrigação contraída, e não é senão amor ‘confluente’, para durar não mais do que a satisfação derivada? (BAUMAN, 1998, p. 112).

Ele chama a atenção, então, para o aspecto da identidade, frisando que, nesse contexto de rápida substituição de valores, é quase impossível adotar uma

identidade fixa. Por um lado, a desvantagem seria a de nunca estar atualizado, ter de reciclar-se e adotar uma postura nova a cada dia, mas, por outro,

evidencia também um desprendimento, que liberta o ser de se comprometer com o que quer que seja – pessoas, lugares, trabalhos, cursos, amores – sem responsabilidade pelo passado e sem planos para o futuro. Uma forma de sempre deixar portas abertas por onde se possa movimentar e de viver um dia de cada vez, “de retratar a vida diária como uma sucessão de emergências menores”. (BAUMAN, 1998, p. 113).

Dessa forma, a nova ordem é não se comprometer com nada que carregue a expressão “a longo prazo”; não se fixar a nada e nem a ninguém, não

permanecendo no mesmo lugar por muito tempo, por mais agradável que possa parecer; buscar diversas capacidades ao invés de se dedicar a apenas uma vocação; abolindo “o tempo em qualquer outra forma que não a de um ajuntamento solto, ou uma seqüência arbitrária, de momentos presentes: aplanar o fluxo do tempo num presente contínuo.” (BAUMAN, 1998, p. 113).

Uma vez disfarçado e não mais um vetor, não uma seta com um indicador, ou um fluxo com uma direção, o tempo já não estrutura o espaço. Conseqüentemente, já não há ‘para frente’ ou ‘para trás’; o que conta é exatamente a habilidade de se mover e não ficar parado. Adequação – a capacidade de se mover rapidamente onde a ação se acha e estar pronto a assimilar experiências quando elas chegam – tem precedência sobre a saúde, essa idéia do padrão de normalidade e de conservar tal padrão estável, incólume. Toda demora, também a ‘demora de satisfação’, perde seu

significado: não há nenhum tempo como seta legado para medi-la. (BAUMAN, 1998, p. 113).

Bauman afirma que, nesse contexto, a dificuldade talvez não seja construir (ou mesmo comprar) uma identidade, mas fazer com que ela não se torne firme o

bastante para fixar-se rápido demais ao corpo: “o eixo da estratégia de vida pós-moderna não é fazer a identidade deter-se – mas evitar que ela se fixe”. E a figura que melhor encarna esse comportamento pós-moderno, que serve como uma metáfora para ele, é o turista:

(...) Antes e acima de tudo, eles realizam a façanha de não de não pertencer ao lugar que podem estar visitando: é deles o milagre de estar dentro e fora do lugar ao mesmo tempo. O turista guarda sua distância, e veda a distância de se reduzir à proximidade. É como se cada um deles estivesse trancado numa bolha de osmose firmemente controlada; só coisas tais como as que o ocupante da bolha aceita podem verter para dentro, só coisas tais como as que ele ou ela permitem sair podem vazar. Dentro da bolha o turista pode sentir-se seguro: seja qual for o poder de atração do lado de fora, por mais aderente ou voraz que possa ser o mundo exterior, o turista está protegido.

O turista é aquele ser que viaja despreocupadamente, possuindo os pertences necessários à sua sobrevivência no local para qual viaja. Sua atitude de

desprendimento quanto aos ambientes lhe dão a liberdade de ficar quanto tempo quiser e, ao mesmo tempo, mudar de planos e interromper sua estada sem se comprometer com um plano fixo; geralmente o faz sempre que sente que o lugar em que está já não lhe interessa mais, quando sente que ele está perdendo o controle, ou ainda, quando outras aventuras, em outros lugares, parecem lhe parecem mais atraentes.

O nome do jogo é mobilidade: a pessoa deve poder mudar quando as necessidades impelem, ou os sonhos o solicitam. A essa aptidão os turistas dão o nome de

liberdade, autonomia ou independência, e prezam isso mais do que qualquer outra coisa, uma vez que é a conditio sine qua non de tudo o mais que seus corações desejam. Este é também o significado de sua exigência mais freqüentemente ouvida: ‘Preciso de mais espaço’. Ou seja, a ninguém será permitido discutir o meu direito de sair do espaço em que atualmente estou trancado. (BAUMAN, 1998, p. 114).

O movimento é a principal característica desse turista que faz questão de não possuir planos de viagens e se restringir a estar em um local e não a chegar a algum lugar. Os pontos por onde passa não são locais planejados, mas

incidentes em seu trajeto. A lógica de seu trajeto não é antecipada e nem visualizada no presente, só é dada, depois, quando, observando o itinerário pelo qual passou, nota que eles se encaixavam e que, juntos, tinham certa coerência.

Quando ainda em movimento, nenhuma imagem da situação futura se acha à mão para encher a experiência presente com um significado; cada presente que se sucede, como as obras de arte contemporâneas, deve explicar-se em função de si próprio e fornecer sua própria chave para lhe interpretar o sentido. (BAUMAN, 1998, p. 115).

Assim como não se fixa aos lugares, também não se fixa às pessoas, fazendo de cada relacionamento, de cada encontro, algo temporário, uma presença que logo se tornará ausência, uma vez que elas foram encontradas por ele ao acaso, como um evento a ser somada à sua trajetória.

A principal recompensa dessa espécie de desligamento do mundo por parte do turista, no sentido não exatamente de uma passividade, mas de um

desprendimento em relação aos lugares e às pessoas, é sentir-se seguro, de ‘estar sob controle’: “(...) Este não é senão o que se pode chamar o ‘controle situacional’ – a aptidão para escolher onde e com que partes do mundo ‘interfacear’, e quando desligar a conexão.” (BAUMAN, 1998, p. 115-116). Nessa atitude inconseqüente, ele não deixa marcas por onde passa e também não se responsabiliza pelo efeito de sua passagem.

Mas, apesar dessa facilidade de desprendimento, o turista tem um ponto de sustentação, um lugar para onde poderia voltar se quisesse. Como não tem a necessidade de mover-se e sim o desejo, é o fato de achar que tem o poder de escolher continuar vagando que faz de sua errância uma prática prazerosa. A casa do turista, aquela onde exercia sua prática sedentária, é uma lembrança que o conforta e o estimula, porque nela ele não poderia vivenciar as

experiências permitidas pela viagem, mas sabe que ela está à sua espera.

O ‘lar’, enquanto na ‘nostalgia’, não é nenhuma das verdadeiras edificações de tijolo e argamassa, madeira ou pedra. O momento em que a porta é trancada do lado de fora, o lar se torna um sonho. O momento em que a porta é trancada do lado de dentro, ele se converte em prisão. O turista adquiriu o gosto pelos espaços mais vastos e, acima de tudo, completamente abertos. (BAUMAN, 1998, p. 117).

Na definição de Bauman, enquanto os turistas abandonam o lar por escolha, por prazer, os vagabundos o fazem por necessidade:

(...) Muitos talvez se recusassem a se aventurar numa vida de perambulação se fossem solicitados a isso, mas eles não foram impelidos por trás – tendo sido, primeiramente, desenraizados por uma força demasiadamente poderosa, e muitas vezes demasiadamente misteriosa, para que se lhe resista. Vêem sua situação como qualquer coisa que não a manifestação da liberdade. Liberdade, autonomia,

independência – se elas de algum modo aparecem no seu vocabulário –

invariavelmente vêm no tempo futuro. Para eles, estar livre significa não ter de viajar de um lado para outro. Ter um lar e ser permitido ficar dentro dele. (...) Os vagabundos são os restos do mundo que se dedicaram aos serviços dos turistas. (BAUMAN, 1998, p. 117).

Mesmo que a ação do turista se configure em necessidade, visto que o mundo exige uma atitude mais flexível, a sua liberdade de escolha é o seu trunfo, sem ela seu trajeto perde poeticidade e ele deixa de se sentir seguro. Já os

vagabundos não escolha, se ficam por mais tempo em um local, são logo enjeitados, colocados para fora, porque sua presença perturba, causa repulsa. Em lugar algum são bem-vindos. A estrada, para o turista, é uma aventura, a oportunidade de encontrar um local atraente na próxima parada; para os vagabundos, a estrada é uma necessidade, o único lugar onde podem

permanecer por determinado tempo. Estar sempre vagando é uma estratégia de sobrevivência; “(...) se os turistas se movem porque acham o mundo irresistivelmente atrativo, os vagabundos se movem porque acham o mundo insuportavelmente inóspito.” (BAUMAN, 1998, p. 118).

O movimento é a marca da sociedade pós-moderna, como turistas ou

vagabundos, os seres têm de estar sempre saltando de um ponto a outro dos espaços em busca de um local onde possa apoiar o pé enquanto prepara o novo passo, porque não há certeza de nada, é bom sempre estar preparado para mudar de direção. Essa é o único aspecto, segundo Bauman, que liga vagabundos e turistas. Fora esta semelhança, os dois representam extremos da sociedade:

Sugiro-lhes que a oposição entre os turistas e os vagabundos é a maior, a principal divisão da sociedade pós-moderna. Estamos todos traçados num contínuo estendido entre os pólos do ‘turista perfeito’ e o ‘vagabundo incurável’ – e os nossos respectivos lugares entre os pólos traçados segundo o grau de liberdade que possuímos para escolher nossos itinerários de vida. A liberdade de escolha, eu lhes digo, é de longe, na sociedade pós-moderna, o mais essencial entre os fatores de estratificação.

Quanto mais liberdade de escolha se tem, mais alta a posição alcançada na hierarquia social pós-moderna. (BAUMAN, 1998, p. 119).

Mas, de certa maneira, turistas e vagabundos mantêm uma relação estreita de interdependência, de forma que um não possa ficar sem o outro, sendo o

turista um modelo de oposição para o vagabundo que, por outro lado, é a prova para o turista de que não há outra alternativa senão continuar vagando, o

motivo que os leva a agradecer sua condição de turistas:

Os vagabundos, as vítimas do mundo que transformou os turistas em seus heróis, têm, afinal, suas utilidades. Como os sociólogos gostam de dizer, eles são ‘funcionais’. É difícil viver em suas imediações, mas é inconcebível viver sem eles. São suas privações gritantes demais que reduzem as preocupações com as inconveniências marginais. É a sua evidente infelicidade que inspira outros a agradecerem a Deus, diariamente, por tê-los feito turistas. (BAUMAN, 1998, p. 120).

Essa incursão pelo movimento realizada por Bauman tem como objetivo construir a caracterização do ser pós-moderno, sempre em movimento, seja por necessidade ou por prazer, descomprometido com o tempo e as pessoas, tomando o espaço como elemento a ser desvendado, oportunidade para experimentar aventuras, mas, ao mesmo tempo, tendo-o como condição temporária, de onde não demorará em partir.

Essas afirmações se encaixam com a caracterização do zapeador, ser que não se fixa em nada, sempre mudando os “canais” de forma a aproveitar todas as oportunidades, todos os lances do jogo espacial, seja o televisivo, o urbano ou o ciberespacial. Como uma das identidades do turista definido por Bauman, o zapeador é o resultado de um outro tipo de mobilidade que se soma à descrita por Pierre Levy no início do texto, quando se refere à gama de possibilidades de veículos de deslocamento e de lugares a visitar que estão disponíveis para os seres. A mobilidade do zapeador está mais relacionada aos aparelhos

tecnológicos, que capacitam os seres a estarem em mais de um lugar ao mesmo tempo; de percorrer longas distâncias em minutos; de carregar para onde se quiser diversas informações, como dados pessoais, arquivos de trabalho, músicas, vídeos, fotos; em muitas ocasiões, inclusive, visitar pessoas e locais sem sair do lugar. Entre os aparelhos que permitem essa mobilidade estão os celulares, a internet, os computadores portáteis, as web cams etc.

A velocidade de circulação e o uso intenso desses aparelhos tecnológicos desenvolvem nos seres a capacidade de percorrem os espaços de uma forma mais fragmentária e fluida, vivenciando temporalidades variadas em um mesmo intervalo de tempo, como quando caminham e falam ao celular

simultaneamente.

A mesma prática utilizada nos meios técnicos, como navegar na internet, por exemplo, é transportada para sua vida cotidiana, na forma como lida com o ambiente e com os outros seres, circulando pelos locais sem se fixar a um lugar ou a uma pessoa, apenas apreendendo aquilo que lhe interessa naquele dado momento, operando “leituras” multilineares de seus relacionamentos, da cidade, dos discursos.

Essa característica descentrada e efêmera do comportamento dos seres vem sendo associada, em muitos estudos, ao ato de zapar ou de praticar o zapping.

Segundo explica Arlindo Machado (1993), o “zapping é a mania que tem o telespectador de mudar de canal a qualquer pretexto, na menor queda de ritmo ou interesse do programa e, sobretudo, quando entram os comerciais”. Além

do zapping há um outro termo que também está relacionado com o ato de saltar trechos de um programa televisivo: o zipping “é o hábito de fazer correr velozmente a fita de vídeo durante os comerciais em programas gravados em videocassetes”. Com a proliferação do controle remoto, práticas como o zapar e zipar tornaram-se correntes, mais intensamente o zapar, uma vez que o uso do DVD e sua estrutura capitulada tornou praticamente desnecessário correr o programa para encontrar um ponto específico; uma determinada cena de um filme, por exemplo, pode ser facilmente acessada pelo menu da mídia. Desta forma, enquanto zipar perdeu um pouco de sua utilidade, zapar tornou-se ainda mais comum:

(...) Zapa-se agora indiscriminadamente tanto emspots publicitários como em programas de estúdio,

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