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Apontamentos, resultados e recomendações sobre os museus e o turismo

A experiência turística e os museus a Sul Alexandra Gonçalves

1. TURISMO, MUSEUS E A EXPERIÊNCIA TURÍSTICA

1.1 Apontamentos, resultados e recomendações sobre os museus e o turismo

O momento internacional que se vive, de grande incerteza económica e financeira, deve ser encarado como uma oportunidade para os museus e para o turismo, que numa concertação de esforços se

deverão reinventar mutuamente, promovendo uma programação que veja o visitante como participante, e em que a escalas geográficas de proximidade devem ser privilegiadas num primeiro patamar, mas também almejar ao desenvolvimento de audiências de âmbito regional (excursionismo, com enfoque privilegiado em programas de “city break” e “touring” cultural e paisagístico) e de âmbito nacional (turista nacional). No entanto, a observação da realidade museológica existente revela alguns obstáculos para um estreitamento desta relação.

Para além de se questionar as missões e os objectivos propostos para cada museu, deve ser colocada a questão de quem são as suas audiências, e para quem querem trabalhar. Depois de tomada esta decisão é que se deve desenvolver todo o planeamento da acção do museu, ponderando os efeitos destas tomadas de decisão sobre as estruturas do museu, as qualificações do pessoal ao serviço, os recursos e os meios ao dispor, e a sua envolvente (institucional, política, económica). Desta forma, impõe-se como uma necessidade dos museus, repensar a relação com os seus visitantes (Doering, 2007). Se o objectivo destes espaços for determinado como o aumento da participação cultural, a estratégia deve preocupar-se não só em aumentar os visitantes, mas também em diversificá-los (Reussner, 2003).

Em Portugal, foi com o trabalho conjunto do Observatório das Actividades Culturais e do Instituto Português de Museus que se deu início a um estudo objectivo e profundo do panorama museológico português entre 2000 e 2003, recentemente publicado (Lima dos Santos e Oleiro, 2005) e que tem vindo a ser actualizado (Soares Neves e Alves dos Santos, 2006). À data foram identificados 680 registos de museus, tendo sido recolhidas 530 respostas válidas na investigação. Este primeiro estudo resultou na assinatura de um protocolo conjunto (Instituto Nacional de Estatística, Instituto Português de Museus e Observatório das Actividades Culturais), para a criação de uma Base de Dados dos Museus (Soares Neves e Alves dos Santos, 2006).

Em face dos dados disponíveis, o número de museus a funcionar em 31 de Dezembro de 2005 era de 1.018, o que representa um acréscimo de 40% em relação a 1999. Salienta-se uma tendência crescente para a apresentação de novos projectos de criação de museus, tendo sido identificados 326 em 2005

(o que representa 153% de crescimento em relação aos números de 2000), sendo a administração local a grande responsável por estes novos projectos, e pela declaração de intenções de criação de mais museus (Soares Neves e Alves dos Santos, 2006).

Os vários estudos consultados referem que um número cada vez maior de entidades museológicas procedem ao registo do seu número de visitantes anuais, contudo, em face da disparidade do número de museus que anualmente respondem ao INE, é difícil estabelecer uma evolução das entradas de visitantes nos museus portugueses, apontando a análise do Observatório das Actividades Culturais e do Instituto Português de Museus publicada em 2005 para uma evolução positiva entre 2000 e 2002 (em 2002, cerca de 13.609 milhões de visitantes, dos quais cerca de 16,5% visitantes escolares) (Lima dos Santos e Oleiro, 2005). Dos cerca de 1000 “museus” existentes em Portugal, (que incluem colecções visitáveis, monumentos, sítios ou até outras situações) apenas 119 museus integram a Rede Portuguesa dos Museus (RPM). Neste momento a RPM7 tem em processo de avaliação a credenciação de

53 museus (na sua maioria de tutela municipal), sendo que a RPM passou a integrar os Palácios Nacionais no seu âmbito, pelo que à data desta publicação integra um total de 125 museus e palácios.

Numa análise dos visitantes nos museus do IMC nos últimos 12 anos verifica-se alguma oscilação nos resultados anuais. O ano de 2004 foi o pior ano em termos de números de visitantes nos últimos 12 anos (918,208 visitantes), retomando em 2006 a tendência de subida da procura nos museus da tutela. No ano de 2008 assiste-se a um ligeiro decréscimo face aos números do ano anterior (1.243.051 visitantes em 2007 e 1.218.718 em 2008, o que representa -2%) (IMC, 1997-2009). Se pensarmos que em 1996, segundo dados do INE, Portugal recebeu 9.730,2 milhões de turistas residentes no estrangeiro, e em 2007 esse número ascendeu a 12.320,8 milhões de turistas residentes no estrangeiro (e 11.411,4 excursionistas), sendo que 18% a 20% dos visitantes dos museus são grupos escolares, é fácil perceber que muitos destes turistas e excursionistas não visitam qualquer museu nas suas deslocações (INE, 2008).

No conjunto dos 12 anos, o total de visitantes apresenta uma variação relativa positiva de 13,8%, 7 A Lei-quadro dos museus (2006) instituiu o processo de credenciação para o

reconhecimento da qualidade técnica do museu (Artigo 110º), quanto à adesão à RPM é voluntária e pressupõe a resposta a um processo de candidatura, de acordo com o Despacho Normativo n.º3/2006 de 25 de Janeiro.

mas que 2008 conheceu uma redução no número de visitantes, que estará associada à quebra generalizada no número de visitantes no mês de Maio de 2008 (-8% que em 2007). A partir da análise de conjunto dos números de visitantes dos museus do IMC entre 1997 e 2009, também merece reflexão o comportamento dos números no mês de Maio – mês do “Dia internacional dos Museus” e da “Noite dos Museus” – e do mês de Agosto, que sendo os meses que conseguem reunir maior número de visitantes, apresentam um comportamento muito estável ao longo dos anos, registando pequenas flutuações. Os meses de Janeiro e de Dezembro foram quase sempre, ao longo destes 12 anos, os meses de menor afluência de visitantes (IMC, 1997-2009).

Estes são os resultados do IMC, mas não se conhe- cem os do conjunto dos museus da RPM. A análise do Instituto Nacional de Estatística aponta para um número de grupos escolares equilibrado entre 2000 e 2006 (va- riando estes grupos entre 18 e 20% dos visitantes totais; e registando em 2006, para os 291 museus que respon- deram ao inquérito, um total de 10,3 milhões de visitan- te, 17% dos quais visitas escolares) (INE, 2001-2008). Se é verdade que um aumento dos números de visitantes não tem que estar associado a uma diversidade dos pú- blicos, também é verdade que não existem outros in- dicadores disponíveis que possibilitem comparabilidade de resultados ou outro tipo de análise.

Nos museus do IMC em 2007, o número de visitantes estrangeiros representou 37% do total dos seus visitantes, registando-se 783.780 mil visitantes nacionais (63%) (IMC, 2008). Ao analisar o gráfico evolutivo – Fig.1 - constata-se que já existiu um maior equilíbrio entre os visitantes estrangeiros e

Figura 1 Gráfico da evolução dos visitantes estrangeiros e nacionais nos museus do IMC (2001-2007) - Fonte: IMC, 2000-2008

nacionais nestes museus, tendo o aumento do total de visitantes nos últimos anos acontecido por via de um crescimento nos números dos visitantes nacionais. Em 2003, os visitantes estrangeiros representaram 45,4% dos visitantes totais dos museus do IMC (IMC, 2008). Outra análise possível é a da quase estabilidade no número de visitantes estrangeiros ao longo dos sete anos analisados, com quebras em 2003 e 2004, mas registando em 2007 um número de visitantes estrangeiros muito próximo daquele do início do século.

Passando da análise dos números de visitantes para o contexto de visita ao museu, refira-se que se verificou que, de uma forma geral, a interpretação e a comunicação com o visitante do museu encontram-se muito centradas nas folhas de sala, na legendagem e nos painéis interpretativos. Em muitos casos assiste-se à necessidade na renovação de brochuras e a uma fraca edição de catálogos sobre as exposições.

Outra questão interessante foi a percepção que um conjunto elevado de aspectos materiais que surgem em toda a bibliografia de referência de avaliação dos serviços dos museus mas que, pelo facto de não existirem disponíveis de uma maneira generalizada nos museus portugueses, geraram um elevado número de não respostas nesses itens (a interpretação multi- sensorial ou as formas de apresentação da colecção e dos objectos mais interactivas). O marketing nestes museus tem-se restringido a acções de promoção e difusão, ainda que possam estar a emergir novos olhares sobre os instrumentos e técnicas que o marketing disponibiliza.

Identificaram-se os seguintes factores positivos e negativos relativos aos museus portugueses a partir dos estudos disponíveis sobre as práticas de lazer e culturais dos portugueses, mas também do trabalho desenvolvido8:

Os museus devem repensar a sua relação com os seus visitantes; é necessário que o museu se envolva com os visitantes, em relações profundas, com significado, que também tragam valor para os museus e para a sua actividade. Mas não só com os visitantes tem que ser repensadas as suas relações, mas também com 8 Para os resultados que se apresentam, serviu de base a análise da informação

secundária recolhida e parte do trabalho empírico desenvolvido no âmbito das entrevistas e da mesa redonda “Diálogos entre Museus e Turismo” (21 de Maio de 2008) e da observação participante promovida, no âmbito das visitas efectuadas aos museus, mas também as conversas informais conduzidas com especialistas dos domínios dos museus e do turismo.

Factores Negativos Factores Positivos

- Estudos sobre as práticas culturais dos portugueses demonstram que a visita a museus é uma das práticas de lazer com menor frequência.

- Elevado peso da tutela pública: 60% dos museus pertencem à administração pública e nestes 40% são da administração local. - Ausência de visão estratégica, que se confunde com a missão do museu enquanto instituição cultural e social.

- Enquadramento legal visto como entrave à inovação, sobretudo ao nível das carreiras.

- Perda da especificidade das colecções pela integração de acervos com dificuldades de definição do seu corpo predominante (derivado sobretudo do alargamento do conceito de património).

- Ausência de estratégia de comunicação e de promoção (recursos que surgem enquadrados como despesa onde retraem investimento em tempos difíceis).

- Ausência de hábitos de monitorização e de avaliação das acções e dos projectos desenvolvidos (excepção introdução da CAF no Museu do Trabalho em Setúbal).

- Insuficiente abordagem centrada no visitante; a satisfação é encontrada (ou procurada) pelo indivíduo partindo-se do pressuposto que é inerente às motivações de visita ao museu. - Insuficiência de recursos informáticos.

- Cerca de 52% dos museus nacionais não possuem serviço educativo organizado (num total de 591 museus em 2002). - As formas de comunicação do museu com diferentes públicos são deficitárias. Muitos não possuem serviço de acolhimento ou até folheto desdobrável.

- As visitas guiadas exigem em quase todos uma reserva antecipada e são sobretudo para públicos escolares.

- Ausência de uma visão integrada para os serviços de apoio ao visitante no museu.

- Aumento do número de museus fechados que se atribuem a: mau estado das infra-estruturas; desaparecimento da tutela; processos de reorganização do sector dos museus por parte das tutelas (fusões de unidades museológicas, alterações das funções do espaço até então consagrado à colecção, redistribuição dos acervos, entre outros).

- Alguma dificuldade em garantir de forma continuada os requisitos exigidos pelo processo de qualificação como museu, pela Lei-quadro dos Museus Portugueses (nos museus municipais).

- Falta de propostas integradoras de outros agentes ou equipamentos locais e regionais (podem ser propostas conjuntas de programação ou de visitação).

- No caso específico do visitante estrangeiro assiste-se em número elevado de situações a quase um evitar de contacto, que se percebeu estar muito associado às barreiras linguísticas e à falta de competências neste domínio, mas também nas áreas de atendimento, prestação de serviços e apoio ao visitante.

- Tendência crescente para a apresentação de novos projectos de criação de museus.

- Criação da Rede Portuguesa de Museus/ Inquérito aos Museus/Base de dados dos Museus. - Esforço de requalificação museológica. - Redução do número de concelhos sem museu e esbatimento da predominância geográfica dos museus na Região de Lisboa e Vale do Tejo. - Exposições temporárias surgem como oportunidades de captação e alargamento de públicos, e como instrumento de promoção. - Crescente interesse pela museologia e museografia.

- Projectos de investigação que reúnem parcerias interessantes: OAC, INE, IPM.

- Novos eventos: Comemorações do “Dia Internacional dos Museus” e “Noite dos Museus” tem vindo a funcionar com grande êxito. - Roteiro dos Museus (120 museus da RPM). - Algumas oportunidades para o sector podem resultar da dinâmica de crescimento dos museus. - Nova Lei Quadro dos Museus e regime de credenciação pela Rede Portuguesa de Museus tornam mais rigorosas as condições de funcionamento e qualificação dos museus portugueses (existentes e novos).

- Novas oportunidades de desenvolvimento de audiência a ser testadas – sobretudo através de eventos: “5as à noite no museu” (iniciativa inaugurada em 2008 pelo IMC).

- Introdução recente da possibilidade de gestão directa nas receitas de acções educativas, cedência de espaços ou mecenato, para actividades do museu pelos directores dos museus do IMC. - Iniciativas de formação para os agentes do turismo: cursos promovidos pela Gulbenkian para os Guias intérpretes e profissionais do turismo em torno das suas colecções.

Quadro 1 Factores negativos e positivos da análise secundária dos museus portuguesesFonte: Autora, 2009 (a partir de; Fortuna, 1995 e 2000; Garcia, 2003; Lima dos Santos e Oleiro, 2005; Novais, 1997; Santos, 2008; Serra, 2007; Soares Neves e Alves dos Santos, 2001 e 2006). Fonte: Autora, 2009 (a partir de; Fortuna, 1995 e 2000; Garcia, 2003; Lima dos Santos e Oleiro, 2005; Novais, 1997; Santos, 2008; Serra, 2007; Soares

a sociedade em geral. O museu sozinho não sobrevive, e o trabalho em rede dos museus é tão importante quanto a cooperação com outras entidades, como é o caso do turismo. Um maior diálogo e cooperação entre estes dois sectores – museus e turismo – traz benefícios para o desenvolvimento de estratégias associadas ao turismo cultural.

As actividades comerciais são com frequência encaradas de uma forma negativa pelos responsáveis dos museus, perdurando um sentimento de “venda” do “produto” museológico. A discussão entre o museu como espaço cultural e educativo e o museu como espaço de diversão permanece como questão envolta de alguma conflitualidade. Assume-se largamente uma gestão orientada para uma audiência dos museus de um só tipo, quando temos vários públicos no museu, com motivações diferenciadas e à procura de experiências diferentes. A localização, o horário, os espaços na internet, a comunicação, a mediação, a interpretação, a política de preços, a sinalética direccional até chegar ao local, os serviços complementares no museu, a programação, são alguns dos aspectos que merecem reflexão na investigação associada a este trabalho.

Todavia, a dimensão económica tem vindo a assumir uma importância crescente nas tomadas de decisão dos museus e dos seus responsáveis. Aos curadores e gestores da actualidade exigem-se novas competências que incluem: gestão e análise de projectos; gestão financeira; gestão da informação; que deverão integrar propostas continuadas de formação com vista ao desenvolvimento profissional destas competências (Boylan, 2006; Semedo, 2003 e 2004; entre outros). Existem vários meios disponíveis que possibilitam conciliar a acção dos museus, com a sobrevivência financeira e uma melhor resposta às necessidades dos seus visitantes, mas os museus parecem trabalhar excessivamente de forma isolada. A produção de eventos e a introdução de novas tecnologias são as formas mais utilizadas para a integração das novas atitudes na sua gestão. Schuster propõe um modelo de gestão híbrido, isto é, a integração de um modelo misto de responsabilidades entre o sector público e o sector privado, encontrando cada museu, o modelo mais adequado à sua realidade. Francine Lelièvre, Directora do Museu de Arqueologia e História de Montreal, enuncia como medidas para encontrar novos modelos de financiamento: ajustamentos na política de preços do museu; desenvolvimento de actividades comerciais;

desenvolvimento de produtos derivados (reproduções, posters, postais, CD-Rom, publicações); introdução de novas fontes de receitas (restaurantes, aluguer de salas, espectáculos); inserção em redes (redes de partilha de recursos, de investigação, de promoção e de marketing), que podem ser exclusivas de museus ou integrar outros equipamentos e agentes, como os do turismo; parcerias entre empresas e museus (patrocínios de exposições, acções de promoção conjuntas); acções mecenáticas (promover a divulgação do mecenato em Portugal é essencial) (Lelièvre, 1996).

No trabalho que se desenvolveu ilustram-se e sis- tematizam-se práticas e iniciativas introduzidas na reor- ganização dos museus e na sua aproximação ao turismo (alguns exemplos: o “Programa para a Qualificação dos Museus para o Turismo” do Governo Brasileiro, 2008; a rede de promoção e marketing dos museus da Nor- th East Regional Hub, 2003; o programa de promoção e desenvolvimento do turismo cultural da cidade de Wa- shington sob o slogan: “Warm up to a museum”, 2007; mas também o grupo informal de reflexão e acção mu- seológica que dá pelo nome de “Rede Regional de Mu- seus do Algarve”, criado em 2007).

A monitorização dos visitantes nos museus é uma das medidas mais implementadas a nível internacional e para o conhecimento dos seus públicos, mas também a adopção do modelo de experiência interactiva (Interactive Experience Model), que pressupõe cuidados acrescidos com elementos como o contexto físico – espaços para descansar/sentar; legendagem e percurso (itinerário) (Falk e Dierking, 1992) são propostas a considerar.

Reconhece-se a necessidade de introdução de melhorias contínuas nos aspectos materiais do museu e da sua exposição. Apesar de se afirmar que se verificou uma diversificação das audiências dos museus, parece continuar a assistir-se, a um crescente número de pessoas que não vão a museus. Os museus competem hoje com outras ofertas de lazer para manter os seus visitantes e devem desenvolver esforços junto da comunidade sem hábitos de visita ao museu. Por exemplo, os programas para a comunidade são sobretudo programas inclusivos, dirigidos a grupos da comunidade com problemas de exclusão social e a grupos minoritários. Outros incluem a comunidade e, maioritariamente, os jovens e os idosos. No oposto aparecem os eventos de carácter mais mediático e com um posicionamento generalista.

Nas áreas principais de relação entre os museus e o turismo identificaram-se: a localização (e acessibilidade); a sinalética direccional; o horário; a política de preços; o espólio; a comunicação, a mediação e a interpretação; o modelo de gestão; a cooperação; e a comunidade. A nossa sugestão em relação a estes domínios é que exista uma relação de cooperação interdepartamental, o que significa a definição de estratégias conjuntas ou até a reorganização de serviços que tenham a ver com marketing e comunicação, programação educativa e pedagógica, e estudos de visitantes (internacionalmente, em alguns museus assiste-se a uma fusão de serviços e departamentos nestas áreas, integrando-se estes serviços num só departamento designado por Visitor Services).

Em geral estes aspectos são pouco valorizados nos museus estudados, baseando-se os percursos em propostas unificadoras de visita, ou pelo contrário, deixando o percurso ao livre arbítrio do visitante. A investigação desenvolvida também se deparou com uma informação apresentada de forma pouco apelativa e muito baseada na visão e em alguns casos na audição, sem que exista a introdução efectiva da interactividade ou de oportunidades de apelo multissensorial. Ressalve-se que existe uma grande disparidade de casos observados. Por exemplo, as visitas guiadas são pouco utilizadas como forma de interacção social e de diferenciação das propostas de visita ao museu, apesar de terem um grande potencial de flexibilização.

A monitorização e a investigação sobre as audiências dos museus são necessidades prementes, pois a investigação fornece informação que pode ser essencial para a introdução de novas orientações estratégicas na gestão dos museus (veja-se o caso do Visitor Attractions Monitor, criado em 1999 na Escócia, Lennon e Graham, 2001). O estado da investigação associada aos chamados “visitor studies” em Portugal revelou-se um constrangimento a esta reflexão e infelizmente nem sempre o apoio inicialmente demonstrado à proposta de investigação se concretizou nas fases posteriores da investigação de campo.

O turismo pode dar contributos válidos para a captação de novos públicos, para a valorização das identidades locais, para o financiamento de novos projectos museológicos e actividades, bem como, para as actividades de conservação e restauro, mas também para a revitalização de actividades tradicionais, para a competitividade e a afirmação dos destinos turísticos,

para a interacção, experimentação e transformação interpessoal e, por último, para a formação de comunidades próximas dos seus recursos e dos seus territórios. A partilha de conhecimento entre os museus e o turismo é um elemento crucial para estabelecer a confiança e a compreensão entre os dois sectores. As redes e as parceiras emergem como formas privilegiadas de relacionar os recursos e os equipamentos de um território de forma a conceber propostas inovadoras e atractivas para diferentes públicos.

CONCLUSÃO

Esta análise empírica reveste-se de um âmbito geral sobre a temática. Os resultados e a reflexão desenvolvida apontarão algumas propostas de valorização e estreitamento da relação que se estabelece entre os museus e o turismo em Portugal1.

As sociedades – tal como todos nós – têm necessidades diversas e a receita de equilíbrio entre as dimensões dos museus, do território e do turismo,