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O MUSEU DE PORTIMÃO COMO ELEMENTO ESTRATÉGICO DO TURISMO CULTURAL

Portimão O desafio museológico entre turismo e património

O MUSEU DE PORTIMÃO COMO ELEMENTO ESTRATÉGICO DO TURISMO CULTURAL

Entretanto, foram emergindo novos espaços de sociabilidade, ordenaram-se as zonas ribeirinha de Portimão e Alvor, surgiram equipamentos urbanos coletivos, espaços culturais, desportivos e educativos e inaugurou-se em Maio de 2008, o Museu de Portimão, constituindo-se desde logo como uma importante tentativa de equilibrar e fortalecer a oferta das opções de fruição das raízes históricas, patrimoniais e identitárias das suas comunidades e igualmente como uma estrutura ativa na ampliação e qualificação de uma oferta cultural complementar à própria realidade turística.

Os museus desempenham um papel fundamental enquanto lugares de investimento social e cultural, de representação simbólica e de interpretação histórica das comunidades, assumindo-se como pólos potenciadores, tanto das iniciativas de descoberta das qualidades representativas das suas populações e do seu território, como da oferta patrimonial e da diversidade dos seus particularismos culturais, portadores de efetiva singularidade.

Neste contexto, os museus e a sua programação devem instituir-se como locais dotados de uma visão global capazes de trabalhar no cruzamento da diversidade de expressões e variáveis sociais, funcionando como refúgios identitários seguros e compensatórios, tanto ao nível das suas memórias fundadoras, como das formulações mais atuais e contemporâneas, relacionadas com o desenvolvimento evolutivo das comunidades.

Devem igualmente espelhar o espaço e o tempo, a cultura e a natureza, no sentido de mais eficazmente cumprirem o papel insubstituível de mediação, entre as representações das suas comunidades e as dos seus visitantes, estabelecendo-se como locais privilegiados

dessa permanente abertura e exposição pública, sempre disponíveis ao olhar temporário dos “outros”.

Assim e também enquanto importantes recursos e destinos de apropriação turística, os museus devem desenvolver estratégias autónomas e ativas de comunicação, reciprocidade, trabalho em rede, projetos e parcerias, entre si e com os diversos agentes, setores económicos e estruturas turísticas, partilhando audiências e públicos comuns.

Desde logo e prioritariamente, com os situados na envolvente mais próxima da sua área de influência geográfica e cultural, mas procurando igualmente alcançar plataformas e escalas de contacto, visibilidade e interação mais globais.

A “Carta de Princípios sobre os Museus e o Turismo Cultural”, saída do Encontro “Museus, Património e Turismo Cultural”, organizada pelo ICOM-Conselho Internacional dos Museus, em Maio de 2000, nas cidades de Trujillo (Peru) e La Paz (Bolívia), constitui ainda hoje, um importante contributo para um melhor e mais correcto enquadramento entre Museus, Turismo e Cultura.

Desse documento, em síntese, destacam-se cinco ideias chave, de extrema atualidade e aplicabilidade, na relação entre o campo museológico e o turismo cultural:

Articulação e envolvimento; 2- Salvaguarda e conservação; Valorização da qualidade de vida; Comunicação e reciprocidade; Singularidade e representatividade;

Neste contexto, o Museu de Portimão assume-se como um Museu de Sociedade, Identidade e Território, ao espelhar a evolução da matriz histórica, social e cultural das comunidades presentes na sua área de influência e com ela interagindo.

Instalado na antiga fábrica de conservas de peixe “Feu Hermanos”, datado de finais do século XIX, situado junto à margem direita do rio Arade, o Museu de Portimão assume-se como um observatório e um laboratório em permanente mediação cultural, entre a comunidade local e os seus visitantes, cujo programa museológico assenta, basicamente, nos seguintes quatro grandes objetivos:

a)- Reabilitação do património industrial e cultural b)- Valorização da relação cidade, rio e mar c)- Interpretação e reforço da evolução histórica, territorial e social da comunidade

d)- Formação de novos públicos, potenciando e desenvolvendo uma oferta cultural de qualidade

O Museu de Portimão revela-se assim como um elemento âncora complementar de sinergias, participando ativamente como elemento polarizador e facilitador, do desenvolvimento de uma nova atratividade na região, integrando-se naturalmente como destino já consolidado na programação da oferta turística.

Como exemplo dessas sinergias, na procura de uma maior proximidade e de uma adequação mais ativa, entre a museologia e o turismo destacaríamos entre

outras, no caso do Museu de Portimão, cinco iniciativas facilitadoras dessa mesma interação:

1 - Protocolos com Setores da Hotelaria e Similares

Realização de protocolos com unidades hoteleiras e outros agentes de acolhimento turístico e similares, visando a divulgação do Museu, enquanto destino cultural de qualidade para as suas audiências e clientes. Mais de 30 parcerias e acordos de cooperação foram estabelecidas, compreendendo a divulgação do Museu, exposições e materiais itinerantes, vouchers de entrada, promoções especiais, patrocínio de atividades e utilização dos espaços museológicos, como alguns dos exemplos das soluções fornecidas.

2 - Gestão Integrada e Conjunta de Monumentos

Desenvolvimento de uma política de valorização dos ativos do património cultural, da sua envolvente territorial, como bens imóveis e monumentos civis religiosos e militares, sítios históricos e arqueológicos, localizados em Portimão, potenciando a organização articulada de rotas, percursos e circuitos turísticos, direcionados para a interpretação histórica e identitária da comunidade.

É o caso do Centro de Acolhimento e Interpretação dos Monumentos Megalíticos de Alcalar o qual , através de um protocolo de cooperação, entre a Direcção Regional de Cultura do Algarve e o Município de Portimão, passou a funcionar como “antena museológica” do Museu de Portimão, permitindo uma gestão cultural e uma dinamização pedagógica mais articulada e integrada.

3 - Parcerias com Visitas e Turismo de Grupos

O estabelecimento de parcerias efetivas com entidades do Turismo Sénior e Social (INATEL), com os agentes de navegação, de viagens e com alguns dos operadores responsáveis pelo movimento e comercialização dos cruzeiros, que acostam ao cais de Portimão, de modo a incluir visitas ao Museu durante a sua escala na cidade, através do planeamento e organização logística, incluída na programação cultural dos navios de cruzeiro.

Atualmente, Portimão é o terceiro porto a nível nacional que mais passageiros recebe, provenientes de navios de cruzeiros (logo a seguir a Lisboa e Funchal), reforçando assim, este segmento de turismo de qualidade, o que atesta bem a importância deste setor

e deste porto, estrategicamente localizado entre o Atlântico e o Mediterrâneo.

4 - Projeto “Ocean Revival-Parque Subaquático de Portimão”

Através de uma constante observação e ativa procura de projetos que, do ponto de vista cultural, científico e museológico, se podem tornar de relevante interesse para o conhecimento e a fruição das comunidades, quer a residente quer a turística, foi estabelecida uma articulação entre o Museu e os responsáveis do projeto do novo recife artificial.

Construído a partir de quatro antigos navios de guerra da Armada Portuguesa, afundados a 3 milhas da zona costeira de Portimão, o projeto, designado “Ocean Revival-Parque Subaquático de Portimão “ pretende assumir-se como um local único para mergulhadores e turistas de todo o mundo e um lugar para o nascimento de novas espécies de fauna e flora marinhas.

Depois de um contato direto com a associação “Musubmar” responsável pelo projeto, foi acordado que o Museu iria criar as condições museográficas para uma exposição permanente sobre a história deste novo recife.

Na galeria da antiga cisterna da fábrica de conservas surgiu em 2014, uma sala em forma de “submarino”, onde os visitantes podem seguir toda a evolução deste projeto, nas suas diferentes fases.

5 - Horário especial de Verão

Flexibilidade e adaptação de horários diferenciados e sua adequação aos fluxos sazonais dos visitantes, através da oferta anual de um horário especial de verão, entre 1 e 31 de Agosto, das 15h00 às 23h00.

Desde a sua abertura em 2008 e a atribuição entre outros, do prestigiante prémio “Museu Conselho da Europa” em 2010, o Museu assume-se como uma mais valia no âmbito do turismo cultural (nacional e internacional) e como uma estrutura que pretende responder com flexibilidade, a novos desafios e necessidades ao longo de todo o ano, contrariando desse modo a inevitabilidade sazonal da região.

Estes são alguns dos desafios e caminhos de proximidade que no caso do Museu de Portimão, têm vindo a ser desenvolvidos, numa cooperação consistente e num diálogo profícuo, visando a divulgação e maximização das potencialidades culturais do museu,

da comunidade e do seu território, enquanto produtor ativo de conteúdos e conhecimento, inserindo-se como mais um elemento da permanente interação entre turismo , cultura, património e museologia.

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Património Arqueológico e